Vênus (português brasileiro) é o segundo planeta
do Sistema Solar em ordem de distância a partir
do Sol. Recebe seu nome em honra da deusa romana
do amor Vénus, equivalente a Afrodite. Trata-se
de um planeta do tipo terrestre ou telúrico,
chamado com frequência de planeta irmão da
Terra, já que ambos são similares quanto ao
tamanho, massa e composição. A órbita de Vénus é
uma elipse praticamente circular, com uma
excentricidade de menos de 1%.
Características
orbitais
Raio orbital
médio: 108,208,930 km
Periélio: 107 476
259 km
Afélio: 108 942
109 km
Excentricidade:
0,0068
Período orbital:
224,70069 dias
Velocidade
orbital média: 35,02 km/s
Inclinação:
3,39471°
Satélites
naturais: -
Características
físicas
Diâmetro
equatorial: 6 051,8 ± 1.0 km
Área da
superfície: 4,60×108 km²
Massa: 4,8685×1024 kg
Densidade média:
5,204 g/cm³
Aceleração
gravítica á superfície: 8,87 m/s²
Velocidade de
escape: 10,46 km/s
Período de
rotação: −243.0185 dias
Inclinação axial:
177,36°
Albedo: 0,65
Temperatura á
superfície: min méd máx
735 K
Atmosfera
Pressão
atmosférica: 9,3 MPa
Composição:
~96,5% de Dióxido de carbono
~3,5% de Nitrogênio
0,015% de Dióxido de enxofre
0,007% de Argônio
0,002% de Vapor de água
0,0017% de Monóxido de carbono
0,0012% de Hélio
0,0007% de Neônio
Traços de Sulfeto de
carbonila, Ácido clorídrico, Ácido
fluorídrico |
|
Vénus encontra-se mais
próximo do Sol do que a Terra, podendo ser
encontrado aproximadamente na mesma direção do
Sol (sua maior inclinação é de 47,8°). Da Terra
pode ser visto somente algumas horas antes da
alvorada ou depois do ocaso. Apesar disso,
quando Vénus está mais brilhante pode ser visto
durante o dia, sendo um dos dois únicos corpos
celestes que podem ser vistos tanto de dia como
de noite (sendo o outro a Lua). Vénus é
normalmente conhecido como a estrela da manhã
(Estrela d'Alva) ou estrela da tarde (vésper) ou
ainda Estrela do Pastor. Quando visível no céu
noturno, é o objeto mais brilhante do firmamento,
além da Lua, devido ao seu grande brilho, cuja
magnitude pode chegar a -4,4 (costuma-se ser da
magnitude de -3,8).
Por este
motivo, Vénus era conhecido como o planeta desde
os tempos pré-históricos. Seus movimentos no céu
eram conhecidos pela maioria das antigas
civilizações, adquirindo importância em quase
todas as interpretações astrológicas do
movimento planetário. Em particular, a
civilização maia elaborou um calendário
religioso baseado nos ciclos de Vénus (ver
Calendário maia). O símbolo do planeta Vénus é
uma representação estilizada do símbolo da deusa
Vénus: um círculo com uma pequena cruz abaixo,
utilizado também para representar o Patologia
feminino.
O adjetivo venusiano é mais comumente usado para
Vénus, embora seja etimologicamente incorreto. O
verdadeiro adjetivo do latim, venéreo, não é
usado porque a aceitação moderna da palavra se
associa com as enfermidades venéreas,
particularmente as de transmissão sexual.
Órbita
Os outros planetas exibem órbitas elípticas, ao
contrário de Vênus, que tem uma órbita parecida
com um círculo, com uma excentricidade inferior
a 1%.
Como Vênus está mais próximo do Sol do que a
Terra, sempre aparece próximo deste, sendo que a
máxima distância angular entre ambos os corpos é
de 47,8°. Deste modo na Terra pode ser visto
poucas horas antes do amanhecer (quando recebe o
nome de estrela da manhã ou Estrela d'Alva) ou
pouco depois do anoitecer (quando recebe o nome
de Estrela Vésper). Nos períodos em que Vênus
está mais brilhante pode sem dúvida ser visto
durante o dia, sendo um dos dois únicos corpos
celestes que podem ser vistos tanto de dia como
de noite (sendo o outro a Lua).
