Dom Pedro ll
Dom Pedro II do Brasil (nome completo: Pedro de Alcântara
João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio
Miguel Gabriel Rafael Gonzaga; Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1825 —
Paris, 5 de dezembro de 1891), chamado O Magnânimo, foi o segundo e
último Imperador do Brasil de facto. D. Pedro II foi o sétimo filho de
Dom Pedro I e da arquiduquesa Dona Leopoldina de Áustria. Sucedeu ao seu
pai, que abdicara em seu favor para retomar a coroa de Portugal, à qual
renunciara em nome da filha mais velha, D. Maria da Glória. Pelo lado
paterno, era sobrinho de Miguel I de Portugal, enquanto, pelo lado
materno, sobrinho de Napoleão Bonaparte e primo dos imperadores Napoleão
II da França, Francisco José I da Áustria e Maximiliano I do México.
Sendo o irmão mais novo de D. Maria da Glória, também fora tio de D.
Pedro V e D. Luís I, reis de Portugal.
Dom Pedro II
Imperador do Brasil
D. Pedro II, aos 61 anos, 1887.
Ordem: 2.º Imperador do Brasil
Cognome(s): O Magnânimo
Início do Reinado: 7 de abril de 1831
Término do Reinado: 15 de novembro de 1889
Aclamação: 18 de julho de 1841, Capela Imperial, Rio de Janeiro,
Brasil
Predecessor: D. Pedro I
Sucessor: Nenhum
Proclamação da República
Pai: D. Pedro I
Mãe: D. Leopoldina de Áustria
Data de Nascimento: 2 de dezembro de 1825
Local de Nascimento: Rio de Janeiro
Data de Falecimento: 5 de Dezembro de 1891 (66 anos)
Local de Falecimento: Paris
Consorte(s): Teresa de Duas Sicílias
Príncipe Herdeiro: Princesa Isabel do Brasil (filha)
Dinastia: Casa de Bragança
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Infância
Príncipe Imperial
D. Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco
Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga nasceu no Paço de
São Cristóvão, na capital brasileira, Rio de Janeiro, em 2 de dezembro
de 1825, filho de D. Pedro I, imperador do Brasil e Dona Maria
Leopoldina da Áustria, arquiduquesa da Áustria.
Pedro II aos 10 meses de idade,
1826.Seus avós paternos eram Dom João VI, rei de Portugal, Brasil e
Algarves, e Dona Carlota Joaquina, infanta da Espanha, enquanto seus
avós maternos eram Francisco I da Áustria, último sacro imperador
romano-germânico, e Maria Teresa, princesa das Duas Sicílias. |
Pedro II aos 10 meses de idade,
1826. |
O jovem príncipe era descendente dos reis de Portugal, tais como Afonso
Henriques, Dom João I e Dom João IV, assim como os reis da França, como
Hugo Capeto, Felipe IV, o Belo, São Luís e Luís XIV, o Rei Sol, também
dos reis da Espanha, como Fernando II e Isabel, os Reis Católicos e
Filipe II, assim como dos Imperadores Romano-Germânicos, tais como Otto
I, o Grande, Frederico Barbarossa e Carlos V, dos Imperadores Romanos do
Oriente, como Aleixo I Comneno, João II Comneno, Isaac II Angelos,
Miguel VIII Paleólogo, Leo VI e Constantino IX, dos reis da Inglaterra,
como Guilherme, o Conquistador, Alfredo, o Grande e Eduardo III, dos
reis dos Francos, como Meroveu, Clóvis, Pepino, o Breve e principalmente,
de Carlos Magno, restaurador do Império Romano, e de todas as demais
Casas Ducais, Reais e Imperiais da Europa.
Seu nascimento foi comemorado com
festas durante três dias no Rio de Janeiro. Sendo o único filho
homem do Imperador dom Pedro I a sobreviver à infância, tornou-se o
herdeiro da coroa imperial do Brasil, com o título de Príncipe
Imperial. Mas tornou-se órfão de mãe com pouco mais de um ano de
idade e na infância, o visconde de Barbacena o considerou um “menino
magrinho e muito amarelo”, e que sofria constantemente de febres e
ataques convulsivos. Do pai, recebeu carinho e afeto, revelando uma
grande ternura pelo filho e dizia com orgulho: “Meu filho tem sobre
mim a vantagem de ser brasileiro”. Verdadeiramente, o pequeno
príncipe era antes um símbolo, por ser considerado “genuinamente
brasileiro”. |
D. Pedro II na infância. |
Regência
Ascensão
Ao acordar no dia 7 de abril de 1831, Pedro II encontrou sobre sua cama
a coroa imperial de seu pai, que já havia partido junto à madrasta. Com
a ajuda de Mariana de Verna Magalhães Coutinho, escreveu uma carta de
despedida ao pai. Pedro I, que se encontrava na fragata britânica
Warspite, respondeu ao filho emocionado, chamando-o de “Meu querido
filho, e meu Imperador”. Seu pai partiu somente no dia 13, mas não se
viram e nem voltariam a se reverem. A distância dos filhos e a incerteza
quanto as suas seguranças atormentava Pedro I. Pedro II, por sua vez,
sofreria com a falta do pai e da madrasta a quem considerava como mãe e
como conseqüência agravaria ainda mais o seu comportamento
costumeiramente reprimido. Além de Pedro II, ficaram no Brasil três
irmãs: Januária, Paula e Francisca.
D. Pedro II na infância.A aclamação oficial de Pedro II como novo
Imperador brasileiro ocorreu em 9 de abril. Foi levado na carruagem ao
lado de Mariana de Verna até o Paço da Cidade, em choque devido à
ausência do pai e da madrasta e completamente aterrorizado com a
multidão que o cercava e pelo barulho causado pelos tiros da artilharia.
Um assustado Pedro II foi exibido ao lado das irmãs numa das janelas do
paço sobre uma cadeira para que pudesse observar a sua aclamação pela
multidão. Os brasileiros de todo o país simpatizavam “com a figura do
pequeno órfão que deveria governá-la um dia”. O espetáculo foi seguido
por tiros de artilharia que assustaram ainda mais a criança de apenas
cinco anos de idade e deste trauma infantil que provavelmente resultou
em parte na aversão do monarca a pompa do poder.
O período que se seguiu a aclamação foi provavelmente o mais conturbado
da história do Brasil independente. Como não poderia exercer as
prerrogativas reservadas somente ao Imperador constitucional até que
atingisse a maioridade, uma regência foi criada para atuar em seu lugar.
A primeira regência fora formada como um triunvirato, sendo um de seus
membros o Brigadeiro Francisco de Lima e Silva, o mesmo homem que havia
apresentado o bebê Pedro ao Governo. As lutas entre as facções políticas
resultaram em uma regência instável e quase anárquica. Os liberais que
haviam derrubado Pedro I logo se desmembraram em dois grupos: os
liberais moderados (monarquistas constitucionais que mais tarde se
tornariam o Partido Liberal e Conservador) e os republicanos (uma
pequena minoria, mas extremamente radical e revoltosa). Havia também os
restauradores que eram anteriormente conhecidos como Bonifácios.
Diversas rebeliões ocorreram pelo país durante a regência. As primeiras,
como a Rebelião de Santa Rita (1831), a Revolta do Ano da Fumaça (1833)
e a Cabanada (ou Guerra dos Cabanos, 1832-34) visavam o retorno de Pedro
I ao poder, e contavam com a participação de pessoas comuns, inclusive
ex-escravos e até mesmo escravos. A morte de Pedro I em 24 de setembro
de 1834 eliminou as aspirações dos restauradores. Novas rebeliões
ocorreram após a descentralização política e administrativa criada
promulgação do Ato Adicional em 1834.
Esta emenda constitucional acirrou
os conflitos entre os grupos políticos, que sabiam que quem tivesse
controle das províncias, teria poder sobre a máquina eleitoral e
política. Os grupos que perdiam as eleições rebelavam-se e tentavam
tomar o poder a força. Contudo, todas defendiam o trono de Pedro II,
tais como a Cabanagem (1835-40), a Sabinada (1837-38), e a Balaiada
(1838-41), apesar de algumas terem declarado a secessão das províncias
como repúblicas independentes (enquanto Pedro II fosse menor). A exceção
coube a Farroupilha (ou Guerra dos Farrapos, 1835-45), que iniciou-se
como mais uma disputa entre grupos políticos na província de Rio Grande
do Sul, mas logo evoluiu para uma rebelião separatista financiada pelo
ditador Dom Manuel Rosas. Entretanto, a maior parte da sua população,
assim como as maiores e mais prósperas cidades, permaneceu leal ao
Império.
