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História da China
A história da China está registrada em
documentos que datam do século XVI a.C. em
diante e que demonstram ser aquele país uma das
civilizações mais antigas do mundo com
existência contínua. Os estudiosos entendem que
a civilização chinesa surgiu em cidades-Estado
no vale do rio Amarelo. O ano 221 a.C. costuma
ser referido como o momento em que a China foi
unificada na forma de um grande reino ou
império. As dinastias sucessivas desenvolveram
sistemas de controle burocrático que permitiriam
ao Imperador chinês administrar o vasto
território que viria a ser conhecido como a
China.
A fundação do que hoje se chama a civilização
chinesa é marcada pela imposição forçada de um
sistema de escrita comum, pela dinastia Qin no
século III a.C., e pelo desenvolvimento de uma
ideologia estatal baseada no confucionismo, no
século II a.C. Politicamente, a China, ao que
parece, alternou períodos de unidade e
fragmentação, sendo conquistada por vezes por
potências externas, algumas das quais terminaram
assimiladas pela população chinesa. Influências
culturais e políticas de diversas partes da
Ásia, levadas por ondas sucessivas de
imigrantes, fundiram-se para criar a imagem da
atual cultura chinesa.
Para a história da China após a Guerra Civil
Chinesa, ver História da República Popular da
China e História de Taiwan.
Pré-história
Na pré-história, a China foi habitada,
possivelmente há mais de um milhão de anos, pelo
Homo erectus, cujo espécime mais famoso é o
Homem de Pequim, descoberto em 1923. Há indícios
de atividade agrícola (milhete), datados por
carbono de cerca de 6000 a.C. e associados à
cultura Peiligang. A agricultura resultou em
aumento populacional e na capacidade de estocar
e redistribuir colheitas e de manter artesãos e
administradores especializados. No final do
Neolítico, o vale do rio Amarelo começou a
tornar-se um centro cultural, com a fundação dos
primeiros vilarejos.
Os "Registros Históricos", a primeira história
abrangente da China, de autoria de Sima Qian, um
renomado historiógrafo do século II a.C.,
relatam a existência dos chamados Cinco
Imperadores. Aqueles soberanos foram sábios e
exemplos morais semi-mitológicos e um deles, o
Imperador Amarelo, é considerado o ancestral do
povo chinês. Segundo Sima Qan, a hereditariedade
do poder político foi estabelecida durante o
período histórico seguinte, chamado de Dinastia
Xia, modelo que foi perpetuado pelas Dinastias
Shang e Zhou, já na era histórica. É durante
este período das Três Dinastias que a China
histórica começa a tomar forma.
O relato de Sima Qan - segundo o qual a Dinastia
Xia teria sido fundada há 4000 anos - não foi
até o momento corroborado pela arqueologia
moderna, razão pela qual não se pode afirmar até
o momento a existência daquela dinastia.
História antiga
Dinastia Shang
Encontraram-se restos de sociedades avançadas e
estratificadas datados da época da Dinastia
Shang no vale do rio Amarelo.O registro mais
antigo do passado da China data da Dinastia
Shang, possivelmente no século XIII a.C., na
forma de inscrições divinatórias em ossos ou
carapaças de animais.
Os historiadores chineses de períodos
posteriores habituaram-se à noção de que uma
dinastia sucedia a outra, mas sabe-se que a
situação política na China primitiva era muito
mais complexa. Alguns acadêmicos sugerem que os
xias e os shangs talvez fossem entidades
políticas que co-existiram, da mesma maneira que
os zhous foram contemporâneos dos shangs.
Dinastia Zhou
Ver artigo principal: Dinastia Zhou
No final do II milênio a.C., a Dinastia Zhou,
inicialmente de caráter semi-feudal, emergiu no
vale do rio Amarelo e terminou por invadir os
shangs. Os zhous eram um povo que vivia a oeste
dos shangs e seu chefe havia sido nomeado por
estes últimos como "protetor ocidental". O chefe
dos zhous, Rei Wu, com o apoio de seu regente e
tio, o Duque de Zhou, derrotaram os shangs na
batalha de Muye. Naquele período, o rei zhou
invocou o conceito do "Mandato dos Céus" para
legitimar o seu governo, uma idéia que
influenciaria quase todas as dinastias
subseqüentes. Os zhous, de início, instalaram
sua capital a oeste numa região próxima à
moderna Xian, perto do rio Amarelo, mas viriam a
expandir-se para o vale do rio Yangtzé. Esta
seria a primeira das várias migrações
populacionais do norte para o sul na história da
China.
