A industrialização no Brasil pode ser
dividida en quatro períodos principais: o primeiro
período, de 1500 a 1808, chamado de "Proibição"; o
segundo período, de 1808 a 1930, chamado de
"Implantação"; o terceiro período, de 1930 a 1956,
conhecido como fase da Revolução Industrial Brasileira e
finalmente o quarto período, após 1956, chamado de fase
da internacionalização da economia brasileira
Primeiro período (1500 - 1808): ou de "Proibição"
Nesta época fazia restrição ao desenvolvimento de
atividades industriais no Brasil. Apenas uma pequena
indústria para consumo interno era permitida, devido às
distâncias entre a metrópole e a colônia. Eram,
principalmente, de fiação, calçados, vasilhames.
Na segunda metade do século XVIII algumas indústrias
começaram a crescer, como a do ferro e a têxtil. Isso em
Portugal porque já faziam concorrência ao comércio da
corte e poderiam tornar a colônia independente
financeiramente, adquirindo a possibilidade da
independência política. Assim, em 5 de janeiro de 1785,
D. Maria I assinou um alvará, extinguindo todas as
manufaturas têxteis da colônia, exceto a dos panos
grossos para uso dos escravos e trabalhadores.
Segundo Período (1808-1930)
Primeira fase (1808-1850)
Em 1808 chegando ao Brasil a família real portuguesa, D.
João VI revogou o alvará, abriu os portos ao comércio
exterior e fixou taxa de 24% para produtos importados,
exceto para os portugueses que foram taxados em 16%. Em
1810, através de um contrato comercial com a Inglaterra,
foi fixada em 15% a taxa para as mercadorias inglesas
por um período de 15 anos. Neste período, o
desenvolvimento industrial brasileiro foi mínimo devido
à forte concorrência dos produtos ingleses que
plenamente "invadiram" o mercado consumidor brasileiro.
Em 1828 foi renovado o protecionismo econômico
cobrando-se uma taxa de 16% sobre os produtos
estrangeiros, agora para todos os países, sem exceção.
Porém essa taxa era ainda insuficiente para promover
algum desenvolvimento industrial no País.
Em 1844 o então Ministro da Fazenda Manuel Alves Branco
decretou uma lei (Lei Alves Branco) que ampliava as
taxas de importação para 20% sobre produtos sem similar
nacional e 60% sobre aqueles com similar nacional.
Assim, algumas atividades industriais do país foram
protegidas.
Em 1846 a indústria têxtil obteve incentivos fiscais e,
no ano seguinte, as matérias-primas necessárias à
indústria do país receberam isenção das taxas
alfandegárias.
Mas nem esses incentivos foram suficientes para
alavancar o desenvolvimento industrial. A escravidão
ainda estava presente. Faltavam trabalhadores livres e
assalariados para constituir a base do mercado
consumidor. Além disso, as elites enriquecidas pelo café
ainda não estavam dispostas a investir na indústria.
Segunda fase (1850-1930)
Em 1850 é assinada a Lei Eusébio de Queirós proibindo o
tráfico de escravos, e que trouxe duas conseqüências
importantes para o desenvolvimento industrial:
Os capitais que eram aplicados na compra de escravos
ficaram disponíveis e foram aplicados no setor
industrial.
A cafeicultura que estava em pleno desenvolvimento
necessitava de mão-de-obra. Isso estimulou a entrada de
um número considerável de imigrantes, que trouxeram
novas técnicas de produção de manufaturados e foi a
primeira mão-de-obra assalariada no Brasil. Assim
constituíram um mercado consumidor indispensável ao
desenvolvimento industrial, bem como força de trabalho
especializada.
O setor que mais cresceu foi o têxtil, favorecido em
parte pelo crescimento da cultura do algodão em razão da
Guerra de Secessão dos Estados Unidos, entre 1861 e
1865.
Na década de 1880 ocorreu o primeiro surto industrial
quando a quantidade de estabelecimentos passou de 200,
em 1881, para 600, em 1889.
Esse primeiro momento de crescimento industrial
inaugurou o processo de Substituição de Importações.
Entre 1914 e 1918 ocorreu a Primeira Guerra Mundial e, a
partir dai, vamos constatar que os períodos de crise
foram favoráveis ao nosso crescimento industrial. Isso
ocorreu também em 1929 com a Crise Econômica Mundial /
Quebra da Bolsa de Nova Iorque e, mais tarde, em 1939
com a 2ª Guerra Mundial, até 1945.
Nesses períodos a exportação do café era prejudicada e
havia dificuldade em se importar os bens
industrializados, estimulando dessa forma os
investimentos e a produção interna, basicamente
indústria de bens de consumo.
