Dezenas de tribos indígenas se apresentam no Bumbódromo,
ostentando vestimentas coloridas, pintura corporal e dança
O festival é a tradicional festa junina na cidade de Parintins. Época
do verão amazônico, junho é o momento em que a vida floresce na
Amazônia. E o festival acontece nos dias 28, 29 e 30 de junho,
independentemente do dia da semana.
Encena a vida do homem amazônico,
com figuras saídas do imaginário caboclo
Em Manaus, muitos põem até mesmo o emprego em risco quando o festival
cai no meio da semana. Uma palavra explica tudo: o festival, mais que
uma febre, é uma epidemia que toma conta de Manaus e Parintins, no
final de junho.
O festival iniciou em 1964 como uma competição oficial entre os bumbás
Caprichoso e Garantido. Ao longo dos anos, a apresentação foi mudando
e se moldando para se tornar o maior espetáculo folclórico do Brasil e
a segunda maior festa popular do mundo. Por um motivo simples: o
Festival de Parintins reúne, em um único local e momento, a beleza
plástica do carnaval do Rio com a alegria do carnaval de rua da Bahia.
Na arena, palco da apresentação, desfilam figuras saídas do imaginário
caboclo, com o Gigante Juma, a Cobra Grande e outras lendas. O
festival encena a vida do homem amazônico.
O ponto mais esperado das apresentações são os rituais indígenas,
quando tribos representadas por brincantes de boi, trazem diferentes
tipos de vestimentas, pintura corporal e dança. Um ritual de magia,
mistério, paixão, fé.
A Festa do Boi Bumbá, que há mais de 80 anos se repete em Parintins,
no Amazonas, é baseada na lenda de Mãe Catirina que, grávida, é tomada
pelo incontrolável desejo de comer língua de boi. Temendo que o filho
nascesse doente, Pai Francisco, num ato de desespero, mata o boi
preferido de seu amo, desencadeando uma perseguição que só acaba
quando um padre e um pajé conseguem ressuscitar o boi.
Uma história de morte e renascimento originária da França,
no início do século passado
Esta história de morte e renascimento, originária da França, chegou à
Amazônia no princípio do século, por intermédio da imigração
nordestina.
Com o passar dos anos, a presença do negro foi cedendo lugar à do
índio. Esta é, aliás, a diferença entre a festa de Parintins e a do
Bumba-meu-boi, do Maranhão.
No início, o duelo dos bois acontecia nas ruas, em manifestações
espontâneas. A força da lenda fez o ritual crescer, ao ponto de
justificar a construção de um estádio com capacidade para abrigar 40
mil pessoas - o Bumbódromo.
O ponto alto da festa acontece com
a passagem dos bumbás Caprichoso e Garantido
O Bumbódromo de Parintins, ou Centro de Convenções Amazonino Mendes,
foi inaugurado em 24 de junho e aberto para o 22º Festival Folclórico,
em 1988. É a maior obra cultural e desportiva do Estado do Amazonas,
sendo palco o ano inteiro de grandes manifestações socio-culturais.
Tem o formato estilizado de uma cabeça de boi. Sua capacidade era
estimada em 35.000 espectadores distribuídos na tribuna de honra,
camarotes, arquibancadas especiais, cadeiras numeradas e arquibancadas
do povão. Uma reforma em 1998 aumentou o número de camarotes, criando
uma nova galeria, diminuindo o número de lugares das arquibancadas
gratuitas. O Bumbódromo está localizado no centro da cidade e,
literalmente, divide as nações azul e vermelha.
O ponto alto da festa acontece com as passagens dos bumbás Caprichoso
e Garantido. O Boi Garantido nasceu em Parintins no dia 13 de junho de
1913, num local conhecido como Baixo do São José, surgido dos sonhos
de um curumim chamado Lindolfo Monteverde, que ouvia muitas estórias
do seu avô, ex-escravo de origem maranhense. O nome Garantido, dado
pelo garoto, vem do fato dele nunca ter a cabeça quebrada, no
confronto com outros brincantes.