Educação
O Imperador Pedro I escolheu três pessoas para cuidar de seus filhos ao
partir do país. A primeira foi José Bonifácio, a quem nomeou tutor de
seus filhos, posição esta confirmada em seguida pela Assembléia Geral. A
segunda foi Mariana de Verna que já ocupava o cargo de aia desde o
nascimento de Pedro II. A terceira foi o afro-brasileiro Rafael,
veterano da Guerra da Cisplatina, empregado no Paço de São Cristóvão e
homem de confiança de Pedro I, a quem pediu para que tomasse conta do
filho, e de fato o fez, até o fim de sua vida. José Bonifácio não pôde
ficar no cargo por muito tempo, e foi destituído em dezembro de 1833.
Suas relações com a regência liberal tornaram-se insustentáveis devido
ao seu papel como líder dos restauradores que desejavam o retorno de
Pedro I, não como Imperador, mas como regente até a maioridade de seu
filho. A Assembléia Geral nomeou para substituir-lo Manuel Inácio de
Andrade Souto Maior Pinto Coelho, Marquês de Itanhaém.
Dom Pedro II aos 12 anos de idade, 1838.Itanhaém fora escolhido pelo
fato de ser considerado submisso e manipulável. Era um homem de
inteligência medíocre, mas honesto e teve sabedoria o suficiente para
providenciar ao pequeno Imperador uma educação extraordinária. O tutor
teve uma “grande influência sobre o caráter e o pensamento democrático
de Pedro II”. Manteve os mesmos professores que já lecionavam a Pedro II
e suas irmãs quando José Bonifácio era tutor. A exceção coube ao Frei
Pedro de Santa Mariana que foi nomeado para ocupar o lugar Frei Antônio
de Arrábida (que também educou Dom Pedro I na infância).
Frei Pedro
Mariana atuou como um diretor geral dos estudos de Pedro II e também lhe
ensinou latim, religião e matemática. Foi uma das poucas pessoas além de
sua família que Pedro II nutriu uma grande afeição. Itanhaém e Frei
Pedro Mariana educaram Pedro II para que considerasse todos os seres
humanos como iguais, para que fosse imparcial e justo, para que
fiscalizasse os funcionários públicos, inclusive os ministros, que não
tivesse favoritos e que sempre se preocupasse com o bem público. Ambos
tinham como objetivo “formar um monarca humano, sábio, justo, honesto,
constitucional, pacifista, tolerante. Isto é, um governante perfeito,
dedicado integralmente as suas obrigações, acima das paixões políticas e
dos interesses privados”.
A educação de Pedro II começou quando ainda era herdeiro do trono,
quando já sabia ler e escrever em português aos cinco anos de idade.
Seus primeiros professores foram Mariana de Verna e frei Antonio de
Arrábida. Ao tornar-se Imperador já possuía vários mestres. Dentre eles,
estavam Félix Taunay e Luís Alves de Lima e Silva (filho do regente
Francisco de Lima e Silva), professores de francês e esgrima,
respectivamente, pelos quais teria uma amizade e admiração que
perduraria por toda a vida. Pedro II passava o dia inteiro estudando e
apenas duas horas eram destinadas a diversão. Acordava as seis e meia da
manhã e começava os estudos as sete e continuava até as dez da noite,
quando iria para cama.
As disciplinas eram diversas, iam desde línguas,
história, filosofia, astronomia, geografia, música a caça, equitação e
esgrima. Tinha-se um grande cuidado para que fosse o oposto do pai,
tanto na educação, quanto no caráter e também na personalidade.
Aprenderia ao longo da vida a falar e escrever em português, Latim,
Francês, alemão, inglês, italiano, espanhol, grego, árabe, hebraico,
sânscrito, chinês, provençal e tupi-guarani. Sua paixão pela leitura
permitiu-o assimilar tantas informações. Mas Pedro II, apesar de
inteligente, não era um gênio, mas tinha uma grande facilidade para
acumular conhecimento. Sendo um monarca constitucional, sua educação era
acompanhada atentamente pela Assembléia Geral que exigia por parte de
Itanhaém relatórios acerca de seu progresso nos estudos. Enquanto isto,
Pedro II era mantido completamente alheio ao que se passava fora do
palácio, inclusive quanto a questões políticas e a anarquia generalizada.
O jovem monarca teve uma infância triste e solitária. Era considerado
precoce, dócil e obediente, mas sempre chorava e nada parecia o agradar.
Não “foi criado com luxo e tudo era muito simples”. Só tinha permissão
para encontrar as irmãs após o almoço e somente por uma hora, que não
podiam lhe fazer companhia. Tinha poucos amigos de sua idade, e o único
que manteve até a idade adulta foi Luís Pedreira do Couto Ferraz, futuro
Visconde do Bom Retiro. Contudo, recebeu carinhos de Mariana de Verna
que o criou como um filho e de Rafael, que o carregava nos ombrose
permitia que Pedro II se escondesse em seu quarto para escapar dos
estudos. Na maior parte do tempo ficava com os empregados do palácio que
só tinham permissão para falar consigo quando interrogados. A criação
que recebeu o transformou numa pessoa tímida e carente e para fugir da
realidade fez dos “livros um mundo à parte, em que podia isolar-se e
proteger-se”. Por “trás das pompas da monarquia, da aparência de auto-suficiência,
pode ter vivido um homem infeliz”.
Coroação
O período regencial, início do reinado de dom Pedro II, foi o
período mais problemático na história do Brasil. Diversas rebeliões
e tentativas de secessão ocorreram, e apesar do sucesso que o
governo fora capaz de obter debelando-as, para muitos, inclusive
para o povo brasileiro, a única forma de pôr fim definitivo ao caos
e restaurar a ordem seria declarando dom Pedro II maior de idade
antes do tempo. |
Para os brasileiros, o Imperador
Pedro II é a representação típica da figura paterna sábia,
benevolente, austera e honesta. |
Coroação de dom Pedro II, 1841.Não acreditavam que um rapaz de apenas
catorze anos de idade pudesse obter sucesso onde os mais experientes
governantes fracassaram, apesar de toda a educação que recebeu.
Entretanto, dom Pedro II era considerado um símbolo vivo da unidade do
país. Essa posição lhe dava, diante da opinião pública, uma autoridade
maior do que a de qualquer regente. Uma demonstração clara do desejo de
tornar imperador maior de idade foi o surgimento de uma quadrinha
popular cantada pela população da cidade do Rio de Janeiro nessa época:
“Queremos Pedro II
Embora não tenha idade!
A Nação dispensa a lei
E viva a Maioridade!”
O regente, Araújo Lima, se viu sem opção a não ser aceitar o império das
circunstâncias e se dirigiu ao paço imperial, onde explicou a dom Pedro
a situação crítica pelo qual o país passava e perguntou quando desejaria
tornar-se maior de idade. O jovem imperador teria respondido de forma
direta e curta:“Quero já!” No entanto, tratava-se de uma invenção dos
maioristas para tornar o ato simbólico e deixar claro aos brasileiros
que o adolescente estava preparado para assumir o seu devido lugar. Dom
Pedro de fato não proferiu tal frase, tão distante do seu caráter
retraído e tímido. Limitou-se a pedir a opinião do regente e então
aceitou a proposta. Posteriormente viria a negar diversas vezes ter dito
a famosa frase e muito menos de ter sido partícipe do plano dos
deputados maioristas.
A decretação oficial da maioridade de monarca foi recebida com enorme
alegria pelo povo brasileiro. Pela segunda vez (a primeira, quando seu
pai abdicou), dom Pedro foi aclamado por cerca de 8 mil pessoas que se
reuniram no paço da cidade para saudá-lo. No dia de seu aniversário, em
2 de dezembro de 1840, alguns meses após ser declarado maior de idade, o
evento ocorre sob grande manifestação popular, com direito a festas e
cortejos. O mesmo ocorre no primeiro ano de aniversário da Maioridade. O
imperador registrou em seu diário: “Quanto me custa um cortejo, como mói!
Mas ele é sinal de gratidão de meus amados súditos. Devo recebê-lo com
boa cara.”
Imperador do Brasil
Casamento
D. Pedro II se casou por procuração em Nápoles a 30 de maio de 1843 e em
pessoa no Rio de Janeiro a 4 de setembro de 1843 com Teresa Cristina
Maria de Bourbon-Duas Sicílias, nascida em Nápoles em 14 de março de
1822 e morta em 28 de dezembro de 1889 no Porto, estando sepultada em
Petrópolis, no Brasil, desde 1925. Era filha caçula de Francisco, Duque
da Calábria, futuro Francisco I das Duas Sicílias (1777-1830) e de sua
segunda esposa Maria Isabel de Bourbon, quinta filha de Carlos IV rei da
Espanha e portanto irmã de Carlota Joaquina de Bourbon. D. Teresa
Cristina trouxe um dote de dois milhões de francos. Tiveram quatro
filhos.
