A sistemática é a ciência dedicada a
inventariar e descrever a biodiversidade e compreender as
relações
filogenéticas entre os organismos. Inclui a
taxonomia (ciência da descoberta, descrição e classificação
das espécies e grupo de espécies, com suas normas e
princípios) e também a filogenia (relações evolutivas entre
os organismos). Em geral, diz-se que compreende a
classificação dos diversos organismos vivos. Em biologia, os
sistematas são os cientistas que classificam as espécies em
outros táxons a fim de definir o modo como eles se
relacionam evolutivamente.
O objetivo da classificação dos seres vivos, chamada
taxonomia, foi inicialmente o de organizar as plantas e
animais conhecidos em categorias que pudessem ser referidas.
Posteriormente a classificação passou a respeitar as
relações evolutivas entre organismos, organização mais
natural do que a baseada apenas em características externas.
Para isso se utilizam também características ecológicas,
fisiológicas, e todas as outras que estiverem disponíveis
para os táxons em questão. É a esse conjunto de
investigações a respeito dos táxons que se dá o nome de
Sistemática. Nos últimos anos têm sido tentadas
classificações baseadas na semelhança entre genomas, com
grandes avanços em algumas áreas, especialmente quando se
juntam a essas informações aquelas oriundas dos outros
campos da Biologia.
A classificação dos seres vivos é parte da sistemática,
ciência que estuda as relações entre organismos, e que
inclui a coleta, preservação e estudo de espécimes, e a
análise dos dados vindos de várias áreas de pesquisa
biológica. Nomenclatura é a atribuição de nomes (nome
científico) a organismos e às categorias nas quais são
classificados.
O nome científico é aceito em todas as línguas, e cada nome
aplica-se apenas a uma espécie.
Há duas organizações internacionais que determinam as regras
de nomenclatura, uma para zoologia e outra para botânica.
Segundo as regras, o primeiro nome publicado (a partir do
trabalho de Lineu) é o correcto, a menos que a espécie seja
reclassificada, por exemplo em outro género. A
reclassificação tem ocorrido com certa freqüência desde o
século XX. O Código Internacional de Nomenclatura Zoológica
preconiza que neste caso mantém-se a referência a quem
primeiro descreveu a espécie, com o ano da descrição, entre
parênteses, e não inclui o nome de quem reclassificou. Esta
norma internacional decorre, entre outras coisas, do fato de
ser ainda nova a abordagem genética da taxonomia, sujeita a
revisão devido a novas pesquisas científicas, ou
simplesmente a definição de novos parâmetros para a
delimitação de um táxon, que podem ser morfológicos,
ecológicos, comportamentais etc.
História
O primeiro sistema de classificação foi o de Aristóteles no
século IV a.C., que ordenou os animais pelo tipo de
reprodução e por terem ou não sangue vermelho. O seu
discípulo Teofrasto classificou as plantas por seu uso e
forma de cultivo.
Nos séculos XVII e XVIII os botânicos e zoólogos começaram a
delinear o actual sistema de categorias, ainda baseados em
características anatômicas superficiais. No entanto, como a
ancestralidade comum pode ser a causa de tais semelhanças,
este sistema demonstrou aproximar-se da natureza, e continua
sendo a base da classificação actual. Lineu fez o primeiro
trabalho extenso de categorização, em 1758, criando a
hierarquia actual.
A partir de Darwin a evolução passou a ser considerada como
paradigma central da Biologia, e com isso evidências da
paleontologia sobre formas ancestrais, e da embriologia
sobre semelhanças nos primeiros estágios de vida. No século
XX, a genética e a fisiologia tornaram-se importantes na
classificação, como o uso recente da genética molecular na
comparação de códigos genéticos. Programas de computador
específicos são usados na análise matemática dos dados.
Em fevereiro de 2005 Edward Osborne Wilson, professor
aposentado da Universidade de Harvard, onde cunhou o termo
biodiversidade e participou da fundação da sociobiologia, ao
defender um "projeto genoma" da biodiversidade da Terra,
propôs a criação de uma base de dados digital com fotos
detalhadas de todas a espécies vivas e a finalização do
projeto Árvore da vida. Em contraposição a uma sistemática
baseada na biologia celular e molecular, Wilson vê a
necessidade da sistemática descritiva para preservar a
biodiversidade.
Do ponto de vista econômico, defendem Wilson, Peter Raven e
Dan Brooks, a sistemática pode trazer conhecimentos úteis na
biotecnologia, e na contenção de doenças emergentes. Mais da
metade das espécies do planeta é parasita, e a maioria delas
ainda é desconhecida.
Reinos
Tradicionalmente os seres vivos eram divididos em dois
reinos: Plantas e Animais. Como muitos seres simples não
cabem nesta divisão, em 1866 Ernst Heinrich Haeckel propôs a
categoria Protista, incluindo algas, fungos, protozoários e
bactérias, No século XX a classificação mais aceita passou a
ter cinco reinos: Protista (protozoários e algumas algas),
Monera (bactérias procariontes, e cianobactérias ou algas
azuis), Fungi, Plantæ e Animalia.
Recentemente a análise genética levou a propor o grupo
Archaea para as Archaebactérias, e mais dois grupos: as
outras bactérias e os eucariontes (organismos que têm núcleo
celular: fungos, plantas e animais).
