Mossoró
foi a primeira cidade do Rio Grande do Norte a fazer campanhas
sistemáticas para liberação dos seus escravos. Não foi uma luta de
poucos. Envolveu toda a cidade. Luta coletiva, pacífica e pioneira
no Estado, é comemorada ainda hoje como a maior festa cívica de
Mossoró. |
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Os escravos comprados em
Mossoró eram remetidos para Fortaleza e, dali, para as províncias do sul.
Talvez tenha sido esse tipo de comércio que tenha despertado o sentimento
de piedade pelos cativos. A idéia de libertação começou no Ceará em 1881.
Em Mossoró, a idéia surgiu
por ocasião de uma homenagem prestada na Loja Maçônica 24 de Junho ao
casal Romualdo Lopes Galvão, líder da política e do comércio. Presente à
homenagem se encontrava o Venerável Frederico Antônio de Carvalho, a quem
coube a idéia da fundação de uma sociedade cuja finalidade fosse a
libertação dos cativos.
Em 6 de janeiro de 1883 é
criada a Sociedade Libertadora Mossoroense, cuja presidência provisória
fica a cargo de Romualdo Lopes Galvão. Aderem ao movimento os melhores
nomes da terra. A diretoria definitiva fica formada por Joaquim Bezerra da
Costa Mendes, presidente; Romualdo Lopes Galvão, vice-presidente;
Frederico de Carvalho, primeiro secretário e o Dr. Paulo Leitão Loureiro
de Albuquerque, orador. Nessa época, Mossoró contava apenas com 86
escravos. A 10 de junho alforria 40 desses escravos. A Sociedade
Libertadora tinha um Código, com um único artigo e sem parágrafos, onde
estava determinado que "todos os meios são lícitos a fim de que Mossoró
liberte os seus escravos".
Foi um dia festivo aquele 30
de setembro. A cidade amanheceu com as ruas ornamentadas de folhas de
carnaubeiras e bandeiras de papel coloridas. A alegria contagiava os
lares. Ao meio-dia, a Sociedade Libertadora Mossoroense se reunia no 1º
andar do prédio da Cadeia Pública, onde funcionava a Câmara Municipal. O
Presidente da Sociedade Joaquim Bezerra da Costa Mendes, abre a solene e
memorável sessão, lendo em seguida, diversas cartas de alforria dos
últimos escravos de Mossoró, e depois de emocionado discurso declara
"livre o município de Mossoró da mancha negra da escravidão".
Além dos abolicionistas, os
salões da Câmara Municipal estavam lotados com familiares e grande massa
da população.
Depois da sessão, a festa
tomou as ruas. O Dr. Almino Afonso pronunciou inúmeros discursos,
empolgando os auditórios que o aplaudiam delirantemente. E foi também o
Dr. Almino Afonso que criou o "Clube dos Spartacos" composto, na sua
maioria, por ex-escravos, tendo sido eleito presidente o liberto Rafael
Mossoroense da Glória. A função desse clube era dar abrigo e amparo aos
ex-excravos, que aqui chegavam por mar ou por terra. Era a tropa de choque
dos abolicionistas. Como território livre, Mossoró passou a ser procurada
por todos os escravos que conseguiam fugir. Sabiam que aqui chegando,
encontravam abrigo. O Clube dos Spartacus sempre conseguia evitar que os
escravos voltassem com os donos. Alguns eram comprados; outros eram
mandados para Fortaleza e nunca mais apareciam. Tudo isso aconteceu cinco
anos antes que a Princesa Isabel assinasse a famosa "Lei Áurea", que
acabava com a escravidão em território nacional.
O dia 30 de setembro passou
a ser a grande data cívica da cidade. A Lei nº 30, de 13 de setembro de
1913, declara feriado o 30 de setembro que até os dias atuais é
comemorado com muito entusiasmo. Material disponibilizado
pelo Historiador Geraldo Maia
Mais Historia
A história de Mossoró
é recheada de momentos importantes dentre os quais 4 deles
merecem destaque:
- Abolição dos
Escravos em 1883 (5 anos antes da Lei Áurea);
- O Motim das
Mulheres em 1875;
- O Primeiro Voto
Feminino, de Celina Guimarâes, em 1928 e;
- A Resistência ao
bando do mais famoso cangaceiro do Nordeste, o Lampião em 1927.