Período das Primaveras e dos Outonos
Ver artigo principal: Período das Primaveras e
dos Outonos
No século VIII a.C., o poder político tornou-se
descentralizado, durante o chamado Período das
Primaveras e dos Outonos, cujo nome advém dos
Anais das Primaveras e dos Outonos. Naquele
período, chefes militares locais empregados
pelos zhous começaram a agir com autonomia e a
disputar a hegemonia. A situação agravou-se com
a invasão de outros povos a partir de nordeste,
como os qins (ou chins), o que forçou os zhous a
mover sua capital a leste, para Luoyang. Isto
marca a segunda grande fase da Dinastia Zhou: os
zhous orientais. Em cada um das centenas de
Estados que vieram a surgir (alguns meros
vilarejos com um castelo), potentados locais
detinham a maior parte do poder político e sua
subserviência aos reis zhous era apenas nominal.
Por exemplo, tais chefes locais passaram a
envergar títulos reais. Este período viu surgir
movimentos intelectuais e filosóficos influentes
como o confucionismo, o taoísmo, o legalismo e o
moísmo, parcialmente como reação às mudanças
políticas da época.
Os Reinos Combatentes.
[editar] Período dos reinos combatentes
Ver artigo principal: Período dos reinos
combatentes
Após um processo de consolidação política,
restavam, no final do século V a.C., sete
Estados proeminentes. A fase durante a qual
estas poucas entidades políticas combateram umas
contra as outras é conhecida como o Período dos
Reinos Combatentes. A figura de um rei zhou
continuou a existir até 256 a.C., mas apenas
como chefe nominal, sem poderes concretos. A
fase final deste período começou durante o
reinado de Ying Zheng, rei de Qin. Após lograr a
unificação dos outros seis Estados e anexar
outros territórios nos atuais Zhejiang, Fujian,
Guangdong e Guangxi em 214 a.C., proclamou-se o
primeiro Imperador (Qin Shi Huangdi).
Qin Shihuang, primeiro imperador da China.
[editar] Dinastia Qin: o início da China
imperial
Ver artigo principal: Dinastia Qin
Os historiadores costumam denominar de China
Imperial o período entre o início da Dinastia
Qin (século III a.C.) e o fim da Dinastia Qing
(no começo do século XX). Embora seu reinado
sobre uma China unificada tenha durado apenas
doze anos, o imperador qin logrou subjugar
grande parte do que se constitui no cerne das
terras hans chinesas e uni-las sob um governo
altamente centralizado com sede em Xianyang (a
atual Xian). A doutrina do legalismo, pela qual
se orientava o imperador, enfatizava a
observância estrita de um código legal e o poder
absoluto do monarca. Tal filosofia, embora muito
eficaz para expandir o império pela força,
mostrou-se inservível para governar em tempo de
paz. Os qins promoveram o silenciamento brutal
da oposição política, cuja epítome foi o
incidente conhecido como a queima de livros e o
sepultamento de acadêmicos (vivos).
A Dinastia Qin é famosa por ter iniciado a
Grande Muralha da China, que foi posteriormente
ampliada e aperfeiçoada durante a Dinastia Ming.
Incluem-se entre as demais contribuições dos qin
a unificação do direito, da linguagem escrita e
da moeda da China, bem-vindas após as
tribulações dos períodos da Primavera e do
Outono e dos Reinos Combatentes. Até mesmo algo
tão prosaico como o comprimento dos eixos das
carroças teve que ser uniformizado de modo a
permitir um sistema comercial viável que
abrangesse todo o império.
Dinastia Han: uma fase próspera
A Dinastia Han emergiu em 202 a.C., como a
primeira a adotar a filosofia do confucionismo,
que se tornou a base ideológica de todos os
regimes chineses até o fim da China Imperial.
