Peixes que ficam 'bêbados' para
sobreviver ao inverno
Para a maioria dos
animais - inclusive os seres humanos -, a falta
de oxigênio é fatal em questão de minutos.
Embora possamos metabolizar carboidratos sem
oxigênio, esse processo produz o ácido lático,
que se acumula rapidamente no corpo.
O
Kinguio,
nome popular do Carassius auratus, é
possivelmente o peixe de aquário mais antigo e
mais conhecido do mundo, e infelizmente também o
mais "torturado".
Já o peixinho
dourado - um dos peixes de aquário mais comuns -
e a carpa são capazes de sobreviver por até
cinco meses sem oxigênio em lagoas e lagos
gelados do norte da Europa. E agora, os
pesquisadores descobriram como eles conseguem.
Na maioria dos
animais, há um tipo de proteína que leva os
carboidratos para a mitocôndria, que gera
energia para as células. Na ausência de
oxigênio, o consumo de carboidratos gera ácido
lático, do qual os peixes não conseguem se
livrar e que pode matá-los rapidamente.
Mas, segundo uma
equipe de cientistas europeus, carpas e
peixinhos dourados têm um segundo conjunto de
enzimas que, no momento em que os níveis de
oxigênio caem, transformam os carboidratos em
álcool, que pode ser liberado facilmente por
meio de suas brânquias, os órgãos de respiração
dos peixes.
"Essa segunda via só é
ativada na falta de oxigênio", explica à BBC
Michael Berenbrink, cientista da Universidade de
Liverpool, no Reino Unido, e membro da equipe de
pesquisa.
"A camada de gelo (na
superfície dos lagos) os separa do ar. Por isso,
quando o lago está coberto de gelo, o peixe
consome todo o oxigênio e depois passa a
produzir álcool."
'Bêbados'
Quanto mais tempo
estes peixes ficam sob o gelo e sem ar, maiores
são os níveis de álcool em seu corpo.
"Se você mede esses
níveis quando eles estão no lago, o álcool no
sangue dos peixes supera 50 mg por 100
mililitros, acima do nível que é permitido para
dirigir na Escócia e em outros países do norte
da Europa", afirma Berenbrink.
"Assim, podemos dizer
que eles estão realmente sob efeito de álcool",
diz.
Mas, e os peixes
estejam repletos de álcoool, não é isso que
provoca sua morte.
Se o inverno for muito
prolongado, eles consomem toda a energia que têm
acumulada no fígado e morrem.
Reposição
Segundo os
pesquisadores, é possível tirar algumas lições
importantes da adaptação evolutiva que produz
esse conjunto duplicado de genes, que permitiu a
estas duas espécies manter o funcionamento
original do organismo, mas também ter um "plano
B" para conseguir energia.
"A produção de etanol
(álcool) permite que a carpa, por exemplo, a
seja a única espécie que sobrevive e explora
ambientes hostis. Isso evita também a competição
e a ameaça de outras espécies de peixes que
normalmente interagem com ela em águas com
melhor oxigenação", diz Cathrine Elisabeth
Fagemes, da Universidade de Oslo, na Noruega,
principal autora do estudo.
"Por isso, não é
estranho que o primo da carpa, o peixinho
dourado, seja um dos animais de estimação mais
resilientes que os humanos podem ter."
Os cientistas
calcularam ainda - embora apenas por diversão -
quanto tempo seria necessário para produzir uma
bebida alcoólica a partir das secreções de um
desse peixes.
"Se você colocá-lo em
um copo de cerveja e tapá-lo, levaria 200 dias
para atingir um nível de álcool de 4%", conta
Berenbrink.
(conteudo BBC)
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