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História da China

A história da China está registrada em documentos que datam do século XVI a.C. em diante e que demonstram ser aquele país uma das civilizações mais antigas do mundo com existência contínua. Os estudiosos entendem que a civilização chinesa surgiu em cidades-Estado no vale do rio Amarelo. O ano 221 a.C. costuma ser referido como o momento em que a China foi unificada na forma de um grande reino ou império. As dinastias sucessivas desenvolveram sistemas de controle burocrático que permitiriam ao Imperador chinês administrar o vasto território que viria a ser conhecido como a China.

A fundação do que hoje se chama a civilização chinesa é marcada pela imposição forçada de um sistema de escrita comum, pela dinastia Qin no século III a.C., e pelo desenvolvimento de uma ideologia estatal baseada no confucionismo, no século II a.C. Politicamente, a China, ao que parece, alternou períodos de unidade e fragmentação, sendo conquistada por vezes por potências externas, algumas das quais terminaram assimiladas pela população chinesa. Influências culturais e políticas de diversas partes da Ásia, levadas por ondas sucessivas de imigrantes, fundiram-se para criar a imagem da atual cultura chinesa.

Para a história da China após a Guerra Civil Chinesa, ver História da República Popular da China e História de Taiwan.


Pré-história
Na pré-história, a China foi habitada, possivelmente há mais de um milhão de anos, pelo Homo erectus, cujo espécime mais famoso é o Homem de Pequim, descoberto em 1923. Há indícios de atividade agrícola (milhete), datados por carbono de cerca de 6000 a.C. e associados à cultura Peiligang. A agricultura resultou em aumento populacional e na capacidade de estocar e redistribuir colheitas e de manter artesãos e administradores especializados. No final do Neolítico, o vale do rio Amarelo começou a tornar-se um centro cultural, com a fundação dos primeiros vilarejos.

Os "Registros Históricos", a primeira história abrangente da China, de autoria de Sima Qian, um renomado historiógrafo do século II a.C., relatam a existência dos chamados Cinco Imperadores. Aqueles soberanos foram sábios e exemplos morais semi-mitológicos e um deles, o Imperador Amarelo, é considerado o ancestral do povo chinês. Segundo Sima Qan, a hereditariedade do poder político foi estabelecida durante o período histórico seguinte, chamado de Dinastia Xia, modelo que foi perpetuado pelas Dinastias Shang e Zhou, já na era histórica. É durante este período das Três Dinastias que a China histórica começa a tomar forma.

O relato de Sima Qan - segundo o qual a Dinastia Xia teria sido fundada há 4000 anos - não foi até o momento corroborado pela arqueologia moderna, razão pela qual não se pode afirmar até o momento a existência daquela dinastia.


História antiga
Dinastia Shang

Encontraram-se restos de sociedades avançadas e estratificadas datados da época da Dinastia Shang no vale do rio Amarelo.O registro mais antigo do passado da China data da Dinastia Shang, possivelmente no século XIII a.C., na forma de inscrições divinatórias em ossos ou carapaças de animais.

Os historiadores chineses de períodos posteriores habituaram-se à noção de que uma dinastia sucedia a outra, mas sabe-se que a situação política na China primitiva era muito mais complexa. Alguns acadêmicos sugerem que os xias e os shangs talvez fossem entidades políticas que co-existiram, da mesma maneira que os zhous foram contemporâneos dos shangs.


Dinastia Zhou
Ver artigo principal: Dinastia Zhou
No final do II milênio a.C., a Dinastia Zhou, inicialmente de caráter semi-feudal, emergiu no vale do rio Amarelo e terminou por invadir os shangs. Os zhous eram um povo que vivia a oeste dos shangs e seu chefe havia sido nomeado por estes últimos como "protetor ocidental". O chefe dos zhous, Rei Wu, com o apoio de seu regente e tio, o Duque de Zhou, derrotaram os shangs na batalha de Muye. Naquele período, o rei zhou invocou o conceito do "Mandato dos Céus" para legitimar o seu governo, uma idéia que influenciaria quase todas as dinastias subseqüentes. Os zhous, de início, instalaram sua capital a oeste numa região próxima à moderna Xian, perto do rio Amarelo, mas viriam a expandir-se para o vale do rio Yangtzé. Esta seria a primeira das várias migrações populacionais do norte para o sul na história da China.


