Em
1419 o Infante havia se tornado governador do Algarve e por volta de 1443 foi
fundada a Vila do Infante perto do cabo Sagrado, ou cabo de Sagres. No entanto
não existe realmente nenhum tipo de documentação que nos mostre ou evidencie a
existência de um centro de estudos náuticos em Sagres, a chamada Escola de
Sagres.
Autores como Jorge Caldeira negam a sua existência. Trechos como este
nos deixam clara sua idéia (Caldeira98):
"A Escola de Sagres foi uma lenda criada por poetas românticos
portugueses do século XIX. Na verdade, foi do Porto de Lagos, e do Castelo
de Tomar, no sudoeste de Portugal, que a Ordem de Cristo, liderada por D.
Henrique, deflagrou a expansão marítima do século XV." |
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Castelo de Tomar atualmente
Já autores como o
professor Milton Vargas apostam na existência desse centro de estudos náuticos
em Sagres (Vargas80). Notamos isso no trecho abaixo:
"... quando esse
(D. Henrique) decide-se a explorar as costas da África, estabelecendo, para
tanto, um centro de investigações náuticas em Sagres e estaleiros para a
construção de navios em Lagos, no Algarve."
O que
realmente parece importar é que nenhum desses autores contesta o fato de ter
existido um centro de estudos, que pode ter se localizado em Sagres ou não, onde
um grupo formado pelos grandes estudiosos da época, liderados pelo Infante D.
Henrique e com a ajuda do dinheiro da rica Ordem de Cristo, contribuiram para
que Portugal se tornasse a maior potência marítima da época.
Não contestam
também a localização geográfica desse centro, uma vez que o sudoeste português é
sem dúvida uma das melhores posições da Europa para a existência de portos de
exploração do Atlântico do estabelecimento de um instituto como a Escola de
Sagres.
Nada podemos afirmar realmente sobre o que acontecia no interior da
Escola, mas certamente não podemos vê-la como se fosse uma academia ou uma
universidade nos moldes que hoje conhecemos; era provavelmente um centro onde se
reuniam, discutiam e estudavam astrólogos e astrônomos, navegantes e
cartógrafos.
Nas viagens
marítimas desse período, cujo objetivo era a exploração geográfica, podemos
notar uma metodologia semelhante à utilizada nas explorações científicas dos
dias de hoje. Primeiramente escolhiam-se as pessoas, para depois instrui-las
sobre como pesquisar e tomar os dados que fossem necessários.
Depois do
episódio da Tomada de Ceuta, o Infante voltou a Portugal com o intuito de
descobrir um caminho marítimo para as Índias contornando o continente africano.
Dessa maneira a partir do ano de 1416 D. Henrique passou a planejar e realizar
expedições em torno da costa africana, obtendo resultados já em 1418 com a
descoberta da Ilha da Madeira e mais tarde em 1427 com a descoberta dos Açores.
Um dos
personagens de fundamental importância nesse processo de planejamento foi D.
Pedro, irmão de D. Henrique, que esteve entre 1418 e 1428 visitando as cortes
européias e voltou trazendo de Veneza um manuscrito de "Viagens de Marco Polo".
Também visitou a corte de Florença de onde trouxe manuscritos e mapas.
(Vargas95; Santillana68)
Com a morte do Infante no ano de 1460 Sagres foi abandonada, e o processo de
investigação ficou a cargo da Coroa nas mãos de D. João II. Já no início do
século XVI a Vila do Infante foi invadida e saqueada pelo pirata inglês Francis
Drake; invasão que foi planejada com base em esquemas que ainda existem no Museu
Britânico. Teria sido esse o motivo da inexistência de qualquer tipo de
documentação que nos permita verificar a atividade da Escola de Sagres?