O ciclo entre duas inclinações máximas dura 584
dias. Depois de 584 dias Vênus aparece numa
posição a 72° da inclinação anterior. Depois de
5 períodos de 72° em uma circunferência, Vênus
regressa ao mesmo ponto do céu a cada 8 anos (menos
dois dias correspondentes aos anos bissextos).
Este período era conhecido como o ciclo Sothis
no Antigo Egito.
Na conjunção inferior, Vênus pode se aproximar
da Terra mais do que nenhum outro planeta. No
dia 16 de Dezembro de 1850, Vênus alcançou uma
distância mais próxima da Terra desde 1800 com
um valor de 39.514.827 quilômetros (0,26413854
UA). Esta será a aproximação mais próxima da
Terra até o ano 2101, quando Vênus alcançará uma
distância de 39.541.578 quilômetros (0,26431736
UA).
Rotação
Observado de um ponto
hipotético localizado acima do pólo Norte do
Sol, Vênus gira sobre si mesmo lentamente num
movimento de Leste a Oeste (sentido horário) ao
invés de Oeste a Leste (movimento anti-horário)
como os demais planetas (exceto Urano). Esta
rotação contrária aos demais planetas fica a
dever-se ao fato de Vênus ter os pólos
invertidos. Se se pudesse ver o Sol na
superfície de Vênus, este nasceria no Oeste e
teria o seu ocaso no Leste com uma duração
dia-noite de 116,75 dias terrestres,
correspondendo um ano terrestre a 1,92 anos
venusianos. Apesar da rotação horária, os
períodos de rotação e orbital de Vênus estão
sincronizados de tal maneira que apresenta
sempre a mesma face do planeta para a Terra
quando ambos os corpos estão a menor distância.
Isto poderia ser uma simples coincidência, porém
existem especulações sobre uma possível origem
desta sincronização como resultado da ação das
marés, afetando a rotação de Vênus quando ambos
os corpos estão suficientemente próximos.
Características físicas
Atmosfera
Vénus possui uma densa
atmosfera, composta em sua maior parte por
dióxido de carbono, mas parte de sua atmosfera
também é composta por nitrogênio; a quantidade
de nitrogênio na atmosfera de Vênus é quase
igual a porção do oxigênio encontrado na Terra .
A pressão atmosférica ao nível do solo é 90
vezes superior à pressão atmosférica na
superfície terrestre (uma pressão equivalente a
uma profundidade de um quilômetro abaixo do
nível do mar na Terra). A enorme quantidade de
CO2 da atmosfera provoca um forte efeito estufa
que eleva a temperatura da superfície do planeta
até 480 °C °C[1] nas regiões menos elevadas ao
redor do Equador. Isto faz Vénus ser mais quente
do que Mercúrio, apesar de estar a mais do que o
dobro da distância do Sol que este e receber
somente 25% de sua radiação solar (2.613,9 W/m²
na atmosfera superior e 1.071,1 W/m² na
superfície).
Devido à
inércia térmica de sua pesada atmosfera e ao
transporte de calor pelos fortes ventos de sua
atmosfera, a temperatura não varia de forma
significativa entre o dia e a noite. Apesar da
lenta rotação de Vénus (menos de uma rotação por
ano venusiano, equivalente a uma velocidade de
rotação no Equador de 6,5 km/h), os ventos da
atmosfera superior circundam o planeta em
somente 4 dias, distribuindo eficazmente o calor.
Além do movimento zonal da atmosfera de Oeste a
Leste, há um movimento vertical em forma de
célula de Hadley, que transporta o calor do
Equador até as regiões polares, incluindo as
latitudes médias do lado não iluminado do
planeta.