Maioridade
Contrastando com o período conturbado da Regência, seu reinado foi de
paz interna, uma vez encerrada a Guerra dos Farrapos, que se iniciara em
1835, e vencidas as Revoluções Liberal de 1842, em São Paulo e Minas
Gerais, e Praiana, em 1848, em Pernambuco. Introduziram-se novas
invenções e apoiou-se a cultura. Durante seu reinado, foi aberta a
primeira estrada de rodagem, a União e Indústria; correu a primeira
locomotiva a vapor; foi instalado o cabo submarino; inaugurado o
telefone e instituído o selo postal.
Dom Pedro II aos 24 anos de idade, 1850.Foi colocado no trono aos 15
anos, um jovem louro, alto e de olhos azuis. Os políticos disputavam o
poder, ferozmente, achando que seria fácil dominá-lo. A princípio, seu
governo representou o triunfo do Partido Liberal sobre o Conservador,
mas, um ano depois, este voltou à carga, com medidas reacionárias que
deixaram clara sua disposição de retomar a cúpula do poder — como a
criação do Conselho de Estado e a reforma do código de processo criminal
— e que suscitaram a Revolução Liberal de 1842, circunscrita a Minas
Gerais e São Paulo. Em maio do mesmo ano, o imperador casou-se com a
princesa Teresa Cristina Maria, após outras negociações mal sucedidas
junto às cortes da Áustria, Espanha e Rússia.
Somente em 23 de julho a
notícia chegou ao Rio de Janeiro. A primeira questão foi a da sucessão,
pois as leis da sucessão davam o trono a uma mulher apenas na ausência
de filho varão. Na década de 1840, poucas princesas européias estavam
dispostas a se arriscar numa enorme viagem rumo ao Hemisfério sul.
Enviaram-se emissários para a Europa com resultados pouco satisfatórios.
Conseguiu-se afinal uma prima distante, do ramo napolitano da Casa real
espanhola, onde reinavam como reis das Duas Sicílias. O bisavô de Pedro
II, Carlos IV da Espanha, era irmão de Fernando I das Duas Sicílias, avô
da princesa que se dispôs a se tornar imperatriz. Um ano depois eram
pais de Afonso, nascido em 1845 (achado morto no berço em 1847, sem
razão aparente) e em 1848 nasceria outro menino.
Depois de perder o segundo filho, o casal viu que não mais poderia ter
outros. O imperador resignou-se e fez da filha primogênita, a Princesa
Imperial, herdeira oficial. Reinava porém sobre uma corte de poucas
festas, trabalhadora, séria. Aboliu gradualmente muitas das cerimônias
que antes mostravam pompa, abriu a família imperial ao contato mais
próximo com seus súditos. O beija-mão, porém, perdurou por muito tempo,
apesar de já abolido em outros países. Era tido, sobretudo no exterior,
como governante liberal.
Em 1845, no final da guerra dos Farrapos, os liberais dominaram a
situação, mas os conservadores logo reconquistaram a liderança e, em
conseqüência de sua atuação, deflagrou-se a insurreição praieira de
1848, em Pernambuco. Com 23 anos e já pai de Afonso, Isabel (que seria
cognominada "a Redentora"), Leopoldina e Pedro (que morreu também
criança, em 1850), D. Pedro II não era mais um mero observador dos
acontecimentos: começara um amplo trabalho de conciliação política
apartidária, nas nomeações dos integrantes do Conselho de Estado e dos
presidentes de província. Encarnou esse espírito conciliador Honório
Hermeto Carneiro Leão, mais tarde marquês de Paraná, que dobrou a
resistência do Partido Conservador. Tal comportamento político propiciou,
na década de 1860, a criação da Liga Progressista, que cindiu a ala
conservadora e permitiu a Zacarias de Góis e Vasconcelos, à frente do
Conselho de Ministros, realizar importantes reformas no final do período.
Concepções raciais e abolicionismo
Ver artigo principal: Abolicionismo no Brasil
Quando criança, dom Pedro recebeu uma grande influência por parte do pai
e também de seus mestres quanto a sua visão em relação as demais etnias
e culturas existentes no mundo. Em um período onde era comum o
entendimento científico de que existia de fato uma separação racial
entre brancos, negros e amarelos, o Imperador sempre demonstrou um
profundo ceticismo quanto a tal teoria e nunca se deixou convencer pela
tese de diferenciação racial.
Dom Pedro II aos 29 anos de idade, 1855.Por ser um homem naturalmente
tímido e avesso a intimidades, o monarca possuía poucos e sinceros
amigos. Um deles se chamava Rafael, negro e veterano da Guerra da
Cisplatina e trabalhava no paço como seu criado particular (e fora homem
de confiança de Pedro I). Tendo tido uma infância solitária e triste, um
dos atenuantes para Pedro II foi o carinho recebido por parte de Rafael,
que servira de certa forma como um pai que o pequeno Bragança não tivera.
A amizade de ambos viria a perdurar até o fim do regime monárquico e
Rafael inclusive o acompanhou em uma de suas viagens ao exterior
(Rafael, então um octagenário, viria a falecer em 15 de novembro de
1889, ao saber que Dom Pedro II seria exilado.). Também são conhecidas
suas relações com o veterano da guerra do Paraguai, Cândido da Fonseca
Galvão, figura quase folclórica no Rio de Janeiro, líder da comunidade
de negros livres da cidade, conhecido como Dom Obá II, da África. O
engenheiro André Rebouças, também negro, tinha grande trânsito junto à
família imperial, e, após a proclamação da República, auto exilou-se em
solidariedade.
Sua visão quanto à escravidão e a própria condição do negro no mundo
moderno fora afetada por sua criação. E assim percebera, não só como
apreciador da ciência, mas também como cristão e governante, o grave
erro que seria manter o regime escravocrata no Brasil. Entretanto, sabia
perfeitamente que seria impossível abolir a escravidão de uma forma
simples e direta, pois acreditava que tal ato viria a causar uma guerra
civil semelhante a que ocorreu nos EUA em 1860 e desestabilizaria
irremediavelmente a economia brasileira, levando o país ao colapso.
Dessa forma, dom Pedro realizou um projeto de extinguir a escravidão por
etapas, a iniciar por uma iniciativa pessoal sua, que ao ser declarado
maior de idade recebeu como parte de sua herança pouco mais de quarenta
escravos e mandou libertar todos.
O Imperador nunca escondeu do público a repulsa que possuía pelos
traficantes de escravos e da própria escravidão. Inclusive, nem os
interesses dos políticos, lavradores e proprietários de escravos pesaram
de forma alguma em suas deliberações ou opiniões. Foi iniciativa sua
aproveitar a crise com a Grã-Bretanha durante a década de 40 e
pressionar os políticos a extinguirem de fato o tráfico de escravos,
chegando a ponto de ameaçar abdicar a ter que manter o comércio. Seu
esforço de revelou frutífero e em 4 de setembro de 1850 foi promulgada
uma lei que tornou o tráfico ilegal. No início da década de 60, o
monarca manifestou o seu interesse em levar a cabo o seu projeto de
abolição gradual da escravidão, pois obtivera sucesso em eliminar a
principal fonte de novos escravos: a importação. Agora desejava
extinguir outra fonte: o nascimento de novos escravos. E deixou claro em
carta:
"A emancipação dos escravos, conseqüência necessária da abolição do
tráfico [negreiro], não é senão uma questão de forma e de oportunidade.
Quando as circunstâncias penosas [referia-se à Guerra do Paraguai] em
que se encontra o país o permitirem, o Governo Brasileiro considerará
objeto de primeira importância a realização daquilo que o espírito do
Cristinianismo há muito reclama do mundo civilizado.”
De fato, a sua vontade de libertar os nascituros não fora proveniente do
conflito contra o Paraguai, e sim grandemente retardada pelo mesmo.
Revelou sua idéia publicamente na Fala do Trono de 1866, sendo duramente
atacado não só pelos políticos, mas também pela sociedade em geral, que
alegavam que tal ato seria um “suicídio nacional” como recordaria mais
tarde Joaquim Nabuco. Mesmo assim, mais uma vez logrou sucesso e,
terminado o conflito, uma nova lei foi promulgada em 18 de setembro de
1871, concedendo liberdade a todos os filhos nascidos de escravas a
partir daquela data. Seu próximo projeto foi à libertação dos escravos
sexagenários: tal idéia não fora concebida tendo em vista uma
emancipação ampla, mas sim, concluir um trabalho longo que iniciara com
a extinção do tráfico. Não havendo mais escravos a nascer, e os idosos
sendo libertados, seria questão de tempo até que a escravidão deixasse
de existir em território nacional, ao mesmo tempo em que não abalaria a
economia e permitiria aos agricultores buscarem formas alternativas de
mão-de-obra. Fora o Imperador quem escolheu Manuel Dantas e em seguida,
após a queda deste, Antônio Saraiva, que conseguiu promulgar em 28 de
setembro de 1885 a Lei dos Sexagenários.