Durante esta fase dinástica, a China logrou
grandes avanços nas artes e nas ciências. O
Imperador Wu consolidou e ampliou o império ao
expulsar os xiongnus (que alguns identificam com
os hunos) para as estepes do que é hoje a
Mongólia Interior, tomando-lhes o território
correspondente às atuais províncias de Gansu,
Ningxia e Qinghai. Isto permitiu abrir as
primeiras ligações comerciais entre a China e o
Ocidente: a Rota da Seda.
Entretanto, as aquisições de terras pelas elites
gradualmente causaram uma crise tributária. Em 9
d.C., o usurpador Wang Mang fundou a breve
Dinastia Xin ("nova") e deu início a um amplo
programa de reformas agrária e econômica. As
famílias proprietárias de terras jamais apoiaram
as reformas, que favoreciam os camponeses e a
pequena nobreza, e a instabilidade causada por
sua oposição levou ao caos e a rebeliões.
O Imperador Guangwu reinstituiu a Dinastia Han,
sediada agora em Luoyang, próximo a Xian, com o
apoio das famílias proprietárias e mercantis.
Alguns denominam este período Dinastia Han
Oriental. O poder dos hans declinou em meio a
aquisições de terras, invasões e rixas entre
clãs consortes (isto é, clãs a que pertenciam a
consorte do imperador) e eunucos. A Rebelião do
Turbante Amarelo, protagonizado pelos
camponeses, estalou em 184 e resultou numa era
de chefes guerreiros. No caos subseqüente, três
Estados buscaram a preeminência durante o
chamado Período dos Três Reinos.
Dinastia Jin
Embora os três grupos tenham sido
temporariamente unificados em 278 pela Dinastia
Jin, os grupos étnicos não-hans controlavam boa
parte do país no início do século IV e
provocaram migrações de hans em grande escala
para a margem sul do YangTzé. Em 303, o povo di
revoltou-se, capturou Chengdu e estabeleceu o
Estado de Cheng Han. Os xiongnus, chefiados por
Liu Yuan, rebelaram-se também e fundaram o
Estado de Han Zhao. Seu sucessor, Liu Cong,
capturou e executou os dois últimos imperadores
jins ocidentais. O Período dos Dezesseis Reinos
assistiu a uma pletora de breves dinastias
não-chinesas que, a partir de 303, governaram o
norte da China. Os grupos étnicos ali presentes
incluíam os ancestrais dos turcos, mongóis e
tibetanos. A maioria daqueles povos nômades,
relativamente pouco numerosos, já havia sido
achinesada muito antes de sua ascensão ao poder.
Na verdade, alguns deles, em especial os chiangs
e os xiongnus, já habitavam as regiões de
fronteira no interior da Grande Muralha desde o
final da Dinastia Han, com o consentimento
desta.
Dinastia Sui: reunificação
Ver artigo principal: Dinastia Sui
A Dinastia Sui logrou reunificar o país em 581,
após quase quatro séculos de fragmentação
política na qual o norte e o sul se
desenvolveram independentemente. Do mesmo modo
que os soberanos qin haviam unificado a China
após o Período dos Reinos Combatentes, os suis
uniram o país e criaram diversas instituições
que terminaram por ser adotadas por seus
sucessores, os tangs. Da mesma forma que os
qins, porém, os suis sobrecarregaram seus
recursos e caíram.
Dinastia Tang: a volta da prosperidade
Em 18 de junho de 618, Gaozu tomou o poder e
estabeleceu a Dinastia Tang. Iniciou-se então
uma era de prosperidade e inovações nas artes e
na tecnologia. O budismo, que se havia instalado
gradualmente na China a partir do século I,
tornou-se a religião predominante e foi adotada
pela família imperial e pelo povo.
Os tangs, da mesma forma que os hans, mantiveram
abertas as rotas comerciais para o Ocidente e o
para o sul; diversos comerciantes estrangeiros
fixaram-se na China.
