Plantas ajudam a desvendar
história da camada de ozônio
Uma lacuna séria nos conhecimentos científicos sobre a atmosfera pode ser
preenchida em breve graças aos esporos de um musgo primitivo. Uma equipe
liderada por Barry Lomax, da Universidade de Nottingham, no Reino Unido,
desenvolveu uma maneira de reconstruir os níveis de ozônio do passado medindo a
presença de produtos químicos que agem como "filtro solar" de proteção nos
esporos.
Lomax já havia utilizado essa técnica antes para tentar descobrir se forte
exposição à radiação ultravioleta levou à extinção maciça registrada na era
permiana, 25 milhões de anos atrás, depois que erupções vulcânicas deflagraram
uma perda maciça de ozônio. Ainda que a tentativa tenha fracassado devido à
ausência de fósseis adequados, a técnica pode terminar por responder questões
mais amplas quanto à evolução de nossa atmosfera.
Até agora, os cientistas atmosféricos estavam limitados a medições de ozônio
feitas por satélites, que datam apenas do final dos anos 70, e a dados de
espectrofotômetros de base terrestre que remontam aos anos 20. A equipe de Lomax
diz que os níveis de compostos que absorvem raios ultravioleta nos esporos de
plantas podem demonstrar a que volume desse tipo de radiação elas estiveram
expostas, e com isso o nível de ozônio na atmosfera milênios atrás.
"No momento, desconhecemos como o ozônio mudou, em tempos recentes ou
geológicos", diz Lomax. "Isso poderia ajudar a resolver questões sobre as
alterações climáticas, se estamos vendo recuperação na camada de ozônio agora ou
se isso é apenas uma variação natural".
A história está nos esporos
Em um estudo publicado pela Nature Geoscience, Lomax detalha como os esporos
podem ser usados como indicadores biológicos do nível de ozônio. Plantas
sujeitas a mais raios UV-B produzem mais dos compostos fenólicos que servem como
"filtros solares" naturais e absorvem os raios potencialmente daninhos.
Ao analisar a concentração desses compostos que absorvem radiação ultravioleta
na estrutura dos esporos de coleções de plantas é possível calcular que volume
de radiação eles receberam. E com isso se pode calcular quanto ozônio existia na
atmosfera que separava a planta do Sol, diz Lomax.
Traços desses compostos ficam preservados até mesmo em fósseis. "Devemos com
certeza ser capazes de recuar ao Terciário, cerca de 55 milhões de anos atrás,
sem grandes problemas", diz Lomax. "O método funciona com esporos fósseis, desde
que estes não tenham sido submetidos a temperaturas superiores a 200 graus".
O estudo detalha análises de esporos de musgos em locais de alta e baixa
latitude, os quais apresentavam concentrações de compostos que absorvem UV
fortemente correlacionadas às mudanças históricas no nível dos raios UB-B.
Esporos do Equador, onde não houve alterações históricas no UV-B, não demonstra
mudança na concentração de "filtros solares" ao longo do mesmo período.
Usando esporos da Groenlândia, Lomax reconstruiu os níveis históricos de ozônio
entre 1907 e 1993, e constatou fortes correlações entre essas reconstruções e
medições do ozônio na atmosfera conduzidas ao longo do período.
"Seria extremamente interessante se pudéssemos reconstruir a presença de
radiação ultravioleta do passado", diz Geir Braathen, químico atmosférico e
diretor científico da Organização Meteorológica Mundial, em Genebra, Suíça.
"Seria interessante ver como a camada de ozônio evoluiu". Lomax agora espera
fazer exatamente isso. "Estamos planejando estudar o Holoceno e o Quaternário,
para verificar até que ponto podemos recuar com isso", ele diz.
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