Dom Pedro II não teve participação na promulgação da Lei Áurea ocorrida
três anos depois por sua filha e herdeira, Dona Isabel, por estar em
viagem a Europa. Mas ao ouvir a notícia da extinção completa da
escravidão em solo brasileiro, um sonho alentado desde sua juventude,
proferiu emocionado em seu leito de enfermo: “Grande Povo! Grande Povo!”
Mesmo assim, tornou-se a figura mais popular do país com a abolição. O
historiador Heitor Lyra em sua biografia acerca do imperador, “História
de Dom Pedro II” v.3, asseverou:
“O inspirador da campanha [abolicionista], o estrategista dela, a alma
do movimento, aquele que buscara o general [Presidente do Conselho de
Ministros] e o colocara na frente das hostes [Assembléia Geral], que lhe
armara o braço e o prestigiara na avançada, com uma decisão sempre firme,
constante, fiél - fora o Imperador."
O papel de protagonista de dom Pedro II na campanha abolicionista seria,
com o passar do tempo, praticamente esquecido em prol de sua filha mais
velha, sendo o monarca relegado ao papel de coadjuvante, se não de um
mero espectador dos acontecimentos.
A tolerância do Imperador não se restringia somente aos negros, mas
também aos muçulmanos, pois acreditava que a paz mundial seria sempre
uma utopia, enquanto não se estabelecesse uma sincera conciliação entre
o Ocidente e o Oriente. O mesmo se estendia aos judeus, como na vez em
que respondeu ao seu amigo Gobineau a razão de não existir leis no
Brasil contra os mesmos: “Não combaterei os judeus, pois de sua raça
nasceu o Deus da minha religião”.
Educação no seu governo
Dada a pequena estrutura educacional herdada da época em que seu avô, D.
João VI, esteve no Brasil, Dom Pedro II criou e reformulou escolas e
faculdades. Fundou em 21 de Outubro de 1838 o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, o IHGB, inspirado no Institut Historique de
Paris.
O monarca nutria um profundo interesse pelas questões diretamente
relacionadas ao desenvolvimento da Educação, especialmente a educação
pública, em nosso país, tendo se detido em expor o tema, inúmeras vezes.
Na última Fala do Trono, de 3 de maio de 1889 retomou a questão sob o
viés institucional, propondo a criação do Ministério da Instrução e
reforçando a diretriz constitucional (1824) da criação do Sistema
Nacional de Instrução. Além disso, são várias as posturas e as falas em
que encontramo-lo envolvido com a questão, como ressalta Lilia Moritz
Schwarcz:
"Interessado na educação, o imperador freqüentava concursos nas escolas
de Medicina, Politécnica, Militar e Naval. Isso sem falar do Colégio
Pedro II, a grande predileção do monarca.
[...] era d. Pedro quem, em carta a José Bonifácio, o Moço, orgulhava-se
de dizer: "Eu só governo duas coisas no Brasil: a minha casa e o Colégio
Pedro II."
[...] esse colégio, o único que de certa forma, escapava ao ensino
excessivamente livresco, anticientífico e pouco abrangente da época. Com
efeito, apesar de obrigatória, a instrução primária era insuficiente: as
escolas,poucas, estavam quase todas centralizadas na corte. O monarca
parecia, porém, desconhecer essa realidade e concentrar-se, sobretudo,
no "seu colégio", como costumava dizer, onde assistia a
provas,selecionava professores e conferia médias. Em seu diário
escreveria d. Pedro II: "Se não fosse imperador do Brasil quisera ser
mestre-escola", uma opção que condizia, ao menos, com a representação
que mais e mais se divulgava."
Os primeiros republicanos legaram à historiografia brasileira uma imagem
de D. Pedro II como um governante omisso em relação às questões
educacionais. Neste particular, Rachel Aparecida Bueno da Silva faz um
contraponto:
"Ainda realizando uma leitura da obra de Schwarcz (1999), não podemos
deixar de nos ater a duas questões, que de certa forma se confrontam no
tocante à instrução pública durante o império: se existia o interesse
pessoal de D. Pedro II pela educação (demonstrado inclusive nas Falas do
Trono), ao mesmo tempo, há o fato de que o sistema de governo era
parlamentar e inexistia uma centralização e concentração absoluta de
poder. Os primeiros republicanos – e mesmo a maior parte dos autores que
estudam a transição do Império para a República – aludem a uma
centralização política e um poder de decisão pessoal do monarca,
expresso pela prerrogativa do uso do poder moderador, o qual é bastante
relativo: não existiu uma constância na utilização das prerrogativas do
trono e, no auge do império, o imperador foi bastante parcimonioso na
utilização de seus poderes constitucionais.
Na verdade, passados mais de 100 anos da Proclamação da República,
podemos nos questionar o quanto de ideológico existia nas colocações dos
primeiros republicanos, imbuídos que estavam da vontade de consolidar um
regime recém inaugurado e prover a devida justificativa teórica para a
mudança da forma e do sistema de governo: de monárquico para republicano
e de parlamentar para presidencialista."
Mesmo no exílio, Pedro II continuou a contribuir para a cultura nacional
através da doação de sua coleção particular de documentos e peças de
arte. O esforço educacional, embora prejudicado pelas inúmeras
deficiências trouxe resultados. Em 1869, havia 3516 escolas primárias no
Império, frequentada por 115735 crianças. A quantia era ainda pequena,
considerando-se que naquela ocasião existiam 1.902.424 crianças livres
em idade escolar, mas de qualquer modo as necessidades nacionais iam
sendo suprimidas, formando-se paulatinamente uma camada de profissionais
liberais e funcionários. É equivocado dizer que o Brasil naquela época
não havia universidades, não havia sim a amplitude de oportunidades para
o seu ingresso.
Mas pode-se dizer que, pela ação de Dom João VI, fora
criada a Faculdade de Medicina da Bahia, em 1792, em 1827 logo após a
independência, deu-se a criação da Faculdade de Direito de Olinda e de
São Paulo. Igualmente pode-se dizer que, até mesmo antes da chegada de
seu avô Dom João VI, sua bisavó, Dona Maria I, ordenou a criação e
instalação, na cidade do Rio de Janeiro, da Real Academia de Artilharia,
Fortificação e Desenho [o atual Insituto Militar de Engenharia (IME)],
sendo esta a primeira escola de engenharia das Américas e a terceira do
mundo.
Relação com a ciência
Homem ilustrado, e particularmente apaixonado pelas inovações
cientificas, Pedro II desde muito jovem foi sócio-correspondente de
dezenas de instituições científicas, entre as quais o prestigiado
Instituto da França.
Dom Pedro II aos 32 anos de idade, 1858..Manteve correspondência com
diversas personalidades proeminentes da época, tendo se encontrado com
alguns durante suas viagens ao exterior, entre os quais Nietzsche e
Emerson, além de escritores famosos, como Lewis Carrol, Júlio Verne e
Victor Hugo, com quem teve um célebre encontro em Paris. Hugo dizia ser
ele um "neto de Marco Aurélio".
O poeta francês Lamartine o denominava "Príncipe filósofo" e Eça de
Queiroz dizia que ele mostrava uma "rara ilustração".
Amigo de Camille Flammarion, um dos maiores astrônomos da época,
empenhou-se em equipar e reorganizar o atual Observatório Nacional, que
tornou-se um destacado centro de pesquisas. Sua paixão pela astronomia,
a ciência preferida, valeu-lhe constantes caricaturas na imprensa
brasileira, ilustrando-o acompanhado de sua luneta.
Pedro II esteve na exposição de Filadélfia, Estados Unidos, em 1876,
ocasião em que Alexander Graham Bell demonstrou a sua nova invenção: o
telefone. Provavelmente, Pedro II foi o primeiro brasileiro a usar um
telefone. Na ocasião, ele citou o clássico de William Shakespeare em
Hamlet: Ser ou não ser, para em seguida exclamar: Esta coisa fala!
Consta que teve relevante participação na divulgação e no posterior
financiamento do invento.
Foi o primeiro financista de Louis Pasteur, que o reconheceu com um "um
homem de ciências". Admirava as pesquisas de Pasteur, muito antes de que
o cientista fosse reconhecido na França, tendo inclusive convidado-o
para morar no Brasil. Apaixonado pela arqueologia, visitou as ruínas de
Tróia e as pirâmides do Egito, tendo sido recebido e conduzido nessas
ocasiões pelos próprios Schliemann e Mariette.
Também foi amigo e protetor do famoso neurologista Jean Charcot, cujas
teorias seriam a base para a psicanálise de Freud. Charcot, inclusive,
foi quem assinou seu atestado de óbito.