A partir de cerca de 860, a Dinastia Tang
começou a declinar, devido a uma série de
rebeliões internas e de revoltas de Estados
clientes. Um chefe guerreiro, Huang Chao,
capturou Guangzhou em 879 e executou a maioria
dos seus 200.000 habitantes. Em 880, Luoyang
caiu-lhe nas mãos e, em 881, Changan. O
Imperador Xizong fugiu para Chengdu e Huang
estabeleceu um governo que, embora
posteriormente destruído por forças tangs,
lançou o país num novo período de caos político.
Cinco dinastias e dez reinos
Ver artigo principal: Período das Cinco
Dinastias e dos Dez Reinos
Ao interregno entre a Dinastia Tang e a Dinastia
Sung, caracterizado pela fragmentação política,
dá-se o nome de Período das Cinco Dinastias e
dos Dez Reinos. Com duração de pouco mais de
meio século, entre 907 e 960, esta fase
histórica viu a China tornar-se uma pluralidade
de estados. Cinco regimes sucederam-se
rapidamente no controle do tradicional coração
territorial do país, no norte, enquanto que dez
regimes mais estáveis ocupavam porções do sul e
do oeste da China.
Divisão política: os liaos, os sungs, os xias
ocidentais, os jins
Mapa da Eurásia em cerca de 1200, anteriormente
às invasões mongóis.Em 960, a Dinastia Sung
(960-1279) logrou controlar a maior parte da
China e escolheu Kaifeng para sua capital, dando
início a um período de prosperidade econômica,
enquanto que a Dinastia Liao dos khitans
governava a Manchúria e a Mongólia. Em 1115,
subiu ao poder a Dinastia Jin (1115-1234), dos
jurchens[1], e, em dez anos, aniquilou a
Dinastia Liao. Tomou a China setentrional e
Kaifeng das mãos da Dinastia Sung, forçando-a a
transferir sua capital para Hangzhou e a
reconhecer os jins como suzeranos. A China
encontrava-se então dividida entre a Dinastia
Jin, ao norte, a Dinastia Sung Meridional, ao
sul, e os xias ocidentais, a oeste. Os sungs
meridionais passaram por um período de grande
desenvolvimento tecnológico, possivelmente
devido em parte à pressão militar que sofriam na
sua fronteira setentrional.
Os mongóis e a Dinastia Yuan
Ver artigo principal: Dinastia Yuan
O Império Jin foi derrotado pelos mongóis, que
em seguida subjugaram os sungs meridionais ao
cabo de uma guerra longa e cruenta, a primeira
na qual as armas de fogo desempenharam um papel
importante. Com isto, a China foi mais uma vez
unificada, mas agora como parte de um vasto
Império Mongol. Neste período, Marco Polo
visitou a corte imperial em Pequim. Os mongóis
dividiam-se então entre os que preferiam manter
sua base nas estepes e aqueles que desejavam
adotar os costumes dos chineses hans. Um destes
era Cublai Cã, neto de Gêngis Cã e fundador da
Dinastia Yuan, a primeira a governar toda a
China a partir de Pequim.
Dinastia Ming: nova hegemonia dos hans
Ver artigo principal: Dinastia Ming
A China sob a Dinastia Ming (em 1580).O forte
sentimento popular hostil ao governo
"estrangeiro" levou a rebeliões camponesas que
terminaram por repelir os mongóis de volta às
estepes e a instituir a Dinastia Ming em 1368.
Durante o governo mongol, a população havia sido
reduzida em 40 por cento, para um total estimado
em 60 milhões de pessoas. Dois séculos depois, a
população dobrara de tamanho, o que deu causa a
uma maior urbanização e à maior complexidade da
divisão do trabalho. Surgiram pequenas
indústrias, dedicadas à produção de papel, seda,
algodão e porcelana, em especial em grandes
centros urbanos como Pequim e Nanquim.
Prevaleciam, porém, as pequenas cidades com
mercados que comerciavam principalmente comida
mas também alguns itens manufaturados, como
alfinetes e azeite.
Apesar da xenofobia e da introspecção
intelectual característica do neo-confucionismo,
uma escola crescentemente popular, a China do
início da Dinastia Ming não se isolara. O
comrcio exterior e outros contatos com o mundo
externo, em especial com o Japão, cresceram
bastante. Mercadores chineses exploraram todo o
Oceano Índico e atingiram a África Oriental com
as viagens de Zheng He.
