O sucesso de um projeto de
recuperação de mata ciliar deve ser avaliado por meio de indicadores de
recuperação. Através destes indicadores, é possível definir se o projeto
necessita sofrer novas interferências ou até mesmo ser redirecionado,
visando acelerar o processo de sucessão e de restauração das funções da
mata ciliar, bem como determinar o momento em que a floresta plantada
passa a ser auto-sustentável, dispensando intervenções antrópicas.
A avaliação da
recuperação, através de indicadores, é função das metas e dos objetivos
pretendidos com ela. Não se pode cobrar uma elevada diversidade biológica
em um projeto cujo objetivo tenha sido o de proteger o solo e o curso
d'água dos efeitos negativos da erosão do solo de uma área extremamente
degradada. Neste aspecto, modelos de recuperação mais complexos,
envolvendo uma diversidade inicial maior de espécies, tendem a promover
uma recuperação mais rápida da biodiversidade e da funcionalidade do
ecossistema. Vários estudos têm proposto um conjunto de indicadores de
avaliação da recuperação e da sustentabilidade dos projetos de restauração
e, ou, manejo das florestas.
Os insetos têm sido
considerados bons indicadores ecológicos da recuperação, principalmente as
formigas, os cupins, as vespas, as abelhas e os besouros. Em nível de solo
nas áreas em processos de recuperação, há uma sucessão de organismos da
meso e macrofauna que estão presentes em cada etapa da recuperação destas
áreas, sugerindo que possam ser encontrados bioindicadores de cada uma
destas etapas. Outros indicadores vegetativos podem ser medidos como:
chuva de sementes, banco de sementes, a produção de serapilheira e
silvigênese. Estes indicadores apresentam a vantagem de serem de
quantificação relativamente fácil, quando comparados com outros
indicadores biológicos.
1 - Regeneração Natural:
O monitoramento da
comunidade jovem, do ponto de vista estrutural estático e dinâmico,
possibilita a identificação do estágio seral e a evolução da mesma. Assim,
as análises da regeneração natural são essenciais para se avaliar o
sucesso da recuperação. A regeneração natural é analisada através de
medições de diâmetro, no nível do solo, e da altura das plântulas e
plantas jovens, presentes em pequenas parcelas amostrais, lançadas na
floresta. Uma estratificação vertical auxilia o entendimento da dinâmica
da regeneração natural. Estudos mais detalhados determinam categorias de
tamanho para a análise da regeneração. A quantificação da regeneração,
quando associada com a classificação sucessional das espécies (pioneiras,
secundárias iniciais, secundárias tardias e climáticas), compõe um
indicador extremamente útil das condições de recuperação e de
sustentabilidade da floresta ciliar. Quando, na regeneração natural,
espécies típicas dos estágios iniciais da sucessão (pioneiras e
secundárias iniciais) predominam em número de espécie e, ou, de
indivíduos, percebe-se indicativo de que a sucessão está muito lenta na
área e que as espécies tardias não estão conseguindo chegar até o local
ou, embora estejam chegando, por algum motivo não estão conseguindo se
estabelecer. Neste caso é necessário algum tipo de intervenção. É claro
que a análise deve levar em consideração o tempo em que a floresta foi
implantada.
2 - Banco de Sementes:
O banco de sementes
compreende as semenetes viáveis presentes na camada superficial do solo.
Através de uma moldura de 05 X 0,5 cm, lançada na superfície do solo,
coleta-se toda a serapilheira e o solo, numa profundidade de 0-5 cm, que
retém a maior parte das sementes. Transferindo para a casa de vegetação e
livre de contaminações externas, são forcecidas condições de luz e de
umidade necessárias para a germinação das sementes. Após um determinado
tempo, as sementes germinadas são contadas e as plântulas identificadas. É
importante destacar que o banco de sementes é formado, principalmente, por
espécies pioneiras que, normalmente, apresentam dispersão a longa
distância e, portanto, não estão, necessariamente, presentes na vegetação
arbórea local. Em condições de boa cobertura vegetal e com bom
sombreamento do solo, espera-se que estas espécies pioneiras presentes no
banco não encontrem condições favoráveis à germinação e ao
estabelecimento, a menos que ocorra um distúrbio. Contudo, este aspecto
não diminui a importância do banco de sementes como indicador de
recuperação e de sustentabilidade, uma vez que são as espécies pioneiras
que irão desencadear o processo de colonização de uma área, após um
distúrbio. O importante é determinar a riqueza de espécies do banco de
sementes e a proporção entre espécies nativas e invasoras. Um banco rico
em sementes de espécies invasoras ou ruderais sugere que, frente a um
distúrbio natural, como a abertura de clareiras, estas espécies poderão
vir a colonizar a área, podendo competir com as espécies nativas, afetando
a sustentabilidade da floresta ciliar.
