Alberto Santos Dumont (Palmira, 20 de julho de 1873
— Guarujá, 23 de julho de 1932) foi um aeronauta, esportista e inventor
brasileiro. Dumont é considerado por muitos brasileiros como o inventor
do dirigível, do avião e do ultraleve.
Santos Dumont projetou, construiu e voou os primeiros
balões dirigíveis com motor a gasolina. Esse mérito lhe é garantido
internacionalmente pela conquista do Prêmio Deutsch em 1901, quando em
um voo contornou a Torre Eiffel com o seu dirigível Nº 6, transformando-se
em uma das pessoas mais famosas do mundo durante o século XX.
Com a vitória no Prêmio Deutsch, ele também foi, portanto, o primeiro a
cumprir um circuito pré-estabelecido sob testemunho oficial de
especialistas, jornalistas e populares.
Santos Dumont também foi o primeiro a decolar a bordo de um avião
impulsionado por um motor a gasolina. Em 23 de outubro de 1906, ele voou
cerca de 60 metros a uma altura de dois a três metros com o Oiseau de
Proie' (francês para "ave de rapina"), no Campo de Bagatelle, em Paris.
Menos de um mês depois, em 12 de novembro, diante
de uma multidão de testemunhas, percorreu 220 metros a uma altura de 6
metros com o Oiseau de Proie III. Esses voos foram os primeiros
homologados pelo Aeroclube da França de um aparelho mais pesado que o ar,
e possivelmente a primeira demonstração pública de um veículo levantando
voo por seus próprios meios, sem a necessidade de uma rampa para
lançamento.
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Nome completo Alberto Santos
Dumont
Nascimento 20 de julho de
1873
Palmira, renomeado em sua honra Santos Dumont,
MG
Morte 23 de julho de 1932
(59 anos)
Guarujá, SP
Nacionalidade brasileiro
Ocupação Aeronauta e
inventor
Principais trabalhos
14-bis
Demoiselle
Prêmios Prêmio Deutsch
Prêmio Archdeacon
Assinatura
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Apesar de os brasileiros considerarem Santos
Dumont como o responsável pelo primeiro voo num avião, na maior parte do
mundo o crédito à invenção do avião é dado aos irmãos Wright. Uma
excepção é a França, onde o crédito é dado a Clément Ader que efectuou o
primeiro voo de um mais pesado que o ar propulsionado a motor e
levantando voo pelos seus próprios meios em 9 de Outubro de 1890.
A FAI, no entanto, considera que foram os irmãos Wright os primeiros a
realizar um voo controlado, motorizado, num aparelho mais pesado do que
o ar, por uma decolagem e subsequente voo ocorridos em 17 de dezembro de
1903 no Flyer, já que os voos de Clément Ader foram realizados em
segredo militar, vindo-se apenas a saber da sua existência muitos anos
depois. Por outro lado, o 14-Bis de Dumont teve uma decolagem
autopropulsada, reconhecida oficialmente por publico e jornalistas,
tendo sido a primeira atividade esportiva da aviação a ser homologada
pela FAI.
Infância
Alberto Santos Dumont foi o sexto filho de Henrique Dumont, engenheiro
formado pela Escola Central de Artes e Manufaturas de Paris, e Francisca
de Paula Santos. O casal teve ao todo oito descendentes, três homens e
cinco mulheres: Henrique dos Santos Dumont, Maria Rosalina Dumont
Vilares, Virgínia Dumont Vilares, Luís dos Santos Dumont, Gabriela,
Alberto Santos Dumont, Sofia e Francisca.
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Casa onde nasceu Alberto
Santos-Dumont e atual Museu de Cabangu. |
Em 1874 a família se mudou da Fazenda de Cabangu, localizada em Palmira,
Minas Gerais, onde vivia, para Valença, no Rio de Janeiro. Aí adquiriu a
Fazenda do Casal, junto à estação ferroviária de mesmo nome. Foi nesse
lugar que Santos Dumont começou a dar mostras, por assim dizer, dos
trabalhos aeronáuticos que tanto destaque lhe trariam, pois, conforme
declarações dos seus pais, com apenas um ano de idade ele costumava
furar balõezinhos de borracha para ver o que tinham dentro.[14] E foi em
Valença que ocorreu o batismo de Santos Dumont, na Matriz de Santa
Teresa, em 20 de fevereiro de 1877, pelo padre Teodoro Teotônio da Silva
Carolina.
Em 1879 os Dumont venderam a Fazenda do Casal e se estabelecerem no
Sítio do Cascavel, em Ribeirão Preto, onde compraram a Fazenda Arindeúva,
de José Bento Junqueira, de mil e duzentos alqueires. A propriedade, que
logo ganhou o nome de Fazenda Dumont, em poucos anos se transformaria no
maior estabelecimento agrícola do Brasil.
Santos Dumont lembraria com saudosismo os tempos passados na fazenda
paterna, onde desfrutava da mais ampla liberdade: Vivi ali uma vida
livre, indispensável para formar o temperamento e o gosto pela aventura.
Desde a infância eu tinha uma grande queda por coisas mecânicas e, como
todos os que possuem ou pensam possuir uma vocação, eu cultivava a minha
com cuidado e paixão. Eu sempre brincava de imaginar e construir
pequenos engenhos mecânicos, que me distraíam e me valiam grande
consideração na família. Minha maior alegria era me ocupar das
instalações mecânicas de meu pai. Esse era o meu departamento, o que me
deixava muito orgulhoso.”
Com apenas sete anos Santos Dumont já guiava os locomóveis da fazenda, e
aos doze se divertia como maquinista das locomotivas, capazes de fatigar
um homem com o triplo da sua idade; mas a velocidade realizável em terra
não lhe bastava.
Ao ler as obras do escritor francês Júlio Verne, nasceu em Santos Dumont
o desejo de conquistar o ar. Os submarinos, os balões, os
transatlânticos e todos os outros meios de transporte que o fértil
romancista previu com tanta felicidade exerceram uma profunda impressão
na mente do rapaz. Anos depois, já adulto, ele ainda lembrava com emoção
as aventuras vividas em imaginação:
Com o Capitão Nemo e seus convidados explorei as profundidades do oceano,
nesse precursor do submarino, o Nautilus. Com Fileas Fogg fiz em oitenta
dias a volta ao mundo. Na Ilha a hélice e na Casa a vapor, minha
credulidade de menino saudou com entusiástico acolhimento o triunfo
definitivo do automobilismo, que nessa ocasião não tinha ainda nome. Com
Heitor Servadoc naveguei pelo espaço.”