Período das Primaveras e dos Outonos
Ver artigo principal: Período das Primaveras e dos Outonos
No século VIII a.C., o poder político tornou-se descentralizado, durante o chamado Período das Primaveras e dos Outonos, cujo nome advém dos Anais das Primaveras e dos Outonos. Naquele período, chefes militares locais empregados pelos zhous começaram a agir com autonomia e a disputar a hegemonia. A situação agravou-se com a invasão de outros povos a partir de nordeste, como os qins (ou chins), o que forçou os zhous a mover sua capital a leste, para Luoyang. Isto marca a segunda grande fase da Dinastia Zhou: os zhous orientais. Em cada um das centenas de Estados que vieram a surgir (alguns meros vilarejos com um castelo), potentados locais detinham a maior parte do poder político e sua subserviência aos reis zhous era apenas nominal. Por exemplo, tais chefes locais passaram a envergar títulos reais. Este período viu surgir movimentos intelectuais e filosóficos influentes como o confucionismo, o taoísmo, o legalismo e o moísmo, parcialmente como reação às mudanças políticas da época.


Os Reinos Combatentes.
[editar] Período dos reinos combatentes
Ver artigo principal: Período dos reinos combatentes
Após um processo de consolidação política, restavam, no final do século V a.C., sete Estados proeminentes. A fase durante a qual estas poucas entidades políticas combateram umas contra as outras é conhecida como o Período dos Reinos Combatentes. A figura de um rei zhou continuou a existir até 256 a.C., mas apenas como chefe nominal, sem poderes concretos. A fase final deste período começou durante o reinado de Ying Zheng, rei de Qin. Após lograr a unificação dos outros seis Estados e anexar outros territórios nos atuais Zhejiang, Fujian, Guangdong e Guangxi em 214 a.C., proclamou-se o primeiro Imperador (Qin Shi Huangdi).


Qin Shihuang, primeiro imperador da China.
[editar] Dinastia Qin: o início da China imperial
Ver artigo principal: Dinastia Qin
Os historiadores costumam denominar de China Imperial o período entre o início da Dinastia Qin (século III a.C.) e o fim da Dinastia Qing (no começo do século XX). Embora seu reinado sobre uma China unificada tenha durado apenas doze anos, o imperador qin logrou subjugar grande parte do que se constitui no cerne das terras hans chinesas e uni-las sob um governo altamente centralizado com sede em Xianyang (a atual Xian). A doutrina do legalismo, pela qual se orientava o imperador, enfatizava a observância estrita de um código legal e o poder absoluto do monarca. Tal filosofia, embora muito eficaz para expandir o império pela força, mostrou-se inservível para governar em tempo de paz. Os qins promoveram o silenciamento brutal da oposição política, cuja epítome foi o incidente conhecido como a queima de livros e o sepultamento de acadêmicos (vivos).

A Dinastia Qin é famosa por ter iniciado a Grande Muralha da China, que foi posteriormente ampliada e aperfeiçoada durante a Dinastia Ming. Incluem-se entre as demais contribuições dos qin a unificação do direito, da linguagem escrita e da moeda da China, bem-vindas após as tribulações dos períodos da Primavera e do Outono e dos Reinos Combatentes. Até mesmo algo tão prosaico como o comprimento dos eixos das carroças teve que ser uniformizado de modo a permitir um sistema comercial viável que abrangesse todo o império.