Em 1907 foi realizado o 1° censo industrial do Brasil,
indicando a existência de pouco mais de 3.000 empresas.
O 2° censo, em 1920, mostrava a existência de mais de
13.000 empresas, caracterizando um novo grande
crescimento industrial nesse período, principalmente
durante a 1ª Guerra Mundial quando surgiram quase 6.000
empresas.
Predominava a indústria de bens de consumo que já
abastecia boa parte do mercado interno. O setor
alimentício cresceu bastante, principalmente exportação
de carne, ultrapassando o setor têxtil. A economia do
país continuava, no entanto, dependente do setor
agroexportador, especialmente o café, que respondia por
aproximadamente 70% das exportações brasileiras.
Terceiro Período (1930-1956): de "Revolução Industrial"
O outro foi marcado pela Revolução de 1930, com Getúlio
Vargas, que operou uma mudança decisiva no plano da
política interna, afastando do poder do estado
oligarquias tradicionais que representavam os interesses
agrários-comerciais. Getúlio Vargas adotou uma política
industrializante, a substituição de mão-de-obra
imigrante pela nacional. Essa mão-de-obra era formada no
Rio de Janeiro e São Paulo em função do êxodo rural
(decadência cafeeira) e movimentos migratórios de
nordestinos. Vargas investiu forte na criação da
infra-estrutura industrial: indústria de base e energia.
Destacando-se a criação de:
Conselho Nacional do Petróleo (1938)
Companhia Siderúrgica Nacional (1941)
Companhia Vale do Rio Doce (1943)
Companhia Hidrelétrica do São Francisco (1945)
Foram fatores que comtribuíram para o desenvolvimento
industrial a partir de 1930:
o grande êxodo rural, devido a crise do café, com o
aumento da população urbana que foi constituir um
mercado consumidor.
a redução das importações em função da crise mundial e
da 2ª Guerra Mundial, que favoreceu o desenvolvimento
industrial, livre de concorrência estrangeira.
Esse desenvolvimento ocorreu principalmente em São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul,
definindo a grande concentração espacial da indústria,
que permanece até hoje.
Uma característica das indústrias que foram criadas
desde a 1ª Guerra Mundial é que muitas delas fazem
apenas a montagem de peças produzidas e importadas do
exterior. São subsidiárias das matrizes estrangeiras.
No início da 2ª Guerra Mundial o crescimento diminuiu
porque o Brasil não conseguia importar os equipamentos e
máquinas que precisava. Isso ressalta a importância de
possuir uma Indústria de Bens de Capital.
Apesar disso as nossas exportações continuaram a se
manter acarretando um acúmulo de divisas. A
matéria-prima nacional substituiu a importada. Ao final
da guerra já existiam indústrias com capital e
tecnologia nacionais, como a indústria de autopeças.
No segundo governo Vargas (1951-1954), os projetos de
desenvolvimento baseados no capitalismo de Estado,
através de investimentos públicos no extinto Instituto
Brasileiro do Café (IBC, em 1951), BNDES, dentre outros,
forneceram importantes subsídios para Juscelino
Kubitschek lançar seu Plano de Metas, ainda que a um
elevado custo de internacionalização da economia
brasileira.
Quarto Período(1956 em diante): de "Internacionalização"
Ao final da Segunda Guerra Mundial o Brasil dispunha de
grandes reservas de moeda estrangeira, divisas, fruto de
ter exportado mais do que importado.
Houve um crescimento de 8,9% de 1946 a 1950.
Enquanto nas décadas anteriores houve predominância da
indústria de bens de consumo, na década de 40 outros
tipos de atividade industrial começam a se desenvolver
como no setor de minerais, metalurgia, siderurgia, ou
seja setores mais sofisticados tecnologicamente.
Em 1946 teve início a produção de aço da CSN (Companhia
Siderúrgica Nacional), Volta Redonda, que abriu
perspectivas para o desenvolvimento industrial do pais,
já que o aço constitui a base ou a "matriz" para vários
ramos ou tipos de indústria.
Em 1950 alguns problemas de grande importância
dificultaram o desenvolvimento industrial:
falta de energia elétrica;
baixa produção de petróleo;
rede de transporte e comunicação deficientes.
Para tentar sanar os dois primeiros problemas, o
presidente Getúlio Vargas inaugurou a Companhia
Hidrelétrica do São Francisco, Usina Hidrelétrica de
Paulo Afonso e criou a Petrobras.
No governo de Juscelino Kubitschek, 1956 a 1961,
criou-se um Plano de Metas que dedicou mais de 2/3 de
seus recursos para estimular o setor de energia e
transporte.
