Um professor
analfabeto! ‘Fui professor por 17 anos
sem saber ler’
John Corcoran
teve uma infância comum no Estado
americano do Novo México, nas décadas de
1940 e 50. Frequentou a escola e a
universidade e se tornou professor
quando se formou - mas fez tudo isso
guardando um segredo improvável: ele não
conseguia ler uma frase sequer. Em
depoimento à BBC, ele relata o
sofrimento de ter tido que recorrer a
estratégias frequentes para esconder seu
analfabetismo, até decidir revelar a
verdade ao mundo, aos 48 anos:
"Quando eu era
criança, escutava dos meus pais que eu
era um vencedor. E, nos meus primeiros
seis anos, eu acreditei nisso.
Demorei a
aprender a falar, mas frequentava a
escola cheio de expectativas de aprender
a ler como minhas irmãs - e tudo correu
bem nos primeiros anos, porque o que
mais se exigia das crianças era fazer
fila, sentar, ficar caladas e ir ao
banheiro no horário determinado.
Até que, na
segunda série, a gente precisava aprende
a ler. Mas para mim (o livro didático)
era como um jornal em mandarim - não
entendia o que estava naquelas linhas.
E, aos seis, sete e oito anos de idade,
eu não sabia como explicar esse
problema.
Lembro-me de
rezar à noite pedindo: 'por favor, Deus,
faça com que eu saiba ler amanhã ao
acordar'. Às vezes eu abria um livro
para ver se havia ocorrido um milagre.
Mas isso não acontecia.
Na escola, eu
fui colocado na fileira dos 'burros',
com um monte de outras crianças com
dificuldades para aprender a ler. Não
sabia como tinha ido parar ali, como
sair dali e nem que perguntas eu
precisava fazer.
O professor
não chamava a nossa fileira de 'crianças
burras' - não havia esse tipo de
crueldade -, mas os colegas falavam
assim. E quando você senta na fileira
dos burros, você começa a achar que é
burro mesmo.
Nas reuniões
escolares, meu professor só disse aos
meus pais, 'ele é inteligente, ele vai
entender'. E me passaram para a terceira
série.
'Ele é
inteligente, ele vai entender'. E me
passaram para a quarta série.
'Ele é
inteligente, ele vai entender'. E me
passaram para a quinta série.
Mas a verdade
é que eu não estava entendendo.
Na quinta
série, eu praticamente havia desistido
de aprender a ler. Eu me levantava de
manhã, me vestia e ia para a escola como
se estivesse indo para a guerra. Eu
odiava a sala de aula. Era um ambiente
hostil e eu precisava encontrar formas
de sobreviver.
Quando cheguei
à sétima série, passava a maior parte
dos dias na sala do diretor. Eu era
briguento, desafiador, palhaço,
perturbador; até ser expulso da escola.
Mas esse
comportamento não refletia como eu me
sentia por dentro - não era quem eu
queria ser. Eu queria ser alguém
diferente, queria ser bem-sucedido, um
bom aluno. Mas simplesmente não
conseguia.
Na oitava
série, cansei de envergonhar a mim mesmo
e à minha família. Decidi que ia me
comportar. E, no ensino médio, se você
se comporta, você consegue avançar
dentro do sistema. Então decidi ser um
queridinho do professor e fazer todo o
possível para passar o sistema.
Queria ser
atleta - eu tinha habilidades atléticas
e matemáticas, tanto que conseguia
contar dinheiro e fazer tabuada antes
mesmo de ir pra escola.
Eu também
tinha habilidades sociais. Andava com os
garotos universitários e namorava a
menina com as notas mais altas da
escola. Fui 'rei da festa de formatura'
e conseguia que meus colegas -
geralmente meninas - fizessem a lição de
casa para mim.
Conseguia
escrever meu nome e lembrava algumas
palavras, mas era incapaz de escrever
uma frase. No ensino médio, eu lia como
se estivesse na segunda série. E nunca
disse isso para ninguém.
Durante as
provas, eu colava ou passava a folha
para alguém responder as perguntas para
mim.
Mas, quando
passei para a universidade com uma bolsa
de atleta, a história mudou.
Pensei: 'Meu
Deus, isso é demais para mim, como vou
fazer?'
Entrei para
uma fraternidade que tinha cópias de
provas antigas. Era uma das formas que
eu usava para colar. Tentei acompanhar
as aulas ao lado de um colega, para me
ajudar. E tentei também estratégias mais
criativas e desesperadas para passar de
ano.
Em uma prova,
o professor escreveu quatro perguntas na
lousa para copiarmos. Eu estava sentado
no fundo da sala, perto da janela. Com
muito sacrifício, eu escrevi as quatro
perguntas. Mas não sabia o que elas
queriam dizer.