Dinastia Han: uma fase próspera
A Dinastia Han emergiu em 202 a.C., como a primeira a adotar a filosofia do confucionismo, que se tornou a base ideológica de todos os regimes chineses até o fim da China Imperial. Durante esta fase dinástica, a China logrou grandes avanços nas artes e nas ciências. O Imperador Wu consolidou e ampliou o império ao expulsar os xiongnus (que alguns identificam com os hunos) para as estepes do que é hoje a Mongólia Interior, tomando-lhes o território correspondente às atuais províncias de Gansu, Ningxia e Qinghai. Isto permitiu abrir as primeiras ligações comerciais entre a China e o Ocidente: a Rota da Seda.

Entretanto, as aquisições de terras pelas elites gradualmente causaram uma crise tributária. Em 9 d.C., o usurpador Wang Mang fundou a breve Dinastia Xin ("nova") e deu início a um amplo programa de reformas agrária e econômica. As famílias proprietárias de terras jamais apoiaram as reformas, que favoreciam os camponeses e a pequena nobreza, e a instabilidade causada por sua oposição levou ao caos e a rebeliões.

O Imperador Guangwu reinstituiu a Dinastia Han, sediada agora em Luoyang, próximo a Xian, com o apoio das famílias proprietárias e mercantis. Alguns denominam este período Dinastia Han Oriental. O poder dos hans declinou em meio a aquisições de terras, invasões e rixas entre clãs consortes (isto é, clãs a que pertenciam a consorte do imperador) e eunucos. A Rebelião do Turbante Amarelo, protagonizado pelos camponeses, estalou em 184 e resultou numa era de chefes guerreiros. No caos subseqüente, três Estados buscaram a preeminência durante o chamado Período dos Três Reinos.


Dinastia Jin
Embora os três grupos tenham sido temporariamente unificados em 278 pela Dinastia Jin, os grupos étnicos não-hans controlavam boa parte do país no início do século IV e provocaram migrações de hans em grande escala para a margem sul do YangTzé. Em 303, o povo di revoltou-se, capturou Chengdu e estabeleceu o Estado de Cheng Han. Os xiongnus, chefiados por Liu Yuan, rebelaram-se também e fundaram o Estado de Han Zhao. Seu sucessor, Liu Cong, capturou e executou os dois últimos imperadores jins ocidentais. O Período dos Dezesseis Reinos assistiu a uma pletora de breves dinastias não-chinesas que, a partir de 303, governaram o norte da China. Os grupos étnicos ali presentes incluíam os ancestrais dos turcos, mongóis e tibetanos. A maioria daqueles povos nômades, relativamente pouco numerosos, já havia sido achinesada muito antes de sua ascensão ao poder. Na verdade, alguns deles, em especial os chiangs e os xiongnus, já habitavam as regiões de fronteira no interior da Grande Muralha desde o final da Dinastia Han, com o consentimento desta.


Dinastia Sui: reunificação
Ver artigo principal: Dinastia Sui
A Dinastia Sui logrou reunificar o país em 581, após quase quatro séculos de fragmentação política na qual o norte e o sul se desenvolveram independentemente. Do mesmo modo que os soberanos qin haviam unificado a China após o Período dos Reinos Combatentes, os suis uniram o país e criaram diversas instituições que terminaram por ser adotadas por seus sucessores, os tangs. Da mesma forma que os qins, porém, os suis sobrecarregaram seus recursos e caíram.


Dinastia Tang: a volta da prosperidade
Em 18 de junho de 618, Gaozu tomou o poder e estabeleceu a Dinastia Tang. Iniciou-se então uma era de prosperidade e inovações nas artes e na tecnologia. O budismo, que se havia instalado gradualmente na China a partir do século I, tornou-se a religião predominante e foi adotada pela família imperial e pelo povo.

Os tangs, da mesma forma que os hans, mantiveram abertas as rotas comerciais para o Ocidente e o para o sul; diversos comerciantes estrangeiros fixaram-se na China.

