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Historia São Jose do Rio Pardo SP

 

É possível que os índios Caiapós e Catuás tenham coabitado em nossa região, não em grande número pela escassez de caça, segundo um relato ao governador (1765), feito pelo capitão Inácio da Silva Costa, primeiro comandante do Descoberto do Rio Pardo.

João Batista Blandim contou a um repórter a sua história, para o Álbum Riopardense:

Esta entrevista se deu em 1917. O entrevistado tinha, então, 84 anos.

Nasceu em São João Del Rei. Já casado, atraído pela fama da boa terra de São José do Rio Pardo, aqui chegou em 1866, com 34 anos, onde já estavam muitos dos seus amigos, vindos de Minas Gerais, donos de terras.

 

No seu relato, recordou-se de casas esparsas, cobertas de sapé, no meio do mato. Morou numa delas, onde, tempos depois, ergueu-se o palacete de Antônio Ribeiro Nogueira (Nhô Ribeiro)(foto à direita), hoje, substituído por um prédio de morada e casas comerciais, na esquina da Praça XV de novembro com a rua Marechal Floriano.

 

 

Também li, que em dezembro de 1868, a pedido de Antônio Marçal Nogueira de Barros, a Câmara Capitular de São Paulo concedeu licença para se benzer, na forma do Ritual Romano, depois de cercado, o cemitério do bairro de São José do Rio Pardo, Distrito da Freguesia do Espírito Santo do Rio do Peixe.

Relendo a crônica do velho Blandim e cópias do livro de tombo da igreja da Freguesia do Espírito Santo do Rio do Peixe (hoje, Divinolândia), perguntava-me:

- Onde começa a história da minha cidade?

Documentos antigos foram encontrados e divulgados, os arquivos remexidos, velhas crônicas relidas...

O velho jornalista Paschoal Artese, na sua Resenha de 1965, batalhava para que o centenário de São José do Rio Pardo fosse comemorado naquele ano, depois de transcrever a ata da primeira reunião de um grupo de fazendeiros, registrada em 4 de abril de 1865 no Livro de Reuniões dos Fundadores da Capela de São José, encontrado na fazenda Tubaca Artese não foi ouvido.

A historiadora Amélia Franzolin Trevisan, num dos seus artigos de Gazeta do Rio Pardo, afirmava que "as origens de nossa cidade remontam ao início do século XIX, quando por volta de 1815, o sesmeiro português, Capitão Alexandre Luís de Mello, e seu clã, vindos de Minas Gerais, instalaram-se nas terras do vale do Rio Pardo entre os afluentes: rios Fartura e do Peixe".

Depois do Capitão Melo, muitos agricultores vieram de outras províncias, principalmente da de Minas Gerais, atraídos pela fertilidade do nosso solo.

Entre muitos, aqui se fixaram: Ananias Joaquim Machado, Antônio Marçal Nogueira de Barros (eleito a 10/09/1864 vereador à primeira Câmara Municipal de Caconde, com 345 votos), Cândido de Faria Moraes, Cândido de Miranda Noronha, Francisco e Custódio de Assis Nogueira, Francisco das Chagas e João Damasceno Negrão, Francisco Barbosa Sandoval, Gabriel José Nogueira, João Honório de Araújo, João José de Souza, José Teodoro Nogueira de Barros, Luciano e Raimundo Estelino Ribeiro da Silva, Luís Antônio Nogueira de Noronha, Tomás de Andrade, Venerando Ribeiro da Silva, Vicente Dias.

Quando em 1858 o bispo de São Paulo, D.Antônio Joaquim de Melo, esteve na paróquia de Monte Santo, em Minas, o Capitão Francisco de Assis Nogueira o procurou, obtendo licença para mandar celebrar ofícios divinos na capela de sua fazenda Pião do Rio Pardo, sendo "possível que a primeira missa da região tenha sido celebrada no mes seguinte, isto é, em setembro de 1858.

No império (forma de governo deste período relatado), a Igreja estava intimamente ligada ao Estado. A Capela, para a população, além de representar a assistência religiosa ao lugarejo, era a esperança de autonomia política, que adviria com a Freguesia.

