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Vida em desequilíbrio

 
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O pesquisador Nicolas Hulot estava de novo entre os elefantes. Agora, ao norte de Botswana. Ele se juntou a Hilde Vanleeuwe, uma especialista no estudo dos paquidermes. Sozinha, ela passou dez anos internada nas florestas do Congo, em um lugar que chamou de “boulevard dos elefantes”.

 

Só no território de Botswana vagam 120 mil elefantes. Nicolas e Hilde observaram um grupo que reunia uns 500 animais. Nos períodos de seca, eles seguem em direção ao Rio Chobe. Quando encontram água, literalmente, se enterram na lama. Uma forma de se defender do calor e as picadas de insetos. Mas é também uma brincadeira, que parece fascinar os filhotes.

Solitário, um hipopótamo parecia não se importar com tantos visitantes. Hilde disse que nunca viu um conflito entre elefantes e outras espécies. Nicolas sabia que estava no meio de uma manada selvagem e ficou receoso. Hilde, mais acostumada, não se preocupou quando eles se aproximaram.

 

Os urros eram impressionantes. No Parque Nacional do Chobe, hordas de elefantes partilham uma pequena quantidade de água. As fêmeas com seus filhotes não conseguem se refrescar por muito tempo. Machos espalham o terror pela área. E elas se afastam como podem – mães e filhos, ainda enlameados. É a tensão em tempos de escassez.

O banho dos gigantes é um espetáculo da vida selvagem. Os mais jovens aproveitam para medir forças. Mais uma diversão. Durante anos, Hilde aprendeu que os elefantes são afetivos. Quando perdem seus filhotes, as mães demonstram muita dor. E os bebês que nascem com problemas físicos são mais protegidos do que os outros. E não são rejeitados, como acontece em muitas espécies.

 

Perseguidas pelos velhos machos, as tropas de fêmeas e jovens, muitas vezes, tomam o rumo do exílio – caminham cem quilômetros em direção ao norte. Chegam ao Rio Chobe, na junção de três países: Botswana, Namíbia e Zimbábue.

Nas horas mais quentes, eles entram no rio para tragar as centenas de litros de água que precisam. Muita cautela na travessia. Como se eles soubessem que estão nos limites do parque. E, fora dele, não há proteção. De um barco, Hilde e Nicolas observaram, preocupados com a presença de hipopótamos. Mas não havia perigo.

 

Em seguida, três jovens elefantes brincavam no meio da água. O ronco, característico, quebra o silêncio. Para a cientista, ele expressa uma forma sutil de comunicação. Especialistas já descobriram que elefantes conseguem manter contato a quilômetros de distância, com um sistema de propagação sonora que lembra o das baleias.

Numerosos na região, quase extintos em outros países, os elefantes simbolizam os desequilíbrios causados pelo homem. O que vai acontecer com esses bandos, prisioneiros do parque, quando a terra não for suficiente para alimentá-los? O conflito com os povos das aldeias já é grande, pelos estragos que causam.

 

Especialistas africanos calculam que, para recuperar o equilíbrio e a harmonia, seria preciso abater 45 mil elefantes. Isso jamais será feito. Mas talvez a fome e a sede acabem trazendo o mesmo resultado.

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