Peixe-espinho devora ninhada
de rivais
É um fato da vida no mundo animal que certos
peixes (bem como pássaros, mamíferos, répteis,
crustáceos - pode escolher) devoram seus
filhotes. O peixe-espinho, espécie marinha
encontrada em boa parte do planeta, é um desses
canibais familiares. Os machos, que tomam conta
das ovas, são conhecidos por devorar ninhadas
inteiras, ou parte delas. Mas em determinadas
ocasiões, eles podem ter motivo para isso,
porque os peixes-espinho são conhecidos como
praticantes de fertilização "clandestina", ou
seja, há casos em que outro peixe seria o pai de
algumas das ovas.
Um estudo conduzido por Marion Mehlis, da
Universidade de Bonn, Alemanha, e seus colegas
considerou a questão da possível avaliação de
paternidade de uma ninhada, por um peixe-espinho
macho, antes de decidir se devorará ou não as
ovas de que está cuidando.
Em relatório publicado pela revista Proceedings
of the Royal Society B: Biological Sciences, os
pesquisadores respondem afirmativamente. Além
disso, constataram, os peixes costumam tomar
decisões orientadas por um processo submetido a
sintonia fina.
Os pesquisadores manipularam as ninhadas de ovas
sobre as quais determinados espécimes machos
exerciam guarda, substituindo até 100% das ovas
que aquele macho específico fertilizou por ovas
nas quais a fertilização se devia a outro macho.
E constataram que, quanto maior a proporção de
ovas "alienígenas", mais provável que o macho
devorasse a ninhada. Os pesquisadores sugeriram
que o peixe provavelmente baseia sua decisão no
odor emitido pelas ovas em desenvolvimento, à
medida que os genes paternos começam a
influenciar o processo.
O canibalismo de ninhadas com elevada proporção
de ovas estranhas faz sentido para o espécime
individual, porque evita que ele invista energia
demais protegendo descendentes que portam os
genes de outro peixe, e porque, ao devorar as
ninhadas, acumula energia para criar futuras
ninhadas de ovas fertilizadas por ele.