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Cavalcante possui mais de 150 cachoeiras catalogadas, porém nem todas com acesso aberto para visitação. Toda esta riqueza em água pode ser apreciada ao visitar os principais atrativos do município como a cachoeira Santa Bárbara, localizada em uma comunidade kalunga, as cachoeiras do Rio Prata e a Ponte de Pedra, entre outras.

 

Localizadas na comunidade Kalunga do Engenho, distante 28 km da cidade por estrada de terra, as cachoeiras da Santa Bárbara e Capivara estão entre as mais visitadas. Para chegar até a cachoeira da Santa Bárbara percorrem-se 5 km de trilhas passando por uma região onde podem ser vistos alguns sub-tipos de cerrado. A caminhada não é difícil. A cachoeira Capivara I é acessada por uma trilha que, apesar de curta, é bem acidentada exigindo um pouco mais de preparo. Para aqueles que não gostam de tanta aventura vale a pena ir até o rio e curtir os pequenos poços formados antes da queda e vislumbrar a linda vista.

As cachoeiras do Rio Prata estão localizadas a 64km da cidade por estrada de terra. Este roteiro pode ser considerado um dos mais fáceis, pois a caminhada até a primeira das quatro quedas tem menos de 500 m. As demais quedas estão em seqüência. Todas apresentam ótimos poços para banho e algumas delas propiciam uma excelente hidromassagem.

Para aqueles que querem algo mais, uma ótima opção é a caminhada até a cachoeira Rei. Este passeio exige mais preparo e, de preferência, deve ser iniciado cedo, pois a caminhada é de aproximadamente 2 horas. A volta é mais puxada e praticamente toda em subida, porém por acompanhar o rio sempre é possível parar para se refrescar nas águas cristalinas.

Localizada na Fazenda Renascer, distante 8km da cidade, a Ponte de Pedra é um dos atrativos mais interessantes do município. Neste local o Rio São Domingos cavou sua passagem através da rocha formando uma ponte. Ao longo do curso do rio existem poços para banho, mas os pontos altos do passeio são as vistas que se tem do da serra. A caminhada até lá é de aproximadamente 6km sendo que quase a metade é de subida. É aconselhável iniciar a caminhada pela manhã para evitar o sol forte na subida. A volta é mais fácil, pois basta descer e, quase no final, desviando do caminho encontra-se o Poço Xamânico, um ótimo local para banho onde se encontra a primeira cachoeira do Rio São Bartolomeu.

 

Cachoeiras Santana e Cozido

A 15km da cidade, no local onde houve uma usina hidrelétrica, está a cachoeira Santana, localizada na borda norte da Chapada dos Veadeiros. O acesso até a fazenda se dá por uma estrada de terra que passa pelo Rio São Bartolomeu num ponto onde não há ponte, sendo aconselhável informar-se quanto ao nível da água, pois, na época das chuvas, veículos de menor porte não têm condições de atravessar o rio. A trilha até a cachoeira é curta e passa pela Estrada Cavaleira, um antigo caminho utilizado pelos Bandeirantes para escoar o ouro da região.

A cachoeira do Cozido fica a pouca distância da Santana com pouco mais de 1km de trilha na mesma propriedade

 

O Povo kalunga

A população Kalunga é uma comunidade de negros, originalmente formada por descendentes dos primeiros quilombolas, ou seja, de escravos que fugiram do cativeiro e organizaram quilombos, passando a viver em relativo isolamento, construindo para si uma identidade e uma cultura próprias, com os elementos africanos de sua origem adicionados aos europeus dos colonizadores, marcados pela forte presença do catolicismo tradicional do meio rural

Estes quilombos localizavam-se ao norte da região que hoje é conhecida como Chapada dos Veadeiros e, desde 1991, toda área ocupada por esta comunidade foi reconhecida oficialmente pelo governo do estado de Goiás como sítio histórico que abriga o Patrimônio Cultural Kalunga, parte essencial do patrimônio histórico e cultural brasileiro.