Zhu Yuanzhang (ou Hongwu), fundador da Dinastia
Ming, lançou as bases de um Estado menos
interessado em comércio do que em extrair
recursos do setor agrícola. Talvez devido ao
passado camponês do imperador, o sistema
econômico ming enfatizava a agricultura, ao
contrário do que fizeram as Dinastias Sung e
Mongol, cujas finanças se baseavam no comércio.
As grandes propriedades rurais foram confiscadas
pelo governo, divididas e arrendadas. Proibiu-se
a escravidão privada, o que fez com que os
camponeses com a posse da terra predominassem na
agricultura, após a morte do Imperador Yongle.
Tais políticas permitiram aliviar a pobreza
causada pelos regimes anteriores.
A dinastia possuía um governo central forte e
complexo que unificou o império. O papel do
imperador passou a ser mais autocrático, embora
Zhu Yuanzhang precisasse lançar mão dos chamados
"Grandes Secretários" para auxiliá-lo a lidar
com a enorme burocracia, a qual mais tarde
causaria o declínio da dinastia, por impedir o
governo de se adaptar às mudanças sociais.
O Imperador Yongle procurou ampliar a influência
da China além de suas fronteiras, ao exigir que
outros governantes lhe enviassem embaixadores
para pagar tributo. Construiu-se uma grande
marinha, inclusive navios de quatro mastros com
deslocamento de 1.500 t. Criou-se um exército
regular de um milhão de homens. As forças
chinesas conquistaram parte do que é hoje o
Vietnã, enquanto que a frota imperial navegava
pelos mares da China e o Oceano Índico, chegando
até a costa oriental da África. Os chineses
estenderam sua influência até o Turquestão.
Diversas nações asiáticas pagaram tributo ao
imperador. Internamente, o Grande Canal foi
ampliado, com impacto positivo sobre o comércio.
Produziam-se mais de 100.000 t de ferro por ano.
Imprimiam-se livros com o uso da tipografia. O
palácio imperial da Cidade Proibida atingiu
então ao seu atual esplendor. Enfim, o período
ming parece ter sido um dos mais prósperos para
a China. Também foi naquela época o potencial do
sul da China veio a ser totalmente explorado. O
período ming testemunhou a última ampliação da
Grande Muralha da China.
Dinastia Qing
Ver artigo principal: Dinastia Qing
A Dinastia Qing (1644-1911) foi fundada após a
derrota dos mings, a última dinastia han
chinesa, pelas mãos dos manchus. Estes,
anteriormente conhecidos como jurchens,
invadiram a China a partir do norte no final do
século XVII. Embora os manchus fossem
conquistadores estrangeiros, adotaram
rapidamente as tradicionais regras de governo
confucianas e terminaram por governar na mesma
linha das dinastias nativas anteriores.
Os manchus obrigaram os hans a adotar o seu
estilo de penteado e de vestimenta, sob pena de
morte.
O Imperador Kangxi ordenou a criação do mais
completo dicionário de caracteres chineses até
então. Durante o reinado do Imperador Qianlong,
compilou-se um catálogo das obras mais
importantes sobre cultura chinesa.
Para evitar uma assimilação completa pela
sociedade chinesa, os manchus estabeleceram um
sistema de "oito estandartes" (ou "bandeiras"),
divisões administrativas - oriundas de tradições
militares manchus - nas quais as famílias
manchus se distribuíam. Os manchus na China
empregavam a sua própria língua, mantinham suas
tradições, como o tiro com arco e o hipismo, e
detinham privilégios econômicos e legais nas
cidades chinesas.
Ao longo do meio século seguinte, os manchus
consolidaram o seu controle sobre o território
antes pertencente aos mings e ampliaram sua
esfera de influência para incluir Xinjiang, o
Tibete e a Mongólia.
