A
história de CARAPICUÍBA remonta a uma antiga
aldeia de índios, tendo vivido momentos
importantes dentro da história do Estado de São
Paulo. Foi uma das doze Aldeias fundadas pelo
Pe. José de Anchieta (por volta de 1580), para
preservar a educação e a moralização dos
silvícolas da presença do homem branco.
Pertenceu a Santana do
Parnaíba, que foi elevada a município em 1625,
sendo que esta, mais tarde, passou a pertencer a
Barueri. Caminho obrigatório das bandeiras,
CARAPICUÍBA foi citada na história. Localizada
próxima às terras de Afonso Sardinha e das
reservas indígenas, que Jerônimo Leitão em 1580
determinou que servissem de abrigo aos donos do
solo: os índios. Foi por isso que Afonso
Sardinha, dono de uma sesmaria de seis léguas de
quadra, doada pelo Rei de Portugal, ali
chegando, montou a sede de sua fazenda e
resolveu manter um posto na Aldeia de
CARAPICUÍBA, com o objetivo de aproveitar a
mão-de-obra indígena. Assim, deu início à
construção de uma capela, por volta de 1590.
Porém, frustado em seus intentos, resolveu
voltar para a Europa.
Em 1610, havendo já a
Capela, a Aldeia sofria os primeiros impactos,
em virtude de caso criado entre as autoridades e
o povo indígena, este, percebendo a falsidade e
os maus propósitos dos brancos, reagiram
violentamente, não se sujeitando às manobras,
embrenhando-se cada vez mais pelo sertão.
De 1610 a 1670, a
Aldeia passou por uma fase de estagnação,
servindo de ponto de encontro entre clero e
autoridades, os quais procuravam traçar normas
para a ocupação das terras e o aproveitamento do
trabalho indígena. O marasmo continuaria por
mais um século.
Em 1770 porém, o
progresso começou a se fazer sentir. O homem
principiava a alterar a paisagem que permanecera
inalterada durante séculos. A partir de Santo
Amaro, Itapecerica, Embú e Cotia, os caminhos se
alargavam, casas apareciam entre árvores ou
erguiam-se em meio ao capim. Já havia fazendas,
carregadores para as tropas e atendendo à
demanda do colono que se vinculava à terra,
abriam-se armazéns.
Paralelamente, malocas
foram sendo construídas para abrigar aqueles que
podem ser chamados de ancestrais dos homens
empresários de espetáculos populares. "Donos"
das constantes festas ali realizadas,
organizavam e exploravam o comércio, fazendo um
trabalho de tal ordem que, nesses dois séculos,
a Aldeia se transformou no maior centro de
Folclore do Estado. Berço de uma série de danças
típicas, podemos citar, uma das mais importantes
e conhecidas a "Dança de Santa Cruz", também
chamada de Sarabaquê.
Por volta de 1854, em
1º de agosto, o Barão de Iguape registrou, na
paróquia de Cotia, uma fazenda que abrangia
grande parte da atual CARAPICUÍBA e Quitaúna,
com área de 754 alqueires.
Praticamente
CARAPICUÍBA pouco se desenvolveu até a chegada
dos trilhos da velha estrada de ferro
Sorocabana.
É bem verdade que,
situando-se no caminho de São Paulo para Itú,
foi surgindo, de modo precário, uma ou outra
habitação longe da Aldeia, mais próxima do Rio
Tietê. As cidades, em sua maioria, têm seu
desenvolvimento intimamente ligado à ferrovia,
rodovia ou transporte fluvial. CARAPICUÍBA não é
exceção, já que a Estrada de Ferro Sorocabana
emprestou grandiosa colaboração no progresso da
cidade. O fundador da Estrada de Ferro
Sorocabana (EFS), foi o húngaro Luiz Matheus
Maylasky. Plantador de algodão em Sorocaba,
arguto e bem informado, percebeu que a
agricultura, indústria e comércio eram coisas
que só davam resultados positivos, se tratados
conjuntamente e passou então a ser industrial de
tecidos e pioneiro da exportação de fibra para a
Inglaterra.
Como exportar e
transportar são duas coisas ligadas entre si,
Maylasky atinou com a criação de uma via para
escoamento das produções da região sorocabana.