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Mossoró foi a primeira cidade do Rio Grande do Norte a fazer
campanhas sistemáticas para liberação dos seus escravos. Não foi
uma luta de poucos; foi uma luta que envolveu, de uma maneira ou
de outra, toda a cidade de Mossoró. E por ter sido uma luta
coletiva, pacífica e pioneira no Estado, é comemorada ainda hoje
como sendo a maior festa cívica da cidade.
O Rio Grande do Norte não chegou a ser um
Estado que dependesse da mão de obra escrava para o seu
desenvolvimento.
1º de setembro de 1848, Casimiro José de Morais Sarmento,
deputado geral pelo Rio Grande do Norte, falava na sessão
daquele dia:
"Concorda em que o trabalho do escravo não é necessário. No Rio
Grande do Norte há poucos escravos, e quase toda a agricultura é
feita por braços livres. Conhece muitos senhores de engenho que
não têm senão quatro ou cinco escravos, entretanto que têm 20,
25 e 40 trabalhadores livres, e se não os têm em maior número, é
pelo pequeno salário que lhes pagão. Disto se convenceu o orador
quando ali foi presidente, porque em conseqüência de elevar o
salário a 400 reis por dia, nunca lhe faltarão operários livres
para trabalharem na estrada que teve de fazer".
Mossoró nunca foi uma cidade escravocrata. Possuía apenas 153
escravos em 1862, para uma população livre de 2.493 indivíduos.
Estatisticamente o percentual era insignificante. A cidade não
tinha engenhos, cuidava do gado e para isso não precisava de
muitos braços. Mas se o número de cativos era tão baixo, o que
justificou o movimento abolicionista em Mossoró?
1877 foi um ano terrível para os sertões nordestinos. A terra era
devastada por uma aterrorizante seca que se estendeu até 1879. A
população faminta abandonava seus lares em busca do litoral.
Mossoró, Macau e Areia Branca, no Rio Grande do Norte, Aracati e
Fortaleza, no Ceará, abrigaram grupos numerosos de flagelados.
Mas não eram só os pobres que sofriam com a seca não. Os ricos
fazendeiros, donos de escravos também sofriam. E para amenizar
os prejuízos, esses fazendeiros mandavam para as cidades
litorâneas seus escravos para serem vendidos, e Mossoró por ser
uma das cidades onde o comércio mais florescia, recebia muitos
escravos para esse fim. Desse modo era estabelecido na cidade o
comércio dos escravos. Várias casas comerciais se especializaram
nesse tipo de mercadoria, entre elas a Mossoró & Cia de
propriedade do Barão de Ibiapaba. Os escravos comprados em
Mossoró eram remetidos para Fortaleza e, dali, para as
províncias do sul. Talvez tenha sido esse tipo de comércio que
tenha despertado o sentimento de piedade pelos cativos. A idéia
de libertação começou no Ceará em 1881.
Em Mossoró, a idéia surgiu por ocasião de uma homenagem prestada
na Loja Maçônica 24 de junho ao casal Romualdo Lopes Galvão,
líder da política e do comércio. Presente à homenagem se
encontrava o Venerável da Loja Maçônica 24 de junho, Frederico
Antônio de Carvalho, a quem coube a idéia da fundação de uma
sociedade cuja finalidade fosse a liberação dos cativos.
Em 6 de janeiro de 1883 é criada "A Sociedade Libertadora
Mossoroense", cuja presidência provisória fica a cargo de
Romualdo Lopes Galvão. Adere ao movimento os melhores elementos
da terra. A diretoria definitiva fica formada por Joaquim
Bezerra da Costa Mendes como presidente, Romualdo Lopes Galvão
como vice-presidente, Frederico de Carvalho como primeiro
secretário, o Dr. Paulo Leitão Loureiro de Albuquerque como
orador. Nessa época, Mossoró contava apenas com 86 escravos. A
10 de junho alforria 40 desses escravos. A Sociedade Libertadora
tinha um Código, com um único artigo e sem parágrafos, onde
estava determinado que "todos os meios são lícitos a fim de que
Mossoró liberte os seus escravos".
