Muito antes do descobrimento do Brasil (22 de abril de 1500), o navegador
espanhol Vicente Yañez Pinzón teria chegado em janeiro do mesmo ano, ao
norte do Cabo Orange, atual fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa.
Apesar desta tese contrariar muitos historiadores castelhanos e lusos,
alguns até mesmo a mencionar que o desembarque das naus do navegador se deu
no Cabo de Santo Agostinho (Pernambuco), e enquanto não restar dúvida
alguma, temos de acreditar que Pinzón (alguns preferem a grafia Pinson, sem
o acento) teria chegado mesmo ao Norte do Amapá. Não fosse isso, como
explicar o emprego de seu nome como primeira denominação do rio Oiapoque?
Afinal de contas, o Amapá é uma conquista lusa ou espanhola?
A Costa Palicúria
Como vimos, as primeiras informações históricas do Amapá têm início em
1500. Mas as primeiras notícias da terra precederam o ciclo do descobrimento
do Brasil. Assim, as duas potências européias (Portugal e Espanha) de então,
passam a disputar, gradualmente, a corrida rumo a conquista de novas terras.
Entre os fatores que trouxeram os portugueses ao Brasil, faz-se relevo a
necessidade de um intercâmbio comercial mais amplo com o Oriente, a
exploração de novas terras e a busca de metais preciosos e produtos
naturais. Os resultados foram benéficos para Portugal que, mantendo as novas
colônias em seu poder, providenciava de imediato a exploração dos metais
preciosos e produtos naturais.
Mas enquanto Portugal se mantinha em explorar o Oriente, Espanha travava de
confirmar seus domínios apossando-se das terras recém-descobertas. Um dos
ilustres personagens espanhóis, Alexandre VI, chega ao papado. Para a
repartição das novas terras descobertas, o papa tinha o poder de reparti-las
aos monarcas cristãos, mas Portugal, por causa da presença de um pontífice
espanhol que estava mais a fim de beneficiar seu país, começou a reagir.
Assim, surgiu em junho de 1494 o Tratado de Tordesilhas, o primeiro
documento oficial que configura a posse espanhola das terras do Amapá.
Assim, o Brasil pode não ter sido descoberto através do Amapá. Verdade ou
não, é inegável o fato de que o Amapá seja uma conquista espanhola, e não
lusa.
Pelo exposto, a conquista da América foi, antes de luto, um empreendimento
ibérico e luso. O mesmo se deu no Amapá. Já mencionamos que há contradições
sobre a viagem de Pinzón ao Oiapoque, mas oficialmente tem-se que, ao chegar
aqui em janeiro de 1500, os primeiros contatos com os índios, possivelmente
os Palicur, lhe permitiram desvendar o nome original predominante na região:
Costa Palicúria.
Historicamente esse parece ser o primeiro nome de nossa costa. Esses índios
de língua aruaque, hoje habitando o Oiapoque, guardam com seus ancestrais um
verdadeiro acervo histórico narrativo que futuramente poderá ser desvendado,
com relação à presença do homem pré-pinzônico no Amapá. Apesar do relato
oral, e como protagonista principal, o povo palicur tem muita coisa a passar
para nós que apenas iniciamos essa peregrinação histórico-cultural.
Em sua breve passagem pelo Amapá, Pinzón teria dado ao rio o seu próprio
nome, o que mais tarde criaria controvérsias sobre a definição de nossas
fronteiras com a Guiana Francesa.
Assim (e ressalvadas as controvérsias) a presença de Pinzón no Oiapoque foi
o ponto inicial da própria presença européia na nossa história. Várias
informações mais tarde, sobre a localização exata do rio, vieram a criar, já
no final do século XIX, a célebre questão do Contestado.
A "descoberta do Amapá" por Pinzón mereceu-lhe, dos reis católicos Fernando
de Aragão e Isabel de Castela, a possa da Costa Palicúria. Por razões de
distância geográfica ou mesmo pela falta de exatidão do local, Pinzón não
chegou a tomar posse da terra, vindo a falecer numa pequena ilha do Caribe (Marguerita),
após exaustivas buscas pelo rio que havia navegado pela primeira vez.
Reportagem de
EDGAR RODRIGUES |