O imperador ajudou na industrialização do país, sendo o responsável pela
introdução do trem no Brasil, através da concessão dada ao Visconde de
Mauá para a construção da primeira ferrovia brasileira, a Estrada de
Ferro Dom Pedro II (que após a proclamação da república foi renomeada
Estrada de Ferro Central do Brasil).
Pioneiro das preocupações ecológicas, pode-se citar a ordem que deu, em
1861, para o replantio com espécies nativas da Mata Atlântica da área da
Floresta da Tijuca, devastada pelo cultivo de café.
Fato pouco conhecido, financiou a primeira expedição brasileira à
Antártida, em 1882, em que a corveta Parayba atingiu os arredores do
estreito de Drake, com propósitos de coletar informações científicas, o
que causou grande protesto da imprensa e de diversos políticos.
Foi o fundador, mantenedor e incentivador de inúmeras instituições
científicas no Brasil, entre as quais se destacam, além do já citado
observatório astronômico, o Instituto Baiano de Agricultura, o Instituto
Agronômico de Campinas, o Museu Paraense, o Instituto Histórico e
Geográfico do Brasil, a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional e a
Escola de Minas de Ouro Preto. Critica-se o imperador pelo fato de seu
apoio ter-se dado no plano do mecenato, tendo auxiliado estas
instituições com seus recursos privados, sem procurar vinculá-las ao
aparelho do estado, o que fez com que perdessem a continuidade com a sua
deposição e somente muito mais tarde se recuperassem. Não se deve
esquecer, entretanto, que tais iniciativas não tinham um segmento social
que o apoiasse, diferentemente do caso dos Estados Unidos e da Europa.
Republicanismo
O republicanismo como movimento constante surgiu no Brasil em dezembro
de 1870 no Rio de Janeiro com o lançamento de um manifesto assinado por
57 pessoas e a criação do Clube Republicano. Era uma “minoria
insignificante de letrados”. Não constava no manifesto qualquer repúdio
ou desejo de extinção da escravidão. Em 1873 surgiu o Partido
Republicano Paulista em São Paulo, que afirmava que a escravidão deveria
ser tratada pelos partidos monarquistas. Boa parte dos republicanos
paulistas eram fazendeiros proprietários de escravos. A maior parte dos
republicanos tinha por objetivo esperar a morte de Pedro II e por meios
pacíficos (como um plebiscito, por exemplo), impedir o reinado da
Princesa Isabel. Os republicanos não desejavam qualquer “reajuste
social” (como melhorar a condição de vida dos ex-escravos) e não “eram
revolucionários no sentido profundo do termo”.
O movimento republicano
“teve evolução lenta e irregular, concentrado nas províncias ao sul da
Bahia”, mais precisamente nas províncias de São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Era “um grupo extremamente reduzido”,
com “precária a organização nas províncias” e “nenhuma coesão, sem a
menor sombra de ligação”. O único grupo republicano que possuía alguma
notoriedade era o Partido Republicano Paulista, que conseguiu eleger
apenas dois deputados gerais em 1884 e nenhum na última legislatura do
Império em 1889. Na “década de 1880, angariou simpatizantes em número
menor que o abolicionismo, e num ritmo mais lento”. Seu número aumentou
somente após 1888, com a adesão de fazendeiros donos de escravos que se
sentiram injustiçados pela extinção da escravidão sem qualquer tipo de
indenização. Ainda assim, em 1889 os “republicanos declarados eram
provavelmente uma pequena minoria”.
Caricatura feita por Angelo Agostini ridicularizando o desinteresse de
Dom Pedro II pela política.Como “os próprios republicanos reconheciam, o
partido não tinha tamanho, organização e apoio popular suficientes para
derrubar o regime monárquico”. O republicanismo “não chegou, em tempo
algum de seu desenvolvimento, a galvanizar a alma nacional. Jamais teve
o condão de provocar um entusiasmo forte e de arregimentar todas as
forças que se divorciavam do trono”. Mesmo com uma propaganda radical e
com a pouca interferência das autoridades, o Partido Republicano que
atuava desde 1870 era pequeno. Sua propaganda louvava repúblicas como os
Estados Unidos, a França e Argentina, mas convenientemente ignoravam
monarquias progressistas como o Reino Unido e as nações escandinavas. Em
1889, seus membros eram alguns “discursadores de praça pública e
escrevinhadores de jornais. Estavam longe do poder desenvolver uma
propaganda que pudesse abalar, os alicerces do trono”. No “processo
político do segundo império, o partido republicano tem um papel tão
apagado e tão secundário que poderia mesmo ser esquecido, que não se
alteraria a ordem de raciocínios em que se pretendesse explicar os
motivos da desagregação do regime”. Foi a crise entre os militares e o
Governo, “de origem e evolução muito diversas” do republicanismo, que
foi o principal fator para a queda do trono.
Pedro II, contudo, não se importou com o manifesto republicano de 1870.
O Marquês de São Vicente, então Presidente do Conselho de Ministros,
sugeriu ao Imperador que fosse proibido o ingresso de republicanos na
carreira pública, prática comum nas monarquias. Pedro II respondeu: “Sr.
São Vicente, o país que se governe como entender e dê razão a quem tiver.”
O presidente censurou o monarca: “Vossa Majestade não tem direito de
pensar por este modo. A Monarquia é um dogma da Constituição, que Vossa
Majestade jurou manter; ela não está encarnada na pessoa de Vossa
Majestade”. Mas o Imperador não se importou e respondeu: “Ora, se os
brasileiros não me quiserem para seu Imperador, irei ser professor!”.
O Imperador sempre se recusou a proibir que republicanos tivessem cargos
públicos e inclusive empregou Benjamin Constant como professor de
matemática de seus netos. Permitia as manifestações de republicanos,
fossem em jornais, comícios, reuniões ou partidos. e isentou os
deputados republicanos de jurarem fidelidade a coroa. A “liberdade de
Imprensa, que constituía uma das bases do regime, continuava a permitir
as críticas mais ferozes, as caricaturas mais ignóbeis contra o regime e
seus homens públicos”. Pedro II era intransigente na defesa da
irrestrita liberdade de expressão que existia no Brasil desde 1822. Era
acusado de ser excessivamente tolerante em relação aos republicanos, mas
“não deu atenção as varias advertências no sentido de que sua ação
minava as bases políticas da monarquia”. Em 1889, Pedro II revelou a
Saraiva que não se importaria se o país se tornasse uma república. O
“indiferentismo do Imperador pela sorte do regime foi também um dos
fatores que mais contribuíram para o desprestígio e, portanto, para a
queda da Monarquia”.
Liberdade de expressão
Estátua em homenagem a Pedro II, na Praça da Liberdade, em Belo
Horizonte.Segundo o historiador José Murilo de Carvalho, em seu D. Pedro
II (Companhia das Letras: 2007), nunca o Brasil desfrutou de tanta
liberdade de expressão quanto no Segundo Reinado. Até mesmo injúrias ao
monarca eram publicadas, não admitindo ele que fossem punidas ou que os
jornais que as divulgavam fossem processados ou fechados. Com efeito, no
Brasil republicano proíbe-se o anonimato nos órgãos de imprensa, que era
aceito no período imperial. Mas, de todo modo, assegura Carvalho, o
imperador defendia a liberdade de imprensa por convicção e não por
conveniência.
Proclamação da República
Apesar de gozar de boa imagem entre a população, Pedro II foi deposto (mas
de forma pacífica e sem nenhuma espécie de participação popular) no dia
15 de Novembro de 1889, através de um golpe militar do qual fez parte o
Marechal Deodoro da Fonseca, que seria mais tarde o primeiro presidente
republicano brasileiro. Deixou o Brasil sem ressentimento, embora triste.
Ao ser deposto e banido do País, formulou «ardentes votos por sua
grandeza e prosperidade».
Exílio
Últimos anos
O ex-imperador e sua família foram exilados e mudaram-se inicialmente
para Portugal (onde assistiram às exéquias do rei Luís I, falecido em 19
de Outubro de 1889, à cerimónia de aclamação de seu filho e herdeiro
Carlos I, bem como à de baptismo do infante D. Manuel, Duque de Beja e
filho segundo do monarca português, nascido exactamente no dia da sua
deposição, e do qual viria a ser padrinho de baptizado) e a seguir para
França.
A partir de 1890 até a sua morte, o imperador deposto viveu nas cidades
de Nice e Paris. Em Nice, viveu em uma casa alugada por sua filha até
que esta se estabelecesse em uma propriedade de seu marido. Foi também
em Nice que Pedro II recebeu a notícia da morte da Condessa de Barral.