A partir de cerca de 860, a Dinastia Tang começou a declinar, devido a uma série de rebeliões internas e de revoltas de Estados clientes. Um chefe guerreiro, Huang Chao, capturou Guangzhou em 879 e executou a maioria dos seus 200.000 habitantes. Em 880, Luoyang caiu-lhe nas mãos e, em 881, Changan. O Imperador Xizong fugiu para Chengdu e Huang estabeleceu um governo que, embora posteriormente destruído por forças tangs, lançou o país num novo período de caos político.


Cinco dinastias e dez reinos
Ver artigo principal: Período das Cinco Dinastias e dos Dez Reinos
Ao interregno entre a Dinastia Tang e a Dinastia Sung, caracterizado pela fragmentação política, dá-se o nome de Período das Cinco Dinastias e dos Dez Reinos. Com duração de pouco mais de meio século, entre 907 e 960, esta fase histórica viu a China tornar-se uma pluralidade de estados. Cinco regimes sucederam-se rapidamente no controle do tradicional coração territorial do país, no norte, enquanto que dez regimes mais estáveis ocupavam porções do sul e do oeste da China.


Divisão política: os liaos, os sungs, os xias ocidentais, os jins

Mapa da Eurásia em cerca de 1200, anteriormente às invasões mongóis.Em 960, a Dinastia Sung (960-1279) logrou controlar a maior parte da China e escolheu Kaifeng para sua capital, dando início a um período de prosperidade econômica, enquanto que a Dinastia Liao dos khitans governava a Manchúria e a Mongólia. Em 1115, subiu ao poder a Dinastia Jin (1115-1234), dos jurchens[1], e, em dez anos, aniquilou a Dinastia Liao. Tomou a China setentrional e Kaifeng das mãos da Dinastia Sung, forçando-a a transferir sua capital para Hangzhou e a reconhecer os jins como suzeranos. A China encontrava-se então dividida entre a Dinastia Jin, ao norte, a Dinastia Sung Meridional, ao sul, e os xias ocidentais, a oeste. Os sungs meridionais passaram por um período de grande desenvolvimento tecnológico, possivelmente devido em parte à pressão militar que sofriam na sua fronteira setentrional.


Os mongóis e a Dinastia Yuan
Ver artigo principal: Dinastia Yuan
O Império Jin foi derrotado pelos mongóis, que em seguida subjugaram os sungs meridionais ao cabo de uma guerra longa e cruenta, a primeira na qual as armas de fogo desempenharam um papel importante. Com isto, a China foi mais uma vez unificada, mas agora como parte de um vasto Império Mongol. Neste período, Marco Polo visitou a corte imperial em Pequim. Os mongóis dividiam-se então entre os que preferiam manter sua base nas estepes e aqueles que desejavam adotar os costumes dos chineses hans. Um destes era Cublai Cã, neto de Gêngis Cã e fundador da Dinastia Yuan, a primeira a governar toda a China a partir de Pequim.


Dinastia Ming: nova hegemonia dos hans
Ver artigo principal: Dinastia Ming

A China sob a Dinastia Ming (em 1580).O forte sentimento popular hostil ao governo "estrangeiro" levou a rebeliões camponesas que terminaram por repelir os mongóis de volta às estepes e a instituir a Dinastia Ming em 1368.

Durante o governo mongol, a população havia sido reduzida em 40 por cento, para um total estimado em 60 milhões de pessoas. Dois séculos depois, a população dobrara de tamanho, o que deu causa a uma maior urbanização e à maior complexidade da divisão do trabalho. Surgiram pequenas indústrias, dedicadas à produção de papel, seda, algodão e porcelana, em especial em grandes centros urbanos como Pequim e Nanquim. Prevaleciam, porém, as pequenas cidades com mercados que comerciavam principalmente comida mas também alguns itens manufaturados, como alfinetes e azeite.

Apesar da xenofobia e da introspecção intelectual característica do neo-confucionismo, uma escola crescentemente popular, a China do início da Dinastia Ming não se isolara. O comrcio exterior e outros contatos com o mundo externo, em especial com o Japão, cresceram bastante. Mercadores chineses exploraram todo o Oceano Índico e atingiram a África Oriental com as viagens de Zheng He.