A tecnologia o fascinava. Começou a construir pipas e pequenos
aeroplanos movidos por uma hélice acionada por molas de borracha torcida.
E todos os anos, no dia 24 de junho, ele enchia frotas inteiras de
diminutos balões de seda sobre as fogueiras de São João, para assistir
em êxtase a sua ascensão aos céus.
Pelos livros de Camille Flammarion e Wilfrid de Fonvielle ele conheceu a
história da navegação aérea. Aprendeu que fora na França que o balão a
hidrogênio havia sido inventado, que os primeiros voos haviam sido
efetuados e que as maiores aeronaves haviam sido construídas. Sentiu-se
atraído por esse país de grandeza e progresso.
O ingresso no alpinismo e no automobilismo
Em 1891, com 18 anos, Santos Dumont fez uma viagem turística à Europa.
Na Inglaterra passou alguns meses aperfeiçoando o seu inglês, e na
França escalou o Monte Branco. Essa aventura, a quase 5.000 metros de
altitude, acostumou-o a alturas elevadas. No ano seguinte, emancipado
pelo pai, voltou à França e ingressou no automobilismo. Também iniciou
estudos técnico-científicos com um professor de origem espanhola chamado
Garcia. Em 1894 viajou para os Estados Unidos, visitando Nova Iorque,
Chicago e Boston.
O ingresso no balonismo
Em 1897, já independente e herdeiro de imensa fortuna – contava 24 anos
–, Santos Dumont partiu para a França, onde contratou aeronautas
profissionais que lhe ensinaram a arte da pilotagem dos balões. Sabe-se
que em 1900 ele já havia criado nove balões, dos quais dois se tornaram
famosos: o Brazil e o Amérique.
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O primeiro dirigível de
Santos Dumont. |
O primeiro, estreado em 4 de julho de 1898, foi a menor das aeronaves
até então construídas – inflado a hidrogênio, cubava apenas 118 metros
–, e com o segundo obteve em 13 de junho de 1899 o quarto lugar num
torneio aéreo, a Taça dos Aeronautas, destinada ao balonista que
pousasse mais distante do ponto de partida, após 325 quilômetros
percorridos e 22 horas de voo.
O ingresso no dirigibilismo
Simultaneamente ao balonismo, Santos Dumont começou experiências de
dirigibilidade. Ansiava por poder controlar o voo, e para isso desenhou
uma série de balões alongados dotados de lemes e motores a gasolina.
O N-1
O primeiro dirigível projetado por Santos Dumont, o N-1, com 25 metros
de comprimento e 180 de cubagem, foi inflado no Jardim da Aclimação de
Paris no dia 18 de setembro de 1898, mas acabou rasgado antes de
experimentado, devido a uma manobra mal feita pelos ajudantes que em
terra seguravam as cordas do aparelho.
Reparada dois dias depois, a aeronave partiu e evoluiu em todos os
sentidos. Um imprevisto, porém, encurtou a viagem: a bomba de ar
encarregada de suprir o balonete interno, que mantinha rígido o
invólucro do balão, não funcionou devidamente, e o dirigível, a 400
metros de altura, começou a se dobrar e a descer com rapidez. Numa
entrevista, Santos Dumont contou como escapou da morte certa:
A descida efetuava-se com a velocidade de 4 a 5 m/s. Ter-me-ia sido
fatal, se eu não tivesse tido a presença de espírito de dizer aos
passantes espontaneamente suspensos ao cabo pendente como um verdadeiro
cacho humano, que puxassem o cabo na direção oposta à do vento. Graças a
essa manobra, diminuiu a velocidade da queda, evitando assim a maior
violência do choque. Variei desse modo o meu divertimento: subi num
balão e desci numa pipa.”
Um fato que merece ser mencionado é que o motor utilizado nesse
dirigível foi uma invenção de Santos Dumont: tratava-se, na verdade, de
um motor Dion-Bouton modificado, com dois cilindros unidos pelas
extremidades – disposição denominada “em tandem”.
Enquanto o motor original fornecia uma potência de 1,5 cavalo-vapor, a
alteração feita por Santos Dumont mais que duplicou essa potência, que
passou a ser de 3,5 cavalos-vapor. Conquanto o motor fosse
revolucionário, aquecia rápido demais e não foi utilizado nas
construções seguintes.
O N-2
Em 1899 Santos Dumont construiu nova aeronave, a N-2, com o mesmo
comprimento da primeira e mais ou menos a mesma forma, mas com diâmetro
maior: 3,80 metros, o que elevou o volume para 200 metros cúbicos.
Levando em conta a insuficiência da bomba de ar, que quase o havia
matado, ele acrescentou um pequeno ventilador de alumínio para garantir
que o formato do balão se mantivesse inalterável.
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O primeiro teste foi marcado para 11 de maio de 1899. À hora da
experiência, uma chuva forte tornou o balão pesado. A demonstração feita
consistiu em manobras simples com a aeronave presa por uma corda; não
obstante, o teste terminou nas árvores adjacentes. O balão havia se
dobrado sob a ação combinada da contração do hidrogênio e da força do
vento.
O N-3
Em setembro daquele ano Santos Dumont deu início à construção de um novo
balão alongado, o N-3, inflado a gás de iluminação, com 20 metros de
comprimento e 7,50 de diâmetro, com capacidade para 500 metros cúbicos.
A cesta instalada era a mesma utilizada nas duas outras aeronaves. O
balonete interno, que até então só havia lhe causado problemas, foi
dispensado.
Às 15h30min do dia 13 de novembro, data em que, de acordo com alguns
astrólogos, o mundo acabaria, Santos Dumont, num gesto de desafio,
partiu no N-3 do Parque de Aerostação de Vaugirard e contornou a Torre
Eiffel pela primeira vez. Do monumento seguiu para o Parque dos
Príncipes e de lá para o campo de Bagatelle, próximo a Longchamps.