Morte
Em 23 de novembro de 1891 Pedro II compareceu a Academia de Ciências
pela última vez para participar de uma eleição. Na manhã seguinte anotou
friamente em seu diário a notícia de que o ditador Deodoro da Fonseca
havia renunciado: “10:30. O Deodoro demitiu-se.” Realizou logo mais um
longo passeio pelo Sena em carruagem aberta, apesar da temperatura
extremamente baixa. Ao retornar para o hotel Bedford à noite, sentiu-se
resfriado. A doença evoluiu nos dias seguintes até tornar-se uma
pneumonia. Não houve celebração em seu aniversário no dia 2 de dezembro,
com a exceção de uma simples missa, onde ficou acamado e teve apenas a
companhia da filha, genro e netos. Contudo, recebeu a visita de diversos
franceses e brasileiros que residiam em Paris que foram cumprimentá-lo.
Dom Pedro II, vestido com o uniforme de Marechal do Exército, em seu
leito de morte, 5 de dezembro de 1891.Seu estado de saúde piorou
repentinamente na manhã do dia 3. Outros parentes e amigos foram visitá-lo
após saberem da gravidade da situação. No dia 4 recebeu os últimos
sacramentos do abade Rébours, vigário de Madeleine. Entrou em agonia na
noite do mesmo dia e faleceu as 0:35 da manhã do dia 5. Suas últimas
palavras foram: “Deus que me conceda esses últimos desejos – paz e
prosperidade para o Brasil...” Estava tão enfraquecido que não sofreu
qualquer tipo de dor. Estavam ao seu lado sua filha Isabel, o Conde d´Eu,
os netos Pedro, Luís, Antonio, Pedro Augusto e Augusto e suas irmãs
Januária e Francisca, acompanhada de seus esposos.
Segundo o atestado de óbito a causa mortis foi uma pneumonia aguda do
pulmão esquerdo. Pedro II faleceu sem abdicar de sua coroa e sua filha
Isabel tornou-se a herdeira do trono do Império brasileiro. Ela beijou
solenemente as mãos do pai e em seguida todos os demais presentes,
inclusive dezenas de brasileiros que já se encontravam no local,
beijaram sua mão, reconhecendo-a como a Imperatriz de jure do Brasil. O
Barão de Rio Branco, que estava presente, escreveu mais tarde: “Os
brasileiros presentes, trinta e tantos, foram desfilando um a um,
lançando água benta sobre o cadáver e beijando-lhe a mão. Eu fiz o mesmo.
Despediam-se do grande morto” O senador Gaspar da Silveira Martins
chegou logo após o falecimento e, ao ver o corpo do velho amigo, chorou
convulsivamente.
Foi dispensada a autopsia e o corpo do Imperador foi embalsamado as 9
horas do dia 5 de dezembro, após injetarem seis litros de cloridrato de
zinco e de alumínio em sua carótida. Também foi feita uma máscara
mortuária. Pedro II foi vestido como o uniforme de Marechal do Exército,
representando sua posição como Chefe das Forças Armadas brasileiras. Em
seu peito foram colocadas as fitas das diversas ordens de que fazia
parte e em suas mãos, um crucifixo de prata enviado pelo Papa Leão XIII.
Duas bandeiras brasileiras foram colocadas em suas pernas para cobri-las.
Enquanto preparavam o corpo de Pedro II, o Conde d´Eu encontrou no
quarto um pacote lacrado e uma mensagem escrita pelo próprio Imperador:
“É terra de meu país, desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer
fora de minha pátria”. O pacote que continha terra de todas as
províncias brasileiras foi colocada dentro do caixão. Foram utilizados
três caixões: um de chumbo forrado de cetim branco com uma tampa de
cristal, onde depositaram o corpo, e outros dois que revestiram o
primeiro: um carvalho envernizado e outro de carvalho recoberto de
veludo negro.
Funeral
Poucas horas após a morte de Pedro II, milhares de pessoas compareceram
ao hotel Bedford, dentre elas, o Presidente do Conselho, Freycinet e os
ministros da Guerra e da Marinha. Em apenas um dia, mais de 2 mil
telegramas haviam sido enviados para o hotel com mensagens de
condolências. O presidente francês Sardi Carnot, que estava em viagem
pelo sul do país, enviou todos os membros da Casa Militar para prestarem
homenagens ao falecido monarca. A princesa Isabel desejava realizar uma
cerimônia discreta e íntima para o enterro de Pedro II. Contudo, aceitou
o pedido do Governo francês de realizar um funeral de Chefe de Estado.
Para evitar incidentes políticos, o Governo decidiu que o enterro seria
oficialmente realizado pelo fato do Imperador ser grã-cruz da Legião de
Honra, mas com as pompas devidas a um monarca. Todos os pedidos feitos
pelo governo republicano brasileiro para não se realizar qualquer tipo
de funeral oficial ou de apresentar publicamente a bandeira imperial
foram simplesmente ignorados pelo governo francês.
Os caixões contendo o corpo de Pedro II saíram do hotel Bedford na noite
de 8 de dezembro com destino a Igreja da Madeleine. Oito militares
franceses transportaram os caixões, cobertos pela bandeira imperial,
sendo assistidos por mais de cinco mil pessoas. [198] A carruagem
utilizada fora à mesma dos enterros do cardeal Morlot, do Duque de Morny
e de Adolphe Thiers.
O caixão de Pedro II sendo carregado sobre as escadarias da igreja da
Madeleine em direção a estação de trem, 1891.No dia seguinte, milhares
de personalidades compareceram a cerimônia realizada em Madeleine. Além
da família de Pedro II, estavam: Amadeo, ex-rei da Espanha, Francis II,
ex-rei das Duas Sicílias, Isabella II, ex-rainha da Espanha, Philippe,
Conde de Paris, e diversos outros membros da realeza européia. Também
estavam presentes o General Joseph Brugère, representando o Presidente
Sadi Carnot, os presidentes do Senado e da Câmara, assim como senadores,
deputados, diplomatas e outros representantes do governo francês. Quase
todos os membros da Academia Francesa, do Instituto de França, da
Academia de Ciências Morais e da Academia de Inscrições e Belas-Artes
também participaram. Entre os presentes, estavam: Eça de Queiroz,
Alexandre Dumas, fils, Gabriel Auguste Daubrée, Jules Arsène Arnaud
Claretie, Marcellin Berthelot, Jean Louis Armand de Quatrefages de Bréau,
Edmond Jurien de la Gravière, Julius Oppert, Camille Doucet e outros.
Representantes de outros governos, tanto do continente americano, quanto
europeu se fizeram presentes, além de países longínquos como Turquia,
China, Japão e Pérsia, com a exceção do Brasil.
Em seguida os caixões foram levados em cortejo até a estação de trem, de
onde partiria para Portugal. Apesar da chuva incessante e da temperatura
extremamente baixa, entre 200 mil a 300 mil pessoas assistiram ao evento.
As tropas militares francesas que fizeram parte do cortejo eram
compostas por 80 mil homens. Duas carruagens levavam quase 200 coroas de
flores. Nelas, estavam escritas mensagens homenageando o Imperador, tais
como: “A D. Pedro, Vitória R.I.”, “Dos Voluntários da Pátria ao grande
Imperador por quem se bateram Caxias, Osório, Andrade Neves e tantos
outros heróis.”, “Um grupo de brasileiros estudantes em Paris.”, “Tempos
felizes em que o pensamento, a palavra e a pena eram livres, que o
Brasil libertava povos oprimidos...”(enviada pelo Barão de Ladário,
Marquês de Tamandaré, Visconde de Sinimbu, Rodolfo Dantas, Joaquim
Nabuco e Taunay), “Ao grande brasileiro benemérito da Pátria e da
Humanidade. Ubique Patria Memor.”(enviada pelo Barão do Rio Branco), “Os
Rio-Grandenses ao rei liberal e patriota.” e “Um negro brasileiro em
nome de sua raça”.
A viagem prosseguiu até a Igreja de São Vicente de Fora, próximo a
Lisboa, onde o corpo de Pedro II foi depositado no Panteão dos Braganças
em 12 de dezembro, entre os de sua madrasta Amélia e de sua esposa,
Teresa Cristina. Em todos os locais que os caixões passaram, tanto na
França, quanto como na Espanha, e por último, em Portugal, foram
realizadas homenagens. Como sempre, com a exceção do Governo brasileiro
republicano.