Aumentou a produção de petróleo e a potência de energia
elétrica instalada, visando a assegurar a instalação de
indústrias.Desenvolveu-se o setor rodoviário.
Houve um grande crescimento da indústria de bens de
produção que cresceu 37% contra 63% da de bens de
consumo.
Percebe-se, por esses números, que na década de 50
alterou-se a orientação da industrialização do Brasil.
Contribuiu para isso a Instrução 113 da Superintendência
da Moeda e do Crédito (SUMOC), instituída em 1955, no
governo Café Filho. Essa Instrução permitia a entrada de
máquinas e equipamentos sem cobertura cambial (sem
depósito de dólares para a aquisição no Banco do
Brasil).
O crescimento da indústria de bens de produção
refletiu-se principalmente nos seguintes setores:
siderúrgico e metalúrgico (automóveis);
químico e farmacêutico;
construção naval, implantado no Rio de Janeiro em 1958
com a criação do Grupo Executivo da Indústria de
Construção Naval (GEICON).
No entanto, o desenvolvimento industrial foi calcado, em
grande parte, com capital estrangeiro, atraído por
incentivos cambiais, tarifários e fiscais oferecidos
pelo governo. Nesse período teve início em maior escala
a internacionalização da economia brasileira, através
das multinacionais.
A década de 60 começou com sérios problemas políticos: a
renúncia de Jânio Quadros em 1961, a posse do
vice-presidente João Goulart, discussões em torno de
presidencialismo ou parlamentarismo. Esses fatos
ocasionaram um declínio no crescimento econômico e
industrial.
Após 1964, os governos militares, retomaram e aceleraram
o crescimento econômico e industrial brasileiro. O
Estado assumiu a função de órgão supervisor das relações
econômicas. O desenvolvimento industrial pós 64 foi
significativo.
Ocorreu uma maior diversificação da produção industrial.
O Estado assumiu certos empreendimentos como: produção
de energia elétrica, do aço, indústria petroquímica,
abertura de rodovias e outros, assegurando para a
iniciativa privada as condições de expansão ou
crescimento de seus negócios.
Houve grande expansão da indústria de bens de consumo
não-duráveis e duráveis com a produção inclusive de
artigos sofisticados.
Aumentou, entre 1960 e 1980, em números significativos a
produção de aço, ferro-gusa, laminados, cimento,
petróleo
Para sustentar o crescimento industrial, houve o aumento
da capacidade aquisitiva da classe média alta, através
de financiamento de consumo. Foi estimulada, também, a
exportação de produtos manufaturados através de
incentivos governamentais. Em 1979, pela 1ª vez, as
exportações de produtos industrializados e
semi-industrializados superaram as exportações de bens
primários (produtos da agricultura, minérios,
matérias-primas).
Após um período de inflação ascendente, foi lançado em
28 de fevereiro de 1986 pelo Governo Sarney o Plano
Cruzado, que embora tivesse objetivos implícitos
eleitorais, foi caracterizado por uma tentativa de
promover o crescimento da produção econômica brasileira
sem passar pela penosa austeridade fiscal e monetária
que seria a marca registrada do Plano Real, em 1994. No
entanto, a proteção alfandegária que existia na época,
que restringia as importações e o desbastecimento
principalmente de produtos de primeira necessidade
promovido por setores oligopolizados da economia
condenaram o plano econômico ao fracasso, não obstante
sua política de manter o câmbio congelado e a taxa real
de juros baixa fizesse o PIB conhecer uma bolha de
consumo interna sem precedentes na sua história.
O ajuste das contas públicas pós-Plano Real, e a adoção
de medidas tanto políticas como jurídicas de apoio à
micro e pequena indústria, bem como a entrada de capital
estrangeiro atraído pelos programas de privatizações de
estatais, tornaram o investimento do capital de risco no
setor industrial atraente.
Também contribuíram para isso a desejada estabilidade
nas regras que regiam a economia nos oito anos do
mandato que Fernando Henrique Cardoso exerceu a
Presidência da República (1994-2002), e a decisão do seu
sucessor, Luis Inácio Lula da Silva, reeleito em 2006,
de manter as mesmas regras, não obstante as divergências
ideológicas de alguns grupos internos ao seu partido
(que viriam a se retirar do mesmo).
Com a auto-suficiência no setor de petróleo, que
minimizou o problema da dependência do setor industrial
em relação ao mesmo, só falta ao Brasil enfrentar um
desafio atual, cada vez mais imposto pelo mundo
globalizado: a geração de tecnologia de ponta nacional.
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