História Piratini RS
Piratini ou Piratinim
(denominação primitiva) quer dizer, em tupi-guarani, "peixe barulhento",
designação dada ao curso d'água que cortava a região, pelos seus
primitivos moradores: os tupis-guaranis, que depois de aldeados pelos
jesuítas das Missões, passaram a ser chamados de "Tapes", para
distinguí-los dos índios não catequisados.
Os primeiros portugueses conhecidos nesta região foram os militares que
ali chegaram, em 1777, com a instalação da Guarda do Posto no "Passo do
Acampamento", no rio Piratinim.
Em 1789, por ordem da rainha Dona Maria I, o governo permutou com José
Antônio Alves, três léguas de campo que possuía, por concessão régia, nas
pontas do rio Piratinim, por extensão igual na Coxilha de São Sebastião e
dividiu essa área em 48 "datas" de igual tamanho (cerca de 250 ha),
concedendo-as, por Carta de 6 de julho, a 48 casais vindos das ilhas dos
Açores, com a condição de ali residirem e trabalharem.
Os primeiros habitantes se estabeleceram no lugar onde hoje está a sede do
Município e ali fundaram uma capela em honra a Nossa Senhora da Conceição,
passando a povoação que logo se formou em torno da capela, a ser chamada
de "Capela dos Casais" ou "Capela do Piratinim", por estar próxima ao rio
Piratinim.
O crescimento da povoação em virtude da excelência das terras para a
criação de gado e cultivo de cereais e algodão, fez chamar a atenção do
governo que, por alvará do Príncipe Regente, D. João, datado de 3 de abril
de 1810, a elevou à categoria de Freguezia, com a denominação de
"Freguezia de Nossa Senhora da Conceição de Piratinim".
Com a chegada do primeiro vigário, reverendo Jacinto José Pinto Moreira,
no mesmo local da primitiva Capela, foi construído um amplo templo, que
posteriormente, por ameaçar ruir, em 1848, foi demolido até os alicerces,
para ser construída a atual Igreja.
A população da Freguezia crescia sucessivamente e já na campanha da
Cisplatina, em 1827, muitos piratinienses nela tomaram parte. No decorrer
das negociações de paz, em 1829, o exército imperial esteve por mais de
três meses acantonado na localidade e foi em Piratini desmobilizado, o que
contribuiu para um crescente desenvolvimento da localidade, levando o
Governo Imperial, por Decreto s/n, de 15 de Dezembro de 1830, a elevar a
Freguezia à categoria de Vila e conseqüente criação do Município,
desmembrando-o de Rio Grande.
A 7 de junho de 1832 foi instalada a Vila pelo conselheiro Antônio
Rodrigues Fernandes Braga, sendo eleita e empossada a primeira Câmara
Municipal, constituída por: Vicente Lucas de Oliveira, presidente; Manoel
Rodrigues Barbosa, Manoel Gomes Guimarães, Ubaldo Pinto Bandeira, Ramão
Garcia de Vasconcelos, Manoel da Silva Santos Velleda e José Pereira da
Silva Cacório, secretariada por Antônio Belarmino Ribeiro.
Depois de elevada a vila, Piratinim, embora não oficial, era uma cidade
com nobres solares e até sobrados - raríssimos então, datando os mais
expressivos de 1819 a 1824. E com ruas batizadas: rua Clara, a principal;
rua do Bom Fim, rua do Teatro, rua da Conceição, rua da Cadeia, rua do
Passo, rua da Fonte, rua Nova, praça das Alegrias, praça do Teatro, e mais
alguns becos e ruas.
Duas fontes públicas abasteciam a população: a Fonte dos Pinheiros e a
Fonte da Terra. A existência de um teatro - Teatro 7 de Abril - é uma
prova do adiantado grau de cultura da região, já naquela época. E, como
atestado do desenvolvimento da comunidade piratiniense, existiam dois
estabelecimentos industriais: a Fábrica de Cerveja de Lucindo Manoel de
Brum e a Fábrica de Pólvora e Foguetes, dos Irmãos Gonzaga Ferreira Pinto
de Souza, os "fogueteiros".
Em 1835, estavam sendo concluídas as obras da Igreja Matriz quando a
revolução chamou às lides bélicas os habitantes da localidade. Importantes
acontecimentos se desenrolaram no município por ocasião da Revolução
Farroupilha: a 8 de outubro, a Vila foi ocupada pelos farrapos e, a 12 de
dezembro, chegou a Piratini o coronel Antônio de Souza Neto, nomeado para
chefe da Legião de Guardas Nacionais da Comarca, sendo organizados os
Corpos, em 4 companhias e que deram origem à famosa "Brigada Liberal".
Piratini, dada sua posição estratégica e o calor com que seus habitantes
receberam o movimento, foi escolhida para centro das operações, começando
a ser, já no início, o verdadeiro abrigo da Revolução que se estenderia
por dez anos.