A radiação solar quase não alcança a superfície
do planeta. As densas camadas de nuvens refletem
a maior parte da luz do Sol ao espaço, e a maior
parte da luz que atravessa as nuvens é absorvida
pela atmosfera. Isto impede a maior parte da luz
do Sol de aquecer a superfície. O albedo
bolométrico de Vénus é de aproximadamente 60%, e
seu albedo visual é ainda maior, o qual conclui
que, apesar de encontrar-se mais próximo do Sol
do que a Terra, a superfície de Vénus não se
aquece nem se ilumina como era de esperar pela
radiação solar que recebe. Na ausência do efeito
estufa, a temperatura na superfície de Vénus
poderia ser similar à da Terra. O enorme efeito
estufa, associado à imensa quantidade de CO2 na
atmosfera retém o calor, provocando as elevadas
temperaturas deste planeta, sendo assim o
planeta Vênus ganha o título de planeta mais
quente do Sistema Solar.
Os fortes ventos na parte superior das nuvens
podem alcançar 350 km/h, embora a nível do solo,
os ventos são muito mais lentos. Apesar disto,
devido a altíssima pressão da atmosfera na
superfície de Vénus, estes fracos ventos exercem
uma força considerável contra os obstáculos. As
nuvens são compostas principalmente por
gotículas de dióxido de enxofre e ácido
sulfúrico, e cobrem o planeta por inteiro,
ocultando a maior parte dos detalhes da
superfície à observação externa. A temperatura
da parte superior das nuvens (a 70 km acima da
superfície) é de -45 °C. A temperatura média da
superfície de Vénus, é de 464 °C. A temperatura
da superfície nunca é menor do que 400 °C.
Características da superfície ou da Geografia de
Vênus
Imagem
obtida por radar da superfície de Vénus,
centrada à longitude 180° Leste.Vénus tem uma
lenta rotação retrógrada, o que significa que
gira de Leste a Oeste, ao invés de fazê-lo de
Oeste a Leste como fazem a maioria dos demais
planetas. (Plutão e Urano também tem uma rotação
retrógrada, embora o eixo de rotação de Urano,
inclinado a 97,86°, praticamente segue o plano
orbital). Se desconhece porque Vénus é diferente
neste aspecto, embora poderia ser o resultado de
uma colisão com um grande asteróide em algum
momento do passado remoto. Além desta rotação
retrógrada incomum, o período de rotação de
Vénus e sua órbita estão quase sincronizados, de
maneira que sempre apresenta o mesmo lado para a
Terra, quando os dois planetas se encontram em
sua máxima aproximação (5.001 dias venusianos
entre cada conjunção inferior). Isto poderia ser
o resultado das forças das marés que afetam a
rotação de Vénus cada vez que os planetas se
encontram suficientemente próximos, embora não
se conhece com clareza o mecanismo.
Vénus tem
duas mesetas principais em forma de continentes,
elevando-se sobre uma vasta planície. A meseta
do Norte é chamada de Ishtar Terra, e contém a
maior montanha de Vénus (Aproximadamente dois
quilômetros mais alta que o Monte Everest),
chamada de Maxwell Montes em honra de James
Clerk Maxwell. Ishtar Terra tem o tamanho
aproximado da Austrália. No hemisfério Sul se
encontra Aphrodite Terra, maior que o anterior e
com o tamanho equivalente ao da América do Sul.
Entre estas mesetas existem algumas depressões
do terreno, que incluem Atalanta Planitia,
Guinevere Planitia e Lavinia Planitia. Com a
única exceção do Maxwell Montes, todas as
características distinguíveis do terreno (acidentes
geográficos) adotam nomes de mulheres
mitológicas.
A densa atmosfera de Vénus faz com que os
meteoritos se desintegrem rapidamente na sua
descida à superfície, embora os maiores possam
chegar à superfície, originando uma cratera
quando têm energia cinética suficiente. Por
causa disto, não podem formar crateras de
impacto com menos de 3,2 quilômetros de diâmetro.
Aproximadamente 90% da superfície de Vénus
parece consistir em basalto recentemente
solidificado (em termos geológicos) com muito
poucas crateras de meteoritos. As formações mais
antigas presentes em Vénus não parecem ter mais
de 800 milhões de anos, sendo a maior parte do
solo consideravelmente mais jovem (não mais do
que algumas centenas de milhões de anos em sua
maior parte), o qual sugere que Vénus sofreu um
cataclisma que afetou a sua superfície, e não
faz muito tempo no passado geológico.