O século XIX testemunhou o enfraquecimento do
governo qing, em meio a grandes conflitos
sociais, estagnação econômica e influência e
ingerência ocidentais. O interesse britânico em
continuar o comércio de ópio com a China colidiu
com éditos imperiais que baniam aquela droga
viciante, o que levou à Primeira Guerra do Ópio,
em 1840. O Reino Unido e outras potências
ocidentais, inclusive os Estados Unidos,
ocuparam "concessões" à força e ganharam
privilégios comerciais. Hong Kong foi cedida aos
britânicos em 1842 pelo Tratado de Nanquim.
Também ocorreram naquele século a Rebelião
Taiping (1851-1864) e o Levante dos Boxers
(1899-1901). Em muitos aspectos, as rebeliões e
os tratados que os qings se viram forçados a
assinar com potências imperialistas são
sintomáticos da incapacidade do governo chinês
em reagir adequadamente aos desafios que
enfrentava a China no século XIX.
O declínio da monarquia
As duas Guerras do Ópio e o tráfico daquela
droga foram custosos para a Dinastia Qing e o
povo chinês. O tesouro imperial quebrou duas
vezes, por conta do pagamento de indenizações
devidas às guerras e à grande evasão de prata
causada pelo tráfico de ópio. A China sofreu
duas fomes extremas vinte anos após cada uma das
Guerras do Ópio nos anos 1860 e 1880, quando a
Dinastia Qing se mostrou incapaz de acudir a
população. Tais eventos tiveram um profundo
impacto ao desafiar a hegemonia de que os
chineses gozavam na Ásia há séculos e
mergulharam o país no caos.
Uma vasta revolta, a Rebelião Taiping, fez com
que cerca de um-terço do país passasse ao
controle de um movimento religioso
pseudo-cristão chefiado pelo "Rei Celestial"
Hong Xiuquan. Somente ao cabo de catorze anos é
que as forças qings lograram destruir o
movimento, em 1864. Estima-se que a rebelião
teria causado entre vinte e cinqüenta milhões de
mortos.
Os líderes qing suspeitavam da modernidade e dos
avanços sociais e tecnológicos, que viam como
ameaças ao seu controle absoluto sobre a China.
Por exemplo, a pólvora, que havia sido
largamente empregada pelos exércitos das
Dinastias Sung e Ming, fora proibida pelos qings
ao assumirem o controle do país. Por este e
outros motivos, a dinastia encontrava-se
despreparada para lidar com as invasões
ocidentais. As potências ocidentais intervieram
militarmente para reprimir o caos doméstico,
como nos casos da Rebelião Taiping e do Levante
dos Boxers.
Nos anos 1860, a Dinastia Qing logrou sufocar
revoltas, com enorme custo e perda de vidas.
Isto minou a credibilidade do regime qing e
contribuiu para o surgimento de senhores da
guerra locais. O Imperador Guangxu procurou
lidar com a necessidade de modernizar o país por
meio do Movimento de Auto-Fortalecimento.
Entretanto, a partir de 1898, a Imperatriz
regente Cixi manteve Guangxu preso sob a
alegação de "deficiência mental", após um golpe
militar por ela orquestrado com o apoio da
facção conservadora, contrária às reformas.
Guangxu faleceu um dia antes da imperatriz
regente (segundo alguns, por ela envenenado). Os
"novos exércitos" qings (treinados e equipados
conforme o modelo ocidental) foram
fragorosamente derrotados na Guerra
Sino-Francesa (1883-1885) e na Guerra
Sino-Japonesa (1894-1895).
No início do século XX, o Levante dos Boxers, um
movimento conservador anti-imperialista que
pretendia fazer o país regressar a um estilo de
vida tradicional, ameaçou o norte da China. A
imperatriz regente, provavelmente com o fito de
garantir o seu controle sobre o governo, apoiou
os boxers quando estes avançaram sobre Pequim.
Em reação, a chamada Aliança dos Oito Estados
invadiu a China. Composta de tropas britânicas,
japonesas, russas, italianas, alemãs, francesas,
norte-americanas e austro-húngaras, a aliança
derrotou os boxers e exigiu mais concessões do
governo qing.