Repercussão à morte do Imperador
Os membros do governo republicano brasileiro, “temerosos da grande
repercussão que tivera a morte do imperador”, negaram a possibilidade de
qualquer manifestação oficial. Contudo, o povo brasileiro não ficou
indiferente ao falecimento de Pedro II, a “repercussão no Brasil foi
também imensa, apesar dos esforços do governo para a abafar. Houve
manifestações de pesar em todo o país: comércio fechado, bandeiras a
meio pau, toques de finados, tarjas pretas nas roupas, ofícios
religiosos”. De acordo com o dr. João Mendes de Almeida, em artigo
escrito em 7 de dezembro de 1891: “A notícia do passamento de S. M. o
Imperador D. Pedro II vem pôr à prova os sentimentos da nação brasileira
com a dinastia Imperial. A consternação tem sido geral”. Foram
realizadas “missas solenes por todo o país, seguidas de pronunciamentos
fúnebres em que se enalteciam D. Pedro II e o regime monárquico” , de
maneira que a “República se calou diante da força e do impacto das
manifestações”.
A polícia foi enviada para impedir manifestações públicas de pesar,
“provocando sérios incidentes [...] enquanto o povo se solidarizava com
os manifestantes”.Uma reunião popular com o objetivo de homenagear o
falecido imperador foi realizada no dia 9 de dezembro, tendo sido
organizada pelo Marquês de Tamandaré, Visconde de Ouro Preto, Visconde
de Sinimbu, Barão de Ladário, Carlos de Laet, Alfredo d'Escragnolle
Taunay, Rodolfo Dantas, Afonso Celso e Joaquim Nabuco. Até mesmo os
antigos adversários políticos de Pedro II elogiaram o monarca deposto,
mesmo que “criticando sua política, ressaltavam sempre seu patriotismo,
honestidade, desinteresse, espírito de justiça, dedicação ao trabalho,
tolerância, simplicidade”. Quintino Bocaiúva, um dos principais líderes
republicanos, falou: “O mundo inteiro, pode-se dizer, tem prestado todas
quantas homenagens tinha direito o Sr. Dom Pedro de Alcântara,
conquistadas por suas virtudes de grande cidadão”. Alguns “membros de
clubes republicanos protestaram contra o que chamaram de exagerado
sentimentalismo das homenagens, vendo nelas manobras monarquistas. Foram
vozes isoladas”.
A reação no exterior foi igualmente simpática ao monarca. O New York
Times do dia 5 de dezembro elogiou Pedro II, considerando-o “o mais
ilustrado monarca do século” e afirmando que “tornou o Brasil tão livre
quanto uma monarquia pode ser”. The Herald escreveu: “Numa outra era, e
em circunstâncias mais felizes, ele seria idolatrado e honrado por seus
súditos e teria passado a história como ‘Dom Pedro, o Bom’”. The Tribune
afirmou que seu “reinado foi sereno, pacífico e próspero”. The Times
publicou um longo artigo: “Até novembro de 1889, acreditava-se que o
falecido Imperador e sua consorte fossem unanimemente adorados no Brasil,
devido a seus dotes intelectuais e morais e seu interesse afetuoso pelo
bem-estar dos súditos [...]
Quando no Rio de Janeiro ele era
constantemente visto em público; e duas vezes por semana recebia seus
súditos, bem como viajantes estrangeiros, cativando a todos com sua
cortesia”. O Weekly Register, por sua vez: “Ele mais parecia um poeta ou
um sábio do que um imperador, mas se lhe tivesse sido dada a
oportunidade de concretizar seus vários projetos, sem dúvida teria feito
do Brasil um dos países mais ricos do Novo Mundo”. O periódico francês
Le Jour afirmou que “ele foi efetivamente o primeiro soberano que, após
nossos desastres de 1871, ousou nos visitar. Nossa derrota não o afastou
de nós. A França lhe saberá ser agradecida”. Sobre o monarca, o The
Globe asseverou que ele “era culto, ele era patriota; era gentil e
indulgente; tinha todas as virtudes privadas, bem como as públicas, e
morreu no exílio”.
Legado
Post mortem
A monarquia “caiu quando atingia se ponto mais alto de popularidade”
entre a maior parte da população brasileira. Indiferentes aos novos
heróis republicanos, como Tiradentes, os brasileiros se mantinham
apegados a figura do Imperador popular, pois o consideravam “um herói da
gente [povo], um filho da terra”. Pois, pelo “físico, pelo temperamento,
pelas circunstancias, ninguém estava mais apto do que D. Pedro II a
encarnar o tipo simbólico de pai do povo”. Esta imagem era ainda maior
forte perante a população afro-descendente que acreditava que a
monarquia “continuava estranhamente a representar, mesmo que
metaforicamente, a libertação”. Os afro-brasileiros demonstravam o seu
sentimento de lealdade ao monarca de maneiras sutis, através de
tatuagens da coroa imperial no corpo.
Para os brasileiros, o Imperador Pedro II é a representação típica da
figura paterna sábia, benevolente, austera e honesta.Pelas cidades do
país eram cantadas músicas populares que refletiam o sentimento geral:
“Saiu d. Pedro Segundo/ Para o reino de Lisboa./ Acabou-se a monarquia/
O Brasil ficou a toa”, assim como “A mãe do Deodoro disse: “Este filho
já foi meu/ Agora tá amaldiçoado/ De minha parte e de Deus”. Pois entre
“os grandes – e poucos – nomes de nossa história que têm espaço no
imaginário popular, está certamente a figura de Dom Pedro II. Sua imagem
é a de um governante sábio, benevolente, austero e honesto”. Era “como
se uma nova mística se abatesse sobre a população, vinculando a má sorte
da República, e os problemas de ordem política e econômica, à partida de
d. Pedro II.” Pedro II era visto como um herói popular, e aos poucos
seria “reintroduzido lentamente como um herói oficial”.
Surpreendentemente, entre os republicanos surgiu um forte sentimento de
culpa, “que se tornava mais e mais evidente após a morte de d. Pedro”.
Na “memória, a monarquia estava ainda viva, assim como um certo
sentimento de remorso”. Os republicanos “reconsideravam o longo
banimento e ponderavam sobre a severidade da atitude”. Acreditavam que
Pedro II merecia ter tido um fim melhor. Ocorreu que muitos “homens
responsáveis pela República passaram a ver nos tempos do Império a época
feliz, a idade de ouro, para sempre acabada”. Surgiu “um sentimento de
que houve um tempo em que o Brasil era mais respeitável, mais honesto,
mais poderoso”. Havia uma “estranha insistência em elogiar D. Pedro II e
o regime monárquico” em “vários políticos republicanos”, inclusive os
“de maior projeção”. Não que desejassem a restauração, mas acreditavam
que a República brasileira poderia aprender com os acertos do regime
deposto. Assim, Pedro II “se tornava, paradoxalmente, um modelo dos
ideais republicanos”. Para “os republicanos, d. Pedro aparecia como o
melhor deles; para os monarquistas o elogio era, claro, outro”.
Após a morte do monarca, os apelos pelo retorno de seu corpo ao país se
tornaram comuns ao longo dos anos. O jornal A Cidade do Rio afirmou que
“o Brasil é tão grande que não pode lhe negar os minguados palmos de um
pedaço de terra” e exigiu: “Mandem-no buscar”. A Gazeta da Tarde afirmou
que Pedro II merecia um funeral oficial no país. Em 1895, Afonso Celso
escreveu no Comércio de São Paulo: “os despojos de D. Pedro não podem
continuar a jazer em território estrangeiro”. Em 1906 Olavo Bilac
demandou: “A pátria reclama o teu corpo e há de tê-lo”. O Jornal do
Comércio, por outro lado, acreditava que “um dia talvez, quando as
paixões tiverem perdido a sua agudez, hão de descansar aqui os seus
restos mortais”.
O fim do banimento
Um projeto de lei na Câmara de Deputados Federais que autorizava o
translado do corpo de Pedro II e sua esposa, e que contava com o apoio
de republicanos históricos, foi arquivado frente à exigência da Princesa
Isabel de que permitira tal somente se o banimento de sua família fosse
extinto. A inauguração de uma estátua do Imperador em Petrópolis em 5 de
fevereiro de 1911 contou com a participação de mais de mil e quinhentas
pessoas, inclusive com os membros do governo federal. Diversas estátuas
do monarca foram inauguradas ao longo dos anos seguintes por todo o país.
Logo em seguida um manifesto escrito em conjunto pelos ex-presidentes do
Conselho de Ministros do Império, Lafaiete, Ouro Preto e João Alfredo
declarou que “atento o amor que os brasileiros conservam aos seus
soberanos, convém à transladação para cá dos venerandos restos mortais
que estão lá em São Vicente de Fora”.
A estátua de Pedro II inaugurada em Petrópolis em 1911.Um novo projeto
de Lei que revogaria o banimento foi discutido e votado na Câmara em
1913. O deputado federal e republicano Irineu Machado que participou das
discussões alegou que havia “pretextos fúteis” que negavam “justiça à
memória do imperador”. Outro deputado, Martim Francisco de Andrada
afirmou que “D. Pedro II saiu pobre, deixando o país rico; não era justo
que se manifestassem contra, os que estão ricos e deixam o país pobre.”