Nessa época se reativavam as atividades da
fundição de ferro de Ipanema (hoje Varnhagem),
20 quilômetros adiante de Sorocaba. Sua idéia
foi então construir uma Estrada de Ferro que,
partindo de Ipanema, atingiria São Paulo,
passando por São Roque. Reuniu, então,
capitalistas de Sorocaba e fundou a Companhia
Sorocabana (1870).
O leito férreo foi
inaugurado em 10 de agosto de 1875, e chegava à
Capital, provindo do interior, ao contrário da
maioria das ferrovias, que partem da Capital,
rumo ao Interior. Luiz Matheus Maylasky dirigiu
a Estrada de Ferro até 1880, quando foi sucedido
por Francisco de Paula Mayrink. Maylasky
retirou-se então para Porto Vitória (Espírito
Santo), onde fundou outra Estrada de Ferro
(Sapucaí), e em 1891 foi condecorado pelo rei D.
Carlos de Portugal, com o título de Visconde de
Sapucaí.
A Sorocabana
expandiu-se rumo ao interior, transformando-se
numa verdadeira via dorsal de transporte de
passageiros e cargas. Nas pesquisas encetadas
junto à biblioteca da Sorocabana revelou-se que
no mês de Novembro de 1921, foi implantado um
embarcadouro em CARAPICUÍBA, mais ou menos no km
22 do leito férreo, e no ano de 1926 foi
construída a Estação que denominou-se SYLVIANIA,
portanto a estação ferroviária, por alguns anos,
não se chamou CARAPICUÍBA, mas sim Sylviania,
porque naquela época a vila já despontava com
tal nome. Essa estação dista da Estação Júlio
Prestes 22 quilômetros. Com a Estação foram
construídos alguns desvios e um desembarcadouro
de gado destinado ao abate no km 21.
O gado era
desembarcado na Estação de CARAPICUÍBA e seguia
para descanso no Campo da Boiada, onde hoje está
a COHAB. Daí seguia para o abate no Matadouro do
km 21. Após a construção do matadouro e das
olarias, mais antigos, os compradores dos lotes
da Vila Sylviania iam erguendo suas casinhas.
A construção da estação de trem pode ser
considerada a base da fundação deste novo núcleo
habitacional, edificado a mais ou menos quatro
quilômetros de distância do velho núcleo da
aldeia dos índios. Muitos ferroviários da EFS e
ex-funcionários fixaram residência em
CARAPICUÍBA e aqui colaboraram para o progresso
da cidade, quer constituindo lares honrados,
estudando os filhos e entregando à sociedade
descendentes valorosos, quer ingressando na
política, participando ativamente dos problemas
locais.
Com o falecimento do
barão, a Fazenda CARAPICUÍBA coube, como herança
à filha, Dna. Veridiana, casada com Martinho da
Silva Prado e passou, por várias transações a
outros proprietários, até que em 1903, foi
vendida a Delfino Cerqueira que, em 1922,
contratou a Cia. Construtora Paulista, para
executar o loteamento e arruamento de parte da
gleba.
Mais tarde, Delfino
Cerqueira contratou a firma Wainsten & Cia, para
levantamento de outra parte da área. Como
naquele tempo os governadores de Estado tinham o
título de presidente, surgiu assim a Vila
Sylviania (daí o primeiro nome da estação da
EFS), em homenagem ao advogado da Light, Sr.
Sylvio de Campos, irmão do presidente. Consta,
ainda, que em homenagem ao Dr. Sylvio de Campos
as ruas centrais tiveram nomes somente de
mulheres, todas parentes e conhecidas dele
(Fernanda, Judith, Sonia Maria, Sandra Maria,
Tâmara, Maria Helena, Ondina, Míriam, Celeste,
etc.).
No ano de 1928 o Sr.
Alexandre Wainstein conheceu o Sr. Basílio
(Wlase) Komaroff, ucraniano, que, apesar de
jovem, era dotado de grande força de vontade,
possuidor de conhecimentos de grafia e
agrimensura. Basílio passou então a ser o
topógrafo responsável pela demarcação dos lotes
e glebas da Vila Sylviania. A fim de facilitar
seu trabalho e estando casado com a estoniana
Martha Komaroff, que conheceu no Brasil, Basílio
transferiu sua residência do Bosque da Saúde em
São Paulo para a vila que despontava, indo
residir em casebre cedido pela firma.
