O Ceará - foi formado pela miscigenação de colonizadores
europeus, indígenas catequizados e aculturados após grande resistência à colonização de negros e mulatos
que viviam como trabalhadores livres ou como escravos. O povoamento do território foi e tem sido bastante
influenciado pelo fenômeno natural da seca.
Com uma colonização portuguesa complexa e conturbada, marcada pela resistência dos
nativos e pelas dificuldades de adaptação dos portugueses às condições particulares do território,
formou-se uma sociedade rural baseada, sobretudo na pecuária, assim como na agricultura, em especial nos
vales úmidos e serras.
A elite latifundiária, através de seu poder econômico e de complexas relações de
parentesco e afilhadagem, possuía controle de quase todos os aspectos da vida social. Os "coronéis"
mantinham em suas propriedades muitos dependentes que lhes prestavam serviços ou entregavam parte de sua
produção em troca da posse de um lote de terra, em regime praticamente semifeudal, além de trabalhadores
assalariados. A escravidão africana, embora de menor importância, foi praticada ao longo de séculos,
principalmente nas áreas onde a agricultura floresceu.
O desenvolvimento independente do Ceará começaria apenas depois de sua separação de
Pernambuco em 1799, e sua história foi sempre marcada por lutas políticas e movimentos armados. Essa
instabilidade prolongou-se durante o Império e a Primeira República, normalizando-se depois da
desconstitucionalização do País em 1945.
As secas, os conturbados fatores sociais e econômicos do Estado acarretaram eventos
importantes na história desse povo, como o cangaço, os movimentos messiânicos, a emigração para à Amazônia
e para outros Estados, inclusive os do Sudeste do Brasil. Historicamente um dos locais mais miseráveis do
País, o Ceará tem passado por grandes transformações desde a década de 1950, progressivamente se tornando
um Estado predominantemente urbano, mais industrializado e com crescente desigualdade regional e de renda.
Era Colonial
As terras atualmente
pertencentes ao Ceará foram doadas, em 1535, a Antônio Cardoso de Barros, mas este não se interessou em
colonizá-las e nem sequer chegou a visitar a capitania, embora tivesse ocupado o cargo de provedor-mor da
Bahia no governo geral de Tomé de Sousa. Cardoso de Barros, inclusive, faleceu em 1556, ao lado do
primeiro bispo do Brasil dom Pero Fernandes Sardinha, devorado pelos índios Caetés, após um naufrágio na
costa de Alagoas (por: Farias Airton de).
A primeira tentativa séria de colonização portuguesa ocorre com
Pero Coelho de Sousa, que lidera a primeira bandeira feita em 1603, demonstrando por isso certo interesse
de Portugal em colonizar o Ceará.
A missão dos
bandeiristas era explorar o rio Jaguaribe, combater piratas, "fazer a paz" com os indígenas e tentar
encontrar metais preciosos. Partindo da Paraíba, à frente de 200 índios "mansos" (já submissos ao
conquistador) e de 65 soldados (entre os quais o jovem Martim Soares Moreno), Pero Coelho atingiu pelo
litoral a serra de Ibiapaba, onde travou combate com os índios Tabajaras e alguns franceses, então
aliados.
Derrotando os adversários, Pero Coelho tentou seguir para o Maranhão, mas só atingiu o
rio Parnaíba (Piauí), pois seus homens, cansados, maltrapilhos e famintos recusaram-se a prosseguir
viagem. De retorno ao litoral, o capitão-mor fundou o Forte de São Tiago, às margens do Rio Ceará e o
povoado de Nova Lusitânia. Ficou ali pouco tempo. Os índios, ressentidos com o comportamento brutal dos
"civilizados" europeus passaram a atacar o Fortim. Pero, então, retirou-se para o rio Jaguaribe,
construindo nas margens deste o forte de São Lourenço.
Contudo, a pesada seca de 1605 a 1607 (a primeira registrada pela historiografia
local) e os persistentes ataques indígenas levaram Pero Coelho a deixar o Siará em dolorosa caminhada, na
qual pereceram de fome e sede alguns soldados e seu filho mais velho. Dirigindo-se ao forte do Reis Magos
no rio Grande do Norte e depois Paraíba e Europa, Pero Coelho faleceu em Lisboa, pobre, após tentar cobrar
de Portugal os pagamentos pelos serviços prestados nas terras cearenses. Fracassava, assim, a tentativa
pioneira de ocupação do "Ceará Grande". (Por: Farias de Airton; Historia do Ceará; p. 14 e 15).
Diante do fracasso de Pero Coelho de conquistar as nações indígenas, em 1607 foi
enviado os padres Jesuítas Francisco Pinto e Luís Figueira com o intuito de evangelizar os sivícolas.
Estes avançaram até a Chapada da Ibiapaba, onde ficou até a morte do padre Francisco Pinto em outubro do
mesmo ano.
O padre Luís Figueira retorna para o Rio Grande do Norte. Posteriormente, relatou sua
empreitada em Relação do Maranhão, o primeiro texto escrito sobre o Ceará. Figueira, todavia, não foi
muito feliz no relacionamento com os nativos brasileiros. Anos depois, em 1643, vítima de um naufrágio na
Ilha de Marajó, foi morto e devorado pelos índios Aruás.