A 11 de setembro de 1836, após a memorável vitória de Souza Neto nos
campos de Seival, é proclamada a República e, já a 5 de novembro, a Câmara
Municipal adere ao novo regime. Sob a presidência de Vicente Lucas de
Oliveira, declara-se a Província em "Estado Livre, Constitucional e
Independente", com a denominação de "Estado Rio Grandense", podendo
ligar-se por laços de federação àquelas províncias do Brasil que adotassem
o mesmo sistema de governo.
No dia seguinte é eleito e empossado o primeiro governo da nova República,
que ficou assim constituído: presidente, Bento Gonçalves da Silva que,
estando recolhido às prisões da Regência, foi substituído, interinamente,
por José Gomes de Vasconcellos Jardim; vice-presidentes - Antônio Paulo da
Fontoura, José Mariano de Matos e Ignácio José de Oliveira Guimarães. Os
ministérios foram formados com os seguintes membros: Interior e Fazenda,
Domingos José de Almeida; Marinha e Guerra, marechal José Mariano de
Matos; Justiça e Estrangeiros, José Ulhoa de Pinheiros Cintra.
Em 10 de novembro de 1836, Piratini foi escolhida para capital, sendo a 6
de março de 1837 elevada à categoria de cidade, com a denominação de
"Muito leal e patriótica cidade de Nossa Senhora da Conceição de
Piratinim".
A 20 de novembro de 1837 chegou a Piratini o então general Bento Gonçalves
da Silva, depois de conseguir fugir das prisões regenciais. Em Sessão
Extraordinária da Câmara Municipal, a 16 de dezembro, foi investido no
supremo poder da República.
Em 1838, por iniciativa de Domingos José de Almeida e Luis Rossetti, foi
criado o órgão oficial da República, o jornal "O Povo", sendo a tipografia
e redação instaladas no prédio onde residiam Rossetti e José Garibaldi.
Ao alvorecer do ano de 1839, os interesses da República e a estratégia
militar fazem com que se decida a transferência da capital para Caçapava,
e a 14 de fevereiro o Governo Republicano deixa Piratini em direção à nova
Capital, onde permaneceu até 15 de julho de 1842, quando foi transferida
para Alegrete. Todavia, quando da marcha de Canabarro para a fronteira, em
março de 1843, o governo resolve refugiar-se novamente em Piratini, onde
resolveu fixar-se, definitivamente, a 4 de maio de 1843, restituindo à
primitiva sede a sua categoria de Capital.
A 9 de novembro de 1842 assumiu a Presidência e o Comando das Armas da
Província do Rio Grande, o Barão de Caxias, e após as primeiras refregas e
com sua experiência e habilidade política, procurou desarmar os espíritos,
conclamando os riograndenses ao entendimento e propondo um acordo de paz
honrosa. Assim, após prévios encontros com Bento Gonçalves e outras
autoridades republicanas, foi assinada em Ponche Verde a Ata da
Pacificação, em 25 de fevereiro de 1845.
Por ato do Governo Imperial, em primeiro de março de 1845, Piratini foi
rebaixada à categoria de Vila e, por esse Ato, marcado ficou na história o
declínio do outrora próspero município.
Com seus rebanhos aniquilados, as lavouras abandonadas pelos filhos
chamados à luta, uma outra pena lhe foi imposta pelos governos da
província que se sucederam: o abandono, a discriminação, a perseguição
política.
Nenhuma outra localidade e seus habitantes sofreu tanta represália de
parte dos governantes imperiais, como Piratini. Áreas de seu território
foram sendo desmembradas, como espólio de guerra, para a criação de novos
municípios como Bagé (1846), Canguçú e Cerrito (1856) e Cacimbinhas
(1878).
Em 15 de novembro de 1889, quando foi proclamada a República, Piratini,
fiel aos seus ideais republicanos, já em 18 desse mesmo mês, através de
sua Câmara Municipal, aderiu ao novo regime.
Em 1891 foi instalado o primeiro Conselho Municipal, mas somente em 1892
foi eleito o primeiro Intendente Municipal.
A República, no entanto, aprofundou a crise existente então no Rio Grande
do Sul, deflagrando-se a Revolução Federalista, da qual participaram e
morreram inúmeros piratinienses. Durante esse movimento revolucionário,
Piratini foi ocupada pelas forças do General Guerreiro Vitório, após breve
combate travado com a guarnição do Coronel Leão Terra.
Igualmente na Revolução de 1923, Piratini participou das ações tendo, a 24
de abril desse ano, a Vila sido ocupada pelas forças do general rebelde
José Antônio Neto (Zeca Neto). A 4 de maio, na Serra das Asperezas,
travou-se o combate entre as forças rebeldes do capitão João F. Fabres e
as do tenente-coronel Juvêncio Maximiliano Lemos.
Finalmente, em 20 de setembro de 1932, o quarto subdistrito foi palco de
mais um movimento revolucionário, com o combate da Estância da Olaria,
ocorrido entre as forças revolucionárias comandadas pelos Drs. Borges de
Medeiros e Batista Luzardo e as forças legais, sob o comando do Coronel
Adel Bento Pereira. (Resumo histórico de autoria
de Davi de Souza Almeida)
|