No entanto, estudos recentes (Cavalier-Smith 1998, 2004)
passaram a aceitar o sistema de seis reinos (Bacteria,
Protista, Animalia, Fungi, Plantae e Chromista). O reino
Chromista engloba alguns grupos de algas como as Phaeophyta,
Chrysophyta e Bacillariophyta (Diatomáceas) que possuem
cloroplasto com 4 membranas, localizado no lumem do retículo
endoplasmático rugoso e originado de uma simbiose
secundária.
Considerando-se os organismos fotossintetizantes envolvidos
nesta nova divisão dos reinos, uma das principais
características definidoras das linhagens evolutivas é
justamente a origem do cloroplasto:
Cianobactérias: Sem cloroplasto, pigmento difuso no
citoplasma
Plantas: Simbiose primária (Protista + cianobactéria),
cloroplasto com duas membranas.
Protistas (Euglenas e Dinoflagelados): Simbiose secundária
ou terciária (Protista + planta), cloroplasto com 3
membranas
Cromistas: Simbiose secundária (Protista + Planta),
cloroplasto com 4 membranas.
Super Reinos
Prokariota
Eukariota
Categorias
Os reinos são divididos num sistema hierárquico de
categorias chamadas taxa (plural de taxon). Cada taxon
inclui os que o sucedem. Tradicionalmente são eles:
Domínio (mais recente)
Reino
Filo (ou divisão, em botânica)
Classe
Ordem
Família
Género
Espécie
Há categorias intermediárias, incluídas quando é necessário
fazer distinções.
Assim, por exemplo, em botânica, além de divisão, que
equivale ao filo no reino animal, existem também série e
secção.
Uma sequência hierárquica mais completa seria:
Domínio (ou Super-Reino)
Reino
Subreino
Ramo
Infrareino
Superfilo (ou Superdivisão na botânica)
Filo (ou Divisão na botânica)
Subfilo (ou Subdivisão na botânica)
Infrafilo (ou Infradivisão na botânica)
Microfilo
Supercoorte (botânica)
Coorte (botânica)
Subcoorte (botânica)
Infracoorte ( botânica)
Superclasse
Classe
Subclasse
Infraclasse
Parvclasse
Superdivisão (Zoologia)
Divisão (Zoologia)
Subdivisão (Zoologia)
Infradivisão (Zoologia)
Superlegião (Zoologia)
Legião (Zoologia)
Sublegião (Zoologia)
Infralegião (Zoologia)
Supercoorte (Zoologia)
Coorte (Zoologia)
Subcoorte (Zoologia)
Infracoorte (Zoologia)
Gigaordem (Zoologia)
Magnordem ouMegaordem (Zoologia)
Gradordem ou Capaxordem (Zoologia)
Mirorder ou Hiperordem (Zoologia)
Superordem
Série (para peixes)
Ordem
Parvordem (posição em algumas classificações zoológicas)
Nanordem (Zoologia)
Hipoordem (Zoologia)
Minordem (Zoologia)
Subordem
Infra-ordem
Parvordem (posição usual) ou Microordem (Zoologia)
Seção (Zoologia)
Subseção (Zoologia)
Gigafamília (Zoologia)
Megafamília (Zoologia)
Gradfamília (Zoologia)
Hiperfamília (Zoologia)
Superfamília
Epifamília (Zoologia)
Séries (para os Lepidoptera)
Grupo (para os Lepidoptera)
Família
Subfamília
Infrafamília
Supertribo
Tribo
Subtribo
Infratribo
Gênero
Subgênero
Seção (botânica)
Subseção (botânica)
Série (botânica)
Subsérie (botânica)
Superespécie
Espécie
Subespécie (ou Forma Especial para Fungos, ou Variedade para
Bactérias)
Variedade (Botânica) ou Forma/Morf (Zoologia)
Subvariedade (Botânica)
Forma (Botânica)
Subforma (Botânica)
Hoje em dia o taxon mais claro é a espécie: populações de
indivíduos geneticamente semelhantes que potencialmente
cruzam entre si em condições naturais (definição mais
difundida de espécie), o que não significa que o conceito de
espécie esteja bem esclarecido por a esse enunciado, pois
ele não abrange, por exemplo, organismos que fazem apenas
reprodução assexuada. Mecanismos de especiação, como
isolamento geográfico, podem levar uma espécie a originar
outra. Nos casos excepcionais de cruzamento interespecífico,
praticamente em todos os casos, os descendentes são
estéreis. Quando as populações de uma espécie são muito
diferentes morfologicamente, são chamadas subespécies, raças
ou variedades.
O género inclui espécies relacionadas, reconhecidas
popularmente como aparentadas, como o cão e o lobo.
Nomenclatura binomial
O sistema atual identifica cada espécie por dois nomes em
latim: o primeiro, em maiúscula, é o género, o segundo, em
minúscula, é o epíteto específico. Os dois nomes juntos
formam o nome da espécie. Os nomes científicos podem vir do
nome do cientista que descreveu a espécie, de um nome
popular desta, de uma característica que apresente, do lugar
onde ocorre, e outros. Por convenção internacional, o nome
do género e da espécie é impresso em itálico, o dos outros
táxons não. Subespécies têm um nome composto por três
palavras.
Referências
Ernst Mayr: Princípios de sistemática animal
Dalton De Souza Amorim: Fundamentos De Sistemática
Filogenética
Thomas Cavalier-Smith 1998: A revised six-kingdom system of
life. Biol. Rev. (73:203-266
Thomas Cavalier-Smith 2004: Only six kingdoms of life, Proc.
R. Soc. Lond. B. 271: 1251–1262
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