A história desta comunidade tem início no período no qual a região que hoje constituí o estado de Goiás começou a ser conquistada pelos colonizadores portugueses motivados pela busca das riquezas minerais, em particular o ouro.Foi no final do século XVII e no começo do século XVIII que os bandeirantes finalmente conseguiram realizar o sonho do encontrar ouro nas terras do interior do Brasil. A quantidade de ouro era tamanha que as terras onde foi descoberto passaram a ser chamadas de Minas Gerais. Começou então a febre do ouro e muitos portugueses se mudaram para as Minas Gerais buscando o enriquecimento rápido. Esta nova leva de imigrantes também trouxe consigo um enorme contingente de escravos africanos para trabalhar na mineração, tal qual ocorria nas lavouras de cana-de-açúcar. O trabalho era constante, cavando as beiras de rios e ribeirões, com metade do corpo dentro d’água, tirando o cascalho misturado com as pepitas de ouro que posteriormente eram separadas. Muitos escravos viviam a maior parte do tempo na escuridão, trabalhando nas minas e cavando cada vez mais fundo para tirar o ouro de dentro da terra.

A ambição dos bandeirantes os fez adentrar as terras do sertão, subindo e descendo serras e avançando pelo cerrado. Em 1722, o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, juntamente com João Leite da Silva Ortiz, chegou àquelas terras que iriam ser chamadas de “minas dos Goiases”, nome dado em função de um povo indígena que vivia na região. Com isto começou o ciclo do ouro nesta região e com ele a história do povo Kalunga.O trabalho na mineração era difícil e a condição de escravidão na qual viviam tornava a vida muito dura. As fugas eram constantes e os castigos àqueles que eram recapturados muito severos. Entretanto, mesmo correndo o risco de serem pegos, os escravos continuavam tentando fugir em busca da liberdade.

Para evitar a recaptura os fugitivos tinham que ir cada vez mais longe, refugiando-se na região da Chapada dos Veadeiros. O relevo, extremamente acidentado desta região, formando um verdadeiro mar de serras, dificultava as buscas e foi aí que se estabeleceu o território Kalunga. Cercado por inúmeras serras, este território também tem uma grande quantidade de rios que o abastece de água. O principal rio da região é o Paranã, afluente do rio Tocantins que, após receber as águas do rio Araguaia deságua no rio Amazonas. Entretanto, o território Kalunga não era desabitado. Esta região também servia de refúgio para diversos povos indígenas que fugiram de seus territórios com a chegada dos colonizadores. Havia povos de diversas nações, como os Acroá, Capepuxi, Xacriabá, Xavante, kaiapó, karajá e Avá-Canoeiro.  

Os índios não tinham muita confiança para se aproximar dos quilombolas, pois achavam que os negros faziam parte do mundo dos brancos, com o qual não queriam contato. Os negros por sua vez também temiam os índios, pois muitos deles, conforme diz o povo Kalunga, eram índios bravos, que não tinham amansado. Mas os índios não eram inimigos dos negros dos quilombos. Os mais velhos contam que era costume tratar os índios por tapuias ou compadres e que todos tomavam cuidado para não assustar ou aborrecer os compadres quando eles andavam por perto das casas. Tinham que aceitar como brincadeira até as coisas um pouco malvadas que às vezes faziam, por malineza, como diz o povo Kalunga. Fazia parte destas “brincadeiras“ roubar a comida que ficou na panela do lado de fora e até mesmo levar embora uma criança kalunga, para só devolver uns dias depois. Pouco a pouco a confiança entre negros e índios foi crescendo. Os índios tinham curiosidade de ver, mesmo que de longe, como viviam os quilombolas, espiando sem serem vistos, acompanhando as festas e rezas. Com o passar dos anos eles foram se aproximando e depois de algum tempo já passaram a ocorrer casamentos entre eles.

Além dos quilombolas e índios, outros negros, que no século XIX se mudaram para aquelas serras e ali foram abrir fazendas ou viver em pequenos sítios, se juntaram ao povo Kalunga. Assim, lentamente, o povo Kalunga foi se estendendo pelas serras em volta do rio Paranã, por suas encostas e seus vales, que os moradores chamam de vãos.

Hoje eles ocupam um território que abrange parte dos municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás. Nesse território existem quatro núcleos principais de população: a região da Contenda e do Vão do Calunga, o Vão de Almas, o Vão do Moleque e o antigo Ribeirão dos Negros, depois rebatizado como Ribeirão dos Bois. E é assim que os moradores se identificam quando se pergunta de onde eles são: do Vão de Almas, da Contenda, do Moleque...