Em 1928 aqui vieram e
ficaram. A prole dos Komaroff era composta de 4
filhos: Valentim, Verônica, Hellen Komaroff
Martini, casada com Pietro Martini, e Alberto
Komaroff, casado com Maria Helena Souza
Komaroff. Os trabalhos de Basílio não se
limitaram à demarcação de lotes. Outrora morador
em São Paulo e possuindo amizades no seio dos
imigrantes de sua terra natal, incentivou seus
conterrâneos a adquirir lotes e glebas na vila
em formação, daí porque fixaram-se aqui russos,
poloneses, lituanos, estonianos, ucranianos
húngaros. Basílio conhecia a vila como a palma
de sua mão. Demarcava os lotes com rara
maestria, tanto assim, que a sucessora da Cia.
Construtora Paulista,
Sociedade Terrenos de Osasco Ltda o manteve
nessa função, nascendo entre ele e o Dr.
Inocêncio Seráfico, uma grande amizade. Basílio
Komaroff foi então, além de pioneiro, o
responsável direto pela fixação da colônia
européia em CARAPICUÍBA. Auxiliados pelo
corretor Janos Ballog, vieram então os Zahotei,
Zarakausky, Terrav, Antzuk, Bulbow, Borowik,
Eituts, Bosniac, Curalov, Gebauer, Kasakov,
Parpulov, Kondrat, Kopchak, Klochko, Uchetsky,
Bajic, Belotserkovets, Pelepko, Sokalschi,
Zdanowsky, Vercholeak e tantos outros. Voltando
ao clã Komaroff, pode-se afirmar que sua filha
Verônica foi a pioneira do jornalismo na vila,
fundando o jornal "O Municipalista".
O cel. Delfino
Cerqueira arrendou parte de suas terras,
margeando o rio Tietê, ao Dr. João Zeferino
Ferreira Velloso, para exploração de "Porto de
Areia". É aqui que o sinuoso, misterioso e
lendário rio entra no ciclo desenvolvimentista
da vila em formação. O outrora rio Anhembi que
atraiu a atenção de muitos viajantes, desde a
subida de Martim Afonso de Souza, em 1532 pela
trilha dos Tupis, atraiu também a atenção do Dr.
João Velloso, que pesquisou sua várzea e
descobriu um imenso lençol de areia. Fechou
contrato de arrendamento com Cel. Delfino
Cerqueira, para exploração, a nível comercial,
do subsolo.
A estrada de ferro
Sorocabana concedeu uma cancela para facilitar o
embarque da areia para São Paulo. Tendo em vista
a qualidade da areia retirada e a potencialidade
dos "bancos" encontrados, a extração era negócio
de lucro certo, entretanto, as crateras deixadas
no solo, aborreceram Delfino que resolveu
impedir, com violência, a sua livre exploração.
Decorridos mais alguns anos, o Dr. João Zeferino
Ferreira Velloso Filho promoveu ação executiva
contra Delfino Cerqueira e sua mulher e em 1936
parte das terras foi arrematada pela Sociedade
de Terrenos de Osasco Ltda., empresa que fazia
compra e venda de materiais de construção e
compra e venda de terrenos, composta pelos Drs.
João Zeferino Ferreira Velloso Filho e Inocêncio
Seráfico de Assis Carvalho.
Em 1928 CARAPICUÍBA já
era distrito policial. Na década de 30, os
pioneiros já acreditavam no povoado que nascia,
porque a região possuía clima excelente e terras
ótimas para a cultura de batatinhas, cereais,
legumes e hortaliças, onde se cultivavam também
o castanheiro europeu e amoreira. Nesta época,
cerca de 60 famílias japonesas exploravam parte
das terras, a título de arrendamento, cooperadas
na atualmente extinta Cooperativa Agrícola de
Cotia. O pioneirismo japonês em CARAPICUÍBA foi
marcado pelas famílias Wada, Ishimaru, Morioka,
Iwakura, Tamai, Hanassumi, Massazumi, Okada,
Kakizaki, Ueta, Sakamoto, Magarifuchi, Arakawa,
Tani, Kawazaki Kamyzawa, Guentawa, Iashida,
Kunishi, Satomi, Myama, Akyoshi, Yano,
Nishizaki, Morizawa, Yamamoto e outros.