O livro encontrado na Fazenda Tubaca, documenta a fundação da Capela de São José do Rio Pardo, em 4 de abril de 1865, quando alguns fazendeiros se reuniram, traçando os planos para edificar a capela, primeira etapa para a criação da futura Freguesia.

Eis trechos da ata daquela primeira reunião, com ortografia atualizada:

Trechos da Ata da Fundação da Capela

"Futura Freguesia de São José do Rio Pardo

4 de abril de 1865

GLORIA IN EXCELSIS DEO!!!

Cópia do 1º Passo que os devotos do Glorioso São José deram

- Os habitantes que circundam esta futura Freguesia concorrerão para se dar princípio a esta nova obra de Deus com uma quantia que chegue para compra de 2 sinos, todos os pertences para Missa, todo material para fazer-se uma Capela Mor, de cinqüenta palmos de comprido e vinte e seis de largo, com sacristia de ambos os lados, em com um alpendre em forma de rancho em lugar onde há de ser o corpo da Igreja (....) e para o andamento desta obra se fará votação para um Diretor das obras o qual ficará encarregado a todo expediente da mesma, para três Procuradores os quais terão todo cuidado e zelo em fazer arrecadações do dinheiro (....): um procurador além do Rio Pardo, um segundo além do Rio Fartura, um terceiro aquém desta e do Rio Pardo (....) Passando-se a fazer a votação já mencionada saíram com a maioria de votos os cidadãos seguintes: Antônio Marçal Nogueira de Barros para o cargo de Diretor; suplente do mesmo José Teodoro de Noronha; para procurador Francisco de Assis Nogueira e para suplente do mesmo Raimundo Estelino Ribeiro da Silva, segundo procurador Luciano Ribeiro da Silva, terceiro João Damasceno Negrão, quarto Ananias Joaquim Machado dando-se por findo assina-se diante desta cada um lançará sua cota. NOVA FREGUESIA DE SÃO JOSÉ DO RIO PARDO, 4 de abril de 1865.(....)"

Era preciso um patrimônio para a Capela. "O primeiro alqueire já fora doado por João José de Souza, em 6 de fevereiro de 1865, com título passado na Fazenda da Laje. As outras doações foram de Cândido Faria Moraes, três alqueires, com título passado na Fazenda da Cachoeira da Boa Vista, em 17 de junho; Antônio Marçal Nogueira de Barros, três alqueires, com título passado na Fazenda Becerábia; José Teodoro Nogueira de Noronha, quatro alqueires, com título passado em São José do Rio Pardo e Cândido de Miranda Noronha, um alqueire, com título passado em São José do Rio Pardo. Os três últimos títulos foram passados em 19 de junho de 1865.

As prendas doadas pelos moradores do bairro de São José, para a construção, foram leiloadas sob a grande figueira perto da futura Capela (hoje árvore-monumento, na Praça XV de Novembro).

No início de 1872, com o término da Capela, o procurador de São José do Rio Pardo, Antônio Marçal Nogueira de Barros, solicitou a bênção da mesma, ao Bispo de São Paulo: (....) a fim de que aí possa celebrar-se missa no dia 19 de março, não por ser dia daquele santo, como ainda por atender à urgente necessidade de ministrar sacramentos aos moradores, quinhentos mais ou menos.



 


O fundador da cidade

Coronel Antônio Marçal Nogueira de Barros, de barbas brancas, com a família.
 

O pedido não foi atendido por não estarem concluídos os Registros do Patrimônio da Capela.

O processo foi refeito rapidamente e enviado à Câmara Episcopal de São Paulo. Mais uma vez foi rejeitado, por estar incompleto.

Finalmente em 30 de maio de 1873, o Vigário Capitular do Bispado de São Paulo assinou documento autorizando bênção e celebração da missa e dos demais ofícios divinos na Capela de São José do Rio Pardo, filial da Matriz do Espírito Santo do Rio do Peixe.

A primeira missa só foi celebrada em 19/03/1874.
 