O interior do planeta Vénus é provavelmente
similar ao da Terra: um núcleo de ferro de 3.000
km de raio, com um manto rochoso que forma a
maior parte do planeta. Segundo dados dos
medições gravitacionais da sonda Magellan, a
crosta de Vénus é mais dura e grossa do que se
havia pensado. É sabido que Vénus não tem placas
tectônicas móveis como a Terra, porém em seu
lugar se produzem massivas erupções vulcânicas
que inundam a sua superfície com lava fresca.
Outras descobertas recentes sugerem que Vénus
está vulcanicamente ativo.
O campo magnético de Vénus é muito fraco
comparado com o de outros planetas do Sistema
Solar. Isto se pode dever a sua lenta rotação,
insuficiente para formar o sistema de «dínamo
interno» de ferro líquido. Como resultado disto,
o vento solar atinge a atmosfera de Vénus sem
ser filtrado. Se supõe que Vénus teve
originalmente tanta água como a Terra, pois que
ao estar submetida a ação do Sol sem nenhum
filtro protetor, o vapor d'água na alta
atmosfera se dissocia em hidrogênio e oxigênio,
escapando o hidrogênio ao espaço por causa da
sua baixa massa molecular. A porcentagem de
deutério (um isó pesado do hidrogênio que
não escapa tão facilmente) na atmosfera de Vénus
parece apoiar esta teoria. Se supõe que o
oxigênio molecular se combinou com os átomos da
crosta (embora grandes quantidades de oxigênio
permanecem na atmosfera em forma de dióxido de
carbono). Por causa desta seca, as rochas de
Vénus são muito mais pesadas que as da Terra, o
qual favorece a formação de montanhas maiores,
vales profundos e outras formações.
Durante algum tempo acreditou-se que Vénus
possuía um satélite natural com o nome de Neith,
assim chamado em homenagem à deusa do Egito (cujo
véu nenhum mortal poderia levantar). Foi
aparentemente observado pela primeira vez por
Giovanni Cassini em 1672. Outras observações
esporádicas continuaram até 1892, porém estes
registos visuais foram desacreditados (eram em
sua maior parte estrelas tênues que pareciam
estar no lugar correto em momento correto), e
hoje se sabe que Vénus não tem nenhum satélite.
Observação
e exploração de Vénus
Observações históricas
Trânsito
de Vénus de 8 de Junho de 2004.Vénus é o astro
mais característico no céu da manhã e da tarde
da Terra (depois do Sol e da Lua), e é conhecido
pelo Homem desde a pré-história. Um dos
documentos mais antigos que sobreviveram da
biblioteca babilônica de Assurbanípal, datado de
1600 a.C., é um registro de 21 anos do aspecto
de Vénus (que os primeiros babilônios chamaram
de Nindaranna). Os antigos sumérios e babilônios
chamaram Vénus «Dil-bat» ou «Dil-i-pat»; na
cidade mesopotâmica de Akkad era a estrela da
deusa-mãe Ishtar, e em chinês seu nome é «Jīn-xīng»
(金星), o planeta do elemento metal.
Vénus é
considerado como o mais importante dos corpos
celestes observados pelos maias, que o chamaram
«Chak ek» (a grande estrela). Possivelmente se
deu mais importância junto com o Sol. Os maias
estudaram atentamente os movimentos de Vénus.
Pensaram que as posições de Vénus e outros
planetas tinham influência sobre a vida na
Terra, porque os maias e outras culturas
pré-colombianas programaram suas guerras e
outros eventos importantes baseando-se em suas
observações. No códice de Dresden, os maias
incluíram um almanaque em que mostravam o ciclo
completo de Vénus, em cinco grupos de 584 dias
cada um (aproximadamente oito anos), depois dos
quais se repetia o mesmo esquema (Vénus dá treze
voltas ao redor do Sol praticamente no mesmo
tempo que a Terra tarda em dar oito).