Aterrissou no local exato onde o N-1 havia caído, dessa vez em condições
controladas.
Entusiasmou-se:
A partir desse dia, não guardei mais a menor dúvida a respeito do
sucesso da minha invenção. Reconheci que iria, para toda a vida, dedicar-me
à construção de aeronaves. Precisava ter minha oficina, minha garagem
aeronáutica, meu aparelho gerador de hidrogênio e um encanamento, que
comunicasse minha instalação com os condutos do gás iluminante.”
Com efeito, o previdente balonista logo mandou construir na localidade
de Saint Cloud um grande hangar, comprido e alto o bastante para
comportar o N-3 com o invólucro completamente cheio, bem como os
diversos dispositivos necessários para a fabricação do gás hidrogênio.
Esse aeródromo, pronto em 1900, tinha 30 metros de comprimento, 7 de
largura e 11 de altura. Mas já não estava destinado a abrigar o N-3, que
havia sido abandonado pelo inventor, e sim o N-4, concluído em 1o de
agosto daquele ano.
O N-4
Nessa época um vultoso prêmio agitava o meio aeronáutico. No dia 24 de
março de 1900, o milionário judeu Henri Deutsch de la Meurthe, magnata
do petróleo, havia enviado ao Presidente do Aeroclube da França, fundado
há dois anos, uma carta na qual se comprometia a congratular com 100.000
francos aquele que inventasse uma máquina voadora eficiente:
Desejoso de concorrer para a solução do problema da locomoção aérea,
comprometo-me a pôr à disposição do Clube Aéreo, uma soma de 100.000
francos, constituindo um prêmio, sob o título de Prêmio do Clube Aéreo,
para o aeronauta que, partindo do parque de Saint Cloud, de Longchamps,
ou de qualquer outro ponto, situado a uma distância igual da Torre
Eiffel, alcance, em meia hora, este monumento, e, rodeando-o, volte ao
ponto de partida.
(…) Se julgar-se que algum dos concorrentes preencheu o programa, o
prêmio lhe será entregue pelo próprio Presidente do Clube, à disposição
de quem imediatamente porei a quantia acima indicada. Se no fim de cinco
anos, a partir do dia 15 de abril do corrente, 1900, ninguém o tiver
ganho, tenho por nulo o meu compromisso."
O desafio ficou conhecido na imprensa como Prêmio Deutsch. O regulamento
estipulava que uma aeronave, para ser considerada prática, deveria poder
se deslocar à Torre Eiffel, contornar o monumento e retornar ao local da
ascensão em no máximo trinta minutos, sem escalas, cobrindo ao todo 11
quilômetros sob as vistas de uma comissão do Aeroclube de França,
convocada com pelo menos um dia de antecedência.
A velocidade média mínima a atingir, portanto, era de 22 km/h. Conforme
esse critério as máquinas voadoras apresentadas até aquele momento não
haviam se provado eficientes.
O prêmio estimulou Alberto Santos Dumont a tentar com o N-4 voos mais
velozes. A aeronave tinha 420 metros de cubagem, 29 de comprimento e
5,60 de diâmetro. Por baixo ficava uma quilha de vara de bambu de 9,40
metros, na metade da qual estavam o selim e os pedais de uma bicicleta
comum.
Montado no selim, o aeronauta tinha sob os pés os pedais de partida de
um motor de 7 cavalos-vapor, que acionava uma hélice dianteira com duas
pás de seda de 4 metros. Próximo ao piloto ficavam as pontas das cordas
pelas quais se podiam controlar a regulagem do carburador e das válvulas,
bem como o manuseio do leme, do lastro e dos pesos deslocáveis. O leme,
pentagonal, foi colocado bem na extremidade do balão, no próprio
material do invólucro.
Com o N-4 Santos Dumont fez em agosto voos quase diários partindo de
Saint Cloud. Em 19 de setembro, perante membros do Congresso
Internacional de Aeronautas, ele forneceu uma prova clara do trabalho
efetivo de uma hélice aérea acionada por um motor a petróleo: marchou
repetidas vezes contra o vento, impressionando os cientistas presentes.
O Fatum
Tendo em vista alguns torneios aéreos, no começo de 1901 ele construiu o
balão Fatum, esférico, com o qual ascendeu em janeiro, março e junho
daquele ano. Testou nessas subidas um invento do aeronauta francês
Emmanuel Aimé, denominado “termosfera”, destinado a possibilitar ao
balonista melhor controle das alturas atingidas, no caso de 20 a 30
metros.
O N-5
Retomando então o desafio do Prêmio Deutsch, Santos Dumont projetou o
N-5, com motor de 16 cavalos-vapor. O dirigível, terminado em julho de
1901, tinha 550 metros de cubagem, 36 de comprimento e 6,5 de diâmetro.
O N-6 e a vitória no Prêmio Deutsch
No dia 13 de julho de 1901, após algumas saídas de prática, Santos
Dumont disputou com o N-5 o Prêmio Deutsch pela primeira vez. Cumpriu o
trajeto exigido, mas ultrapassou em dez minutos o tempo limite
estipulado para a prova. No dia 8 do mês seguinte, tentando o prêmio
novamente, acabou por chocar a aeronave contra um prédio; embora o balão
haja explodido e ficado completamente destruído, o piloto escapou
incólume do acidente.
E no dia 19 de outubro de 1901, com o balão N-6, de 622 metros cúbicos e
motor de 20 cavalos, ele finalmente executou a prova, amealhando o
cobiçado prêmio. Tornou-se reconhecido internacionalmente como o maior
aeronauta do mundo e o inventor do dirigível. O prêmio era então de 129
mil francos, que Dumont distribuiu entre sua equipe e desempregados de
Paris.
A fama internacional
Com a conquista do Prêmio Deutsch, Santos Dumont passou a receber cartas
de diversos países, em diferentes línguas, cumprimentando-o; revistas
publicaram edições luxuosas, ricamente ilustradas, para reproduzir-lhe a
imagem e perpetuar o feito; homenagens não lhe faltaram na França, no
Brasil, na Inglaterra e em vários outros países:
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O famoso 14bis |
ainda em 1901, o presidente do Brasil, Campos Salles enviou-lhe um
prêmio em dinheiro no mesmo valor do Prêmio Deutsch, bem como uma
medalha de ouro com sua efígie e uma alusão a Camões: “Por céus nunca
dantes navegados.”; em janeiro de 1902, Alberto I, o entusiasta príncipe
de Mônaco, lhe fez o convite irrecusável para que continuasse suas
experiências no Principado.