E o bairro de São José do Rio Pardo, subordinado à Vila de Caconde, passou pelos estágios: 1º) Capela com patrimônio, 2º) Capela Curada, em 30/10/1875, que se desligou da Matriz do Espírito Santo do Rio do Peixe, quando foi nomeado um capelão (cura) para os ofícios religiosos.

Os primeiros sacerdotes foram: Padre João da Fonseca de Melo (1876-1878), Padre Gaudêncio Ferreira Pinto (1879-1880) e D.Antonio Sanches de Lemos, vigário de Caconde, que substituía os curas nas suas ausências.

A Capela Curada de São José foi elevada à categoria de Freguesia em 14 de abril de 1880, pela Lei nº 70, da Assembléia Provincial. São José do Rio Pardo, desanexou-se da Vila de Caconde, passando à de Casa Branca, constituindo-se em Paróquia, confirmada pelo Bispo de São Paulo, em 1º de fevereiro de 1881.

A primeira missa paroquial foi oficiada pelo Padre Antônio Sanches de Lemos.

Em maio de 1881, tomou posse o vigário Padre José Cantan Lisa, seguido pelos padres: Antônio de Freitas Novaes, Joaquim Thomaz Ancassuerd e, encerrando o século, o Padre José Thomaz Ancassuerd.

O próximo passo dos rio-pardenses seria a autonomia municipal: elevar a Freguesia a Vila. Por este objetivo lutavam todos. Em São Paulo, o Dr.Antônio Cândido Rodrigues não media esforços.

Pela Lei nº 49, de 20 de março de 1885, a Freguesia foi elevada à categoria de Vila, vinte anos depois daquela primeira reunião dos fundadores. Mas outra lei determinava que sem o edifício da Casa de Câmara e Cadeia, construído às expensas dos respectivos povos, a Vila não poderia ser instalada.

Os rio-pardenses se mobilizaram, conseguindo dezessete conto de réis (17:000$000), construindo rapidamente o belo edifício numa esquina na Praça Matriz. No ano seguinte, aos 8 de maio de 1886, a Vila foi instalada. Diante do presidente da Câmara de Casa Branca, os sete primeiros vereadores eleitos da nova Vila juraram bem desempenhar suas funções e sustentar a felicidade pública.

 

 

A Casa da Câmara e Cadeia, inaugurada quando se instalou a Vila, em 08/05/1886.

 

 

Primeiros Vereadores da recém-instalada Vila

Capitão Antônio Corrêa de Souza, Coronel Antônio Marçal Nogueira de Barros, Alfrres Joaquim Gonçalves dos Santos, José Ezequiel de Souza, Luís Carlos de Melo, Capitão Saturnino Frauzino Barbosa e Capitão Vicente Alves de Araújo Dias. Por maioria de votos foram eleitos o Presidente e o Vice-Presidente da nova Câmara, respectivamente, Antônio Marçal Nogueira de Barros e Joaquim Gonçalves dos Santos.

Antes da Capela, já existia um quadro rural formado. Senhores, os aristocratas rurais, os coronéis, donos da vila sócio-político-enconômica da Vila, conviviam com os escravos.

Com o movimento abolicionista e a decadência da mão-de-obra escrava, novos personagens aqui aportaram, trazendo um novo calor de vida à cidade: os imigrantes, que trabalharam racionalmente nos cafezais, ampliando, também, o quadro urbano.

Os imigrantes desenvolveram a cidade, com um novo comércio; pequenas fábricas; oficinas de fundo de quintal; casas bancárias, de câmbio e descontos; restaurantes, pousadas...

Movimentaram a vida cultural com suas sociedades, festas, escolas, concertos e sessões literárias, imprensa, manifestações políticas...

Aqui residiram o português Nascimento; o francês-professor Charles Noguères, depois conhecido como Carlos Nogueira, o suíço Braghetta; muitos austríacos, japoneses e milhares de italianos.

Graças ao café, a base da economia brasileira, nossa vida urbana já estava formada. Em São José, o café florescia, excelente, apreciado, procurado, precisando de fácil escoamento. Foi quando um grupo de arrojados agricultores, liderados por José da Costa Machado e Souza, criou o Ramal Férreo do Rio Pardo, inaugurado em 1887, com a chegada do primeiro trem, e, no ano seguinte, transferido à Companhia Mogiana.