Em 1612, sob o
comando de Martim Soares Moreno (considerado posteriormente o "fundador" do Ceará), foi construído, às
margens do Rio Ceará, o Forte de São Sebastião, local conhecido atualmente como Barra do Ceará (divisa
entre os Municípios de Fortaleza e Caucaia).
A colonização
portuguesa da região, iniciada no século XVII, foi dificultada pela forte oposição das tribos indígenas e
as invasões de piratas europeus. O estabelecimento europeu só tomou impulso com a construção, na
embocadura do riacho Marajaitiba, do forte holandês Schoonenborch, que em 1654, foi tomado pelos
portugueses e passou a ser chamado Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção.
Em volta dessa Fortaleza formou-se a segunda vila do Ceará, a vila do Forte, ou
Fortaleza. Depois de muita disputa política entre Aquiraz e Fortaleza, a última passou a ser a capital do
Ceará, oficialmente a partir de 13 de abril de 1726 (Data em que se comemora o aniversário da cidade).
Houve duas frentes de ocupação portuguesa do território cearense: a do sertão-de-fora,
controlada por pernambucanos que vinham pelo litoral; e a do sertão-de-dentro, dominada por baianos.
Graças à pecuária e aos deslocamentos de pessoas das áreas então mais povoadas, praticamente todo o Ceará
foi ocupado ao longo do tempo, levando ao nascimento de várias cidades importantes nos cruzamentos das
principais estradas utilizadas pelos vaqueiros, como Icó.
Ao longo do século XVIII, a principal atividade econômica cearense foi a pecuária,
levando muitos historiadores a falarem que o Ceará se transformou em uma "Civilização do Couro", pois a
partir do couro se faziam praticamente todos os objetos necessários à vida do sertanejo através de um rico
artesanato.
O comércio do charque foi decisivo para a vida econômica do Ceará ao longo do século
XVIII e XIX. Com ele passou a existir uma clara divisão do trabalho entre as regiões do Estado: no litoral
se encontravam as charqueadas e, no sertão, as áreas para criação de gado bovino. O charque também
permitiu o enriquecimento de proprietários de terras e de comerciantes, bem como o surgimento de um
pequeníssimo mercado interno local.
Durante o auge do comércio do charque, a principal cidade cearense foi Aracati, de
onde eram exportadas, mas também floresceram outros centros regionais, como Sobral, Icó, Acaraú, Camocim e
Granja. A era do charque se finda depois das secas de 1790/93, que devastam o estado e impossibilitam a
continuação da pecuária cearense. Com este evento a produção do charque mudou para o Rio Grande do Sul.
Outras cidades nasceram a partir de aldeamentos indígenas, onde os nativos eram
confinados sob o controle de jesuítas, responsáveis por sua catequização e aculturação. Este foi o caso de
cidades importantes como Caucaia (outrora chamada Soure), Crato, Pacajus, Messejana e Parangaba (as duas
últimas atuais bairros de Fortaleza).
Os indígenas cearenses foram, em sua maior parte, massacrados, embora tenham resistido
até os dias de hoje. Um dos maiores exemplos de sua resistência foi a Guerra dos Bárbaros, na qual
indígenas de diversas tribos (Kariri, Janduim, Baiacu, Icó, Anacé, Quixelô, Jaguaribara, Kanindé,
Tremembé, Acriú, etc.) se uniram para lutar contra os conquistadores portugueses, resistindo bravamente
durante quase 50 anos.
O Ceará torna-se administrativamente independente de Pernambuco em 1799. Nas décadas
anteriores, o cultivo do algodão começou a despontar como uma importante atividade econômica, gerando um
período de prosperidade para a capitania. Com a recuperação da cotonicultura dos Estados Unidos da
América, o algodão e o próprio Ceará entrou em crise, o que explica o envolvimento de cearenses na
Revolução Pernambucana de 1817 e na Confederação do Equador.
Movimentos independentistas e Império
O século XIX também foi marcado por alguns movimentos revolucionários e conflitos. Em
1817, alguns cearenses, liderados pela família Alencar, apoiaram a Revolução Pernambucana. O movimento, no
entanto, ficou restrito ao Cariri e, especialmente, à cidade do Crato, e foi rapidamente sufocado. Em
1824, já após a independência, os mesmos ideais republicanos e liberais apareceram num movimento mais
amplo e organizado: a Confederação do Equador.
Aderindo aos revoltosos pernambucanos, várias cidades cearenses, como Crato, Icó e
Quixeramobim, demonstraram sua insatisfação com o governo imperial. Após choques com o governo provisório
controlado pelo Imperador Dom Pedro I, foi estabelecida a República do Ceará em 26 de agosto de 1824,
tendo Tristão Alencar como presidente do Conselho que governaria a província.
A forte repressão das forças imperiais, no entanto, derrotou rapidamente o movimento
rebelde devido a diversos motivos: a superioridade militar das tropas do governo imperial; a pouca
participação popular; as principais lideranças terem sido presas ou mortas.
Outro conflito que se
destacou na história cearense foi a Sedição de Pinto Madeira, um violento conflito entre a vila do Crato,
liderada por liberais republicanos (com maior destaque para a família Alencar), e a de Jardim,
praticamente dominada por Pinto Madeira, de caráter absolutista e autoritário.