Os antigos gregos pensavam que as aparições
matutinas e vespertinas de Vénus eram dois
corpos diferentes, e os chamaram de «Héspero»
quando aparecia no céu do oeste ao entardecer e
«Fósforo» quando aparecia no céu do leste ao
amanhecer. Foi Pitágoras quem primeiro falou que
ambos os objetos eram o mesmo planeta. No século
IV a.C., Heráclides Pôntico propôs que tanto
Vénus como Mercúrio orbitavam o Sol ao invés de
orbitar a Terra. O nome Vénus significa deusa
romana do amor e da beleza.
Fases de
Vénus observadas na Terra.Ao encontrar a órbita
de Vénus entre a Terra e o Sol, da Terra podemos
distinguir suas diferentes fases de uma forma
parecida àquelas que podemos ver da Lua. Galileo
Galilei foi a primeira pessoa a observar as
fases de Vénus em Dezembro de 1610, uma
observação que sustentava a então discutida
teoria heliocêntrica do Sistema Solar de
Copérnico. Também anotou as mudanças de tamanho
do diâmetro visível de Vénus em suas diferentes
fases, sugerindo que este se encontrava mais
longe da Terra quando ele estava cheio e mais
próximo quando se encontrava na fase crescente.
Estas observações proporcionaram uma sólida base
ao modelo heliocêntrico.
Vénus é
mais brilhante quando 25% de seu disco está
iluminado por estar muito mais perto da
Terra.Vénus está mais brilhante quando 25% de
seu disco (aproximadamente) se encontra
iluminado, o que ocorre 37 dias antes da
conjunção inferior (no céu vespertino) e 37 dias
depois da conjunção (no céu matutino). Sua maior
inclinação e altura sobre o horizonte se produz
aproximadamente 70 dias antes e depois da
conjunção inferior, momento em que mostra a fase
média; entre estes intervalos, Vénus é visível
durante as primeiras e últimas horas do dia se o
observador saber de onde localizá-lo. O período
de movimento retrógrado é de vinte dias em cada
lado da conjunção inferior.
Vénus em
plena luz do dia às 5 da manhã de Dezembro de
2005.Em raras ocasiões, Vénus pode ser visto no
céu da manhã e da tarde no mesmo dia. Isto
sucede quando Vénus se encontra em sua máxima
separação a respeito da eclíptica e ao mesmo
tempo, esse encontra na conjunção inferior; daí
então de um dos nossos hemisférios se pode ver
em ambos os momentos. Esta oportunidade
apresentou recentemente para os observadores do
hemisfério Norte durante alguns dias a partir de
29 de março de 2001, e o mesmo sucedeu no
hemisfério Sul em 19 de agosto de 1999. Estes
eventos se repetem a cada oito anos de acordo
com o ciclo sinódico do planeta.
Os trânsitos de Vénus acontecem quando o planeta
cruza diretamente o caminho entre a Terra e o
Sol e são eventos astronômicos relativamente
raros. A primeira vez que observou este trânsito
astronômico foi em 1639 por Jeremiah Horrocks e
William Crabtree. O trânsito de 1761, observado
por Mikhail Lomonosov, proporcionou a primeira
evidência de que Vénus tinha uma atmosfera, e as
observações telescópicas do século XIX durante
seus trânsitos permitiram obter pela primeira
vez um cálculo preciso da distância entre a
Terra e o Sol. Os trânsitos só podem ocorrer em
Junho ou Dezembro, sendo estes os momentos em
que Vénus cruza a eclíptica (o plano em que a
Terra órbita ao redor do Sol), e sucedem em
pares a intervalos de oito anos, separados os
pares de trânsitos por mais de um século. O par
de trânsitos anterior sucedeu em 1874 e 1882, e
o presente par de trânsitos são os de 2004 e
2012.
