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Pipra Vilasboasi

 

 

Ave rara da Amazônia é redescoberta depois de 45 anos e reforça a necessidade de se criar uma unidade de conservação no Pará.

    Campinas - Após 45 anos sem registros científicos, uma ave da Amazônia foi novamente localizada, fotografada e capturada pelos ornitólogos Fábio Olmos e José Fernando Pachedo, durante um levantamento realizado ao longo da rodovia Cuiabá-Santarém, no Pará. A ave havia sido coletada uma única vez, em 1957, no rio Cururu, no sudoeste do estado, pelo famoso ornitólogo Helmut Sick, autor de livros básicos sobre aves brasileiras. Recebeu o nome comum de dançador de coroa dourada (devido à dança de acasalamento executada pelos machos) e o nome científico de Pipra vilasboasi, em homenagem aos irmãos Villas-Bôas.

 

   Os cinco exemplares coletados por Sick serviram para a descrição da espécie, feita em 1959, e se encontram no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Nenhum outro pesquisador havia conseguido localizar novamente a ave, apesar de terem sido feitas várias tentativas, e chegou-se a cogitar que os exemplares coletados por Sick eram híbridos, resultantes do cruzamento de duas espécies do mesmo gênero, com distribuição geográfica parcialmente sobreposta: Pipra iris, que vive mais ao norte e a leste, na direção de Belém, e Pipra nattereri, que vive para o sul e a oeste, na direção de Rondônia. O fato de termos localizado um casal, a 200 km do rio Cururu, enfraquece a hipótese de estarmos tratando de um híbrido”, esclarece Fábio Olmos, colaborador da Birdlife Brasil, assim como Pacheco. “De qualquer forma, vamos comparar o DNA da ave coletada com os exemplares do Museu Nacional e com o material genético dessas duas outras espécies, para ter certeza”.  A ave coletada é um macho, capturado numa rede de neblina logo no dia seguinte da primeira visualização. “Vimos o macho tomando sol, pousado na beira da mata do assentamento Jamanxim, no município de Novo Progresso”, conta Olmos. “Foi uma surpresa, não esperávamos encontrar esta espécie ali, num ambiente bastante alterado pela extração de madeira”. Logo depois, os dois ornitólogos avistaram também uma fêmea, pousada junto com outra ave do mesmo gênero e decidiram armar uma rede de neblina para capturar um exemplar. Montaram a rede ao amanhecer e, logo às 9 da manhã, o macho caiu, possibilitando a confirmação da redescoberta.   A ocorrência da ave reforça a necessidade de criação de uma unidade de conservação naquela região, justamente uma das prioridades apontadas no workshop de áreas prioritárias para a proteção da biodiversidade amazônica, realizado em Macapá, no Amapá, em 1999. Ao longo de toda a BR-163 (Cuiabá-Santarém) existem propriedades agrícolas, dispostas no sistema conhecido como “espinha de peixe”, que favorece a degradação das reservas legais, pequenas e dispersas. As únicas áreas protegidas são áreas indígenas e florestas nacionais, que não têm a conservação de espécies como objetivo principal.   “A maioria das áreas de floresta já foi explorada e a retirada da madeira agora se estende para as reservas legais, com a constituição de pastagens, em quase todas as áreas abertas”, acrescenta Olmos, que estava realizando um levantamento da avifauna para o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da pavimentação da BR-163. “Embora sejamos especialistas em aves, observamos também a ocorrência de algumas espécies de mamíferos ameaçados de extinção, como o macacao aranha de testa branca (Ateles marginatus) e diversas espécies de sagüis, muito mal conhecidas. Além disso, sabemos que existem muitas espécies endêmicas, de periquitos e de papagaios, como o papagaio careca, justificando a criação de uma unidade de conservação”.

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