A idéia empolgava a toda população, de
modo que nenhum fez questão alguma de liberar seus escravos,
independente de indenização.
O dia 30 de setembro de 1883 foi a data
designada para a liberação total dos escravos; e o objetivo foi
alcançado. No dia 29 de setembro, o Presidente da Libertadora
Mossoroense dirige a Câmara Municipal de Mossoró o seguinte
Ofício:
"Ilustríssimos Senhores Presidente e Vereadores da Câmara
Municipal.
A Sociedade Libertadora Mossoroense, por
seu Presidente abaixo assinado, tem a honra de participar a V.
Sªs que, amanhã, 30 de setembro, pela volta do meio-dia, terá
lugar a proclamação solene de Liberdade em Mossoró. E, pois,
cumpre-me o grato dever de convidar V. Sªs e seus respectivos
colegas, representantes do Município, para que se dignem de
tomar parte nessa festa patriótica que marcará o dia mais
augusto da cidade e do município de Mossoró.
A emancipação mossoroense é obra exclusiva
dos filhos do povo; a esmola oficial não entrou cá.
Sua Majestade, o Imperador, quando lhe comunicamos a próxima
libertação do nosso território, foi servido de enviar a
dizer-nos pelo Senhor Lafayette, Presidente do Conselho de
Ministros, que nos agradecia. A libertação está feita e ninguém
apagará da história a notícia do nosso nome. Os mossoroenses são
dignos de ser olhados com admiração e respeito hoje e daqui a
muito tempo, por cima dos séculos.
A Sociedade Libertadora mossoroense se
congratula com V.Sªs por tão fautoso acontecimento.
Deus guarde a V.Sªs Ilustríssimo Senhor Romualdo Lopes Galvão,
digno Presidente da Câmara Municipal desta cidade de Mossoró.
O Presidente Joaquim Bezerra da Costa
Mendes.
Sala das Sessões da Sociedade Libertadora Mossoroense, 29 de
setembro de mil oitocentos e oitenta e três".
Foi um dia festivo aquele 30 de setembro. A cidade amanheceu com
as ruas todas engalanadas de folhas de carnaubeiras e bandeiras
de papel coloridas. A alegria contagiava todos os lares. Ao
meio-dia, a Sociedade Libertadora Mossoroense se reunia no 1º
andar do prédio da Cadeia Pública, onde funcionava a Câmara
Municipal. O Presidente da Sociedade Joaquim Bezerra da Costa
Mendes, abre a solene e memorável sessão, lendo em seguida,
diversas cartas de alforria dos últimos escravos de Mossoró, e
depois de emocionado discurso declara "livre o município de
Mossoró da mancha negra da escravidão".
Além dos abolicionistas, os salões da Câmara Municipal estavam
lotados com familiares e grande massa da população.
Depois da sessão, a festa tomou as ruas da cidade. O Dr. Almino
Afonso pronunciou inúmeros discursos, empolgando os auditórios
que o aplaudiam delirantemente. E foi também o Dr. Almino Afonso
que criou o "Clube dos Spartacos" composto, na sua maioria, por
ex-escravos, tendo sido eleito presidente o liberto Rafael
Mossoroense da Glória. A função desse clube era dar abrigo e
amparo aos ex-excravos, que aqui chegavam por mar ou por terra.
Era a tropa de choque dos abolicionistas. Como território livre,
Mossoró passou a ser procurada por todos os escravos que
conseguiam fugir. Sabiam que aqui chegando, encontravam abrigo.
O Clube dos Spartacus sempre conseguia evitar que os escravos
voltassem com os donos. Alguns eram comprados; outros eram
mandados para Fortaleza e nunca mais apareciam. Tudo isso
aconteceu cinco anos antes que a Princesa Isabel assinasse a
famosa "Lei Áurea", que acabava com a escravidão em todo
território nacional.
