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O "guru" e ministro
de Bolsonaro Paulo Guedes é investigado pela
(MPF)
FÁBIO FABRINI -
Documentos de fundos de pensão, sob análise do
MPF (Ministério Público Federal) em Brasília,
mostram que o ministro da Economia, Paulo
Guedes, atuou como uma espécie de fiador de
negócios suspeitos de fraude, feitos por uma de
suas empresas com entidades de previdência
patrocinadas por estatais. Guedes tem dito que
não tinha papel de protagonista nessas
transações.
Segundo relatórios da
Funcef, fundação previdenciária dos empregados
da Caixa, a experiência de Guedes como
economista compensaria a falta de segurança e de
garantias dos investimentos.
O ministro de
Bolsonaro é descrito como pessoa-chave para as
transações e que detinha controle sobre a
destinação dos recursos aplicados. Caberia a
ele, segundo os documentos, "participar
ativamente das estratégias de investimento e
desinvestimento".
Guedes é alvo de três
investigações, abertas pela Polícia Federal e
pela Procuradoria da República no Distrito
Federal, para apurar indícios de gestão
fraudulenta ou temerária ao captar e aplicar, a
partir de 2009, R$ 1 bilhão de sete fundos de
pensão.
Entre eles, além da
Funcef, estão Previ (Banco do Brasil), Petros
(Petrobras) e Postalis (Correios). O dinheiro
foi aportado nos fundos de investimento em
participações (FIPs) BR Educacional e Brasil de
Governança Corporativa, por ele criados, e usado
em projetos diversos.
Como noticiou a Folha
de S.Paulo em outubro, a suspeita é que
transações com os recursos tenham gerado ganhos
excessivos para o economista, em detrimento das
entidades que injetaram o dinheiro, responsáveis
pela aposentadoria complementar de milhares de
empregados das estatais.
Na época, elas eram
capitaneadas por executivos ligados ao PT e ao
MDB. Para administrar os recursos, Guedes criou
a BR Educacional Gestora de Ativos.
Segundo as
investigações, apesar da alta cifra captada, a
empresa não tinha nenhum histórico de atuação no
mercado, tendo, em 2009, obtido recentemente
autorização da CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) para operar.
Além da falta de
experiência da gestora, a primeira empresa a
receber investimentos, a BR Educação Executiva
S.A., era, segundo investigadores, "de
prateleira".
Havia sido criada em
abril de 2009 por um escritório de advocacia
especializado em vender CNPJs. Constavam como
sócios dois funcionários da banca, os quais
figuram como responsáveis por inúmeras outras
firmas.
Segundo as
investigações em curso, a empresa foi destino de
R$ 62,5 milhões do FIP BR Educacional. Não tinha
patrimônio líquido, histórico de faturamento ou
qualquer outra garantia.
A BR Educação
Executiva teve o nome alterado para HSM. Guedes
atuou nas duas pontas do negócio. Foi nomeado
presidente do conselho administrativo da
empresa, que recebeu os recursos dos fundos de
pensão. Ao mesmo tempo, ele era sócio
majoritário da gestora, que decidia o destino do
dinheiro.
Para os
investigadores, esse duplo papel pode configurar
um conflito de interesses, o que será
aprofundado durante as investigações.
Guedes foi intimado a
depor na Procuradoria duas vezes, mas as oitivas
foram desmarcadas pelos investigadores na
primeira ocasião e pelo ministro na segunda. Ele
alegou problemas de saúde.
Em petição enviada à
força-tarefa Greenfield – grupo de procuradores
responsável pelo caso –, a defesa do economista
disse que ele "não detinha participação na
operacionalização cotidiana dos investimentos em
questão, à qual cabia às equipes técnicas da
gestora".
O roteiro do
investimento de R$ 62,5 milhões, iniciado em
2009, terminou em 2015 com um prejuízo de R$ 22
milhões aos fundos de pensão (em valores
atualizados pela Selic, a taxa básica de juros
da economia), de acordo com os cálculos de
técnicos que auxiliam a força-tarefa.
O valor inicialmente
aportado foi usado para comprar a empresa HSM do
Brasil, voltada para cursos e palestras para
executivos. O pagamento foi feito a um grupo com
sede em Delaware, paraíso fiscal dos Estados
Unidos.
Do total investido, R$
50,2 milhões foram pagos como ágio sobre as
ações por se tratar da compra de uma marca.
Em 2011, dois anos
após o desembolso, um documento da empresa
registrou que esse mesmo ativo, a marca, valia
cerca de 10% do que fora pago (R$ 5,1 milhões).
Segundo os técnicos
que auxiliam a força-tarefa, a desvalorização é
fundamental para compreender as perdas que esse
projeto causou aos fundos de pensão.
Entre 2012 e 2013,
parte das ações da HSM foi vendida e outra parte
trocada por participação na Gaec Educação. Na
ocasião, segundo os documentos sob análise dos
investigadores, a empresa tinha alto
endividamento e risco de insolvência.
Os investigadores
sustentam que o fundo de investimentos
administrado por Guedes pagou valor bem mais
alto do que outros acionistas pelas ações na
Gaec. Elas foram vendidas mais adiante, entre
2013 e 2015, resultando no prejuízo estimado de
R$ 22 milhões.
+ Paulo Guedes
confirma que governo criará Secretaria de
Privatizações
A Procuradoria em
Brasília também investiga os investimentos
feitos pelo FIP Governança Corporativa, que
aplicou em 2010 R$ 112,5 milhões em recursos de
fundos em um grupo de infraestrutura, a Enesa. O
negócio, concluído no início de 2018, deu perda
total às entidades de previdência.
Nesse caso, a suspeita
é que o dinheiro aportado tenha escoado para
acionistas do grupo por meio de distribuição
irregular de dividendos.
No início de 2018, um
laudo constatou que a Enesa havia perdido o
valor de mercado e o FIP de Guedes vendeu por
simbólicos R$ 100 mil as ações que havia
adquirido por R$ 112,5 milhões.
Dezenas de perguntas
sobre os aspectos dessas transações foram
preparadas pela força-tarefa, mas ainda não há
data para o depoimento de Guedes.
Um dos objetivos dos
investigadores é saber se, de fato, a gestora de
ativos do ministro acompanhou adequadamente o
negócio malsucedido, pois recebia comissões
altas para isso.
(Folhapress) |
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