As duas elites locais disputavam pelo controle político do
Cariri cearense. Por fim, os cratenses contrataram o mercenário francês Pierre Labatut e, reagindo com um
exército formado por sertanejos humildes, renderam os jardinenses. Pinto Madeira foi julgado sumariamente
no Crato, após ser considerado culpado pela morte do liberal José Pinto Cidade.
Também no século XIX,
o Ceará sofreu um verdadeiro boom econômico durante o período da Guerra de Secessão (1861-1865) nos EUA,
que, afetando a cotonicultura norte-americana, abriu o mercado mundial para o algodão cearense.
Foi nesse período que Fortaleza desbancou Aracati do posto de
cidade principal do Ceará: o algodão substituía o charque em importância econômica. Porém, a Grande Seca
(1877/78/79), interfere na agricultura do algodão, Fortaleza foi invadido pelas vítimas da estiagem, uma
grande parte da população cearense emigra para a Amazônia e assim contribui no boom do primeiro Ciclo da
Borracha. E a partir desta seca o Ceará passa a ser fator de atenção dentro da política nacional.
Depois do outro período de seca o Império iniciou projetos sociais e de infraestrutura
(Açude do Cedro), para amenizar as consequências das estiagens, fato que resultou com criação da Comissão
de Açudes e Irrigação (atualmente DNOCS).
No século XIX, um movimento de grande importância aconteceu no Ceará: a campanha
abolicionista, que aboliu a escravidão no estado em 25 de março de 1884, antes da Lei Áurea, que é de
1888. Foi, portanto, o primeiro estado brasileiro a abolir a escravatura. Dentro do Ceará, o primeiro
município a abolir a escravatura foi Acarape, que depois do evento, passou a ser chamado de Redenção.
O abolicionismo foi favorecido pela pouca importância da escravidão na economia
cearense relativamente às outras regiões do Brasil. Contou com o apoio da Maçonaria e até mesmo de grupos
formados por mulheres da elite do Estado. Além da pequena quantidade de escravos, quando da campanha
abolicionista, muitos escravos eram vendidos para o trabalho em outras províncias com maior demanda de
trabalho compulsório.
Pela grande dificuldade em atracar navios, devido ao mar bravio, a capital cearense
era um péssimo ancoradouro, o que fazia dos jangadeiros um elemento de suma importância para a economia
local, já que o embarque e desembarque no porto de Fortaleza tinha que ser feito por meio de embarcações
pequenas e insubmersíveis conhecidas como jangadas, e a forte campanha abolicionista, em 1881, convenceram
os jangadeiros cearenses a não mais realizar o transporte de escravos para terra firme. Sob o lema
"No Ceará não se embarcam mais escravos", o movimento, comandado pelo jangadeiro
Francisco José do Nascimento, o "Dragão do Mar", hoje nome de um centro cultural da cidade de Fortaleza,
ganhou significativa simpatia da população cearense.
República Velha
Após a proclamação da República no Brasil, em 1889, o quadro político-econômico do
Ceará começou a se transformar. Alguns anos depois, teria início à poderosa oligarquia acciolina, que
recebeu esse nome por ser comandado pelo comendador Antônio Pinto Nogueira Accioli, que governou o estado
de forma autoritária e monolítica entre 1896 e 1912.
A situação de desesperadora miséria e abandono social era uma marca profunda do Ceará
nessa época, o que levou ao surgimento de diversos movimentos messiânicos ao longo do século XIX e XX,
tendo como líderes religiosos Antônio Conselheiro (que formaria na Bahia o arraial de Canudos), Padre
Ibiapina, Padre Cícero, Beato Zé Lourenço, etc. Surgiu também outro meio de escapar da miséria: o cangaço.
Muitos homens formaram grupos de cangaceiros que saqueavam vilas, assaltavam e amedrontavam a todos.
Além desses eventos
em 1896 começou a ser construída a ferrovia Sobral-Crateús por Antônio Sampaio Pires Ferreira, onde logo
se estabeleceria em suas margens a cidade de Pires Ferreira.
O século XX, para o Ceará, foi marcado pelos ciclos de poder dos "coronéis" e por
enormes transformações de ordem social e econômica. O século se iniciou no contexto da oligarquia
acciolina, comandada, direta ou indiretamente, por Nogueira Accioli de 1896 a 1912. Durante esse período,
a família Accioli controlou, literalmente, todas as esferas do poder cearense, desde os altos escalões do
Governo estadual até as delegacias.
Então se vivia uma conturbada e violenta campanha eleitoral no Ceará, graças ao
Salvacionismo pretendido pelo presidente Hermes da Fonseca, que procurava enfraquecer as oligarquias
regionais contrárias ao seu poder. Dentro da política das Salvações, foi lançada a candidatura de Franco
Rabelo para o governo, enquanto Accioli apontava como seu candidato Domingos Carneiro. Em Fortaleza, houve
uma passeata de crianças em favor de Franco Rabelo, a qual foi repreendida duramente pelas forças
policiais, causando a morte de algumas crianças e ferindo outras tantas.