Havia
combinado com um amigo de ficar do lado
de fora da janela. Ele era provavelmente
o aluno mais esperto que eu conhecia, e
havia acertado de apresentar ele para a
menina de quem ele gostava. Então, ele
respondeu as perguntas para mim.
Em outra
ocasião, eu invadi a sala do professor
três noites seguidas, à meia-noite, como
um ladrão, para procurar pela prova. Eu
sabia que havia cruzado uma linha - não
era mais apenas um estudante que colava,
eu era um criminoso.
E mesmo assim
não consegui encontrar a prova. Deduzi
que ela estaria dentro de um gaveteiro
trancado à chave, então chamei três
amigos para irem comigo à sala do
professor à 1h da manhã. Carregamos o
gaveteiro, colocamos dentro de um carro
e o levamos embora. Consegui que um
chaveiro abrisse para mim e peguei uma
cópia da prova, e um amigo inteligente
me deu as respostas.
Devolvemos o
gaveteiro e, às 5h da manhã daquele dia,
eu acordei pensando: 'Missão impossível
cumprida!'. Me sentia muito bem por ser
tão esperto.
Mas
simplesmente deitei na minha cama e
comecei a chorar como um bebê.
Por que eu não
pedi ajuda? Porque não acreditava que
ninguém poderia me ensinar a ler. Era um
segredo que eu guardava.
Meus pais e
professores diziam que pessoas com
diploma universitário conseguem empregos
melhores e vidas melhores, então
acreditei nisso. Minha motivação era
apenas conseguir o diploma. Talvez algum
dia, por osmose, por orações ou por
milagre eu aprendesse a ler.
Assim eu me
formei, e havia uma escassez de
professores. Recebi uma oferta de
emprego. É a coisa mais ilógica de se
pensar: eu havia escapado da jaula do
leão e voltava para atiçar o leão outra
vez.
Por que virei
professor? Olhando para trás, parece uma
loucura. Mas eu havia cursado a escola e
a universidade sem ser desmascarado,
então ser professor parecia um bom
esconderijo. Ninguém suspeita que um
professor não sabia ler.
Ensinei coisas
diversas. Fui técnico de atletismo.
Ensinei estudos sociais. Ensinei
digitação - conseguia digitar 65
palavras por minuto, sem saber o que
estava digitando. Nunca escrevi nada na
lousa, e não havia palavras escritas nas
minhas salas de aula. Havia muitos
filmes e discussões.
Mas eu lembro
do medo que sentia. Eu sequer conseguia
fazer a chamada. Tinha que pedir aos
estudantes para pronunciar seus nomes,
para que eu pudesse sabê-los. E
identificava dois ou três estudantes
para me ajudar nas aulas. Eles não
suspeitavam de nada - ninguém suspeita
do professor.
Um dos meus
maiores pavores eram as reuniões
semanais de professores. Às vezes o
diretor pedia que alguém escrevesse as
ideias na lousa. Eu tinha um plano: se
ele me pedisse, eu ia fingir um desmaio
e torcer para que eles chamassem o
socorro. Eu fazia de tudo para não ser
flagrado, e não fui.
Às vezes eu me
sentia um bom professor, porque eu
trabalhava duro e realmente me importava
com o que fazia. Mas eu não era um bom
professor. Eu estava errado. Meu lugar
não era na sala de aula, eu estava
invadindo um terreno que não era meu.
Algumas vezes isso me deixava
fisicamente doente, mas eu estava dentro
de uma armadilha e não podia contar para
ninguém.
Me casei
durante meu período como professor. O
casamento é um sacramento, um
compromisso de ser verdadeiro com
alguém. Foi a primeira vez que pensei:
'Vou confiar nessa pessoa, vou contar
para ela'.
Eu treinei na
frente do espelho: 'Cathy, eu não sei
ler. Cathy, eu não sei ler'.
Uma noite,
enquanto estávamos sentados no sofá, eu
finalmente disse: 'Cathy, eu não sei
ler'.
Mas ela não
entendeu direito. Ela achou que eu
estava dizendo que não lia muito. O amor
é cego e surdo.
E assim
casamos, tivemos um filho e só anos
depois ela foi entender.
Eu estava
lendo para a nossa filha de três anos.
Líamos para ela com frequência, mas não
era realmente uma leitura - eu inventava
histórias a partir das que conhecia,
como Cachinhos Dourados ou Os Três
Ursos.
Só que havia
um livro novo, Rumpelstiltskin, e a
minha filha me disse: 'Você não está
lendo igual à mamãe'.