O dia 30 de setembro passou a ser a grande
data cívica da cidade. A Lei nº 30, de 13 de setembro de 1913,
declara feriado o dia 30 de setembro que até os dias atuais é
comemorado com muito entusiasmo pela cidade de Mossoró. |
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Nada mais impopular
era visto naquele momento em todo o país. A lei obrigava os
jovens ao alistamento, colocando-os no caminho da guerra, quase
sempre sem volta.
Àquele ano, o país se
via envolvido em movimentos populares contra o Império. Eram as
lutas sociais ganhando sentimento nacional, conhecidas como o
Quebra Quilos. Delas vieram outros movimentos de revolta popular
como a própria reação contra o alistamento militar, contra o
novo sistema de pesos e medidas, o aumento dos impostos e a
questão religiosa.
Mossoró estava atenta
a tudo isso. Mas, o que chamou a atenção e distinguiu-se dos
demais, foi mesmo o movimento das mães dos jovens, conhecido
como o Motim das Mulheres.
Naquele 4 de setembro
de 1875, 300 mulheres foram às ruas contra o alistamento dos
seus filhos e maridos. No cartório militar, rasgou as fichas de
alistamento. Em desfile nas ruas, convocava a todos para a justa
causa. Na Praça da Redenção, armadas de sentimentos nobres e
justificáveis, enfrentaram a Polícia. Até mesmo atos de força, e
armadas com utensílios domésticos, foram usados contra os
opressores da manifestação.
Destemidas e
determinadas, as mães de Mossoró triunfaram. Seus filhos ficaram
sob seus olhares e proteção, distantes da guerra que sorvia
vidas |
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O Rio Grande do Norte marcou a luta
mundial dos movimentos feministas, à época crescente em todos os
lugares. O Estado era governado por Juvenal Lamartine e coube a
ele o pioneirismo de autorizar o voto da mulher, em eleições, o
que não era permitido no Brasil, mesmo a proibição não constando
da Constituição Federal. Foi em 1928.
Celina Guimarães
Viana, professora, juíza de futebol, mulher atuante em Mossoró,
foi a primeira eleitora inscrita no Brasil. Após tirar seu
título eleitoral, um grande movimento nacional levou mulheres de
diversas cidades do Rio Grande do Norte e outros nove estados da
Federação a fazerem a mesma coisa.
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Celina
Guimarães votando no prédio onde hoje funciona a
Biblioteca Municipal |
Com a mulher eleitora, vieram outras
conquistas de espaço na sociedade. Veio a primeira mulher a
eleger-se deputada estadual no Brasil e a luta pela emancipação
feminina foi ganhando impulso em todo o país, levando o voto
feminino a ser regulamentado em 1934.
O episódio tem importância mundial, pois
mais de uma centena de países ainda não permitia à mulher o
direito de voto. Na própria Inglaterra civilizada o voto, apesar
de permitido antes, só foi regulamento após Mossoró inscrever
sua primeira eleitoral.
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Em 1927 a cidade de Mossoró vivia um período de expansionismo
comercial e industrial. Possuía o maior parque salineiro do
país, três firmas comprando, descaroçando e prensando algodão,
casas compradoras de peles e cera de carnaúba, contando com um
porto por onde exportava seus produtos e sendo, por assim dizer,
um verdadeiro empório comercial, que atendia não só a região
oeste do Estado, como também algumas cidades da Paraíba e até
mesmo do Ceará.
A população da cidade andava na casa dos
20.000 habitantes, era ligada ao litoral por estrada de ferro
que se estendia ao povoado de São Sebastião, atual Dix-Sept
Rosado, na direção oeste, seguindo por quarenta e dois
quilômetros. Contava ainda com estradas de rodagem, energia
elétrica alimentando várias indústrias, dois colégios
religiosos, agências bancárias e repartições públicas. Era essa
a Mossoró da época. A riqueza que circulava na cidade despertou
a cobiça do mais famoso cangaceiro da época, que era Virgulino
Ferreira, o Lampião.