No século XIX, muitos observadores atribuíram a
Vénus um período de rotação aproximado de 24
horas. O astrônomo italiano Giovanni
Schiaparelli foi o primeiro a prever um período
de rotação significativamente menor, propondo
que a rotação de Vénus estava bloqueada pelo Sol
(o mesmo que propôs para Mercúrio). Embora
realmente não seja verdade para nenhum dos dois
corpos, era uma estimação bastante aproximada. A
quase ressonância entre sua rotação e a maior
aproximação da Terra ajudou a criar esta
impressão, já que Vénus sempre aparece na mesma
face quando se encontra na melhor posição para
ser observado. O período de rotação de Vénus foi
observado pela primeira vez durante a conjunção
de 1961 através de uma antena de radar de 26
metros em Goldstone, Califórnia, a partir do
observatório de radioastronomia Jodrell Bank no
Reino Unido e nas instalações de espaço profundo
da União Soviética de Yevpatoria. A precisão foi
refinada nas seguintes conjunções,
principalmente às de Goldstone e Yevpatoria. O
sentido de rotação retrógrado deste planeta não
foi confirmado até 1964.
Antes das observações de rádio dos anos sessenta,
muitos acreditam que Vénus tinha um ambiente
como o da Terra. Isto era devido ao tamanho do
planeta e do seu raio orbital, que sugeriam
claramente uma situação parecida com a da Terra,
assim como a grossa camada de nuvens que
impediam ver a superfície. Entre as especulações
sobre Vénus estavam as de que este tinha um
ambiente selvagem, e que possuía oceanos de
petróleo e de água carbonatada. Sem dúvida, as
observações através de microondas em 1956 por C.
Mayer et al, indicavam uma alta temperatura da
superfície de 600 K. Estranhamente, as
observações feitas por A.D. Kuzmin na banda
milimétrica indicavam temperaturas muito mais
baixas. Duas teorias contrárias explicavam o
incomum espectro de rádio: uma delas sugeria que
as altas temperaturas se originavam na ionosfera
e a outra sugeria uma superfície quente.
Exploração
espacial de Vénus
A órbita de Vénus é 28 por cento mais próxima do
Sol do que a Terra. Por este motivo, as naves
espaciais que viajam até Vénus devem percorrer
mais de 41 milhões de quilómetros adentrando-se
no campo gravitacional do Sol, perdendo no
processo parte de sua energia potencial. A
energia potencial se transforma então em energia
cinética, o que se traduz em um aumento da
velocidade da nave. Por outro lado, a atmosfera
de Vénus não impede as manobras de freio
atmosférico do mesmo tipo que as outras naves
efetuaram sobre Marte, já que para isto é
necessário contar com uma informação
extremamente precisa da densidade atmosférica
nas camadas superiores e, sendo Vénus um planeta
de atmosfera densa, suas camadas exteriores são
muito mais variadas e complexas do que Marte.
A primeira sonda a visitar Vénus foi a sonda
espacial soviética Venera 1, no dia 12 de
Fevereiro de 1961, sendo a primeira sonda
lançada para outro planeta. A nave foi avariada
em sua trajetória, e a primeira sonda a chegar a
Vénus com sucesso foi a americana Mariner 2, em
1962. Em 1 de Março de 1966, a sonda soviética
Venera 3 estatelou sobre a superfície de Vénus,
convertendo-se na primeira nave espacial em
alcançar a superfície de outro planeta. Em
continuação, diversas sondas soviéticas foram se
aproximando cada vez mais com o objetivo de
pousar sobre a superficie venusiana.
A Venera 4 entrou na atmosfera de Vénus do dia
18 de Outubro de 1967 e foi a primeira sonda a
transmitir dados medidos diretamente de outro
planeta. A cápsula mediu temperaturas, pressões,
densidades, e realizou onze experimentos
químicos para analisar a atmosfera. Seus dados
mostravam 95% de dióxido de carbono, e em
combinação com os dados da sonda Mariner 5,
mostrou que a pressão da superfície era muito
maior do que o previsto (entre 75 e 100
atmosferas). O primeiro pouso com êxito na
superfície de Vénus foi realizado pela sonda
Venera-7, no dia 15 de Dezembro de 1970. Esta
sonda revelou que as temperaturas da superfície
do planeta estão entre 457 e 474 °C . A Venera-8
aterrissou em 22 de Julho de 1972. Apesar de
todos os dados sobre pressões e temperaturas,
seu fotômetro mostrou que as nuvens de Vénus
formavam uma camada compacta que terminava a 35
quilômetros acima da superfície.
