Historia
de Balneário do Camboriú
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Nem sempre a memória de uma cidade
está nos livros, pelo menos não a história informal que
muitas vezes -e especialmente no caso de Balneário Camboriú-ainda está na
memória dos nativos da cidade, dos nossos velhos,que guardam com uma
seriedade incomum cenas que não sabem, não voltarão a acontecer. Uma tarde
de aula com um desses nosso "velhos"daria a noção exata do que foi
Balneário Camboriú,como e porque se desenvolveu e chegou onde está.
Confira em três tempos um pouco da nossa história:
MANOELSINFRÔNIO RODRIGUES
Manoel Sinfrônio Rodrigues, conhecido como Tecão, fez 96 anos dia 26 de
julho de 1996. Ouvindo mal, falando pouco e com a sabedoria de quem nasceu
na virada deste século, ele sorri (com seus no máximo três dentes na boca)
ao lembrar dos bons tempos em que as poucas pessoas do bairro da Barra (os
pioneiros da praia) viviam essencialmente da pesca abundante e da roça de
arroz, milho, feijão e mandioca.
Ele é responsável por quatro gerações que ainda sobrevivem da pesca e
ainda moram na Barra. Pai de nove filhos, dos quais apenas dois ainda
vivos, tem 40 netos, 32 bisnetos e um tataraneto.
O pescador mais velho da cidade ainda consegue se lembrar das primeiras
famílias que povoaram o local e trouxeram o progresso.
Com boa saúde, ele se orgulha em dizer que se alimenta só de peixe e que o
progresso foi bom para a cidade. Indiferente ao fato de possivelmente
fazer cem anos na passagem do próximo século, ele limita sua vida a
presenciar o trabalho da família limpando quilos e quilos de sirí, andar
pela casa ou simplesmente ficar sentado durante horas olhando para os
barcos atracados no rio.
LADIMIRO PINHEIRO
Há dois anos um atropelamento tirou as duas pernas do pescador Ladimiro
Pinheiro e com isso sua possibilidade de trabalhar, como sempre fez aos
longo de pelos menos 60 dos seus então 80 anos. "Se não acontecesse isso
eu estaria tarrafeando até agora" diz Ladimiro, 82 anos, mesma idade de
sua esposa Gracinda com quem vive há 54 anos.
Em frente a praia onde nasceu, Ladimiro comprou uma chácara. "Consegui
tudo trabalhando muito, fiz tudo sozinho", orgulha-se. E lembra o quanto
era bom o tempo do engenho de farinha, das vacas de leite, da plantação de
quase 400 pés de cajú e das roças. "Dinheiro não havia", conta e o pouco
que circulava "era de cobre mesmo". Naquela época também não havia
eletricidade, "a gente botava azeite de tainha num caco, acendia um pano
dentro para andar de noite", lembra. Outro fato pitoresco era a produção
do fogo, já que fósforos também não havia e a brasa da fogueira era
mantida sobre cinzas para ser reaproveitada no outro dia. "A gente não
podia deixar o fogo apagar", conta o pescador.
Ladimiro Pinheiro não consegue lembrar bem a data, mas sabe que "o
primeiro carro que varou na praia, quando ainda era moço, veio de
Blumenau". Foram os alemães de Blumenau que interferiram um dia na
privacidade de um grupo de moradores que nadavam nús no mar "quando a
gente só tirava a roupa, botava no meio do mato e tomava banho tudo em
couro".
O primeiro terreno foi comprado por outro blumenauense "um tal de Deck",
depois vieram
outros."Foi indo, veio a guerra da Alemanha e depois a BR-101 fez um
travessão ali". A primeira escola, lembra, foi a Mingote Serafin, que
também tinha um salão de baile e uma venda a granel no Pontal Norte. O
pescador não aprendeu a ler porque era muito longe e o único acesso era
pela praia.
DE DONA MUCH ATÉ HIGINO PIO
"Meu marido sempre dizia que a cidade ia crescer, mas eu nunca pensei que
fosse ficar tão grande assim". A declaração é de Rosinha Maria daSilva, a
dona Much, 78 anos que, ao lado do marido Bruno Silva, foi uma das
desbravadoras da praia, nos idos de 1940.
A família Silva é pioneira em Balneário Camboriú e sua história está em
todos os registros da cidade. Vindos de Gaspar (SC), Bruno e Dona Much, e
o filho mais velho Alvaro, então com menos de uma no, abriram o primeiro
comércio onde hoje existe um Calçadão na avenida Central. Junto com o
armazém funcionava uma pequena pensão.Bruno participava ativamente da vida
política da cidade. Foi ele quem encabeçou o movimento para trazer a luz
para a praia.
Quem veio instalara luz foi Aldo Novaes, que trabalhava em Joinville. Ele
ficou hospedado na pensão da família Silva, tornou-se amigo da família e,
junto com Bruno, participava do PSD.
Em 1952 Bruno Silva faleceu e Aldo Novaes continuou na política,
elegendo-se vereador por Camboriú. Em fevereiro de 1964 foi o autor do
projeto para criação do município de Balneário Camboriú. Dos sete
vereadores,cinco votaram a favor. O município de Balneário Camboriú foi
criado em 8 de abril de 1964, desmembrando-se do município de Camboriú.
Em 24 de junho o governador Celso Ramos decretou a data de 20 de julho de
1964 para instalação do novo município. Houve uma grande festa na praia.
Nove dias depois o governador nomeou Ewaldo Schaeffer para prefeito. Um
ano depois nomeou Aldo Novaes para prefeito. Ele ficou no comando do
município até novembro de 1965, quando assumiu o primeiro prefeito eleito
Higino João Pio.
Higino Pio, em1969, época da revolução militar, foi "convidado"a prestar
depoimento no quartel da Marinha em Florianópolis. Ficou11 dias preso e,
ao final deste período, foi encontrado morto por enforcamento. Dois
respeitados médicos legistas realizaram a autópsia e, no ano passado, em
entrevista ao jornal Página 3, voltaram, a afirmar que Higino Pio não foi
torturado e nem morto pela repressão e que se enforcou realmente.
Os familiares dizem que foi por "vergonha" e um amigo íntimo revelou que
Higino Pio sofria de claustrofobia o que pode tê-lo levado ao desespero e
ao enforcamento. Nunca a repressão conseguiu provar nada contra a
administração de Higino João Pio. Ironicamente seu sobrinho, Luiz Eduardo
Cherem, vice-prefeito eleito, viria a ocupar, em1996, a prefeitura por 87
dias, em substituição ao prefeito eleito Luis Vilmar de Castro, afastado
por corrupção pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
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