Em consequência, a população fortalezense se revoltou contra o governo, mergulhando a
capital em verdadeiro estado de guerra civil durante três dias. Accioli teve, então, que renunciar ao
governo cearense, tendo como garantia o direito de permanecer vivo e poder fugir do Estado. Franco Rabelo
foi eleito para governar o Ceará logo em seguida, mas acabou sendo deposto por outra revolta, a Sedição de
Juazeiro, entre 1913 e 1914.
Juazeiro do Norte era uma cidade recém-emancipada do Crato. Seu surgimento se deveu ao
carismático Padre Cícero, que, após ter ficado famoso devido ao suposto milagre da Beata Maria de Araújo
(cuja hóstia teria se transformado em sangue), conquistou uma imensa massa de sertanejos pobres e
religiosos.
Muitos passaram a morar em Juazeiro, de modo que em pouco tempo o local possuía
milhares de moradores. Como não tinha o apoio da alta hierarquia católica, Padre Cícero procurou evitar
que Juazeiro tivesse o mesmo fim trágico de Canudos e aliou-se ao poder político dos coronéis,
posicionando-se ao lado da oligarquia de Nogueira Accioli. Embora mantendo a proximidade com o povo, o
padre tornou-se, para alguns, um "coronel de batinas".
Franco Rabelo havia, em pouco tempo, perdido o apoio de muitos políticos que o haviam
ajudado a chegar ao poder - a Assembleia Legislativa tentou até mesmo, sem sucesso, votar o impeachment do
"salvacionista".
Os oposicionistas tentaram, então, convocar extraordinariamente a Assembleia
Legislativa em Juazeiro e cassaram o mandato de Rabelo. Este, que tinha ainda bastante apoia em Fortaleza,
mandou tropas para Juazeiro do Norte, pretendendo derrotar os golpistas.
Os sertanejos, incitados pelo Padre Cícero e pelos coronéis, acreditaram ser aquela
uma agressão contra o "Padim Ciço". Iniciou-se um verdadeiro clima de guerra santa em Juazeiro. Após meses
de combate, os seguidores de Padre Cícero venceram as tropas de Rabelo e iniciaram uma longa marcha até
Fortaleza, obrigando Rabelo a renunciar ao governo cearense.
Após a Sedição de Juazeiro, estabeleceu-se certo equilíbrio entre as oligarquias
cearenses, não havendo mais conflitos militares entre elas. O povo, no entanto, continuou reprimido e sem
voz.
Estado Novo
A situação política no Ceará se modificaria bastante com a Revolução de 1930, que
levou ao poder Getúlio Vargas. Durante 15 anos, governaram o Estado interventor do Governo Federal. O
primeiro interventor no Ceará foi Fernandes Távora, mas ele governou por pouco tempo, pois continuou com
as práticas clientelistas e corruptas da República Velha.
Os interventores não tardaram a se acomodar com as elites locais. O quadro político
cearense esteve, nesse período, influenciado por duas associações: a Liga Eleitoral Católica (LEC), que,
por seus vínculos religiosos e apoio dos latifundiários interioranos, obteve grande penetração no
eleitorado cearense e apoiou segmentos fascistas que organizaram a Ação Integralista Brasileira (AIB) no
Ceará; e a Legião Cearense do Trabalho (LCT), organização operária conservadora, corporativista,
anticomunista e antiliberal (na prática, fascista) que existiu no Ceará entre 1931 e 1937.
A LCT, após o exílio de seu líder Severino Sombra por ter apoiado a Revolução
Constitucionalista de São Paulo em 1932, foi perdendo poder. Ao voltar do exílio, Sombra abandonou a LCT e
fundou a Campanha Legionária, mas não teve sucesso, pois a Igreja prestava agora apoio à AIB e começavam a
surgir entidades operárias de esquerda no Estado. Em 1937, por fim, todas as associações de orientação
fascista (LCT, AIB e Campanha Legionária) foram extintas pelo Estado Novo de Getúlio Vargas.
Durante a seca de
1915 e, novamente na estiagem de 1932, foram criados campos de concentração no Ceará. O objetivo destes,
era impedir que retirantes fugindo da seca e da fome, chegassem às grandes cidades. Estes locais de
confinamento eram conhecidos como os currais do governo.
Um importante movimento social no período varguista foi o Caldeirão. De forma
semelhante a Canudos, ele reuniu cerca de 3 mil pessoas sob a liderança do beato Zé Lourenço, paraibano
que chegara a Juazeiro por volta de 1890 e era seguidor de Padre Cícero.
Aconselhado por Padre Cícero a se estabelecer na região e trabalhar com algumas das
famílias de romeiros, arrendou um lote de terra no sítio Baixa Danta, em Juazeiro do Norte. O sítio
prosperou e começou a desagradar à parte da elite, sendo difamado pelos adversários políticos de Padre
Cícero. Isso culminou na exigência do dono do sítio Baixa Danta de que os camponeses e o beato deixassem a
terra.
Instalando-se no sítio Caldeirão, no Crato, propriedade de Padre Cícero, os camponeses
formaram uma pequena sociedade coletiva e igualitária, prosperando tanto que chegaram a vender os
excedentes nas cidades vizinhas. O sítio tornou-se, portanto, um "mau exemplo" para os sertanejos e
desagradou fortemente à Igreja e aos latifundiários que perdiam a mão-de-obra barata. As difamações
culminaram com a acusação de que o beato Zé Lourenço era agente bolchevique!