Oferecia-lhe um novo hangar na praia de La Condamine, e tudo mais que
Alberto julgasse necessário para o seu conforto e segurança; em abril
desse ano, a convite, Santos Dumont viajou aos Estados Unidos, onde
visitou os laboratórios de Thomas Edison, em Nova Iorque, e foi recebido
na Casa Branca, em Washington, DC, pelo presidente Theodore Roosevelt.
Novos dirigíveis
Após o período de homenagens, Santos Dumont passou a dedicar-se à
construção de novos modelos de dirigíveis, cada um com uma finalidade
específica: o N-7, de 1.260 metros cúbicos e motor de 46 cavalos-vapor,
projetado para ser um dirigível de corrida, foi testado em Neuilly (França)
em maio de 1904.
No mês seguinte a aeronave sofreu sabotagem numa exposição organizada em
Saint Louis (Estados Unidos da América), ficando estraçalhada, e não
pôde ser reconstruída – um malfeitor, jamais identificado, desferiu
quarenta e oito facadas no invólucro;
o N-8 tratou-se de uma cópia do N-6 encomendada por um colecionador
estadunidense, chamado Boyce; o N-9, de 220 metros cúbicos e 3 cavalos-vapor
de potência, foi um dirigível de passeio, no qual Santos Dumont fez
vários voos ao longo de 1903, o último dos quais em 14 de julho. A
primeira mulher a pilotar uma aeronave foi Aída de Acosta, em 29 de
Junho de 1903, conduzindo o N-9. Esse dirigível também foi vendido ao
Sr. Boyce.
O N-10, de 2.010 metros cúbicos e motor de 60 cavalos-vapor, foi um
dirigível ônibus, grande o bastante para levar várias pessoas e servir
para o transporte coletivo. Embora a aeronave tenha feito algumas
ascensões em outubro de 1903, nunca foi completamente terminada; o N-11,
de 1.200 metros cúbicos e 34 metros de comprimento, provido de um motor
de 16 cavalos-vapor, não passava de uma cópia reduzida do N-10. Acabou
comprado em abril de 1904 por um norte-americano ignorado; o No 12, uma
réplica do N-9, foi outra encomenda do Sr. Boyce a Santos Dumont;
finalmente, o N-13, um luxuoso balão duplo de ar quente e hidrogênio, de
2.000 metros cúbicos, capaz de se manter semanas na atmosfera, foi
destruído por uma tempestade antes de ser experimentado, em dezembro de
1904.
Em outubro de 1904 três prêmios de aviação foram fundados na França: o
Prêmio Archdeacon, o Prêmio do Aeroclube da França e o Prêmio
Deutsch-Archdeacon. O primeiro, promovido pelo milionário Ernest
Archdeacon, concederia 3.000 francos (600 dólares) para quem voasse 25
metros; o segundo, instituído pelo aeroclube francês, concederia 1.500
francos (300 dólares) para quem voasse 100 metros; e o terceiro,
patrocinado por Henri Deutsch de la Meurthe e Ernest Archdeacon,
concederia 50.000 francos (10.000 dólares) para quem voasse 1.000 metros
em circuito fechado, isto é, retornando ao ponto de partida.
Com exceção do Prêmio Deustch-Archdeacon, que não admitia que o aparelho
concorrente se valesse em momento algum de balão para a sustentação, os
outros prêmios deixavam aberta a questão da decolagem. O voo podia se
dar em terreno plano ou desnivelado, em tempo calmo ou sob vento – o
Prêmio do Aeroclube de França exigia que o voo fosse contra o vento –, e
o uso de motor não era obrigatório. Isso conferia passe livre para que
planadores e ornitópteros movidos pela força humana também pudessem
concorrer.
Era expressamente exigido por todos os prêmios, porém, que a prova
ocorresse na França e sob a supervisão de uma comissão aeronáutica
convocada no mais tardar na noite da véspera.
Pouca coisa do que era pedido era inédita. Inventores, em outros países,
já haviam cumprido ou até mesmo superado algumas das metas requeridas.
Na Alemanha, Otto Lilienthal efetuou no início da década de 1890
milhares de voos planados descendentes, atingindo com frequência
distâncias bem maiores que os 25 metros estipulados pelo Prêmio
Archdeacon.
E nos Estados Unidos, os irmãos Wright faziam desde 1903 voos cada vez
mais longos em planadores motorizados, valendo-se para decolar ora de
ventanias, ora de um engenhoso sistema de catapultagem, mas sempre sem
qualquer controle oficial.
Os prêmios instigaram Alberto Santos Dumont a se dedicar ao mais pesado.
O primeiro mais pesado: um planador
No começo de 1905 Santos Dumont construiu um aeromodelo de planador
inspirado num protótipo auto-estável feito 100 anos antes pelo cientista
inglês George Cayley, considerado o primeiro aeroplano da História: o
modelo, de 1,5 metro de comprimento por 1,2 de envergadura, era provido
de asas fixas, cauda cruciforme e um peso móvel para ajustar o centro de
gravidade. O planador de Dumont diferia do de Cayley pelas dimensões,
pelo perfil das asas e pelo fato de não possuir nenhum peso móvel.
A primeira experiência, realizada no dia 13 de maio no Aeroclube da
França, foi feita pelos irmãos Dufaux com um protótipo de helicóptero. O
modelo, de 17 quilogramas e dotado de um motor de 3 cavalos-vapor, subiu
veloz repetidas vezes até o teto do alpendre do aeroclube, levantando
nuvens de pó. Estava demonstrado que mais pesados de grandes dimensões
podiam se elevar por meios próprios.
A segunda experiência foi feita no dia 8 de junho no rio Sena: Gabriel
Voisin subiu no hidroplanador Archdeacon, rebocado por uma lancha
pilotada por Alphonse Tellier, La Rapière. A 40 km/h, o aparelho ergueu-se
da água, elevou-se a impressionantes 17 metros de altura e voou 150
metros. Santos Dumont percebeu que a era do avião estava próxima.