Para concretizar o audacioso plano de atacar uma cidade do nível
de Mossoró, Lampião contava em seu bando com a ajuda de alguns
bandidos que conheciam muito bem a região oeste do Estado, como
era o caso de Cecílio Batista, mais conhecido como "Trovão", que
havia morado em Assu onde já havia sido preso por malandragem e
desordem e de José Cesário, o "Coqueiro", que havia trabalhado
em Mossoró. Contava ainda com Júlio Porto, que havia trabalhado
em Mossoró como motorista de Alfredo Fernandes, conhecido no
bando pela alcunha de "Zé Pretinho" e de Massilon que era
tropeiro e conhecedor de todos os caminhos que levavam a
Mossoró.
No dia 2 de maio de 1927 Lampião e seu bando partiram de
Pernambuco, em direção ao Rio Grande do Norte. Atravessaram a
Paraíba próximo à fronteira com o Ceará, com destino a cidade
potiguar de Luiz Gomes. Antes, porém, atacaram a cidade
paraibana de Belém do Rio do Peixe.
Lampião não estava com o bando completo. O cangaceiro Massilon,
que era um de seus chefes, estava com uma parte dos bandidos no
Ceará e pretendia atacar a cidade de Apodi, já no Rio Grande do
Norte, no dia 11 de junho daquele ano. Depois do assalto,
deveria se juntar a Lampião em lugar pré-determinado, onde
deveriam terminar os preparativos para o grande assalto. Essa
reunião se deu na fazenda Ipueira, na cidade de Aurora, no
Ceará, de onde partiram com destino a Mossoró. E ai começou a
devastação por onde o bando passava. Assaltaram sítios, fazenda,
lugarejos e cidades, roubando tudo o que encontravam, inclusive
jóias e animais, queimando o que encontravam pela frente e
fazendo refém de todos os que podiam pagar um resgate. Entre os
seqüestrados estavam o coronel Antônio Gurgel, ex-Prefeito de
Natal, Joaquim Moreira, proprietário da Fazenda "Nova", no sopé
da serra de Luis Gomes, dona Maria José, proprietária da Fazenda
"Arueira" e outros.
Coube ao coronél Antônio Gurgel, um dos seqüestrados, escrever uma
carta ao prefeito de Mossoró, Rodolfo Fernandes, fazendo algumas
exigências para que a cidade não fosse invadida. Era a técnica
usada pelos cangaceiros ao atacar qualquer cidade. Antes, porém,
cortavam os serviços telegráficos da cidade, para evitar
qualquer tipo de comunicação. Quando a cidade atendia o pedido,
exigiam além de dinheiro e jóias, boa estadia durante o tempo
que quisessem, incluindo músicos para as festas e bebidas para
as farras. Quando o pedido não era aceito, a cidade era
impiedosamente invadida.
De Mossoró pretendiam cobrar 500 contos de réis para poupar a
cidade, mas sendo advertido que se tratava de quantia muito
alta, resolveram reduzir o pedido para 400 contos de réis. A
carta do coronél Gurgel dizia:
"Meu caro Rodolfo Fernandes.
Desde ontem estou aprisionado do grupo de Lampião, o qual está
aquartelado aqui bem perto da cidade. Manda, porém, um acordo
para não atacar mediante a soma de 400 contos de réis. Penso que
para evitar o pânico, o sacrifício compensa, tanto que ele
promete não voltar mais a Mossoró..."
Ao receber a carta, o Cel. Rodolfo Fernandes convoca uma reunião
para a qual convida todas as pessoas de destaque da cidade, onde
informa o conteúdo da mesma e alerta para a necessidade da
preparação de defesa contra um possível ataque dos cangaceiros.
Os convidados, no entanto, acham inviável que possa acontecer um
ataque de cangaceiros a uma cidade do porte de Mossoró. E de
nada adiantaram os argumentos do prefeito.
Mesmo decepcionado com a atitude dos cidadãos da cidade, o
prefeito responde a carta nos seguintes termos:
Mossoró, 13 de junho de 1927. -
Antônio Gurgel. "
Não é possível satisfazer-lhe a remessa dos 400.000 contos, pois
não tenho, e mesmo no comércio é impossível encontrar tal
quantia. Ignora-se onde está refugiado o gerente do Banco, Sr.