Quando Padre Cícero morreu, em 1934, as terras foram herdadas pelos padres salesianos,
e os camponeses do Caldeirão ficaram desamparados. Em setembro de 1936, a comunidade é dispersa e o sítio
é incendiado e bombardeado. Zé Lourenço e seus seguidores rumaram, então, para uma nova comunidade. Alguns
dos moradores, no entanto, resolveram se vingar e realizou uma emboscada, matando alguns policiais, o que
foi respondido com um verdadeiro massacre de camponeses pelos contingentes policiais (estima-se entre
trezentos e mil mortos).
O início dos anos
1940, no Ceará, foi influenciado pela Segunda Guerra Mundial e as implantações decorridas pelos Acordos de
Washington. Em Fortaleza, foi montada uma base norte-americana, mudando os hábitos locais e empolgando a
população, que passou a realizar diversos atos, manifestos e passeatas contra o nazismo.
O Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia - SEMTA foi criado
e teve sua sede em Fortaleza. Este realizou uma forte propaganda governamental a qual estimulava os
sertanejos a migrar para a Amazônia, onde estes se tornaram os Soldados da Borracha do Exército da
Borracha, isto é, explorariam o látex das seringueiras.
Milhares de cearenses emigraram para o Norte, muitos dos quais morreram. Porém, estas
mortes não foram em vão, já que, graças aos soldados da borracha e sua mais-valia, os Estados Unidos e
Aliados puderam combater os exércitos do Eixo sem os seringais da Ásia para abastecê-los.
A luta contra o
nazismo e o posicionamento contraditório do governo brasileiro (uma ditadura de base fascista dentro do
País lutando contra regimes autoritários fascistas no exterior) precipitou a derrocada do Estado Novo.
Formaram-se os diversos partidos novos, como a UDN, o PSD, o
PCB e o PSP. A UDN e o PSD, partidos conservadores e elitistas, dominariam o cenário político cearense
pelas próximas décadas, enquanto o PSP, chefiado por Olavo Oliveira, seria, ao menos nos anos 1950, o
"fiel da balança" nas disputas eleitorais. O primeiro governador após a redemocratização foi Faustino
Albuquerque, da UDN. Vale lembrar que, apesar de todas as transformações políticas, o Ceará era então um
dos locais mais miseráveis do Brasil.
República Nova
O período de República Nova no Ceará tem início com a eleição de Faustino de
Albuquerque pela UDN. Durante seu governo, nas eleições de 1950, o candidato udenista a presidência,
Eduardo Gomes, obteve a maior votação colocando Getúlio Vargas em 3º colocado no estado. Para a direção do
governo estadual é eleito Raul Barbosa que foi um dos reesposáveis, junto com os parlamentares cearenses,
pela campanha de obtenção da sede do Banco do Nordeste do Brasil, fundado em 1952, para Fortaleza. No
mesmo ano o governo federal inaugurou oficialmente o Porto do Mucuripe. Em seu entorno foram instalados
usinas termoelétricas para dotar Fortaleza de energia elétrica em abundância.
Durante a década de
1950 surgiram ou se fortaleceram vários dos maiores grupos econômicos do Ceará: Deib Otoch, J. Macêdo, M.
Dias Branco, Grande Moinho Cearense e Edson Queiroz. Paulo Sarasate foi o terceiro governador eleito no
período. Ainda na década de 1950 tem início uma nova onda migratória para vários estados e regiões. Em uma
década, entre 1950 e 1960, o estado decaiu a taxa de representação da população brasileira, de 5,1% para
4,5%. Em 1955 a cearense Emília Barreto Correia Lima foi eleita Miss Brasil.
Em 1958 foi eleito Parsifal Barroso que teve a ajuda do governo federal para combater
as mazelas decorrentes de secas, sendo a principal obra o Açude Orós inaugurado em 1961. Em Fortaleza foi
inaugurado o Cine São Luís. O governador inicia a construção da nova sede do governo, o Palácio da
Abolição, em 1962 e no mesmo ano é criado o Banco do Estado do Ceará (BEC).
Em 1963 Virgílio
Távora foi eleito governador do Ceará. Seu mandato foi até o fim em 1966, mesmo com o surgimento da
Ditadura militar em 1964. Seu governo foi marcado pela criação do "PLAMEG I" - Plano de Metas do Governo
que visou à modernização da estrutura do estado com a ampliação do porto do Mucuripe e a transmissão da
energia de Paulo Afonso. Foi criado ou instalado também em seu governo o Distrito Industrial de Maracanaú,
o BEC, a CODEC e da Companhia DOCAS do Ceará. Com o AI-2, Virgílio aderiu à ARENA, e seu vice Figueiredo
Correia ao MDB.
Governo militar
Plácido Castelo foi
eleito pela Assembleia Legislativa em 1966. Durante seu governo houve perseguição política a deputados e
várias manifestações com a prisão e tortura de estudantes e trabalhadores, tendo ocorrido inclusive
atentados à bomba em Fortaleza. Criado o BANDECE e a pavimentação da rodovia CE-060, a rodovia "do
algodão". Também tem início as obras do estádio Castelão.
