As três origens do
nome de Santos
Existem
três explicações para a origem do nome da cidade, conforme lembram as
autoras de Santos - Um Encontro com a História e a Geografia
(1992), Angela Maria Gonçalves Frigerio, Wilma Therezinha Fernandes de
Andrade e Yza Fava de Oliveira:
Lisboa no
século XVI: a doca de Alcântara, o porto fechado e ao fundo o porto de
Santos,
de onde aliás
partiram Cabral e Martim Afonso
"A primeira diz que Santos vem do
nome do hospital de Todos os Santos da Irmandade da Santa Casa da
Misericórdia, fundada por Braz Cubas, em 1543, segundo informação de
Frei Gaspar.
"Na segunda explicação, o nome de um
dos portos de Lisboa, o porto de Santos, teria sido dado à Vila,
conforme Francisco
Martins dos Santos. Esta explicação é reforçada pela semelhança
geográfica entre a localização do porto de Santos, em Lisboa, no rio
Tejo, e do porto de Santos, no lagamar do
Enguaguaçu.
"A terceira versão diz que o nome
foi dado pelo navegador português João Dias de Solis, a serviço da
Espanha. Indo para o Sul, descobriu o Rio da Prata e passou antes por
um rio, que chamou dos Santos Inocentes, localizado a 23º e 1/4 de
Latitude Sul (seria a entrada do porto de Santos). A descoberta deu-se
em 1515, no dia 28 de dezembro. No calendário cristão é o dia dos
Santos Inocentes, aqueles meninos que foram mortos por ordem do cruel
Herodes, que planejava matar o Menino Jesus. Com o tempo, o Rio dos
Santos Inocentes passou a ser chamado de Rio de Santos".
Mapa do fim do
século XVI, conservado em Lisboa, citando a Vila do Porto de Santos
Explicação de Francisco Martins
- A tese de que o nome Santos tem origem no porto lisboeta é defendida
pelo historiador Francisco Martins dos Santos, que contradiz Frei
Gaspar da Madre de Deus, explicando que a ligação com o nome do
hospital só surgiu na obra do próprio Frei Gaspar:
"Baseava-se então Frei Gaspar, de
fato muito respeitável, exclusivamente na tradição oral, por ele
colhida em sua época, mas principalmente junto aos frades do Carmo,
fonte regularmente suspeita no assunto, sem que um documento
sequer viesse fundamentar a sua afirmação ou as suas afirmações
naquele trecho contidas, todas igualmente sem base documental".
Continua Francisco Martins,
demonstrando que o lisboeta Hospital de Todos os Santos era uma
instituição oficial, conhecida como Hospital de S. João Evangelista,
que em 27 de junho de 1564 foi entregue à Misericórdia de Lisboa, e
portanto só a partir dessa data poderia influir na denominação de
algum hospital da Misericórdia que se fundasse no Brasil. Reforçando
sua opinião, o historiador demonstra que o Hospital de Santos nunca
foi citado com o nome de Todos os Santos em qualquer documento do
século XVI, aparecendo sempre e apenas como Hospital, Casa de Saúde,
Casa de Misericórdia, Casa de Pia ou Casa Santa e Casa Santa de
Misericórdia. Além de não ter registros escritos, o nome Todos os
Santos também não foi de uso popular.
Planta de
Lisboa quinhentista que indica o porto de Santos,
descrito por
Damião de Góis, o cronista de D. João II
Após essas afirmações, o historiador
passa a explicar o que considera a verdadeira origem do nome Santos:
"Lisboa era o modelo do Brasil (no século XVI), afirmou o professor
Ernesto de Sousa Campos em sua obra (...) e era mesmo. Manifestava-se
o fenômeno mas muitas vezes e de vários modos, principalmente no setor
de denominações, umas adotadas por afinidades pessoais, pelo desejo de
homenagear o homem, e outros por simples cópia e
imitação, por tradição, por sentimento patriótico ou regionalista, por
semelhanças gráficas e ecológicas e até por saudade, estando os
homens (povoadores, moradores, fundadores, dirigentes,
administradores, políticos, autoridades) quase sempre em função
daqueles sentimentos e daquelas razões.
"(...) Pois quando se processou a
mudança do porto oficial da Capitania (que era o "Porto de São
Vicente" a que aludia Frei Gaspar), deslocado da Ponta da Praia para o
lagamar de Enguaguaçu, logo em seguida, em 1542 com certeza, o novo
porto e, com ele, a povoação já existente e sob o nome do lagamar
vizinho, passou a ser chamado Porto de Santos, por várias daquelas
razões: por semelhança gráfica, por cópia e imitação, por
sentimento patriótico ou regionalista e por saudade - e isto porque o
porto tradicional de Lisboa, o mais antigo, o mais populoso e o mais
movimentado, que se situava num dos mais antigos distritos da velha
cidade, chamava-se exatamente Porto de Santos, acompanhando o nome do
próprio distrito ocidental de que fazia parte - o Distrito de Santos.
Os dois portos vizinhos, de Lisboa, eram o de Alcântara e o de Santos:
o primeiro, intramuros (fechado), e o segundo, aberto ou franco
(doca)."
Citando o relato quinhentista de
Fernão Lopes, na Crônica de D. Fernando, o historiador destaca que
defronte a Lisboa "a selva dos navios era tamanha que as barcas da
outra banda não podiam cruzar entre elas e ir tomar em Santos". O nome
foi trazido ao Brasil pelos povoadores, muitos deles embarcados
naquele porto ou moradores na capital lisboeta, e já consta, por
exemplo, na escritura de 9 de abril de 1544 (20 anos antes da
transferência do hospital lisboeta de Todos os Santos para a
Misericórdia), de venda de terras de Antonio da Pena a Braz Cubas:
"...apareceu hi de hua parte Braz Cubas e de outra parte Antonio da
Pena ambos moradores e na povoação de Santos, termo desta Vila que
tudo hé dentro desta ilha, e logo... etc....... qual terra está junto
a povoação de Santos".
Francisco Martins cita ainda dois
documentos de 1545 em que já era usado o topônimo Santos na geografia
vicentina, provando que ele já era usado normalmente pelo menos desde
a transferência do porto da Ponta da Praia para o lagamar de
Enguaguaçu em 1541.
Ampliação
mostra a semelhança entre esse porto lisboeta e o brasileiro
"Por isso mesmo, alguns documentos
importantes (..) aludiam à Vila do Porto de Santos, e não apenas à
Vila de Santos. demonstravam claramente que o porto fora o veículo do
nome, e que esse nome fora conseqüência da mudança do porto antigo (da
Ponta da Praia) para o novo lugar interiorizado e a oito quilômetros
de distância". Francisco Martins completa sua exposição mostrando a
semelhança geográfica entre os portos de Santos na ilha de S.Vicente e
em Lisboa.
Termina: "Entre a invenção de um
hospital de Todos os Santos, que não existiu na terra de Braz Cubas
e dos Adornos, e o raciocínio lógico com tantas bases
sociológicas, geográficas, gráficas e sentimentais, nós preferimos
o raciocínio; resta que os estudiosos e os cultos nos acompanhem".
Vale explicar que o centenário hospital Santa Casa de Misericórdia de
Santos, centro dessa polêmica, também nunca se chamou "de Todos os
Santos".
Referencias
Wikipedia
Biblioteca publica de Santos
IBGE
Ache Tudo e Região
|