Jaime Guedes. Estamos dispostos a recebê-los na altura em que
eles desejarem. Nossa situação oferece absoluta confiança e
inteira segurança.
Rodolfo Fernandes".
Quando o portador chega a casa do prefeito para pegar a resposta,
esse, de modo cortês, diz que a proposta do bandido é
inaceitável e se diz disposto a enfrenta-lo. Levou o portador ao
aposento onde havia vários caixões com latas de querosene e
gasolina. Junto a esses caixões, existia um aberto e cheio de
balas. O prefeito na tentativa de impressioná-lo, diz que todos
aqueles caixões estão cheios de munição e que já existe um
grande número de homens armados na cidade, aguardando a entrada
dos cangaceiros.
Lampião não esperava tal resposta e ao tomar conhecimento que a
cidade está pronta para brigar, resolve mandar um bilhete
escrito de próprio punho, numa péssima caligrafia, julgando que
assim conseguiria o intento |
|
"
Cel Rodolfo
Estando Eu até aqui pretendo drº. Já foi um aviso, ahi pº o
Sinhoris, si por acauso rezolver, mi, a mandar será a importança
que aqui nos pede, Eu envito di Entrada ahi porem não vindo essa
importança eu entrarei, ate ahi penço que adeus querer, eu entro;
e vai aver muito estrago por isto si vir o drº. Eu não entro, ahi
mas nos resposte logo.
Capm Lampião." |
Mais uma vez, o prefeito responde com negativa. Diz em sua
resposta para Lampião:
"Virgulino, lampião.
A resposta:
Recebi o seu bilhete e
respondo-lhe dizendo que não tenho a importância
que pede e nem também o comércio. O Banco está fechado, tendo
os funcionários
se retirado daqui. Estamos dispostos a acarretar com tudo o
que o Sr. queira fazer
contra nós. A cidade acha-se, firmemente, inabalável na sua
defesa, confiando
na mesma.
Rodolfo Fernandes
Prefeito, 13.06.1927".
Nessa altura dos acontecimentos, os mossoroenses já convencidos do
intento dos cangaceiros, tratavam de preparar a defesa da
cidade. O tenente Laurentino era o encarregado dos preparativos.
E como tal, distribuía os voluntários pelos pontos estratégicos
da cidade. Haviam homens instalados nas torres das igrejas
matriz, Coração de Jesus e São Vicente, no mercado, nos correios
e telégrafos, companhia de luz, Grande Hotel, estação
ferroviária, ginásio Diocesano, na casa do prefeito e demais
pontos.
O plano de lampião era chegar a uma
localidade conhecida como Saco, que ficava a uma distância de
dois quilômetros de Mossoró, onde abandonariam as montarias e
prosseguiriam a pé até a cidade. O cangaceiro Sabino comandava
duas colunas de vanguarda. Uma das colunas era chefiada por
Jararaca e outra por Massilon. Lampião ia no comando da coluna
da retaguarda.
Enquanto cangaceiros e voluntários se preparam para o combate, o
restante da população, que não participariam do mesmo, tentava
deixar a cidade. Eram velhos, mulheres e crianças, pessoas
doentes, que não tinham nenhuma condição de enfrentar, de armas
em punho, a ira dos Cangaceiros.
A cena era dantesca desde o dia 12 de
junho. Nas ruas, o povo tentava deixar a cidade de qualquer
maneira. Mulheres chorando, carregando crianças de colo ou
puxadas pelos braços, levando trouxas de roupas, comida e água
para a viagem, vagando na multidão sem rumo. Era uma massa
humana surpreendente que se deslocava pelas ruas da cidade na
busca de transporte, qualquer que fosse o meio, para fugir
antes da investida dos Cangaceiros. Famílias inteiras reunidas,
em desespero, lotavam os raros caminhões ou automóveis que saíam
disparados a caminho do litoral. Muitos, sem condição de
transporte, tratavam de conseguir esconderijo dentro ou fora da
cidade. A ordem dada pelo prefeito era que quem estivesse
desarmado saísse da cidade.