A multissonda Pioneer com o seu orbitador
principal e as três sondas atmosféricas.A sonda
soviética Venera 9 entrou na órbita de Vénus em
22 de Outubro de 1975, convertendo-se no
primeiro satélite artificial de Vénus. Um pacote
de câmaras e espectrômetros retornaram
informações sobre as camadas de nuvens, a
ionosfera e a magnetosfera, assim como medições
da superfície realizadas por radar. A cápsula de
descida de 660 kg da Venera 9 se separou da nave
principal e aterrissou suavemente, obtendo as
primeiras imagens da superfície e analisando a
superfície com um espectrômetro de raios gama e
um densímetro. Durante a descida realizou
medições de pressão, temperatura e fotométricas,
assim como a densidade das nuvens. Descobriu-se
que as nuvens de Vénus formavam três camadas
distintas. Em 25 de Outubro, a Venera 10
realizou uma série similar de experimentos.
Em 1978, a
NASA enviou a sonda espacial Pioneer a Vénus. A
missão Pioneer Venus consistia em dois
componentes lançados em separado: um orbitador e
uma multisonda. A multisonda Pioneer Venus
consistia em uma sonda atmosférica maior e
outras três menores. A sonda maior foi lançada
em 16 de Novembro de 1978, e as outras três
menores foram lançadas no dia 20 de novembro. As
quatro sondas entraram na atmosfera de Vénus em
9 de Dezembro, seguidas pelo veículo que as
portavam. Embora não se esperava que nenhuma das
sondas sobrevivesse à descida, uma das sondas
continuou operando por 45 minutos depois de
alcançar a superfície. O veículo orbital da
Pioneer Venus foi inserido em uma órbita
elíptica ao redor de Vénus em 4 de Dezembro de
1978. Transportava 17 experimentos e funcionou
até esgotar o seu combustível de manobra, quando
ele perdeu sua orientação. Em Agosto de 1992
entrou na atmosfera de Vénus e foi destruído.
A exploração espacial de Vénus permaneceu muito
ativa durante os finais dos anos 1970 e os
primeiros anos da década de 1980. Começou a
conhecer em detalhes a geologia da superfície de
Vénus, e descobriram vulcões ocultos incomumente
massivos denominados «coronae» e «arachnoids».
Vénus não apresenta evidências de placas
tectônicas, a menos de que todo o hemisfério
norte do planeta forme parte de uma só placa. As
duas camadas superiores de nuvens resultaram
estar compostas de gotículas de ácido sulfúrico,
embora a camada inferior seja composta
provavelmente por uma solução de ácido fosfórico.
As missões Vega enviaram balões que flutuaram a
53 quilômetros de altitude durante 46 e 60 horas
respectivamente, viajando ao redor de um terço
do perímetro do planeta. Estes balões mediram
velocidades do vento, temperaturas, pressões e
densidade das nuvens. Descobriu um maior nível
de turbulência e de convecção que o esperado,
inclusive ocasionais oscilações com quedas de
altitude das sondas de um a três quilômetros.
Imagem da
superfície de Vénus obtida por radar a 28 de
Janeiro de 1998 pela sonda Magellan.Em 10 de
Agosto de 1990, a sonda norte-americana Magellan
chegou a Vénus, realizando medidas por radar da
superfície do planeta e obtendo mapas de uma
resolução de 100 metros em 98% do planeta.
Depois de uma missão de quatro anos, a sonda
Magellan, tal como estava planejado, entrou na
atmosfera de Vénus a 11 de Outubro de 1994 e
vaporizou-se parcialmente, embora se supõe que
algumas partes da mesma alcançaram a superfície
do planeta. Desde então, várias sondas espaciais
em rota para outros destinos usaram o método de
sobrevôo orbital de Vénus para incrementar a sua
velocidade mediante o impulso gravitacional.