Zhu Yuanzhang (ou Hongwu), fundador da Dinastia Ming, lançou as bases de um Estado menos interessado em comércio do que em extrair recursos do setor agrícola. Talvez devido ao passado camponês do imperador, o sistema econômico ming enfatizava a agricultura, ao contrário do que fizeram as Dinastias Sung e Mongol, cujas finanças se baseavam no comércio. As grandes propriedades rurais foram confiscadas pelo governo, divididas e arrendadas. Proibiu-se a escravidão privada, o que fez com que os camponeses com a posse da terra predominassem na agricultura, após a morte do Imperador Yongle. Tais políticas permitiram aliviar a pobreza causada pelos regimes anteriores.

A dinastia possuía um governo central forte e complexo que unificou o império. O papel do imperador passou a ser mais autocrático, embora Zhu Yuanzhang precisasse lançar mão dos chamados "Grandes Secretários" para auxiliá-lo a lidar com a enorme burocracia, a qual mais tarde causaria o declínio da dinastia, por impedir o governo de se adaptar às mudanças sociais.

O Imperador Yongle procurou ampliar a influência da China além de suas fronteiras, ao exigir que outros governantes lhe enviassem embaixadores para pagar tributo. Construiu-se uma grande marinha, inclusive navios de quatro mastros com deslocamento de 1.500 t. Criou-se um exército regular de um milhão de homens. As forças chinesas conquistaram parte do que é hoje o Vietnã, enquanto que a frota imperial navegava pelos mares da China e o Oceano Índico, chegando até a costa oriental da África. Os chineses estenderam sua influência até o Turquestão. Diversas nações asiáticas pagaram tributo ao imperador. Internamente, o Grande Canal foi ampliado, com impacto positivo sobre o comércio. Produziam-se mais de 100.000 t de ferro por ano. Imprimiam-se livros com o uso da tipografia. O palácio imperial da Cidade Proibida atingiu então ao seu atual esplendor. Enfim, o período ming parece ter sido um dos mais prósperos para a China. Também foi naquela época o potencial do sul da China veio a ser totalmente explorado. O período ming testemunhou a última ampliação da Grande Muralha da China.


Dinastia Qing
Ver artigo principal: Dinastia Qing
A Dinastia Qing (1644-1911) foi fundada após a derrota dos mings, a última dinastia han chinesa, pelas mãos dos manchus. Estes, anteriormente conhecidos como jurchens, invadiram a China a partir do norte no final do século XVII. Embora os manchus fossem conquistadores estrangeiros, adotaram rapidamente as tradicionais regras de governo confucianas e terminaram por governar na mesma linha das dinastias nativas anteriores.

Os manchus obrigaram os hans a adotar o seu estilo de penteado e de vestimenta, sob pena de morte.

O Imperador Kangxi ordenou a criação do mais completo dicionário de caracteres chineses até então. Durante o reinado do Imperador Qianlong, compilou-se um catálogo das obras mais importantes sobre cultura chinesa.

Para evitar uma assimilação completa pela sociedade chinesa, os manchus estabeleceram um sistema de "oito estandartes" (ou "bandeiras"), divisões administrativas - oriundas de tradições militares manchus - nas quais as famílias manchus se distribuíam. Os manchus na China empregavam a sua própria língua, mantinham suas tradições, como o tiro com arco e o hipismo, e detinham privilégios econômicos e legais nas cidades chinesas.

Ao longo do meio século seguinte, os manchus consolidaram o seu controle sobre o território antes pertencente aos mings e ampliaram sua esfera de influência para incluir Xinjiang, o Tibete e a Mongólia.