A minha mulher
me ouviu tentando ler um livro infantil
e a ficha caiu. Ela se deu conta de que
eu sempre pedia para ela escrever coisas
para mim, e finalmente ela entendeu quão
grave era o meu problema.
Mas nada foi
dito, não houve nenhum confronto, ela
simplesmente continuou me ajudando.
Não aliviou em
nada, porque por dentro eu me sentia
burro, me sentia uma farsa. Eu era um
enganador. Ensinava meus alunos a buscar
a verdade, e era o maior mentiroso da
sala. O alívio só veio quando eu
finalmente aprendi a ler.
Fui professor
entre 1961 e 1978. Oito anos depois de
deixar meu emprego, algo finalmente
mudou.
Tinha quase 48
anos quando vi Barbara Bush, então
primeira-dama dos EUA, falando sobre
analfabetismo adulto na TV. Era a causa
que ela combatia. Eu nunca havia
escutado ninguém falando de
analfabetismo adulto antes, achava que
era a única pessoa do mundo naquela
situação.
Eu estava em
um momento de desespero. Queria contar
para alguém e queria pedir ajudar. Um
dia, estava na fila do mercado e ouvi
duas mulheres conversando sobre um homem
que estava aprendendo a ler na
biblioteca. Elas falavam com muita
alegria, e eu não conseguia acreditar.
Fui até a
biblioteca, perguntei pela diretora do
programa de alfabetização, me sentei com
ela e contei que não sabia ler.
Foi a segunda
pessoa a quem contei isso na minha vida
adulta.
Ganhei uma
tutora voluntária de 65 anos. Ela não
era uma professora, apenas alguém que
amava ler e não queria que ninguém
passasse pela vida sem saber fazer o
mesmo.
Ela logo
tentou fazer com que eu escrevesse,
porque eu tinha todos esses pensamentos
na cabeça e nunca havia escrito uma
frase com eles. A primeira coisa que
escrevi foi um poema com meus
sentimentos. O bom da poesia é que você
não precisa escrever em frases
completas.
Ela conseguiu
me ensinar a leitura até o nível da
sexta série - era como se eu tivesse
morrido e ido ao paraíso. Mas levei sete
anos para me sentir alfabetizado. Eu
chorava, chorava, chorava depois de
começar a ler - foi um processo repleto
de dor e frustração -, mas isso
preencheu um buraco enorme na minha
alma. Adultos que não sabem ler tiveram
sua infância suspensa, emocionalmente,
psicologicamente, academicamente,
espiritualmente. Somos pessoas que não
cresceram.
Minha tutora
me encorajou a contar minha história
para motivar outros e promover a
alfabetização, mas eu disse: 'De jeito
nenhum. Morei nesta comunidade por 17
anos, meus filhos, meus pais e minha
mulher moram aqui. Não é uma história
que eu queira contar'.
Até que eu
decidi contar. Era um segredo
vergonhoso, então foi uma decisão
difícil de tomar, mas, quando a tomei,
decidi contar minha história para todo o
país, para quem quisesse ouvir. Depois
de guardar meu segredo por décadas, eu
decidi expulsá-lo de mim.
Contei minha
história (nos programas de TV) da Oprah,
do Larry King.
Era incômodo
para as pessoas escutarem a história de
um professor que não sabia ler. Teve
gente que disse que eu havia inventado a
história toda.
Mas eu queria
que pessoas como eu soubessem que há
esperança, há solução. Não somos
'burros', podemos aprender a ler, e
nunca é tarde demais.
Infelizmente,
continuamos a empurrar crianças e
adolescentes pelo sistema escolar sem
ensiná-las habilidades básicas de
leitura e escrita. Mas podemos romper
esse ciclo de fracasso se, em vez de
culpar os professores, nos assegurarmos
de que eles sejam devidamente treinados.
Por 48 anos,
eu vivi no escuro. Mas finalmente eu
enterrei o fantasma do meu passado."
Depoimento
concedido a Sarah McDermott, da BBC
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Não
solte fogos,
eles causam câncer e atacam o
sistema neurológico e psicológico
das crianças, matam, maltratam e
adoece animais e humanos.
Não frequente zoológico, não compre
animais adote (1), você consumidor é
o culpado pela sua extinção, sem
animais e sem florestas não há como
sobreviver, só restará deserto... |
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Não estamos sozinhos,
é vital dividimos espaço com outras criaturas ou
seremos também eliminados do planeta. Proteger
as árvores, os animais, rios e mares são dever
cívico do cidadão. Todos serão
responsabilizados, pelo mal que estamos fazendo
a natureza. |
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o
Ache
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diversidade de informações úteis
ao seu dispor. Seja bem
vindo, gostamos de
suas críticas e sugestões, elas nos ajudam a
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