Muitos participaram da
campanha emancipacionista. Vale destacar que o
primeiro grupo escolar da cidade, localizado no
centro da cidade, possui o nome de um dos
ex-diretores da Sorocabana: ENGENHEIRO MÁRIO
SALLES SOUTO, que ao contrário do que muitos
pensam, não era professor mas sim o engenheiro
que dirigiu a ferrovia de 1936 a 1938, e foi
durante a sua gestão que foram inauguradas as
famosas composições "Ouro Verde" e "Ouro
Branco". Outro vulto que emprestou seu nome à
cidade, foi o engenheiro Acrisio Paes Cruz que
também dirigiu a ferrovia por duas
vezes(1938/1940 - 1941/1943). Uma das ruas
possui seu nome. Eis, portanto, em rápido
relato, a participação da ferrovia e dos
ferroviários na história da cidade.
Também na década de
30, o desenvolvimento de uma cidade está
diretamente ligado às peculiaridades locais,
tais como: clima, facilidade de acesso, meios de
transporte, incentivos ao comércio e indústria,
etc. CARAPICUÍBA não foi exceção. No que se
refere aos meios de transportes, o fato que mais
auxiliou a explosiva fixação populacional, foi a
existência de via férrea (EFS), com trens de
passageiros em vários horários durante todo o
dia, substituídos pelos "Subúrbios". Sem dúvida,
estes últimos foram o estímulo a que os
compradores de lotes preferissem CARAPICUÍBA.
Entretanto, serviam os subúrbios para o
transporte em massa até a Estação Júlio Prestes
e havia necessidade de transporte alternativo
que levasse os moradores até São Paulo, por
outro itinerário.
Foi então que o Sr.
Antônio Guerra, homem de grande visão
empresarial, colocou à disposição da população
de Barueri, uma linha de ônibus que, passando
por CARAPICUÍBA e Osasco ir ter ponto final em
Pinheiros. Isso deu-se no ano de 1930. Eram
apenas dois ônibus que faziam dois horários:
8:30h e 14h, sendo que um deles era reserva. Os
mais antigos não se esquecem do motorista Gentil
que a todos conhecia e a todos tratava com
educação e urbanidade.
É fato comprovado
que Gentil não obedecia os locais de parada de
ônibus, a despeito de ajudar o passageiro,
tornando seu trajeto mais curto. A "jardineira"
de seis janelas chegava buzinando na vila.
Gentil a dirigia com maestria.
Esse era o transporte
coletivo inter-municipal. Em termos de
transporte municipal, o pioneiro foi o Sr. José
Antônio Bellato, proprietário da Empresa de
ônibus Vila Dirce que em 1951 fazia o itinerário
Vila Dirce a Estação de CARAPICUÍBA, passando
pela Avenida Inocêncio Seráfico, embora nessa
ocasião a Vila Dirce pertencesse à Cotia.
A estrada era ruim e estreita e os dois
ônibus mal podiam passar por ela. A seu pedido,
a firma loteadora de Vila Dirce, com máquinas
próprias alargou a Avenida, antiga Estrada da
Aldeia, o que possibilitou maior vazão e
facilidade de tráfego. Mais recentemente,
instalou-se na cidade o Sr. Giuseppe Napolitano
com os famosos ônibus "poeirinha" sucedido por
respeitável empresa que hoje opera no ramo. As
peruas de lotação, que surgiram quase na mesma
época, foram trocadas por micro-ônibus e mais
empresas que servem a população nos dias de
hoje.