O século XIX testemunhou o enfraquecimento do governo qing, em meio a grandes conflitos sociais, estagnação econômica e influência e ingerência ocidentais. O interesse britânico em continuar o comércio de ópio com a China colidiu com éditos imperiais que baniam aquela droga viciante, o que levou à Primeira Guerra do Ópio, em 1840. O Reino Unido e outras potências ocidentais, inclusive os Estados Unidos, ocuparam "concessões" à força e ganharam privilégios comerciais. Hong Kong foi cedida aos britânicos em 1842 pelo Tratado de Nanquim. Também ocorreram naquele século a Rebelião Taiping (1851-1864) e o Levante dos Boxers (1899-1901). Em muitos aspectos, as rebeliões e os tratados que os qings se viram forçados a assinar com potências imperialistas são sintomáticos da incapacidade do governo chinês em reagir adequadamente aos desafios que enfrentava a China no século XIX.


O declínio da monarquia
As duas Guerras do Ópio e o tráfico daquela droga foram custosos para a Dinastia Qing e o povo chinês. O tesouro imperial quebrou duas vezes, por conta do pagamento de indenizações devidas às guerras e à grande evasão de prata causada pelo tráfico de ópio. A China sofreu duas fomes extremas vinte anos após cada uma das Guerras do Ópio nos anos 1860 e 1880, quando a Dinastia Qing se mostrou incapaz de acudir a população. Tais eventos tiveram um profundo impacto ao desafiar a hegemonia de que os chineses gozavam na Ásia há séculos e mergulharam o país no caos.

Uma vasta revolta, a Rebelião Taiping, fez com que cerca de um-terço do país passasse ao controle de um movimento religioso pseudo-cristão chefiado pelo "Rei Celestial" Hong Xiuquan. Somente ao cabo de catorze anos é que as forças qings lograram destruir o movimento, em 1864. Estima-se que a rebelião teria causado entre vinte e cinqüenta milhões de mortos.

Os líderes qing suspeitavam da modernidade e dos avanços sociais e tecnológicos, que viam como ameaças ao seu controle absoluto sobre a China. Por exemplo, a pólvora, que havia sido largamente empregada pelos exércitos das Dinastias Sung e Ming, fora proibida pelos qings ao assumirem o controle do país. Por este e outros motivos, a dinastia encontrava-se despreparada para lidar com as invasões ocidentais. As potências ocidentais intervieram militarmente para reprimir o caos doméstico, como nos casos da Rebelião Taiping e do Levante dos Boxers.

Nos anos 1860, a Dinastia Qing logrou sufocar revoltas, com enorme custo e perda de vidas. Isto minou a credibilidade do regime qing e contribuiu para o surgimento de senhores da guerra locais. O Imperador Guangxu procurou lidar com a necessidade de modernizar o país por meio do Movimento de Auto-Fortalecimento. Entretanto, a partir de 1898, a Imperatriz regente Cixi manteve Guangxu preso sob a alegação de "deficiência mental", após um golpe militar por ela orquestrado com o apoio da facção conservadora, contrária às reformas. Guangxu faleceu um dia antes da imperatriz regente (segundo alguns, por ela envenenado). Os "novos exércitos" qings (treinados e equipados conforme o modelo ocidental) foram fragorosamente derrotados na Guerra Sino-Francesa (1883-1885) e na Guerra Sino-Japonesa (1894-1895).

No início do século XX, o Levante dos Boxers, um movimento conservador anti-imperialista que pretendia fazer o país regressar a um estilo de vida tradicional, ameaçou o norte da China. A imperatriz regente, provavelmente com o fito de garantir o seu controle sobre o governo, apoiou os boxers quando estes avançaram sobre Pequim. Em reação, a chamada Aliança dos Oito Estados invadiu a China. Composta de tropas britânicas, japonesas, russas, italianas, alemãs, francesas, norte-americanas e austro-húngaras, a aliança derrotou os boxers e exigiu mais concessões do governo qing.


