A vegetação do Pantanal não é uma formação homogênea típica, mas formada
por um conjunto de composições florísticas diversas, chamado de "Complexo
do Pantanal".
Borboleta
Ithomia drymo Nymphalidae na amora silvestre Rubus rosaefolius
Rosaceae.
Foto de Carlos Ravazzani
Com efeito, trechos de florestas, cerrados, campinas permeiam-se pela
planície afora. Elementos dos cerrados do Brasil Central e da Floresta
Amazônica entremeiam-se a várzeas alagadas ou pantanosas, recobertas por
espécies típicas destes ambientes, ao mesmo tempo que, em afloramentos
calcáreos e terrenos mais elevados, desenvolve-se uma flora xerófita,
denotando uma fisionomia bastante semelhante à caatinga. Assim, o Pantanal
não é um grande pântano, mas uma mistura heterogênea de diversas
composições vegetais que, em função de parâmetros, tais como: condições de
solo, inundações e grafia, ali aparecem em equilíbrio dinâmico.
Xaxim ou
Samambaia-açu Cyathea
Foto de Carlos Ravazzani
Nos terrenos permanentemente alagados, nos lagos, nas "baías" e nos
"corixos" encontramos espécies flutuantes como os aguapés Eichornia spp
com os diversos matizes de branco, azul e roxo de suas flores e a
erva-de-santa-luzia Pistia stratiotes, e espécies de águas rasas,
que se enraízam no fundo como as Salvinia spp., as Nymphaea spp.,
além da vitória-régia regional Victoria cruziana.
Açucena Amaryllis
heuseriana Amarylidaceae
Foto de Carlos Ravazzani
A vegetação, ora típica de campo cerrado, pode ceder lugar quase sem
transição, a um campo de pastagem natural, formado por um tapete de
gramíneas no qual ocorrem apenas raras plantas lenhosas. Estas gramíneas
nativas, são principalmente os capins-mimosos Paratheria, Setaria,
Reimaria. Geralmente estas campinas, como também são chamados estes campos
limpos, se encontram em partes mais baixas e mais úmidas, que podem ser
alagados, enquanto que os campos cerrados limitando-se aos pontos mais
elevados e mais secos, persistem emersos, formando como que ilhotas de
vegetação.
Flor-de-maracujá Passiflora
Foto de Carlos Ravazzani
Estes campos são entremeados de espinheiros, áreas de matas densas e
grupos de palmeiras. Destas últimas sobressaem os carandazais, formados
pela elegante palmeira de uns 10 metros de altura com folhas flabeliformes
(em forma de leque): o carandá Copernicia austrails. Outra palmeira
freqüente é o buriti Mauritia vinifera também com folhas
flabeliformes. Nas áreas de mata densa, chamadas "caapões", encontramos a
aroeira Astronium sp., figueiras Ficus sp., com seus
esculturais troncos tortuosos, o angico-vermelho Piptadenia sp., e
entre tantas outras plantas a piúva Tabebuia heptaphylla,
denominação que é dada, localmente, a um ipê-roxo, que durante os meses de
julho e agosto tinge a paisagem pantaneira com os mais variados matizes de
rosa, lilás e roxo de suas flores. Entre elas, com flores amarelas, o
cambará Voschysia sessilifolia.
Bromélias Aechmea
nudicaulis e Vriesa friburgensis
Foto de Carlos Ravazzani
Em outro tipo de mata, em que as árvores não têm troncos muito grossos,
mas suas cascas são espessas e rugosas e seus galhos retorcidos, predomina
uma espécie de ipê-amarelo Tabebuia aurea, conhecida no Pantanal
como paratudo. Estas matas são chamadas paratudais.
Aguapé
Eichornia azurea
Foto de Carlos Ravazzani
Acompanhando, em ambas as margens, os numerosos cursos de água da região
estão as florestas em galeria, também chamadas de matas ciliares. Nestas
matas encontramos o jenipapo Genipa americana, figueiras Ficus
spp., ingazeiros Inga spp., as embaúbas Cecropia, com
suas folhas prateadas e que com freqüência vive em associação com
formigueiros e o tucum Bactris glaucescens pequena palmeira, cujo
fruto é muito usado como isca de pacu. São freqüentes a palmeira
acuri Attalea phalerata, cujos frutos são apreciados pelas araras
azuis e o pau-de-novato Triplaris formicosa, que no mês de outubro,
enfeita as barrancas dos rios, com grandes cachos de flores rosas ou
vermelhas. Essa árvore é assim chamada porque o novato na região,
ignorando sua associação com formigas, tenta derrubá-la com o machado ou a
escolhe para armar sua rede; os movimentos da planta provocam a queda de
centenas de minúsculas formigas, cujas picadas queimam como fogo, conforme
já tivemos a infelicidade de constatar.
Quaresmeira ou
Manacá-da-serra Tibouchina sellowiana Melastomataceae
Foto de Carlos Ravazzani
Nos pontos mais elevados, onde há afloramentos de rocha calcária, as
espécies de cerrado são substituídas por outras, que, em seu conjunto e
pelo seu aspecto lembram as caatingas nordestinas. Bromeliáceas Dyckia
sp. e Cactáceas (especialmente mandacarus, do gênero Cereus),
em colunas maiores ou menores, são as principais responsáveis por esse
aspecto de caatinga.
Bromélia
Vriesea sp.
Foto de Carlos Ravazzani
Assim, no Pantanal, temos um número muito grande de nichos ecológicos de
condições diversas, nos quais proliferam variados tipos de vegetação, cada
um, por sua vez, condicionando uma fauna especial. |