Um helicóptero
Dividido, passou a estudar as duas soluções para o mais pesado. Em 3 de
janeiro de 1906, inscreveu-se no Prêmio Deutsch-Archdeacon e nesse mesmo
mês iniciou a construção de um helicóptero, mas desistiu do engenho no
dia 1 de junho, em razão do mau rendimento das correias de transmissão.
O 14-bis
Construiu então uma máquina híbrida, o 14-bis, um avião unido a um balão
de hidrogênio para reduzir o peso e facilitar a decolagem. Apresentou o
exótico aeródino pela primeira vez no dia 19 de julho, em Bagatelle,
onde fez algumas corridas, obtendo saltos apreciáveis.
Animado, decidiu se inscrever para os prêmios Archdeacon e Aeroclube da
França no dia seguinte, data do seu aniversário – completaria 33 anos –,
mas foi imediatamente desestimulado pelo capitão Ferdinand Ferber, outro
entusiasta da aviação.
Ferber havia assistido às demonstrações e não gostara da solução
apresentada por Dumont; considerava o híbrido uma máquina impura. “A
aviação deve ser resolvida pela aviação!”, declarou.
O Oiseau de Proie
Santos Dumont resolveu ouvir as críticas do colega. Não concorreria aos
prêmios com o misto, mas mesmo assim em 20 de julho inscreveu-se para as
provas e nos três dias seguintes continuou a testar o avião acoplado ao
balão, a fim de praticar a direção. Ao longo dos testes percebeu que,
embora o balão favorecesse a decolagem, dificultava o voo. O arrasto
gerado era muito grande. Desfez-se do aeróstato, e o biplano, enfim
liberto do seu leve companheiro, recebeu da imprensa o nome de Oiseau de
Proie (“Ave de rapina”).
O Oiseau de Proie havia sido nitidamente inspirado no hidroplanador
testado por Voisin. À semelhança do planador aquático, o invento também
consistia num biplano celular baseado na estrutura criada em 1893 pelo
pesquisador australiano Lawrence Hargrave, que oferecia boa sustentação
e rigidez. Cada asa era formada por três células cúbicas de 1,2 metro de
aresta, dispostas em V, de modo a garantir a estabilidade lateral.
Foi sem dúvida Ferber quem aconselhou Dumont a adotar o diedro positivo,
mas enquanto o francês havia se contentado com 3 graus no 6-bis - um
planador motorizado de sua invenção experimentado no ano anterior -, o
brasileiro se valeu de 10.
O avião tinha 4 metros de altura, 10 de comprimento e 12 de envergadura,
com superfície alar de 50 metros quadrados. A massa da aeronave era de
205 quilogramas, sem piloto. As asas ficavam fixas a uma viga, na frente
da qual jazia o leme, constituído por uma célula idêntica às das asas.
Na extremidade posterior ficava a hélice, movida por um motor
Levavasseur de 24 cavalos. O trem de pouso possuía duas rodas. O
aeronauta ia em pé, em uma cesta situada entre as asas, clara influência
da tradição de Dumont como balonista e resquício da configuração
original da máquina.
Em 29 de julho, utilizando a força de um asno, Santos Dumont içou o
Oiseau de Proie por meio de um sistema de cabos até o alto de uma torre
de 13 metros de altura (2 metros ficavam fincados no chão), instalada há
alguns dias em sua propriedade em Neuilly.
Essa armação era muito semelhante à que Ferber havia utilizado em
Chalais-Meudon para os experimentos de maio de 1905 com o 6-bis. O avião,
suspenso por um gancho móvel conectado a um fio de aço inclinado,
deslizou sem a hélice 60 metros do da torre até outra menor, de
apenas 6 metros, fincada no Boulevard de la Seine. O metódico inventor
procurava sentir como seria voar em aeroplano e ao mesmo tempo estudar o
centro de gravidade do aparelho.
Um cartão-postal do Santos-Dumont 14-bis.
Em agosto Santos Dumont alterou o trem de pouso com a colocação de uma
pequena roda traseira. No dia 21 tirou o avião do hangar e deslocou-se
para o campo de provas de Bagatelle, onde experimentou a hélice em
marcha. O eixo motor não resistiu e se quebrou. No dia seguinte uma
hélice nova forneceu 1.400 rotações por minuto. No dia 23 o aeroplano
fez 25 km/h sobre a relva, sem decolar.
Era preciso aumentar a potência. Em 3 de setembro Santos Dumont
substituiu o motor de que estava se valendo, de 24 cavalos-vapor, por um
de 50, emprestado por Louis Charles Bréguet. Nos dias 4 e 7 desenvolveu
velocidades de 35 km/h e percebeu que a decolagem era iminente. Marcou a
prova para o dia 13. Na primeira tentativa não decolou, e na segunda
saltou somente. No pouso a hélice e a parte traseira do aeroplano
ficaram danificadas. A despeito disso, a experiência foi julgada
importante e uma ata foi lavrada.
O Oiseau de Proie II
No dia 23 de outubro, Santos Dumont apresentou-se em Bagatelle com o
Oiseau de Proie II, uma modificação do modelo original. O avião havia
sido envernizado para reduzir a porosidade do tecido e aumentar a
sustentação. A roda traseira fora suprimida. Pela manhã limitou-se a
manobrar o aeroplano pelo gramado, até que o eixo da hélice se partiu,
só sendo consertado à tarde, após o que o avião foi colocado em posição
para uma tentativa oficial. Uma multidão estava presente e tinha
expectativas com a apresentação do dia. Às 16h45min Santos Dumont ligou
o motor. A hélice começou a girar, e o Oiseau de Proie II pôs-se em
marcha, ganhando velocidade rapidamente. Depois de correr cerca de 100
metros, o biplano decolou.
O avião elevou-se sem muita velocidade ou estabilidade. Simultaneamente
a proa do aparelho avançou de maneira continua no espaço. O voo não
durou muito tempo nem alcançou grande altitude, mas foi um marco
importante nos projetos de Dumont. Passados apenas 6 segundos no ar e
após haver atingido 3 metros de altura, pousou a 60 metros de onde
partira.