A República da China
Ver artigo principal: História da República da China (1912 - 1949)
Frustrados com a resistência da corte qing em reformar o país e a fraqueza da China, jovens funcionários, oficiais militares e estudantes - inspirados nas idéias revolucionárias de Sun Yat-sen - começaram a defender a derrubada da Dinastia Qing e a proclamação da república. Um levante militar, conhecido como Levante Wuchang, iniciou-se em 10 de outubro de 1911 em Wuhan, e levou à formação de um governo provisório da República da China em Nanquim, em 12 de março de 1912. Sun Yat-sen foi o primeiro a assumir a presidência, mas viu-se forçado a entregar o poder a Yuan Shikai, que comandara o Novo Exército (tropas chinesas treinadas e equipadas à maneira ocidental) e fora primeiro-ministro durante a era qing, como parte do acordo para a abdicação do último monarca da dinastia. Nos anos seguintes, Shikai aboliu as assembléias nacional e Provinciais e declarou-se imperador em 1915. Suas ambições imperiais encontraram forte oposição por parte de seus subordinados, de modo que terminou por abdicar, morrendo em 1916 e deixando um vácuo de poder na China. Com o governo republicano em frangalhos, o país passou a ser administrado por coalizões variáveis de chefes militares provinciais.

Um evento pouco notado, ocorrido em 1919 - o Movimento do Quatro de Maio -, haveria de ter repercussões a longo prazo para o restante da história da China no século XX. O movimento teve início como uma resposta ao que teria sido um insulto imposto à China pelo Tratado de Versalhes, que encerrara a Primeira Guerra Mundial, mas tornou-se um movimento de protesto contra a situação interna do país. Entre os intelectuais chineses, a adoção de idéias mais radicais seguiu-se ao descrédito da filosofia liberal ocidental, o que resultaria no conflito irreconciliável entre a esquerda e a direita na China que dominaria a história do país pelo restante do século.

Nos anos 1920, Sun Yat-sen estabeleceu uma base revolucionária no sul da China e lançou-se à unificação de seu fragmentado país. Com auxílio soviético, ele aliou-se ao Partido Comunista da China (PCC). Após a sua morte em 1925, um de seus protegidos, Chiang Kai-shek, assumiu o controle do Kuomintang (Partido Nacionalista, ou KMT) e logrou reunir sob seu governo a maior parte do sul e do centro da China numa campanha militar conhecida como a Expedição do Norte. Após derrotar os chefes guerreiros daquelas regiões, Chiang obteve a fidelidade nominal dos líderes do norte. Em 1927, voltou-se contra o PCC e expulsou os exércitos comunistas e seus chefes de suas bases no sul e no leste da China. Em 1934, as tropas do PCC empreenderam a Longa Marcha, através da região mais inóspita da China a noroeste, onde estabeleceram uma base guerrilheira em Yan'an, na província de Shanxi.

Durante a Longa Marcha, os comunistas reorganizaram-se sob um novo chefe, Mao Tse-tung. O conflito entre o KMT e o PCC continuou, aberta ou clandestinamente, ao longo dos catorze anos da invasão japonesa, apesar da aliança nominal entre ambos os partidos para opor-se aos japoneses em 1937. A guerra civil chinesa continuou após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial em 1945. Em 1949, o PCC já ocupava a maior parte do país.

Chiang Kai-shek refugiou-se, com o resto de seu governo, em Taiwan, onde declarou Taipé a capital provisória da República da China e afirmou seu propósito de reconquistar a China continental.


A China do presente
Ver artigo principal: História da República Popular da China
Com a proclamação da República Popular da China (RPC) em 1 de outubro de 1949, o país viu-se novamente dividido entre a RPC, no continente, e a República da China (RC), em Taiwan e outras ilhas. Cada uma das partes se considera o único governo legítimo da China e denuncia o outro como ilegítimo. Desde os anos 1990, a RC tem procurado obter maior reconhecimento internacional, enquanto que a RPC se opõe veementemente a qualquer envolvimento internacional e insiste na "Política de uma China".

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