Depois da criação do Boi Bumbá Garantido, outros foram surgindo e com
eles a rivalidade entre seus brincantes. Quando os bois se encontravam
na mesma rua, nenhum dos dois queria voltar atrás ou deixar o
contrário passar. As brigas eram inevitáveis, o que levou a
organização a uma apresentação dos bois bumbás numa quadra, com uma
disputa onde cada um teria sua vez de se apresentar. Assim surgiu o
Primeiro Festival Folclórico de Parintins, em 1965.
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A força da lenda fez o ritual crescer ao ponto de justificar
a construção
de um estádio, o Centro de Convenções Amazonino
Mendes, ou Bumbódromo, como é conhecido |
O principal adversário do boi Garantido era o Galante, criado por
Emidio Vieira. Por causa de uma briga interna, Emídio sai e em seu
lugar assumem os irmãos Cid, recém-vindos do Ceará que teriam feito a
promessa de criar um Boi para animar as festas de São João. Constróem
então o novo Boi e trocam o nome de Galante para Caprichoso. Nasce o
boi bumbá Caprichoso, no dia 20 de outubro de 1913.
Cada bumbá utiliza em média três horas por noite para mostrar o
resultado de meses de trabalho. O espetáculo é fantástico, recheado de
criatividade e beleza.
A apresentação de cada grupo folclórico começa com um show pirotécnico
e com a entrada da batucada ou marujada, com 600 componentes em cada
uma delas.
Ao longo da apresentação, figuras gigantescas e inusitadas podem
surgir de qualquer lugar do Bumbódromo: pelo portão de entrada, por
cima das arquibancadas ou ainda pelos ares, presas em cabos de aço.
Na arena, palco de apresentação, desfilam figuras saídas do imaginário
caboclo e outras das infinitas lendas do universo amazônico. Mas o
festival não é só constituído de mitos. Há ainda encenações do
cotidiano do ribeirinho, do pescador, do seringueiro e do homem
nativo.
As apresentações dos rituais indígenas empolgam as torcidas, quando
dezenas de tribos representadas por brincantes de boi trazem cada uma
delas, diferentes vestimentas, pintura corporal e dança. No total,
cada agrediação tem em média cinco mil componentes.
Diversos visitantes desembarcam na cidade para ver o duelo dos bumbás
Caprichoso e Garantido.
A festa começa já no porto, onde mais de 3.500 barcos - de simples
gaiolas a sofisticadas lanchas - trazem turistas do Brasil e do
exterior. Durante o dia, as galeras (torcedores) tomam as ruas e bares
da cidade exibindo nas roupas e acessórios as cores de seus bumbás
prediletos - azul e branca, de Caprichoso, ou vermelha e branca, de
Garantido.
Os principais acessos à cidade são por via aérea e fluvial. De avião,
Parintins fica a 1 hora e 15 minutos de Manaus. Quatro companhias
prestam o serviço: Taba, Girassol, SelvaTáxi Aéreo e Rico Táxi Aéreo.
De barco, a viagem Manaus-Parintins dura cerca de 18 horas. O
visitante pode optar entre os diversos pacotes oferecidos pelas
agências de turismo, com acomodações em camarotes e redes e direito a
pensão completa.
O ponto mais esperado das apresentações
são os rituais indígenas
Distante de Manaus 420 km por via fluvial, Parintins é um dos
principais centros intelectuais da Amazônia, berço de poetas,
escritores e artistas e mantém suas tradições com carinho.
Preserva o casario do princípio do século e tem em seu roteiro
cultural a igreja do Sagrado Coração de Jesus, de 1883, e as ruínas da
Vila Amazônica, erguida por imigrantes japoneses que, na década de 30,
chegaram à região atraídos pelo cultivo da juta.
Ainda na cidade, encontra-se um povo hospitaleiro e belos trabalhos
desenvolvidos pelos artesãos locais em cerâmica, palha, madeira e
juta. Na Central de Artesanato de Parintins é possível comprar também
adornos em contas coloridas, cocares e cestaria dos índios
Catere-Maué.
Parintins ostenta a vegetação típica da região, formada por floresta
de várzea e terra firme, com lagos, ilhotas e uma pequena serra. Para
quem gosta de pescar, é um prato cheio: os lagos Mucurany, Aninga, Zé
Açu, Valéria, Uaiacurapã e Paranapanema têm grande variedade de
peixes.