Durante o governo de
César Cals se sucedeu o auge da repressão militar. Vários cearenses de esquerda estiveram envolvidos na
Guerrilha do Araguaia. Cals procurou governar tecnocraticamente, formando sua própria facção política
rompendo com Virgílio Távora. Seu sucessor, Adauto Bezerra (mandato de 1975 a 1978) não acontecem grandes
mudanças. Adauto volta-se politicamente para o interior com a criação de uma secretaria de assuntos
municipais. Renuncia seu mandato para se eleger deputado federal. O vice-governador Waldemar Alcântara
toma posse e termina o mandato.
Virgílio Távora
retorna ao governo em 1979 sendo o último eleito indiretamente e resgata seu primeiro governo com a
criação do PLAMEG II. Inicia a industrialização da região noroeste do Ceará e cria o PROMOVALE (projetos
de irrigação) e sua esposa, a primeira dama Luiza Távora implementa projetos sociais como a Central de
Artesanato do Ceará. Seu governo foi marcado pela ausência, quase que total, de oposição na Assembleia,
nomeações aproximadas de 16.000 pessoas para cargos públicos e várias greves.
Gonzaga Mota foi eleito pelo voto popular tomando posse em 1983 e rompe com os
coronéis anteriores para criar seu próprio grupo político. Seu rompimento rendeu-lhe ataques do regime
militar com a suspensão de verbas federais.
Nova República
A insatisfação com a política praticada durante a ditadura militar e o movimento de
redemocratização impulsionam as transformações no poder político, com a decadência da hegemonia
tradicional do coronelismo.
Gonzaga Mota deixa o governo com pagamentos atrasados ao
funcionalismo e descontrole nas contas públicas, mas seu candidato, o empresário Tasso Jereissati,
consegue se eleger com a promessa de modernizar a administração pública, afastando-se do clientelismo dos
governos anteriores; promover a austeridade fiscal; e desenvolver a economia estadual. A nova gestão passa
a se autodenominar "Governo das Mudanças". Nas
duas décadas seguintes, Jereissati e seus aliados passam a deter a hegemonia política no Estado, e
rapidamente perdem a aliança com partidos chamados de esquerdas, mas também muitíssimos corruptos, como o
PT e o PCdoB comunistas.
O Ceará recebe os primeiros carros importada da marca russa Lada. Os "Governos das
Mudanças" priorizam o aumento dos investimentos públicos e privados em infraestrutura e nos setores
industrial e de serviços, enquanto o agropecuário permanece à margem. Politicamente, há uma relativa
diminuição de poder dos "coronéis", com ampliação do poder do grande empresariado.
O saneamento das contas estaduais - atingido, em parte, pela diminuição das despesas
com o funcionalismo público através de demissões e achatamentos salariais - garantem superávits entre 1988
e 1994, mas com a consolidação do Plano Real volta-se a uma predominância de déficits.
O Estado se beneficia também da guerra fiscal que então se iniciava o que, somado à
mão-de-obra barata, atrai várias indústrias, as quais se concentram em algumas poucas cidades. O
crescimento médio do PIB, de 4,6%, é superior à média nacional e nordestina nos anos 1990, continuando a
tendência iniciada na década de 1970. As ações do governo, aliado aos esforços do empresariado local, e os
incentivos de instituições de grande importância na história econômica recente do Ceará, como o BNB e a
SUDENE, foram determinantes para tal desempenho.
O forró eletrônico se
populariza na década de 1990, e o Ceará começa a despontar, seguindo a tendência do litoral nordestino,
como um grande polo de turismo no Brasil. Ao longo dos anos 1990, com ações como o Programa de Saúde da
Família (PSF), o Estado também realiza grandes avanços na redução da mortalidade infantil. A migração em
direção a Fortaleza segue forte, tendo em vista o persistente atraso do interior em comparação com o forte
crescimento da capital. A segurança pública torna-se muito mais problemática entre 1990 e 2003, com a taxa
de homicídios subindo de 8,86 para 20,15 por 100 mil habitantes, um aumento de 127%.
O estado do Ceará mesmo com todas as promessas políticas, mais de 90% de seus
municípios continua sem infraestrutura, como rede de esgoto e até mesmo agua encanada, apenas as cidades
praianas tiveram poucas mudanças, mas o saneamento básico deixa muito a desejar. O crime e a
corrupção política tomou conta do estado do Ceará.
Mais historia,
Brasão
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Bandeira do Ceará |
Segundo historiadores, as expedições do espanhol Vicente Pinzon e de Diogo Lepe desembarcaram nas costas cearenses antes da
viagem de Cabral ao Brasil. A primeira, num cabo identificado como o da Ponta Grossa, no Município de Icapuí, e a segunda,
na Barra do Ceará, em Fortaleza. Tais descobrimentos não puderam ser oficializados devido ao Tratado de Tordesilhas.
A ocupação efetiva do território cearense começou em 1603 com a bandeira de Pero Coelho de Souza que
fundou o Forte de São Tiago, na Barra do Ceará. A posse oficial do Ceará deu-se com Martins Soares Moreno,
(o Guerreiro Branco), que aqui chegou em 20 de janeiro de 1612 e fundou o forte de São Sebastião, no
antigo local onde fora erguido o Forte de São Tiago.