A prova havia sido cumprida. Mais do dobro da distância predeterminada
fora coberta. O avião tripulado havia se elevado no espaço e se
sustentado por 60 metros em pleno ar, sem o aproveitamento de ventos
contrários, sem a utilização de rampas, catapultas, declives ou outros
artifícios. O voo havia se dado unicamente pelos próprios meios do
aparelho, o que constituía uma façanha inédita. Nestas condições, o
primeiro voo pela definição concreta de um avião havia se concretizado.
A multidão comemorou em entusiasmo, correu até o piloto e o carregou em
triunfo. Os juízes também haviam sido tomados de emoçã e, surpresos,
esqueceram-se de cronometrar e acompanhar o voo, e devido à falha o
recorde não foi homologado. Todas as medidas do voo (altura, distância e
tempo) tiveram que ser estimadas pela desatenção dos juízes e a comissão,
ao menos certificando-se de que a distância mínima de 25 metros fora
coberta, declarou Santos Dumont o ganhador do Prêmio Archdeacon pois o
desempenho de seus competidores não lhes renderia contestação de
qualquer forma.
O avião havia sido inventado, mas ainda era uma máquina muito precária.
Para disputar o Prêmio do Aeroclube da França, Santos Dumont inseriu
entre as asas duas superfícies octogonais (ailerões rudimentares) com as
quais esperava obter melhor controle da direção. Surgia o Oiseau de
Proie III.
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Uma cidade em sua homenagem |
Concorreu ao prêmio em 12 de novembro de 1906, mais uma vez em
Bagatelle. Fez seis voos públicos nesse dia: um às 10h, de 40 metros;
dois outros às 10h25min, respectivamente de 40 e 60 metros, quando o
eixo da roda direita se quebrou. A avaria foi reparada durante o almoço
e Santos Dumont recomeçou às 16h09min. Cobriu 82,60 metros,
ultrapassando o feito de 23 de outubro. Às 16h45min, com o dia já
terminando, partiu contra o vento e voou 220 metros, ganhando o Prêmio
do Aeroclube da França! Esses foram os primeiros voos de avião
registrados por uma companhia cinematográfica, a Pathé.
Novos aviões
Fez ainda o N-15, em contraplacado de madeira, o N-16, misto de
dirigível e avião, o N-17 e o N-18, um deslizador aquático. Descontente
com os resultados dos números 15 a 18, fez uma nova série, de tamanho
menor e mais aprimoradas, as Demoiselles.
Em 25 de julho de 1909, Louis Blériot atravessou o Canal da Mancha,
tornando-se um herói na França. Guilherme II, Imperador da Alemanha,
disse então uma frase que apareceu estampada em vários jornais: "A
Inglaterra não é mais uma ilha." Santos Dumont, em carta, parabenizou
Blériot, seu amigo, com as seguintes palavras:
"Esta transformação da geografia é uma vitória da navegação aérea sobre
a navegação marítima. Um dia, talvez, graças a você, o avião atravessará
o Atlântico" (o primeiro aviador das Américas a cruzar o Oceano
Atlântico sem auxílio de navios de apoio e sem fazer escalas foi o
brasileiro João Ribeiro de Barros em 1927). Blériot, então, respondeu: "Eu
não fiz mais do que segui-lo e imitá-lo. Seu nome para os aviadores é
uma bandeira. Você é o nosso líder."
Santos-Dumont começou a sofrer de esclerose múltipla. Envelheceu na
aparência e sentiu-se cansado demais para continuar competindo com novos
inventores nas diversas provas. Encerrou as atividades de sua oficina em
1910 e retirou-se do convívio social.
Em reconhecimento às suas conquistas, o Aeroclube da França o homenageou
com a construção de dois monumentos: o primeiro, em 1910, erguido no
campo de Bagatelle, onde realizara o voo com o Oiseau de Proie, e o
segundo, em 1913, em Saint-Cloud, em comemoração do voo do dirigível Nº
6, ocorrido em 1901.
Por ocasião da inauguração do monumento de Saint-Cloud - uma bela e
imponente estátua de Ícaro - um de seus amigos de longa data, o
desenhista Georges Goursat (vulgo “Sem”), escreveu para a revista
L’Illustration as linhas que se seguem:
Esse soberbo gênio de formas atléticas, de grave perfil, que mantém
abertas nas amarras dos braços as suas asas, rudemente empunhadas como
dois escudos, simboliza nobremente a grande obra de Santos Dumont: ele
evocaria de uma maneira bem inexata o pequeno grande homem simples, ágil
e risonho, que ele é em realidade.
Vestido com um casaco e com uma calça muito curta sempre arregaçada,
coberto com chapéu mole cujos bordos estão em contrapartida sempre
rebatidos, ele nada tem de monumental. O que o distingue é o gosto pela
simplificação, das formas geométricas, e tudo no seu aspecto denota este
caráter.
Tem paixão pelos instrumentos de precisão. Sobre a sua mesa de trabalho
estão instaladas pequenas máquinas de precisão, verdadeiras jóias da
mecânica, que não lhe servem para nada e estão lá somente para o prazer
de tê-las como bibelôs. Ali se vê, ao lado de um barômetro e de um
microscópio do último modelo, um cronômetro de marinha, na sua caixa de
mogno.
Até mesmo no terraço de sua vila ergue-se um esplêndido telescópio, com
o qual ele se dá à fantasia de inspecionar o céu. Tem horror a toda
complicação, a toda a cerimônia, a todo fausto. Assim, que rude e
deliciosa provação para a sua modéstia, esta inauguração! Há treze anos
eu o conheço; foi a primeira vez que o vi de cartola e sobrecasaca.
E, mesmo para essa única circunstância – suprema concessão aos costumes
–, suas calças corretamente esticadas cobriam as espantadas botinas. Ao
pé de seu próprio monumento, vestido de herói oficial, enternecido de
constrangimento e falta de jeito, ele me pareceu como uma espécie de
mártir da glória.
Em 20 de julho de 1969, dia do aniversário de Santos Dumont, uma
homenagem que talvez não tenha sido programada, vinda da pátria dos
irmãos Wrigth: Levado pela nave Apolo XI, Neil Armstrong torna-se o 1º
homem a pisar na Lua.
