Aniversário 29 de Dezembro
Fundação 1953
Gentílico toritamense
Unidade federativa Pernambuco
Mesorregião Agreste Pernambucano
Microrregião Alto Capibaribe
Municípios limítrofes Caruaru, Vertentes e Taquaritinga do Norte
Distância até a capital 170 km
Características geográficas
Área 30,930 km²
Densidade 1 151,99 hab./km²
Clima Árido ou Semi-árido muito quente, com chuvas de outono/inverno
Bs’h
Fuso horário UTC−3
Indicadores
IDH 0,67
médio PNUD/2000
PIB R$ 138 336,936 mil IBGE/2008
PIB per capita R$ 4 300,32 IBGE/2008 |
Brasão desconhecido |
Bandeira desconhecida |
Jeans e
espírito empreendedor mudam destino de cidade do agreste nordestino
Toritama, localizada a 173 quilômetros do Recife, não aceitou ser mais uma
cidade da região da seca de economia estagnada e assolada pelo desemprego.
Tornou-se um pólo de produção de jeans, atividade que absorve toda a sua
população economicamente ativa, responsável pela confecção de 2 milhões de
peças ao mês. Há indústrias que já exportam e almejam vender para os
árabes.
Em Toritama, quem não fabrica jeans, vende: a indústria têxtil ocupa 97%
de sua população ativa
Inácio França, enviado especial
Toritama (PE) – O solo do município é rochoso, a falta d’água nas
torneiras é comum nos períodos de estiagem, o comércio local era sufocado
por conta da proximidade com Caruaru e a distância de 173 quilômetros do
Recife deveria ser um obstáculo inevitável para o escoamento de produção.
Toritama tinha tudo para ser mais uma cidade de economia estagnada no
agreste nordestino. Algumas estatísticas do ranking dos municípios
pernambucanos elaborado pela Fundação Getúlio Vargas mostram que a cidade
mudou seu destino: tem a melhor coleta de lixo de Pernambuco (que atinge
92,77% dos habitantes) e o menor número de miseráveis (índice de 7,01
segundo a FGV). A taxa de desemprego é zero.
Nem é preciso entrar na cidade para encontrar a explicação para tamanha
prosperidade. Ainda na BR-104, única via de acesso ao município, é
possível ver algumas das 2,6 mil fábricas de jeans da cidade. Em Toritama,
quem não fabrica jeans, vende jeans. Dos 23 mil habitantes do município,
10 mil trabalham na indústria têxtil ou no comércio de roupas, ou seja,
97% da sua população economicamente ativa. Os outros 3% trabalham na
prefeitura, nos bancos, nos poucos restaurantes ou na lavoura.
O município é responsável, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas (Sebrae), por 15% das roupas jeans (calças, saias,
camisas, vestidos e jaquetas) produzidos no país. São 2 milhões de peças
confeccionadas mensalmente, número impressionante para uma cidade tão
pequena.
A maior parte dessa produção é consumida pelo mercado interno, incluindo o
comércio das capitais nordestinas e rede de lojas de São Paulo e Rio de
Janeiro. Não sobra nada nas prateleiras.
Consolidado o mercado interno, as empresas da cidade e da vizinha Santa
Cruz do Capibaribe, com 60 mil habitantes, se preparam para exportar.
“O que a gente precisa, agora, é de profissionalização. Para exportar é
preciso juntar esforços e adaptar nossa produção às exigências do mercado
consumidor. Isolados, não podemos competir e o que sempre favoreceu o
desempenho de Toritama foi exatamente a concorrência saudável, que é a
marca registrada das fábricas daqui”, discursa Edilson Tavares,
proprietário da Mamute Confecções, que coloca 15 mil peças mensalmente no
mercado.
O objetivo dos fabricantes de jeans de Toritama é seguir o exemplo de 30
indústrias de moda feminina, moda masculina, roupa íntima, moda infantil e
surfwear de Santa Cruz, cidade que tem 3 mil pequenas fábricas de estilos
variados de roupa e o segundo menor número de miseráveis de Pernambuco
(28,99 segundo a FGV).
Articulados pelo Sebrae estadual, a partir do próximo mês, os fabricantes
de Santa Cruz do Capibaribe começarão a manter contatos com importadores
do Chile, Portugal e Espanha. Em 2005, a meta é atingir os mercados da
África do Sul e do Marrocos, a partir de contatos com intermediários
espanhóis.
Um dos fabricantes, Luís Carlos Bezerra, dono da Michelle Moda Íntima, já
vende alguns lotes de calcinhas e sutiãs para Angola. “Não vendo
diretamente. Um cliente angolano que mora no Rio de Janeiro compra minha
mercadoria e exporta para seu país”, explica, lembrando que está disposto
a negociar parte de sua produção de 140 mil peças mensais para os países
árabes.
“O pessoal de lá tem alto poder aquisitivo e muita exigência. Se consigo
vender para Angola, que é um país pobre, por que não conseguiria exportar
para países mais ricos?”, brinca o empresário.
Cidade de empreendedores
A indústria têxtil desenvolveu-se em Toritama sem qualquer estímulo
governamental. Edilson Tavares, da Mamute, não consegue explicar o
fenômeno da economia toritamense. “Não sei como isso pôde ter dado tão
certo. Deve ser porque o povo daqui é empreendedor mesmo. Em 2003, ficamos
o ano inteiro sem água nas torneiras. Para se fazer jeans, é preciso usar
muita água, mas mesmo assim a produção aumentou”, conta Tavares, lembrando
que o primeiro a fabricar jeans na região foi um homem chamado Zé Valdir.
“Nem sei por onde ele anda. Mas quando o povo viu o negócio dele dar
certo, todo mundo resolveu imitar. Eu mesmo montei o negócio há 22 anos,
logo depois dele”, recorda-se.
Edilson explica que a fabricação de jeans exige, além da indústria
propriamente dita, uma lavanderia de transformação para beneficiar a
calça, saia, jaqueta ou vestido. Sua lavanderia, também chamada Mamute,
tem capacidade para lavar 80 mil peças.
Das 50 lavanderias de Toritama, a sua é a única que não despeja os
refluentes (água impregnada de tintura) no rio Capibaribe. “Consegui
financiamento com a BFZ, uma entidade ambiental da Alemanha”, explica.
A poluição do rio não era o único problema da cidade. A poluição sonora e
os engarrafamentos provocados pelos milhares de veículos dos compradores
de outras cidades que circulavam pela diminuta área urbana de Toritama
desapareceram graças à construção do Parque das Feiras, uma centro de
compras com três hectares de área, 800 lojas de roupas e 2 mil vagas de
estacionamento que atrai quase 10 mil pessoas diariamente.
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