Na década de 30 já
funcionava no km 25 a Sociedade Anônima
Indústrias Kenworthy sucedida pela Fiação Sul
Americana. Entretanto aquela foi a primeira
indústria de grande porte e não se situava em
CARAPICUÍBA, pois, o Rio Cotia e o Córrego
Cadaval separavam os dois vilarejos. Hoje em
decorrência da criação do Município, Barueri
perdeu a extensão territorial e a Vila Lourdes,
incluída a Vila Sul Americana, pertence ao
Município de CARAPICUÍBA. A Fiação Sul Americana
marcou época na cidade, Francisco e Pedro
Fornasaro foram seus primeiros proprietários.
Empregou muita gente. Inúmeras famílias passaram
a integrar o seu quadro de trabalho. Mário
Camargo da Silveira gerenciou a empresa por
longos anos, de onde saiu somente aposentado.
A empresa, embora em
ritmo menos acelerado, até hoje vem funcionando
e empregando o povo carapicuibano. Outra empresa
pioneira na cidade foi a Cerâmica de Pignatari &
Pazini. Antônio Pignatari e Virgínio Pazini,
sabedores das potencialidades da região no que
se refere à argila, associaram-se, e na década
de 40 iniciaram as atividades da cerâmica que
funcionou onde hoje é o Terminal
Rodoferroviário.
A firma progrediu e
chegou a empregar mais de 300 funcionários, o
que para a época era fato marcante. No ano de
1948 a Cerâmica foi vendida para Konrado Peleski
que a transferiu para Pirajibu, lugarejo próximo
a Brigadeiro Tobias. As instalações e o prédio
serviram para o funcionamento da INCA (Indústria
Nacional de Couros e Afins), que, igualmente,
empregava muita gente, mas encerrou suas
atividades por volta do ano de 1968.
Muita gente ainda se
lembra das velhas instalações da INCA que tomava
a quadra inteira, fechada e murada, com
majestosa chaminé, mas que cedeu lugar ao
progresso, desapropriada por utilidade pública a
fim de se construir o terminal rodoviário da
cidade. Antônio Pignatari e Virgínio Pazini, já
falecidos, foram grandes entusiastas do
desenvolvimento da cidade.
Pignatari
adquiriu três glebas e as loteou: Jardim
Pignatari - zona central onde hoje está a zona
bancária, Prefeitura; Jardim Santo Antônio,
entre as ruas Antônio Roberto e Sandra Maria; e
Jardim Novo Horizonte, situado um pouco acima do
local onde se situa hoje a Secretaria de Obras.
Virgínio Pazini, nome de rua, deixou sua
história registrada por sua filha Ofhelia
Pasini, a primeira professora da cidade que,
recém-formada, veio lecionar na primeira escola
rural, em casa até hoje existente na Avenida
Míriam, altura do nº 380.
A maior avenida de
CARAPICUÍBA deve seu nome ao Dr. Inocêncio
Seráfico, homem de raras virtudes. Todos os
velhos moradores da cidade são unânimes em
reconhecer suas qualidades. Homem bom e
atencioso, jamais mandou rescindir algum
contrato por atraso nos pagamentos e sabia
esperar pacientemente o comprador inadimplente.
Comandava a empresa loteadora do escritório
central em São Paulo, mas possuía aqui em
CARAPICUÍBA uma casa denominada "Casa de
Administração" que ficava situada em frente à
Avenida Rui Barbosa, em local onde hoje está
construído o Banco HSBC.
Nesse
escritório, desde ainda jovem, trabalhou Mário
Gomes de Souza, sobrinho do Dr. Seráfico. O
escritório possuía o único telefone ligado na
vila, de número 16, através de extensão da linha
provinda de Osasco. Posteriormente o telefone
foi transferido para a venda do Zamella (esquina
da travessa que hoje leva seu nome, com a Av.
Rui Barbosa - no local onde hoje está o prédio
das Casas Pernambucanas). A venda do Antônio
Zamella foi uma das primeiras na vila. Era muito
freqüentada pelos viajantes que transitavam pela
Estrada de Rodagem São Paulo - Mato Grosso,
depois Rodovia Marechal Rondon e hoje Av. Rui
Barbosa. Esse telefone foi de grande utilidade
nas comunicações dos moradores da Vila.
Esteve instalado e em
funcionamento até por volta do ano de 1968 no
mesmo local, onde existiu o bar e Restaurante do
Valdomiro. Nessa época, a Av. Rui Barbosa, com
características de estrada da rodagem era a
passagem obrigatória daqueles que se dirigiam a
Pirapora, Itú e outras cidades interioranas.
