Turismo
Ecológico de Beruri AM
BERURI CIDADÃ
Uma viagem de muitos encantos.
Relato de
Repórter
Amazônia é um mundo impressionista e ao mesmo tempo expressionista. O
caboclo tem uma expressão forte com o seu jeito intrínseco. A floresta
exala uma mistura de cheiros de suas plantas. Os animais emitem vários
sons ao mesmo tempo formando uma orquestra natural. Captar a essência
deste mundo tão fantasiado é um desafio que às vezes é necessário transpor
o verde da mata, o marrom dos rios, o azul do céu e o vermelho do por do
sol e ir buscar no preto e branco o verdadeiro sentido da vida amazônica.
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Alguns fotógrafos
consagrados como Sebastião Salgado, Araquém Alcântara e Pedro
Martinelli já registraram a Amazônia sem o seu magnífico colorido. Mas
é possível imaginar esta região tão viva sem cores? A resposta é tão
abrangente quanto subjetiva, mas quando se procura a alma de um povo,
o valor da floresta, o sentido da vida, então, podemos imaginar este
paraíso verde num grande paraíso em preto e branco. |
Este era o meu desafio e do repórter cinematográfico Sisley Monteiro
quando saímos de Manaus. Buscar a essência da cidadania, os direitos de
pessoas que moram no interior do Amazonas e tem direitos resguadados pela
constituição federal.
Estávamos indo para Beruri fazer uma reportagem e mostrar como funciona o
serviço do PREVBARCO que é realizado pela previdência social. Saber como
está a seguridade social no interior da Amazônia em um momento que o país
discuti a reforma da previdência, em que diariamente são denunciados
escândalos envolvendo pessoas com aposentadorias milionárias, demonstra a
necessidade de conhecermos outras realidades.
Beruri é uma cidade no rio Purus ( VER
MAPA). Para chegar até lá foi preciso atravessar a balsa de Manaus para
Manacapuru. Três horas viajando pela Br ??? chegamos à cidade conhecida
como a princesinha do Solimões, famosa pela festa da ciranda no mês de
Agosto. Esperamos durante uma hora a nossa voadeira, é assim que são
chamados os pequenos barcos com motor na Amazônia que iria nos levar até
Beruri.
As águas do rio Solimões são agitadas e barrentas. Após cruzar o Solimões,
subimos o rio Purus durante 4 horas.
A viagem foi cansativa! O intenso calor e
o pouco espaço da nossa embarcação causavam um desconforto que tentávamos
superar comendo banana e apreciando a paisagem.
Até chegar ao nosso destino, passamos por muitas comunidades. Viver nesta
região exige muito esforço físico e força de vontade.
A água que é consumida vem do rio. Para
consegui-la é preciso descer e subir barrancos com quatro metros de
altura. O preço da comida vendida pelos barcos é alto. Uma lata de óleo
custa 3 reais e uma saco de arroz custa 2 reais. Estas comunidades são
formadas por quatro a cinco casas. Todos têm um pedaço de terra para o
cultivo de subsistência. Muitos não têm energia elétrica, dependendo de
geradores. Um fato que chama atenção é a presença constante da igreja
protestante. Em todas têm uma igreja, embora às vezes não tenha uma
escola.
Seguimos viagem e finalmente chegamos em Beruri. O barco da previdência
social, conhecido como PREVBARCO, estava no porto. Ele se destaca pelo
tamanho. Várias pessoas procuravam os seus serviços. Adultos, velhos,
crianças, homens e mulheres, todos estavam em busca de um auxílio para
poder viver melhor.
O governo federal implantou, em junho de 2001, duas unidades móveis para
atender as comunidades que não disponibilizam de uma agencia fixa do INSS.
No ano passado foram atendidas 55 mil pessoas em 46 municípios. Em cada
cidade é uma realidade, mas os números demonstram a mesma carência e a
desinformação do caboclo em todos os municípios. Muitos não sabem quais
são os benefícios que tem direito. Outros não têm como comprovar a idade
ou o tempo de serviço que trabalhou como agricultor devido a falta de
documentação. Entrevistas e perícias médicas tentam solucionar este
problema, mas muitos acabam não conseguindo o seu benefício.
Conhecemos a dona Maria Ferreira que já tem oito filhos e só agora soube
do direito ao auxílio maternidade. Com o seu filho nos braços, ela nos
falou da alegria de poder contar com 200 reais por mês, durante quatro
meses. É uma renda que vai auxiliar na alimentação do seu bebê.
Conhecemos também a senhora Maria de Nazaré. Ela tem 61 anos, está
aposentada há 2, e ainda continua trabalhando para sustentar a família. O
marido está doente e o filho ainda é uma criança de 9 anos. Ela carrega em
média 50 kg de ouriço de castanha por dia para.
A aposentadoria para estas pessoas tem outro significado. Normalmente se
pensa a aposentadoria como uma etapa da vida onde não vai ser mais
necessário trabalhar. Assim será possível desfrutar a velhice. Em Beruri,
os idosos trabalham, não porque desejam, mas sim porque é necessário. A
aposentadoria de 200 reais não permite desfrutar a vida sem esforço.
Seu Francisco, dona Cosma, senhora Luzinha, senhor João, seu José, todos
são personagens que vivem numa Amazônia criada em cima de lendas e mitos.
São personagens de uma realidade pouco conhecida e muito desfigurada. Se
sentem melhor com o beneficio concedido. Eles não conhecem o significado
etimológico da palavra cidadania, mas eles sabem, com o corpo e com a
alma, o que é cidadania.
É possível imaginar quantos Josés e Marias, Joãos e Franciscos não existem
espalhados pelo maior estado deste país que precisa de uma transformação
social, que precisa buscar a essência da cidadania.
GERSON TOLLER
http://portalamazonia.globo.com/amazonsat/viagens/galeria_beruri.htm
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