A República da China
Ver artigo principal: História da República da
China (1912 - 1949)
Frustrados com a resistência da corte qing em
reformar o país e a fraqueza da China, jovens
funcionários, oficiais militares e estudantes -
inspirados nas idéias revolucionárias de Sun
Yat-sen - começaram a defender a derrubada da
Dinastia Qing e a proclamação da república. Um
levante militar, conhecido como Levante Wuchang,
iniciou-se em 10 de outubro de 1911 em Wuhan, e
levou à formação de um governo provisório da
República da China em Nanquim, em 12 de março de
1912. Sun Yat-sen foi o primeiro a assumir a
presidência, mas viu-se forçado a entregar o
poder a Yuan Shikai, que comandara o Novo
Exército (tropas chinesas treinadas e equipadas
à maneira ocidental) e fora primeiro-ministro
durante a era qing, como parte do acordo para a
abdicação do último monarca da dinastia. Nos
anos seguintes, Shikai aboliu as assembléias
nacional e Provinciais e declarou-se imperador
em 1915. Suas ambições imperiais encontraram
forte oposição por parte de seus subordinados,
de modo que terminou por abdicar, morrendo em
1916 e deixando um vácuo de poder na China. Com
o governo republicano em frangalhos, o país
passou a ser administrado por coalizões
variáveis de chefes militares provinciais.
Um evento pouco notado, ocorrido em 1919 - o
Movimento do Quatro de Maio -, haveria de ter
repercussões a longo prazo para o restante da
história da China no século XX. O movimento teve
início como uma resposta ao que teria sido um
insulto imposto à China pelo Tratado de
Versalhes, que encerrara a Primeira Guerra
Mundial, mas tornou-se um movimento de protesto
contra a situação interna do país. Entre os
intelectuais chineses, a adoção de idéias mais
radicais seguiu-se ao descrédito da filosofia
liberal ocidental, o que resultaria no conflito
irreconciliável entre a esquerda e a direita na
China que dominaria a história do país pelo
restante do século.
Nos anos 1920, Sun Yat-sen estabeleceu uma base
revolucionária no sul da China e lançou-se à
unificação de seu fragmentado país. Com auxílio
soviético, ele aliou-se ao Partido Comunista da
China (PCC). Após a sua morte em 1925, um de
seus protegidos, Chiang Kai-shek, assumiu o
controle do Kuomintang (Partido Nacionalista, ou
KMT) e logrou reunir sob seu governo a maior
parte do sul e do centro da China numa campanha
militar conhecida como a Expedição do Norte.
Após derrotar os chefes guerreiros daquelas
regiões, Chiang obteve a fidelidade nominal dos
líderes do norte. Em 1927, voltou-se contra o
PCC e expulsou os exércitos comunistas e seus
chefes de suas bases no sul e no leste da China.
Em 1934, as tropas do PCC empreenderam a Longa
Marcha, através da região mais inóspita da China
a noroeste, onde estabeleceram uma base
guerrilheira em Yan'an, na província de Shanxi.
Durante a Longa Marcha, os comunistas
reorganizaram-se sob um novo chefe, Mao
Tse-tung. O conflito entre o KMT e o PCC
continuou, aberta ou clandestinamente, ao longo
dos catorze anos da invasão japonesa, apesar da
aliança nominal entre ambos os partidos para
opor-se aos japoneses em 1937. A guerra civil
chinesa continuou após a derrota do Japão na
Segunda Guerra Mundial em 1945. Em 1949, o PCC
já ocupava a maior parte do país.
Chiang Kai-shek refugiou-se, com o resto de seu
governo, em Taiwan, onde declarou Taipé a
capital provisória da República da China e
afirmou seu propósito de reconquistar a China
continental.
A China do presente
Ver artigo principal: História da República
Popular da China
Com a proclamação da República Popular da China
(RPC) em 1 de outubro de 1949, o país viu-se
novamente dividido entre a RPC, no continente, e
a República da China (RC), em Taiwan e outras
ilhas. Cada uma das partes se considera o único
governo legítimo da China e denuncia o outro
como ilegítimo. Desde os anos 1990, a RC tem
procurado obter maior reconhecimento
internacional, enquanto que a RPC se opõe
veementemente a qualquer envolvimento
internacional e insiste na "Política de uma
China".
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