Isto inclui as missões Galileo a Júpiter e a
Cassini-Huygens a Saturno (com dois sobrevôos).
A Agência Espacial Européia tem uma missão a
Vénus chamada Vénus Express que está estudando a
atmosfera e as características da superfície de
Vénus em órbita. A missão foi lançada no dia 9
de novembro de 2005 pelo foguete Soyuz e chegou
a Vénus no dia 11 de abril de 2006, depois de
aproximadamente 150 dias de viagem. A Agência
Espacial Japonesa (JAXA) planeja também uma
missão a Vénus entre 2008 e 2009.
Referências culturais
O planeta Vénus inspirou numerosas referências
religiosas e astrológicas nas civilizações
antigas. A inspiração mitológica de Vénus se
estende também a obras de ficção como:
O Silmarillion, de J.R.R. Tolkien, base
mitológica de O Senhor dos Anéis, Eärendil
aparece em sua frente um dos três Silmarils, e
viaja com sua barca pelo céu por mandado de
Manwë para ser a luz da esperança para os homens,
dando deste modo uma explicação mitológica a
Vénus.
Em tempos
mais modernos, a ausência de detalhes
observáveis da sua superfície era interpretada
desde finais do século XIX como evidência de
grandes nuvens que ocultavam um mundo rico em
água em que se especulava a presença de vida
extraterrestre sendo um mundo utilizado
frequentemente nas histórias de ficção
científica dos anos 1920 a 1950. Algumas obras
mais recentes que tratam de maneira mais
realista o planeta são:
O autor de ficção científica Paul Preuss
escreveu em sua série Venus Prime sobre a
hipótese de Vénus ser habitável há bilhões de
anos, que deixou de sê-lo por causa do vapor
d'água introduzido em sua atmosfera pelo
bombardeio de um cometa, que produziu uma reação
em cadeia de efeito estufa. Esta hipótese pode
se encontrar no sexto livro da série, traduzido
em português como Os Seres Luminosos.
Em 2001,
Arthur C. Clarke se situa a um grupo pioneiro de
cientistas na superfície de Vénus enviados da
Terra, porém, cometas procedentes do cinturão de
Kuiper são arrastados a uma órbita de colisão
com o planeta para aumentar sua quantidade de
água e reduzir a temperatura.
Curiosidades
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A temperatura de Vênus é tão alta que em poucos
instantes pode derreter uma barra de chumbo, por
exemplo.
O ano de Vênus é menor do que o seu próprio dia.
Seu dia é equivalente a aproximadamente 243 dias
terrestres, e seu ano dura aproximadamente a 225
dias. Por não possuir um campo magnético, sua
rotação é muito lenta.
A rotação de Vênus ocorre de forma inversa a dos
outros planetas. Ou seja, enquanto os demais
planetas giram no sentido de oeste para leste,
Vênus gira no sentido leste-oeste.
Bibliografia
Referências
Arnett, Bill. Venus . The Nine Planets, A
Multimedia Tour of the Solar System, 2005.
Disponível em
<http://www.nineplanets.org/venus.html%3E.
Cattermole, Peter & Moore, Patrick. Atlas of
Venus. Cambridge University Press. ISBN
0-521-49652-7
European Space Agency. Venus Express , 2005.
Disponível em
<http://www.esa.int/SPECIALS/Venus_Express%3E.
Grayzeck,
Ed. Venus Fact Sheet . NASA, 2004. Disponível em
<http://nssdc.gsfc.nasa.gov/planetary/factsheet/venusfact.html%3E.
Mallama,
A. 1996, Schroeter's Effect and the twilight
model for Venus. Journal of the British
Astronomical Association, 106:1
Mitchell, Don P. The Soviet Exploration of Venus
(A Exploração Soviética de Vénus), 2004.
Disponível em
<http://www.mentallandscape.com/V_Venus.htm%3E.
Vienna University of Technology. Venus
Three-Dimensional Views (Vista Tridimensional de
Vénus). A Trip Into Space, 2004.
<http://www.vias.org/spacetrip/venus_dimensionalviews.html%3E.
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