Inexistia o desvio que margeia a Estrada de
ferro (hoje Av. Deputado Emílio Carlos). Este
foi aberto por volta do ano de 1952, pelo DER,
com a finalidade de encurtar o trajeto, pois o
logradouro público, quando atingia a Praça
Toufic Julian, antiga Praça Vitória, virava à
esquerda, tomando os segmentos que hoje
delineiam a Av. Rui Barbosa.
"A Casa de
Administração" possuía água canalizada de uma
lagoa existente no local entre as ruas Antônio
Roberto e Av. Tâmara cuja canalização atingia a
sede através de uma caixa d'água com bomba de
recalque. Essa lagoa desapareceu por aterramento
e deu lugar aos prédios comerciais e
residenciais dos dias de hoje. Essa lagoa servia
também, para bebedouro a animais de montaria que
se dirigiam a Pirapora do Bom Jesus.
O local possui hoje
ativo comércio, e é símbolo de um passado
recente, que ficou tão somente na memória dos
moradores e viajantes da época. Por volta de
1940, além da venda do Zamella, existia também o
armazém de Rachides Eid, situado de frente para
a Praça da Vitória, atual Praça Toufic Julian,
esquina com avenida Celeste, lado direito de
quem sobe esta rua, vendido posteriormente a seu
cunhado Toufic Julian, casado com Helena Eid.
Toufic, libanez de nascimento mas radicado no
Brasil há bastante tempo, já havia sido
"mascate" pelo interior do Estado, razão porque
não é difícil imaginar o tino comercial que se
abatia sobre sua pessoa. Provinha de Itapevi,
onde já tinha um estabelecimento de secos e
molhados.
Trouxe sangue novo à venda de
Rachides, estocando-o ainda mais e aumentando a
sua freguesia, parte da qual trouxe de Itapevi,
outra parte era composta pelos empregados da
Fazenda Tamboré (Fazenda do Conde) e a outra
parte, propriamente pelos moradores da vila. Foi
no armazém de Toufic que funcionou a primeira
caixa postal e para o qual também era endereçada
a correspondência da cidade. Foi ele, então, de
fato o primeiro agente postal que a todos
atendia na cidade.
Homenagens lhe foram
prestadas em vida, outorgando-lhe o título de
CIDADÃO CARAPICUÍBANO e "post mortem", dando seu
nome a praça central da Cidade. Teve também, seu
nome gravado no Colégio Estadual, também no
centro da cidade. O Dr. Benedito de Lima
Tucunduva foi outro pioneiro que participou
ativamente da vida social e política da cidade.
Provindo de Santana de Parnaíba, onde tinha
consultório dentário, adquiriu um terreno na
Avenida Maria Helena e ali construiu sua casa.
Inexistia luz elétrica domiciliar e graças à sua
amizade com diretores da Light Eletricidade,
conseguiu uma extensão de linha elétrica até sua
casa, de onde se espalhava para outras casas
vizinhas. Depois que aposentou-se do serviço
dentário da Prefeitura de São Paulo dedicou-se à
política, tendo sido Vereador em Santana de
Parnaíba e Barueri. Otávio de Almeida Campos foi
o primeiro boticário da cidade. Sua farmácia foi
instalada na Av. Inocêncio Seráfico, esquina com
Av. Maria Helena (Farmácia São João).
Oscar Francisco Vieira
Bueno instalou e pôs em funcionamento a primeira
padaria, situada na Av. Míriam. João Antônio
Braz veio trabalhar para o Dr. Seráfico.
Construiu muitas casas, tornando-se
posteriormente empreiteiro de obras e trabalhou
por conta própria. Ensinou a profissão aos
filhos Oreste, Benoir e João Braz Filho. Era
patriarca de uma das mais numerosas famílias
carapicuibanas aqui radicadas há longos anos.
Matilde, uma de suas filhas casou-se com Antônio
Faustino dos Santos, Prefeito por dois mandatos.
Ataíde João Monteiro, seu neto, é político
atuante há mais de uma década.