Por sua vez, o deputado Pedro Moacir acreditava que o retorno dos restos
mortais seria “à perpétua gratidão da posteridade, teria este, o de ter
sido o mais clemente, o mais tolerante de todos os monarcas de seu
tempo”. O deputado Maurício de Lacerda aproveitou a oportunidade para
realizar um desabafo que havia se tornado comum: “acentue que agora é
que estão desaparecendo os traços da obra política dele [do Imperador] –
a moralidade.” No Senado, contudo, o projeto foi recusado graças a
intervenção do caudilho e republicano radical Pinheiro Machado. Em 1914,
entretanto, seria de Rui Barbosa , o último dos republicanos que
realizaram o golpe de 1889 (e também quem ordenou o banimento ), que
viria o mais famoso discurso em homenagem a Dom Pedro II:
"A falta de justiça, Srs. Senadores, é o grande mal da nossa terra, o
mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de
todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação. {...] De
tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de
tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da
honra, a ter vergonha de ser honesto. Essa foi a obra da República nos
últimos anos. No outro regime [na Monarquia], o homem que tinha certa
nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre, as carreiras
políticas lhe estavam fechadas. Havia uma sentinela vigilante [Dom Pedro
II], de cuja severidade todos se temiam e que, acesa no alto, guardava a
redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da
justiça e da moralidade"
Apenas dois anos mais tarde, em 1916, o presidente Venceslau Brás
autorizou o retorno dos corpos e da extinção do banimento, mas optou por
esperar para formalizar o ato após o término da I Guerra Mundial. Seu
sucessor, Epitácio Pessoa, assinou a lei (com uma pena de ouro oferecida
pela Associação Brasileira de Imprensa) em 3 de setembro de 1920 que
revogava finalmente o banimento e permitia o translado dos corpos. Rui
Barbosa falou que os “que fizeram a república federativa não têm
reivindicações contra as cinzas do velho imperador, cujas virtudes eram
muito maiores do que os seus defeitos”. E concluiu: “Na própria galeria
republicana há, portanto, um lugar, e grande, para D. Pedro II”.
O Imperador retorna para casa
Em 1920 o encouraçado São Paulo trouxe para o Brasil os féretros
imperiais. O governo republicano português concedeu a Pedro II a
exumação com honras de Chefe de Estado e o mesmo tratamento recebeu ao
chegar ao Brasil. O idoso Conde d´Eu, ao lado de seu único filho
sobrevivente, Pedro de Alcântara, acompanhou o translado. Sua esposa, a
princesa Isabel, estava idosa e enferma e não pôde vir. Morreria um ano
depois sem ter visto a terra natal. O presidente Artur Bernardes
declarou feriado nacional e em todo o país festejou-se o retorno do
Imperador.
Tumba de Pedro II no interior da Catedral de Petrópolis.Para a
solenidade principal no Rio de Janeiro veio o conselheiro Antônio Prado,
o único ministro do Império ainda vivo. Milhares de pessoas assistiram
ao evento. Os “velhos choravam. Muitos ajoelhavam-se. Todos batiam
palmas. Não se distinguiam mais republicanos e monárquicos. Eram
brasileiros”. Contudo, “a recondução oficial da figura de d. Pedro como
herói nacional se daria mesmo em 1922, grande festa de comemoração do
centenário da independência do Brasil” quando o monarca foi bastante
comemorado.
Três anos mais tarde, os brasileiros espontaneamente comemoram o
centenário de Pedro II. Havia uma clara “desproporção entre o entusiasmo
gerado pelas festividades em torno do natalício de d. Pedro e o
pouco-caso pelo aniversário da República, que completava, então, 36 anos”.
O presidente Artur Bernardes reconheceu a popularidade do monarca e
afirmou que não recusaria “ao Imperador a justiça que se lhe deve. Ele
amou o Brasil e enquanto teve forças e energia procurou servi-lo
rodeando-se dos melhores elementos de época”. Dom Pedro II se tornou,
novamente, o “pai da pátria”.
Seu corpo seria mantido temporariamente na antiga Catedral do Rio de
Janeiro até o término da construção da Catedral de Petrópolis. O enterro
definitivo ocorreria somente em 5 de dezembro de 1939, quando o ditador
Getúlio Vargas utilizou a oportunidade em benefício próprio para
angariar popularidade (tal qual Mussolini em relação ao funeral de Anita
Garibaldi em 1931), para inaugurar a capela mortuária na catedral de
Petrópolis onde os restos mortais do Imperador e de sua esposa foram
depositados.
Posteridade
De sua mulher, D. Teresa de Bourbon, princesa das Duas Sicílias
(1822-1889):
D. Afonso Pedro de Bragança e Bourbon, príncipe imperial do Brasil
(1845-1847).
D. Isabel Leopoldina de Bragança e Bourbon, princesa do Brasil
(1846-1850), princesa imperial do Brasil (1850-1921), casou-se com
Gastão de Orléans, conde d'Eu.
D. Leopoldina Teresa de Bragança e Bourbon, princesa do Brasil
(1847-1871), casou-se com o príncipe Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota.
D. Pedro Afonso de Bragança e Bourbon, príncipe imperial do Brasil
(1848-1850).
Ascendência
Ancestrais de Pedro II do Brasil
16. João V de Portugal
8. Pedro III de Portugal
17. Maria Ana de Áustria
4. João VI de Portugal
18. José I de Portugal
9. Maria I de Portugal
19. Mariana Vitória de Espanha
2. Pedro I do Brasil (IV de Portugal)
20. Carlos III de Espanha
10. Carlos IV de Espanha
21. Maria Amália da Saxónia
5. Carlota Joaquina de Bourbon
22. Filipe, Duque de Parma
11. Maria Luísa de Parma
23. Princesa Luísa Isabel de França
1. Pedro II do Brasil
24. Francisco I, Sacro Imperador Romano-Germânico
12. Leopoldo II, Imperador da Alemanha
25. Maria Teresa de Áustria
6. Francisco II, Imperador da Alemanha
26. Carlos III de Espanha (= 20)
13. Maria Luísa de Espanha
27. Maria Amália da Saxónia (= 21)
3. Maria Leopoldina da Áustria
28. Carlos III de Espanha (= 20)
14. Fernando I das Duas Sicílias
29. Maria Amália da Saxónia (= 21)
7. Maria Teresa das Duas Sicílias
30. Francisco I, Sacro Imperador Romano-Germânico (= 24)
15. Maria Carolina de Áustria
31. Maria Teresa de Áustria (= 25)
Títulos
1825-1831: Sua Alteza Imperial O Príncipe Imperial do Brasil dom Pedro
de Alcântara
1831-1889: Sua Majestade Imperial, dom Pedro II, Imperador
Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.
1889-1891: Nenhum. Passou a assinar sempre como "dom Pedro de Alcântara".
Representações na cultura
Dom Pedro II já foi retratado como personagem no cinema e na televisão,
interpretado por Marcelo Picchi na novela Helena (1987), Philippe Noiret
no filme O Jovem Toscanini (1988), Carlos Kroeber nas minisséries
Abolição (1988) e República (1989), Cláudio Corrêa e Castro na novela
Sangue do Meu Sangue de 1969 e por Sylvio Band no remake de 1995 no SBT,
Antonio Pedro no filme Policarpo Quaresma, Herói do Brasil (1998),
Rodrigo Penna no filme Mauá - O Imperador e o Rei (1999), Cláudio Marzo
no filme O Xangô de Baker Street (2001), Ricardo Pavão na novela Bang
Bang (2005), e Guillermo Hundadze (na infância) e Sérgio Britto (na
velhice), no especial de fim de ano da TV Globo O Natal do Menino
Imperador (2008).
Na literatura, merece destaque o romance do francês Jean Soublin, Je
suis l´empereur du Brésil (1996), traduzido no Brasil Dom Pedro II, o
Defensor Perpétuo do Brasil. Memórias Imaginárias do Último Imperador,
em que o ex-imperador, exilado na França, rememora filosoficamente
passagens de sua vida. Foi retratado sob o nome de Jean Theodore,
príncipe erudito mas entediado com as cerimônias do poder, no romance
Les Pléiades, do conde de Gobineau (1875). Também se diz que inspirou um
personagem de Julio Verne, o rei de Malecarlie, da obra A ilha à hélice
(1895), que abandonara o poder para se dedicar à astronomia. Também faz
uma breve aparição no romance de Machado de Assis, Dom Casmurro (1899).
Mais recentemente apareceu no romance humorístico de Jô Soares, O Xangô
de Baker Street (1995).
Também teve sua efígie impressa nas notas de Cr$ 100 (cem cruzeiros), de
1949, nas de Cr$ 10 (dez cruzeiros), de 1970, e cunhada no verso das
moedas de réis em circulação no Brasil entre 1840 e 1889.
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