Últimos anos de vida
Em agosto de 1914, a França foi invadida pelas tropas do Império Alemão.
Era o início da Primeira Guerra Mundial. Aeroplanos começaram a ser
usados na guerra, primeiro para observação de tropas inimigas e, depois,
em combates aéreos. Os combates aéreos ficavam mais violentos, com o uso
de metralhadoras e disparo de bombas. Santos Dumont viu, de uma hora
para a outra, seu sonho se transformar em pesadelo.[36] Daí começava a
guerra de nervos de Dumont.
Santos Dumont agora se dedicava ao estudo da astronomia, residindo em
Trouville, perto do mar. Para isso usava diversos aparelhos de
observação, que os vizinhos julgaram ser aparelhos de espionagem, para
colaborar com os alemães. Foi preso sob essa acusação. Após o incidente
ser esclarecido, o governo francês pediu desculpas formalmente.
Em 1915, sua saúde piorava e decidiu retornar ao Brasil. No mesmo ano,
participou do 11º Congresso Científico Pan-Americano nos Estados Unidos,
tratando do tema da utilização do avião como forma de facilitar o
relacionamento entre os países da América. No entanto, mesmo nas
Américas o avião era utilizado para fins militares: nos Estados Unidos
eram produzidos 16 aviões
militares por dia.
Já com a depressão que ia acompanhá-lo nos seus últimos dias, encontrou
refúgio em Petrópolis, onde projetou e construiu seu chalé "A Encantada":
uma casa com diversas criações próprias, como uma mesa de refeições de
grande altura, um chuveiro de água quente e uma escada diferente, onde
só se pode pisar primeiro com o pé esquerdo.
A casa atualmente funciona como um museu. Permaneceu lá até 1922, quando
visitou a França chamado por amigos. Não estabeleceu mais um local fixo.
Permanecia algum tempo em Paris, São Paulo, Rio de Janeiro, Petrópolis e
na Fazenda Cabangu, em sua cidade natal.
Em 1922, condecorou Anésia Pinheiro Machado, que durante as comemorações
do centenário da independência do Brasil, fizera o percurso Rio de
Janeiro-São Paulo num avião. Nesse mesmo ano, mandou erguer um túmulo
para seus pais e para si mesmo, no Cemitério São João Batista, no Rio de
Janeiro. O túmulo é uma réplica do Ícaro de Saint-Cloud.
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Estátua em homenagem a
Santos Dumont em Saint-Cloud, França. |
Em janeiro de 1926, apelou à Liga das Nações para que se impedisse a
utilização de aviões como armas de guerra. Chegou a oferecer dez mil
francos para quem escrevesse a melhor obra contra a utilização de aviões
na guerra. Nesse mesmo ano, inventou um motor portátil para esquiadores,
que facilitava a subida nas montanhas. Foi experimentado pela campeã de
esqui da França, Srta. Porgés. Interna-se no sanatório Valmont-sur-Territet,
na Suíça.
Em maio de 1927, chegou a ser convidado pelo Aeroclube da França para
presidir o banquete em homenagem a Charles Lindberg, pela travessia do
Atlântico, feita por ele próprio, mas declinou do convite devido a seu
estado de saúde.
Passou algum tempo em convalescença em Glion, na Suíça e depois retorna
à França.
Retornou ao Brasil, de navio Capitão Arcona, em 1928. A cidade do Rio de
Janeiro recebê-lo-ia festivamente. Mas o hidroavião que ia fazer a
recepção, da empresa Condor Syndikat, que fora batizado com seu nome,
sofreu um acidente, sem sobreviventes ao sobrevoar o navio onde
Santos-Dumont estava. O avião levava pessoas de projeção — grandes nomes
da engenharia. Abatido, ele suspende as festividades e retorna a Paris.
Em junho de 1930, foi condecorado pelo Aeroclube da França com o título
de Grande Oficial da Legião de Honra da França.
Em 1931, esteve internado em casas de saúde em Biarritz, e em Ortez no
sul da França. Antônio Prado Júnior, ex-prefeito do Rio de Janeiro (então
capital do Brasil), havia sido exilado pela revolução de 1930 e fora
para a França.
Encontrou Santos Dumont em delicado estado de saúde, o que o levou a
entrar em contato com sua família e a pedir ao seu sobrinho Jorge Dumont
Vilares que o fosse buscar a França. De volta ao Brasil, passam por
Araxá, em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e finalmente instalam-se
no Grand Hôtel La Plage, no Guarujá, onde se instalou em maio de 1932.
Antes, em junho de 1931 tinha sido eleito imortal da Academia Brasileira
de Letras, para a cadeira 38, mas não chegou a tomar posse.
Em 1932 ocorreu a revolução constitucionalista, em que o estado de São
Paulo se levantou contra o governo revolucionário de Getúlio Vargas. Mas
o conflito aconteceu e aviões atacaram o Campo de Marte, em São Paulo,
no dia 23 de julho. Possivelmente, sobrevoaram o Guarujá, e a visão de
aviões em combate pode ter causado uma angústia profunda em Santos
Dumont que, nesse dia, aproveitando-se da ausência de seu sobrinho,
suicidou-se, aos 59 anos de idade.
Entretanto, sua misteriosa morte em circunstâncias não totalmente
explicáveis, oferece elementos suficientes para questionar se Santos
Dumont não foi assassinado.
Não deixou descendência ou nota de suicídio. Seu corpo está enterrado no
Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. O médico Walther
Haberfield removeu secretamente seu coração e o preservou em formol.
Depois de manter segredo sobre isto durante doze anos, quis devolver o
coração à família Dumont que não o aceitou. O médico então doou o
coração de Santos Dumont ao governo brasileiro. Hoje o coração está
exposto no museu da Força Aérea no Campo dos Afonsos.
Uso militar de aviões
A versão de que Santos-Dumont sempre foi contrário ao uso militar de
aviões contrasta com seus escritos: de fato Santos-Dumont chegou a
persuadir o presidente da república do Brasil para o incremento das
atividades militares, tanto da Marinha do Brasil, como do Exército
Brasileiro.