Nelson
Neves da Fonseca, também construtor, aqui chegou
no ano de 1940. Edificou muitos prédios na vila
em formação, inclusive o prédio do cinema, atual
Câmara dos Vereadores. Nelson Neves é pai do
ex-Prefeito Municipal, Dr. Luiz Carlos Neves,
primeiro Prefeito nascido em CARAPICUÍBA. Samuel
de Almeida foi proprietário da primeira
vidraçaria, que na qualidade de secretário da
comissão de construção da Igreja Matriz Nossa
Senhora Aparecida, colocou todos os vidros da
Matriz. Em 1952 foi criada a Paróquia Nossa
Senhora Aparecida (conhecida atualmente como
igreja amarela). O número de moradores
continuava aumentando pouco a pouco.
Sakae Ishimaru
arrendou um alqueire de terras do Cel. Delfino
Cerqueira e com sua família trabalhavam na terra
pelos lados da rua da Pedreira. Depois,
instalaram-se como arrendatários no triângulo
formado pela Av. Rui Barbosa e Rua Raposo
Tavares, dando fundos para o leito férreo da
Estrada de Ferro Sorocabana. Seu comércio cedeu
lugar à primeira e única peixaria da cidade.
João Ovidio da Silva, mineiro provindo de São
João de Chapada, povoado próximo a Diamantina,
Minas Gerais, é também o patriarca de uma das
mais numerosas famílias carapicuibanas. O
período de pós-guerra fez diminuir e até
extinguir alguns garimpos daquela região
mineira, iniciando-se o êxodo para São Paulo. É
fato interessante constatar que segundo a
"História Mineira", Iguape, cidade do litoral
paulista, há mais de um século foi região de
mineração e, fracassando o garimpo, muitos
paulistas rumaram para Diamantina, região
promissora de mineração. Meio século depois, o
êxodo foi no sentido contrário: a volta para São
Paulo.
Fixando-se em
CARAPICUÍBA, João Ovidio foi o principal
responsável pela vinda dos mineiros nestas
paragens, pois, seus conterrâneos, chegando em
São Paulo, naturalmente vinham primeiro
encontrar-se com ele. José Maria da Costa foi um
dos que vieram ter aqui através de João Ovidio.
Vieram ele e mais nove irmãos, todos hoje com
imensa descendência na cidade. Igualmente veio
Osório Carlos de Araújo Junior, provindo da
mesma região. João Ovidio foi então o "pião" de
convergência da família mineira nesta terra.
Aqui viveu e aqui morreu. Era também conhecido
pelo apelido que ganhara no garimpo: "Tamerão".
Uma das filhas de João
Ovidio (Maria Valentina) casou-se com Benjamim
Roberto Cruz, irmão de Manoel Raimundo da Cruz,
fundador e principal incentivador da Banda de
Música, que hoje leva o seu nome. A família Cruz
é numerosa e vale ressaltar que os mineiros que
aqui chegaram, trouxeram grande colaboração no
desenvolvimento da cidade, quer introduzindo
seus usos e costumes, quer pela valiosa mão de
obra, mineiramente silenciosa...
Os
descendentes de "Tamerão" deram inestimável
colaboração na construção da Igreja Matriz de
Nossa Senhora Aparecida e permanecem até hoje
arraigados na cidade, embora até as autoridades
religiosas de agora desconheçam quão grande
colaboração eles emprestaram nos primeiros
tempos da nova paróquia. A Corporação Musical de
CARAPICUÍBA foi fundada por Manoel Raimundo da
Cruz, no ano de 1951. O mineiro Manoel Raimundo
chagara das Minas Gerais, no ano de 1947 e,
passou a trabalhar no Matadouro do Km 21. Já
havia pertencido à Banda Santa Cecília em São
João da Chapada (MG).
Juntamente com seu
irmão Benjamim e mais alguns músicos de então
(José Aristeu, José Ferreira, João Zacarias,
Paulo da Luz, Benedito Sanfoneiro, Geraldo e
José Deus Leite), e sob a regência do Sargento
José, de Quitaúna, e com instrumentos próprios,
foram iniciados os ensaios, constituindo-se a
primeira diretoria sob a presidência de Salim
Gebara e tesouraria de João Acácio de Almeida.