 



A primeira estação ferroviária de São José do Rio Pardo.
A atual que ocupa o mesmo espaço, foi inaugurada em 1928.





E a vida municipal corria tranquila. Conviviam conservadores e liberais com republicanos. Estes agitavam uma nova forma de governo: a República.

E chegou 1889, o ano da Proclamação da República.

Um acontecimento político, ocorrido em 11 de agosto, três meses antes da Proclamação, ressoou, projetando nacionalmente a Vila de São José do Rio Pardo.

O episódio teve seu prelúdio em junho, quando membros da Sociedade Italiana XX de Setembro, infiltrada de republicanos, depois de uma festa de assentamento da pedra fundamental de sua sede, saíram às ruas, cantando a Marselhesa, defrontando-se com monarquitas. Houve agressão, confusão e envio de tropas.

Dois meses passados, depois de aparente paz, a contenda recomeçou. Na noite de 10 de agosto, o Hotel Brasil, do republicano Ananias Barbosa, foi atacado pela polícia, depois de uma reunião e homenagens ao pregador republicano e líder, Francisco Glicério. Na manhã seguinte, 11 de agosto de 1889, os republicanos prenderam o sub-delegado de polícia, José Honório de Araújo, e o chefe liberal, Saturnino Barbosa. Apoderarm-se do edifício da Casa da Câmara e Cadeia, que representava a força e a lei, hasteando, a bandeira revolucionária de Júlio Ribeiro, proclamando a República, sob o som da proibida Marselhesa.

O sobrado de Honório Luís Dias (hoje, demolido) transformou-se em fortaleza e sede do governo municipal.




Palacete de Honório Dias, a "fortaleza republicana" na esquina das ruas Francisco Glicério e Marechal Deodoro


 

No dia seguinte, à tarde, a tropa chegada de São Paulo retomou a cidade dos republicanos.

Três meses depois, 15 de novembro, uma nova forma de governo se implantava no Brasil: a república.

Pela atuação incomum e única dos rio-pardenses no movimento republicano, o Decreto 179, de 29 de maio de 1891, elevou a Vila de São José do Rio Pardo à categoria de Cidade, com a denominação de Cidade Livre do Rio Pardo, que vigorou por apenas oito dias, pois os rio-pardenses, embora engrandecidos e orgulhosos, preferiram a denominação primeira e original. O Decreto 207, de 6 de junho, retificou o anterior, passando a Cidade a denominar-se, novamente, São José do Rio Pardo.

A comarca de nossa Cidade se instalou em 8 de dezembro de 1892, pela Lei nº 80, separando-se da de Casa Branca, tendo vida jurídica autônoma. O Dr.Eliseu Guilherme Christiano foi o primeiro Juiz de Direito da nova Comarca.

"E a Casa da Câmara, abrigando os três poderes, aos poucos tornou-se pequena para o pujante município. Em suas dependências achavam-se instalados: a Câmara, a Intendência, o Fórum, a Coletoria, o corpo de guardas e duas celas para presos.

A reforma pleiteada da Casa da Câmara e Cadeia, não se realizou. A Câmara encontrou a solução para preservá-la. Adquiriu, em 1901, o terreno ao lado do seu, doando-o ao Estado para a construção do Fórum. Com o decidido apoio do Dr.Antônio Cândido Rodrigues, então Secretário da Agricultura, o edifício do Fórum e Cadeia foi inaugurado em 1902, desafogando a Casa da Câmara.

Em 1968, os poderes constituídos: Legislativo, Executivo e Judiciário transferiram-se da Praça Capitão Vicente Dias para edifícios próprios, construídos na Praça dos Três Poderes .

E a antiga Casa da Câmara e Cadeia, que abrigou tantos lances históricos de São José do Rio Pardo, resiste. Hoje, está preservada pelo Município, pela Lei 1.067, de 3 de outubro de 1979, que a declara de interesse histórico e cultural.

textos do livrete publicado pelo Professor e Historiador:
Rodolpho José Del Guerra - 2ª edição - 1997)