3 - Produção de
Serapilheira e Chuva de Sementes:
A serapilheira compreende,
principalmente, o material de origem vegetal (folhas, flores, rasos,
casas, frutos e sementes) e, em menor proporção, o de origem animal
(restos animais e material fecal) depositado na superfície do solo de uma
floresta. Atua como um sistema de entrada e saída, recebendo entradas via
vegetação e, por sua vez, decompondo-se e suprindo o solo e as raízes com
nutrientes e com matéria orgânica. Este processo é particularmente
importante na restauração da fertilidade do solo nas áreas em início de
sucessão ecológica.
Em comunidades
sucessionais, o acúmulo de serapilheira e o tempo de sua remoção podem
produzir mudança radical na estrutura, afetando a substituição de espécies
dominantes, bem como a riqueza e a diversidade. A quantificação da
serapilheira, ao longo do ano, permite estimar a produção anual por
hectare. Em uma área ciliar em recuperação, esta informação é muito
importante, pois possibilita a comparação com outros estudos realizados em
áreas ciliares. Se a produção de serapilheira da área em avaliação está
muito baixa em comparação com outras comunidades ciliares pode estar
ocorrendo problemas, em nível de ciclagem de nutrientes.
A ausência ou a baixa
densidade de sementes de espécies não pioneiras na chuva de sementes
significa que estas espécies terão dificuldades de regeneração na área em
recuperação. Como as espécies pioneiras são mais importantes na definição
da estrutura da floresta, devem ser tomadas medidas visando estimular sua
chegada na área.
4 - Abertura do Dossel:
O dossel da floresta, ou
seja a cobertura superior da floresta formada pelas copas das árvores, em
termos ecológicos apresenta uma grande influência na regeneração das
espécies arbustivo-arbóreas, além de atuar como barreira física às gotas
de chuva, protegendo o solo da erosão. Em florestas secundárias jovens, o
dossel normalmente encontra-se mais aberto, com grandes espaços entre as
copas das árvores, permitindo maior passagem de luz e, assim, inibindo a
regeneração de espécies não pioneiras, especialmente as climácicas. Nas
florestas maduras, o dossel é mais fechado, causando maior sombreamento no
sub-bosque e favorecendo a regeneração das espécies tardias, formadoras de
bancos de plântulas.
Numa área ciliar em
processo de restauração, espera-se que o dossel tone-se cada vez mais
fechado, à medida em que as árvores cresçam e que suas copas se encontrem.
Contudo, em áreas em que ocorreu mortalidade elevada de mudas, sem
posterior replantio, o dossel apresentará muitas falhas, e a regeneração
natural de espécies não pioneiras poderá ser prejudicada. Desta maneira, o
nível de abertura do dossel pode ser um bom indicador da recuperação de
uma mata ciliar. Porém, cabe ressaltar que este indicador deve ser
combinado com outros principalmente com a regeneração natural, pois é
posível se obter um dossel muito fechado, com bom sombreamenteo e boa
cobertura do solo em reflorestamentos homogêneos, e que, apesar da
proteção ao solo, não são considerados auto-sustentáveis e são pouco
eficientes na recuperação da biodiversidade.
Existem vários métodos
para se estimar a abertura do dossel, sendo a utilização de fotografias
hemisféricas o método mais prático e preciso. A abertura do dossel também
pode ser estimada através da projeção das copas das árvores,
determinando-se a proporção entre as áreas cobertas e as abertas. É um
método subjetivo, mas que possibilita uma visão geral do estado de
recuperação de uma floresta, em nível de cobertura do solo.