Os cinco exemplares
coletados por Sick serviram para a descrição da espécie, feita em 1959, e se
encontram no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Nenhum outro pesquisador havia
conseguido localizar novamente a ave, apesar de terem sido feitas várias
tentativas, e chegou-se a cogitar que os exemplares coletados por Sick eram
híbridos, resultantes do cruzamento de duas espécies do mesmo gênero, com
distribuição geográfica parcialmente sobreposta: Pipra iris, que vive mais ao
norte e a leste, na direção de Belém, e Pipra nattereri, que vive para o sul e
a oeste, na direção de Rondônia. O fato de termos localizado um casal, a 200 km do rio Cururu, enfraquece a
hipótese de estarmos tratando de um híbrido”, esclarece Fábio Olmos, colaborador
da Birdlife Brasil, assim como Pacheco. “De qualquer forma, vamos comparar o DNA
da ave coletada com os exemplares do Museu Nacional e com o material genético
dessas duas outras espécies, para ter certeza”. A ave coletada é um macho, capturado numa rede de neblina logo no dia
seguinte da primeira visualização. “Vimos o macho tomando sol, pousado na beira
da mata do assentamento Jamanxim, no município de Novo Progresso”, conta Olmos.
“Foi uma surpresa, não esperávamos encontrar esta espécie ali, num ambiente
bastante alterado pela extração de madeira”. Logo depois, os dois ornitólogos
avistaram também uma fêmea, pousada junto com outra ave do mesmo gênero e
decidiram armar uma rede de neblina para capturar um exemplar. Montaram a rede
ao amanhecer e, logo às 9 da manhã, o macho caiu, possibilitando a confirmação
da redescoberta. A ocorrência da ave reforça a necessidade de criação de uma unidade de
conservação naquela região, justamente uma das prioridades apontadas no workshop
de áreas prioritárias para a proteção da biodiversidade amazônica, realizado em
Macapá, no Amapá, em 1999. Ao longo de toda a BR-163 (Cuiabá-Santarém) existem
propriedades agrícolas, dispostas no sistema conhecido como “espinha de peixe”,
que favorece a degradação das reservas legais, pequenas e dispersas. As únicas
áreas protegidas são áreas indígenas e florestas nacionais, que não têm a
conservação de espécies como objetivo principal. “A maioria das áreas de floresta já foi explorada e a retirada da madeira
agora se estende para as reservas legais, com a constituição de pastagens, em
quase todas as áreas abertas”, acrescenta Olmos, que estava realizando um
levantamento da avifauna para o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da
pavimentação da BR-163. “Embora sejamos especialistas em aves, observamos também
a ocorrência de algumas espécies de mamíferos ameaçados de extinção, como o
macacao aranha de testa branca (Ateles marginatus) e diversas espécies de
sagüis, muito mal conhecidas. Além disso, sabemos que existem muitas espécies
endêmicas, de periquitos e de papagaios, como o papagaio careca, justificando a
criação de uma unidade de conservação”.
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