O desespero aumentava mais a medida que o
dia avançava. Às onze horas da noite, os sinos das igrejas de
Santa Luzia, são Vicente e do Coração de Jesus começaram a
martelar tetricamente, o que só servia para aumentar a correria.
As sirenes das fábricas apitavam repetidamente a cada instante.
Muita gente que não acreditava na vinda de Lampião, só ai passou
a tomar providências para a partida.
Na praça da estação da estrada de ferro, era grande a concentração
de gente na busca de lugar para viajar nos trens que partiam de
Mossoró. Até os carros de cargas foram atrelados a composição
para que a multidão pudesse partir. Mesmo assim não dava
vencimento, e os retardatários, em lágrimas, imploravam um lugar
para viajar.
O Prefeito, o Cel. Rodolfo Fernandes de
Oliveira, se desdobrava na organização da defesa, ao mesmo tempo
que ordenava a evacuação da cidade, medida essa que poderia
salvar muitas vidas.
Enquanto isso, a locomotiva a vapor, quase milagrosamente partia,
resfolegando com o peso adicional, parecendo que ia explodir,
tamanho o esforço feito pela máquina que emitia fortes rangidos
e deixava um rastro de fumaça negra no horizonte. Era uma viagem
relativamente curta, entre Mossoró e Porto Franco, nas
proximidades da praia de Areia Branca.
Na cidade, o badalar dos sinos continuava e o desespero também,
pois apesar da pequena distância que o trem deveria percorrer, a
locomotiva demorava mais do que o normal para chegar, com o
maquinista parando com freqüência para se abastecer de água e
lenha pelo caminho. Saía de Mossoró com todos os carros lotados
e voltava vazio. Era um verdadeiro êxodo.
Na noite do dia 12 de junho, não houve descanso para ninguém em
Mossoró. Os encarregados pela defesa da cidade se revezavam na
vigília, enquanto o restante da população esperava a vez de
partir. E o movimento na estação ferroviária não parava. O
embarque de pessoal virou toda a noite e só terminou na tarde do
dia 13 de junho, dia de Santo Antônio, quando foram ouvidos os
primeiros tiros, dando início ao terrível combate. Mas a meta
havia sido alcançada; a cidade estava deserta.
Ao entrarem na cidade, o bando sente medo, devido ao abandono do
local. Sabino encaminha-se com suas colunas para a casa do
prefeito. Não perdoa o atrevimento daquele homem que resolveu
enfrentar o bando de cangaceiro mais temido do nordeste
brasileiro. Sabino posiciona-se sozinho em frente a casa de
Rodolfo Fernandes. Os defensores da cidade ficam indecisos, sem
saber se ele é um soldado ou um cangaceiro, já que não havia
muito diferença entre a maneira de se vestir de um e de outro.
Foi preciso a ordem do prefeito para que começassem a atirar.
Nesse momento o tempo fechou. Uma forte chuva começa a cair,
comprometendo o desempenho dos cangaceiros e tornando mais
tétrico o ambiente. Lampião segue em direção ao cemitério da
cidade enquanto que Massilon procura os fundos da casa do
prefeito.
O cangaceiro "Colchete" tenta revidar os
tiros lançando uma garrafa com gasolina contra os fardos de
algodão que servem de trincheiras para os defensores, na
tentativa de incendiá-los. Nesse momento é atingido por um tiro,
caindo morto. Jararaca se aproxima do corpo, com o intuito de
dar prosseguimento ao plano do comparsa morto e é também
atingido nas costas, tendo os pulmões perfurados.
No mesmo instante, os soldados entrincheirados na boca do esgoto
começam a atirar, encurralando os cangaceiros. Os defensores
dominam a situação e não resta outra solução aos facínoras se
não abandonar a cidade. A ordem de retirada é dada por Sabino
que puxando da pistola dá quatro tiros para o alto. É o fim do
ataque. |
Não foi um combate longo; iniciou-se as quatro horas da tarde,
aproximadamente, sendo os últimos disparos dados por volta das
cinco e meia da mesma tarde. Lampião havia fugido, deixando
estirado no chão o Cangaceiro Colchete e dando por desaparecido
o Jararaca, que depois seria preso e "justiçado" em Mossoró.