Em 1637 chegam os holandeses que domina durante sete anos. Em 1644 foram expulsos pelos índios com a
destruição do Forte de São Sebastião. Após cinco anos de sua retirada os holandeses voltaram ao Ceará
comandado por Matias Beck, na ocasião em que ergueram o Forte Shoonemborch, às margens do Rio Pajeú, de
onde se originou a cidade de Fortaleza. A explosão definitiva dos holandeses ocorreu em 1654 pelo
comandante português Álvaro de Azevedo Barreto, que muda o nome do Forte para Nossa Senhora da Assunção.
A criação do município de Fortaleza se deu a 13 de abril de 1726, quando a povoação do Forte foi levada à
condição de vila. Somente em 1823 o Imperador Dom Pedro I elevou a vila à categoria de cidade. Durante o
Segundo Império, o Intendente Antônio Rodrigues Ferreira e o Arquiteto Adolfo Hebster realizaram obras
urbanísticas transformando Fortaleza em uma das principais cidades do país. Atualmente, o Estado do Ceará
é composto por 184 municípios com autonomia político-administrativa.
A história de Fortaleza se confunde largamente com a história do Ceará, terra de índios dos troncos tupi
(tabajaras, parangabas, parnamirins, paupinas, caucaias, potiguaras, paiacus, tapebas) e jê (Tremembé,
guanacés, Jaguaruana, Canindé, jenipapos, baturités, icós, chocós, quiripaus, cariris, jucás, quixelôs,
inhamuns), os quais, embora dizimados em grande parte, fazem sua cultura estar presente até a atualidade,
em hábitos, comida, medicina e arte populares, nomes, vocabulário e etnia.
Foi em 1884 que se fez a abolição da escravatura no Ceará, quatro anos antes do dia 13 de maio da abolição
brasileira. Este fato lhe valeu o nome dado por José do Patrocínio de Terra da Luz, e fez aumentar os
ânimos de todos os abolicionistas do Brasil. Até Victor Hugo mandou da França suas saudações aos
cearenses.
Provavelmente, foi Américo Vespúcio o primeiro europeu a passar ao longo da costa cearense, em meados de
1499, quando percorria todo o litoral norte do Brasil, a partir do cabo Santo Agostinho no Rio Grande do
Norte. Dois meses antes de Pedro Álvares Cabral partir de Lisboa, o navegador espanhol Vicente Yañez
Pinzón, num roteiro semelhante a Américo Vespúcio, desembarcou no litoral cearense, no cabo do Mucuripe em
Fortaleza, conforme alguns, ou no cabo de Ponta Grossa em Aracati, conforme outros.
Na primeira década, após o descobrimento do Brasil, o Ceará estava exposto à sorte de piratas franceses, e
continuando sob domínio dos nativos, tupis à beira-mar e jés (ou tapuias) no interior. Em 1534, a coroa
portuguesa, no intuito de marcar o domínio das terras descobertas, implantou o sistema de capitanias no
Brasil, e em 1535 concedeu a Antônio Cardoso de Barros a Capitania do Siará, que nunca se importou em
tomar posse desse feudo. No entanto, desempenhou na Bahia o cargo de provedor-mor e, em 1556, ao retornar
para Portugal, teve a má sorte de o navio naufragar nas costas de Alagoas e ser devorado pelos índios,
junto com o bispo D. Pero Fernandes Sardinha.
O Ceará voltou a entrar na história em 1603, em pleno domínio espanhol de Felipe III, quando Pero Coelho
de Sousa obteve do governador geral Diogo Botelho a permissão de colonizar o Siará Grande, partindo do Rio
Grande do Norte. Chamou a colônia de Nova Lusitânia e o arraial projetado na foz do rio Ceará de Nova
Lisboa, a atual região da Barra do Ceará. Aventurou-se com seus soldados e ajuda de índios tabajaras e
potiguara sertão adentra e enfrentou os franceses liderados por Adolphe Membille que, a partir do Maranhão
invadiram o sul. Deteve-os às margens do rio Parnaíba. Por falta de recursos e a primeira forte seca, de
que se tem notícia nesta região, retirou-se em 1607 para a Paraíba.
No mesmo ano, os padres Francisco Pinto e Luís Filgueiras iniciaram seus trabalhos de catequese dos índios
na região, com relativo sucesso. Na trilha de Pero Coelho de Sousa atravessaram o território de leste a
oeste, até chegarem à serra da Ibiapaba, onde fundaram um povoado, logo atacado por índios tocarijus,
morrendo Francisco Pinto a tacape. Luís Filgueiras, junto com um punhado de índios fiéis, retirou-se para
as proximidades da foz do rio Ceará, fundando outro povoado, o de São Lourenço. Temendo a agressão de
índios, no entanto, em agosto de 1608 se retira, para retornar a Pernambuco, e mais tarde, após naufrágio
na ilha de Marajó, foi outro devorado a ser devorado pelos nativos.