Em seu livro "O Que Eu Vi, O Que Nós Veremos", Santos Dumont transcreveu
cartas de sua autoria ao Presidente da República dos Estados Unidos do
Brasil (nome oficial do Brasil à época), sobre o atraso da indústria
aeronáutica militar no Brasil, salientando a necessidade da instalação
de campos de pouso militares tanto do Exército como da Marinha.
Destacava ainda que o assunto não era tratado com a atenção devida,
sendo que na Europa, nos Estados Unidos da América e mesmo na América do
Sul, no caso na Argentina e no Chile, o tema já era amplamente
desenvolvido.
Livro inédito de Santos Dumont
Em meio aos eventos que marcaram o centenário do voo do 14-bis,surge uma
descoberta que pode revolucionar o entendimento dos métodos de trabalho
do aviador. Familiares descobriram um livro inédito escrito de próprio
punho por Santos Dumont. O manuscrito, com 312 páginas, foi escrito por
volta de 1902. Entre as passagens do livro, destacam-se trechos sobre o
sonho de virar aeronauta e o encontro com Thomas Edison.
Homenagens ao aviador
O poeta Eduardo das Neves compôs em 1902 a música A Conquista do Ar em
homenagem aos feitos de Dumont.
Em 31 de julho de 1932 o decreto estadual n° 10.447 mudou o nome da
cidade de Palmira, em Minas Gerais, para Santos-Dumont.
A Lei n° 218, de 4 de julho de 1936, declara 23 de outubro o dia do
aviador, em homenagem ao primeiro voo da história, realizado nesta data,
em 1906.
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Busto de Santos-Dumont e
réplica do 14-bis no Museu Aeroespacial. |
Em 16 de outubro de 1936, o primeiro aeroporto do Rio de Janeiro foi
batizado com seu nome.
A Lei 165, de 5 de dezembro de 1947, concedeu-lhe o posto honorífico de
tenente-brigadeiro.
Em 1956 o Correio Brasileiro lançou uma série de selos comemorativa ao
cinqüentenário do primeiro voo de aparelho mais pesado que o ar. No
mesmo ano o correio do Uruguai lançou uma série de selos comemorativa do
mesmo feito. E ainda em 1956, a casa natal de Santos Dumont, em Cabangu,
Minas Gerais, foi transformada em museu pelo decreto estadual nº 5.057,
o Museu Casa Natal de Santos Dumont.
A Lei 3636, de 22 de setembro de 1959, concedeu-lhe o posto honorífico
de marechal-do-ar.
Em 20 de julho de 1969, 96º aniversário de Santos Dumont, levado pela
nave Apolo XI, Neil Armstrong, compatriota dos irmãos Wright, torna-se o
1º homem a pisar na Lua.
Em 1973 o Correio Brasileiro lançou uma série de selos comemorativa ao
centenário de Santos Dumont. O mesmo ocorre nos correios da Bolívia e da
França. Ainda em 1973 é lançada uma edição com dois LPs sobre o
centenário de Santos Dumont.
Alexandre e Marcos Vilares, sobrinhos-bisnetos de Santos Dumont, na
cerimônia de inscrição de Santos Dumont como herói nacional em Brasília,
26 de julho de 2006(Imagem:Wilson Dias/ABr)
Em 1976 a União Astronômica Internacional prestou homenagem ao inventor
brasileiro, colocando seu nome em uma cratera lunar. É o único
brasileiro detentor desta distinção.
Em 1981 o Correio Brasileiro lançou uma série de selos comemorativa aos
75 anos do primeiro voo de aparelho mais pesado que o ar.
A Lei 7.243, de 4 de novembro de 1984, concedeu-lhe o título de Patrono
da Aeronáutica Brasileira.
Em 13 de outubro de 1997, o então presidente dos Estados Unidos, Bill
Clinton em visita ao Brasil, discursou no Palácio do Itamaraty, se
referindo a Santos Dumont como o pai da aviação.
Em 1997 o Correio Brasileiro lançou uma série de selos comemorativos do
centenário da dirigibilidade dos balões.
Em 2005 o governo brasileiro comprou um avião da Airbus (Airbus
Corporate Jetliner) para o deslocamento do presidente da República,
sendo esse batizado de Santos Dumont.
Em 18 de outubro de 2005, a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a
Agência Espacial Federal Russa (Roscosmos) assinaram um acordo para a
realização da Missão Centenário, que levou o astronauta brasileiro
Marcos César Pontes à Estação Espacial Internacional. A missão é uma
homenagem ao centenário do voo de Santos Dumont no 14 Bis, ocorrido no
dia 23 de outubro de 1906. O lançamento da nave Soyuz TMA-8 ocorreu em
30 de março de 2006, no Centro de Lançamento de Baikonur (Cazaquistão).
Em 26 de julho de 2006 seu nome foi incluído no Livro de Aço dos Heróis
Nacionais localizado no Panteão da Pátria, em Brasília, garantindo-lhe
assim o status de Herói Nacional.
Em 23 de outubro de 2006, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
lançou o selo comemorativo em homenagem ao centenário do voo do 14-bis.
No mesmo dia, também foi lançada a moeda comemorativa à invenção de
Santos Dumont.
A partir do ano de 2006 as licenças aeronáuticas conhecidas comumente
como "brevês" possuem um selo holográfico contendo o rosto de Santos
Dumont e a figura do 14-bis, em comemoração ao centenário da aviação e
em homenagem a Santos Dumont, o realizador deste feito.
Representações na cultura
Santos Dumont já foi retratado como personagem no cinema e na televisão,
interpretado por Denis Manuel no filme "Les Faucheurs de Marguerites"
(1974), de Marcel Camus, na novela "Zazá" (1997), Cássio Scapin na
minissérie "Um Só Coração" (2004) e Daniel de Oliveira no filme "14 Bis"
(2006). Também teve sua efígie impressa nas notas de NCr$ 10,00 (dez
cruzeiros novos) de 1967.
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inteligência brasileira". Página visitada em 20 de maio de 2010. "Por
esse feito, com o testemunho de uma multidão de pessoas, Santos-Dumont
conquistou o “Prêmio Archdeacon”, honraria concedida ao primeiro aviador
que conseguisse voar uma distância de 25m com ângulo máximo de queda de
25%.
O fato teve o reconhecimento e a homologação do órgão de aviação da
época, L`Aero-Club de France e sancionado pelo embrião da International
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