Mas com medo da revanche dos bandidos, os defensores
permaneceram de plantão toda a noite, só descansando no outro
dia, quando tiveram certeza que já não havia mais perigo. |
|
Quando lembramos esses fatos, ficamos pensando que tragédia
poderia ter acontecido se a cidade não houvesse sido esvaziada a
tempo. Quantas mortes poderiam ter havido se a população tivesse
permanecido na mesma. Só Deus pode saber.
Depois do acontecido, a população começa a voltar para casa. É
outra batalha para se conseguir transporte, juntar os parentes,
desentocar os objetos de valores que tinham ficado escondidos e
tantas providências mais, que só quem viveu o drama poderia
contar.
13 de junho, dia de Santo Antônio. Um dia que ficou marcado para
sempre na história de Mossoró.
Mais historia
Os primeiro habitantes da região eram os
índios Monxorós.
Segundo estudos do pesquisador potiguar Luiz Câmara Cascudo, as
primeiras penetrações na área do que hoje é o município de
Mossoró teriam ocorrido por volta de 1600. Cartas e documentos
da época falavam sobre o encontro de salinas, que foram
exploradas pelos holandeses Gedeon Morris de Jonge e Elbert
Smiente até 1644.
Formação Administrativa
Distrito criado com a denominação de Mossoró, pela Resolução
Provincial n.º 87, de 27-10-1842.
Elevado à categoria de vila com a denominação Mossoró pela Lei
Provincial n.º 246, de 15-03-1852, desmembrado de Princesa (mais
tarde Assú). Sede na povoação de Mossoró.
Elevado à condição de cidade com a denominação de Mossoró, pela
Lei Provincial n.º 620, de 09-11-1870.
Pela Lei Municipal n.º 19, de 10-09-1908, são criados os
distritos de Porto de Santo Antônio e São Sebastião e anexado ao
município de Mossoró.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município
é constituído de 3 distritos: Mossoró, Porto de Santo Antônio e
São Sebastião.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o município
é constituído do distrito sede. Não figurando os distritos de
Porto de Santo Antônio e São Sebastião, pois os mesmos foram
extintos.
Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de
31-XII-1936 e 31-XII-1937.
Pelo Decreto-lei Estadual n.º 603, de 31-10-1938, é recriado o
distrito de São Sebastião e anexado ao distrito de Mossoró.
No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o
município é constituído de 2 distritos: Mossoró e São Sebastião.
Pelo Decreto-lei Estadual n.º 268, de 30-12-1943, o distrito de
São Sebastião passou a denominar-se Sebastianópolis.
No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o
município é constituído de 2 distritos: Mossoró e
Sebastianópolis ex-São Sebastião.
Pela Lei Estadual n.º 146, de 23-12-1948, o distrito de
Sebastianópolis passou a denominar-se Governador Dix-Sept
Rosado.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1950, o município é
constituído de 2 distritos: Mossoró e Governador Dix-Sept Rosado
(ex-Sebastianópolis).
Pela Lei Estadual n.º 889, de 17-11-1953, é criado o distrito de
Baraúna ex-povoado e anexado ao município de Mossoró.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1955, o município é
constituído de 3 distritos: Mossoró, Baraúna e Governador
Dix-Sept Rosado.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1-VII-1960.
Pela Lei Estadual n.º 2.878, de 04-04-1963, desmembra do
município de Mossoró o distrito de Governador Dix-Sept Rosado.
Elevado à categoria de município.
Em divisão territorial datada de 31-XII-1963, o município é
constituído de 2 distritos: Mossoró e Baraúna.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1-I-1979.
Pela Lei Estadual n.º 5.107, de 15-12-1981, desmembra do
município de Mossoró o distrito de Baraúna. Elevado à categoria
de município.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1983, o município é
constituído do distrito sede.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.
Referencia:
Prefeitura Municipal
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