É Martins Soares Moreno que pode ser considerado o verdadeiro fundador do Ceará. Jovem soldado sob ordens
de Pero Coelho de Sousa destacou-se pela amizade que matinha com os índios, imitando seus costumes. Chegou
de volta ao Ceará no início de 1612, em companhia do padre Baltazar João Correia e seis soldados construiu
um pequeno forte, chamado de São Sebastião, novamente, na foz do rio Ceará. Após combates com os franceses
no Maranhão e tentativas rechaçadas de invasão dos holandeses, foi a Portugal e obteve em 1619 a carta
régia como senhor da Capitania do Siará, aonde voltou em 1621, para fixar-se por vários anos, consolidando
e fazendo florescer sua capitania. Os amores de Martins Soares Moreno por uma índia serviram de tema para
o romance Iracema, de José de Alencar, escritor cearense.
Os holandeses de Pernambuco, que já tinham colocado sob seu domínio as regiões até o Rio Grande do Norte,
em 1637 desembarcaram no Mucuripe (atual região do porto de Fortaleza), sediando e tomando o forte na foz
do rio Ceará, do qual foram expulsos pelos próprios índios em 1644. Voltaram em 1649 sob ordens de Matias
Beck. Construíram na enseada do Mucuripe, junto ao rio Pajeú, uma fortificação, à qual deram o nome de
Schoonenborch, em homenagem ao seu governador em Pernambuco. O forte tornou-se centro de atividades
militares e dos trabalhos de exploração das minas de prata na serra de Maranguape.
Em 1654, no entanto, os holandeses foram expulsos do Brasil pelos portugueses e, assim, também entregaram
o forte a eles, mudando o nome, na época em que o português Álvaro de Azevedo Barreto foi capitão-mor do
Ceará, para Fortaleza da Nossa Senhora da Assunção, dando origem ao futuro nome da capital cearense. O
forte, construído em madeira, se manteve de reforma, até 1812, quando outro, de alvenaria, o substituiu. O
povoado que começou a florescer em volta, se desenvolveu gradativamente para a cidade de Fortaleza. A vila
de Fortaleza foi instalada em abril de 1726 e tornou-se cidade, por ordem régia, em 17 de março de 1823,
com o nome de Fortaleza de Nova Bragança.
Nessa primeira fase da história cearense, o pouco desenvolvimento regional se manteve na orla marítima,
baseado no plantio da cana-de-açúcar. Porém, informados das excelentes pastagens e do bom clima dos
sertões do Ceará, aventureiros de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Bahia começaram a ocupar os
espaços, expulsando os índios ou, quando possível, domesticando-os para o trabalho, instalando currais,
logo oficializado como sesmarias.
Assim, a partir da última década do século XVII, durante aproximadamente quarenta anos, acelerou-se a
interiorização, a partir duma economia essencialmente pecuarista. Os currais se transformaram
gradativamente em fazendas. O boi virou grande moeda da época, garantindo a alimentação e subprodutos
baseados no seu couro, como roupa, sapato, chapéu, gibão e perneira. Os rebanhos eram objeto de largo
comércio com Pernambuco, de onde vinham tecidos, louças, ferramentas e outras utilidades indispensáveis
para a vida nas fazendas.
Mais tarde em vez de transportar o boi pelas suas próprias pernas, a experiência demonstrou ser mais fácil
abatê-lo no seu lugar de origem, salgar-lhe a carne e transportá-lo para os centros de consumo,
originando, assim, um intensivo comércio com a zona açucareira de Pernambuco. O boi era transportado para
as cidades portuárias, abatido, salgado e despachado, transformando os portos de Aracati, Acaraú e Camocim
nos principais da região. Este processo da carne charqueada manteve-se florescente no Ceará, até a grande
seca no final do século XVIII, quando os rebanhos se aniquilaram, em consequência de três anos de ausência
de chuvas.
Assim, o Ceará, voltado para a pecuária e agricultura de subsistência, sem grandes plantações de açúcar,
ouro e outras riquezas de seu tempo, atravessou obscuramente a época da colonização, encerrando sua
Segunda fase histórica, dependendo sucessivamente do Maranhão, Pará e Pernambuco.
Somente em 1799, o rei nomeou o primeiro governador, Bernardo Manuel de Vasconcelos, que instalou a
capital em Aquiraz, transferida em 1810 para Fortaleza.
Outras vilas, no entanto, começaram a se formar junto às fazendas e encruzilhadas no interior. Uma das
regiões mais prósperas se tornou o Cariri, tendo como centro a vila do Crato, fundada por uma missão
franciscana. Icó prosperou como entreposto comercial, entre o Cariri e o litoral. Aracati era porto de
mar, por onde se exportava o couro e o charque.
Nesta época também, e na sucessão dos próximos governadores, iniciou o comércio direto com a Europa, que
antes era canalizado exclusivamente pelo porto de Recife, fato que intensificou a exportação de produtos
locais. O algodão começou a fazer parte da riqueza geral e, até recentemente, de excelente qualidade,
disputava os mercados europeus, tendo sido o principal produto de exportação do Ceará. Com o franqueamento
dos portos brasileiros em 1808, reforçaram-se as trocas com o Reino Unido e, a seguir, com os Estados
Unidos e Portugal.
Referencia:
Wikipédia
Ache Tudo e Região