Suzana Cecília Kleeb
(1)
Para
contar a história da região na qual Santo André está inserida, temos que
retomar, de maneira sucinta, parte da história do Brasil Colonial. Nos
primeiros anos dessa história os portugueses tinham grande preocupação
em defender as costas brasileiras de possíveis invasões de franceses e
holandeses, pois estes dois países não compartilharam da divisão
expressa pelo Tratado de Tordesilhas(2)
que dividiu o Novo Mundo, a terra a ser descoberta, entre portugueses e
espanhóis.
No início do século 16 os
países que tivessem terras onde pudessem explorar as riquezas minerais,
em especial ouro e prata, estavam à frente dos demais pois essas eram as
moedas correntes, indicadoras de riqueza. Explica-se por aí o interesse
pelas terras dessa vasta colônia portuguesa. Devido a vários ataques às
suas terras, a partir de 1530 Portugal intensificou a colonização das
costas brasileiras. Nesse contexto é enviado para cá, por ordem de
D.João III, rei de Portugal, Martim Afonso de Souza(3)
com a incumbência de fundar vilas para fortificar o litoral.
Aliada a essa história
está a figura de João Ramalho (4), português
que representava, nesse momento, uma porta de entrada para o contato com
os índios e para a colonização, pois ele conhecia algumas tribos e
conseguia se comunicar com elas.
Em contrapartida a sua
ajuda, João Ramalho solicitava, desde o início, que o local em que
vivia, situado acima da Serra do Mar, fosse transformado em vila. Sua
petição foi negada durante vários anos, pois pretendia-se povoar o
litoral e não o interior. Seu pedido foi atendido apenas em 8 de abril
de 1553, quando foi criada a vila(5) pelo
Governador Geral Tomé de Souza. Seu nome era Santo André da Borda do
Campo.
RUINAS DE SANTO ANDRÉ DA BORDA DO CAMPO.
AUTORIA : Miguel Dutra
ACERVO : Museu Paulista
Nesse período, a busca de
metais impulsionou as entradas para o interior e a vila foi se
desenvolvendo. Os jesuítas(6), instalados em
São Vicente, tinham interesse em transferir seu colégio para próximo
dessa região, nos campos de Piratininga, pois havia uma grande evasão de
pessoas do litoral para o interior. Tal fato ocorreu a 25 de janeiro de
1554, com a criação da Aldeia de São Paulo de Piratininga.
(1): Historiadora do
Museu de Santo André
Dificuldades de
subsistência e de proteção fizeram com que a vila de Santo André fosse
transferida para São Paulo de Piratininga em 1560, através de proposta
do Padre Manoel da Nóbrega ao Governador Geral Mem de Sá.
A partir de então, Santo
André deixou de existir enquanto unidade administrativa, passando a ser
um bairro de São Paulo. A região passou por um período de estagnação,
tornando-se local de passagem entre o Porto de Santos, a capital e o
interior. No entanto, já em 1561, grande parte das terras foi concedida
como sesmaria a Amador de Medeiros, ouvidor da Capitania(7)
de São Vicente. Boa parte dessa sesmaria foi repassada, em 1637, à
Ordem de São Bento(8), formando-se ali a Fazenda São
Bernardo, área atualmente ocupada em grande parte pelo município de São
Bernardo do Campo. Outra área importante de domínio dos beneditinos era
a Fazenda São Caetano, doada à Ordem em 1631 pelo Capitão Duarte Machado
e sua esposa Joana Sobrinha. As outras terras eram menores e foram
passando por vários donos até o início do século 20, quando foram
loteadas.
Monges beneditinos
tomam posse das terras doadas por Duarte Machado localizadas no
Tijucussú, atual São Caetano do Sul. In: Martins, José de Souza,
São Caetano do Sul em IV Séculos de História.
Nesse período a atividade
econômica ficou restrita à subsistência e à locação de pastagens para as
tropas(9). As duas fazendas dos
beneditinos São Bernardo e São Caetano tinham uma atividade mais
regular: a primeira produzia gêneros alimentícios e na segunda
fabricavam-se tijolos e artefatos de cerâmica. Essas fazendas ficaram
sob a propriedade dos beneditinos até 1870, quando foram compradas pelo
Estado para a criação de colônias de imigrante(10).
Antes disso, porém, ao redor da fazenda São Bernardo foi se criando um
pequeno núcleo urbano, que mais tarde iria garantir a criação do
município de São Bernardo.
Um outro fator importante no contexto de modernização da região em meados
do século XIX, foi a instalação da ferrovia nas proximidades do Rio
Tamanduateí. Esse empreendimento visava a melhoria do transporte de
produtos agrícolas do interior para o Porto de Santos, em especial o
café que começava a ser produzido em larga escala na Província de São
Paulo. Tal situação começou a atrair indústrias que se aproveitavam das
facilidades de transporte, da disponibilidade de áreas próximas à linha
férrea e ao rio, além dos incentivos fiscais apresentados pelo
município.
Estação
ferroviária de São Bernardo, atual Santo André,1867.Col: RFFSA,
reprodução:Museu de Santo André.
Continua
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