Já no dia 2 de junho de 1951, a Banda fez sua
primeira apresentação pública defronte à
residência de Salim Gebara, na Avenida Celeste,
esquina com Avenida Miriam. No entanto, a
dificuldade na aquisição de instrumentos era
muito grande e a Banda somente se impulsionou em
1957, quando João Acácio de Almeida, eleito
Prefeito de Barueri, cedeu a instrumentação da
Banda de Barueri, que estava desativada.
Desde então a Banda
Musical passou a ter vida própria e a participar
dos eventos políticos, artísticos e culturais do
Município e Região. Manoel Raimundo da Cruz
faleceu em 17 de dezembro de 1964, mas deixou a
corporação musical, que hoje leva o seu nome.
Tendo se desligado politicamente de Barueri, a
instrumentação da Banda, que estava em
CARAPICUÍBA precisou ser devolvida ao Município
sede, aí então a Banda parou. Mas no ano de
1965, Carmine Matheus Xavier, Nelson Izidoro,
Murilo Vasconcellos, Luiz Juliano, João Tozeli,
José Carlos Camargo, Laerte Cearense, Luiz
Presecatan e muitos outros, reuniram-se e
decidiram reativar a Banda, iniciando-se
campanha de sócios e a formação de diretoria.
A Banda já foi orgulho de CARAPICUÍBA,
porque se apresentava não só na cidade mas era
convidada a se apresentar em cidades vizinhas e
até distantes. Benjamim Roberto Cruz, irmão de
Manoel Raimundo esteve sempre presente em tudo o
que se relacionou com a corporação, tendo sido
também presidente da diretoria.
Não podemos nos
esquecer de outros nomes importantes para a
história e o desenvolvimento de CARAPICUÍBA. São
eles: Sebastião Marcelino, João Prestuga,
Joaquim Lopes Carilho, Guerino Bonati, João
Baptista Dantas, Balduino Antônio Fortes,
Attilio Sagni, Escholastica Elias, Theodoro
Elias, Ernesto Lemos, Antônio José, Antônio
Zamella, Domingos João Marian, Orlando Bianchi,
Marie Jeanne Larra, José Raposo de Medeiros,
Joaquim das Neves, Francisco Richter, Martha
Witt, João Martins, Francisco Debeus, Alberto
Reichert, Ercília e Carmelina Moraes, Rene
Somelli. Fidelis Botelho, J. Teixeira Filho,
Albino Eugênio de Moraes, Risaburo
Sigaharakiukilo Kikuti, Dr. José Alves Feitoza e
Albano de Moraes, as famílias Julian, Eid e
Salomão.
Origem do nome
Carapicuíba:
Existem várias versões
sobre o significado da palavra CARAPICUÍBA: Pau
Podre, aquele que se reúne em poços, cascudo,
escamose, etc.
Mas segundo informou o
Professor Carlos Drumond, chefe do Departamento
de Lingüística e Línguas Orientais, titular da
cadeira de Línguas Indígenas do Brasil, da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo-USP, a
palavra vem de cara + iba ou seja: cará ou
acará: peixe; picú ou pucú: comprido; iba: ruim,
que não serve para ser comido.
Assim, CARAPICUÍBA é o
nome do peixe: "Cará comprido" que não pode
servir para ser comido, por ser venenoso como o
baiacu. Existe um peixe do mar chamado carapicu
e vários escritores fazem referências a ele, mas
CARAPICUÍBA fica muito longe do mar e depois de
haver lido o que escreveu Silveira Bueno em seu
"Vocabulário Tupi-Guarani-Português", muitos
chegaram à conclusão de que realmente existe um
peixe do rio chamado cará ou "papa-terra", porém
cará, neste caso, significa planta e é mais
conhecido dos indígenas do norte.
Também existe outra
explicação, que é a seguinte: "CARAPICUÍBA" é
topônimo tomado de empréstimo ao Ribeirão
homônimo que corta as terras do município.
Segundo estudiosos, é originário da língua
indígena e é corruptela de "Quar-I-Picui-Bae",
ou seja "aquele que se resolve em poços".
Referencias
Prefeitura Municipal Ache Tudo e Região |
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