|
(1473 - 1543) Morreu aos 70 anos de idade.
Para Lutero, a razão era "uma cortesã do diabo". Para os doutores do Concílio de
Trento, a "fé não só excluía qualquer dúvida, mas o próprio desejo de submeter a
verdade à demonstração".
Opiniões dogmáticas como essas pareceriam chocantes hoje, e também na
Antigüidade, ou, no fim da Idade Média, quando o pensamento cristão era regido
pela escolástica. Mas no tempo de Lutero, e em todo o século XVI, a Reforma
protestante, seguida da Contra-Reforma católica, conduziu o pensamento europeu a
posições radicais. Foi o tempo das guerras religiosas, do fanatismo
intransigente e do suplício de pelo menos 30 mil mulheres acusadas de
feitiçaria. |
Nesse clima
apaixonado, seria uma perfeita heresia insistir
na teoria heliocêntrica. A idéia ptolemaica de
que a Terra era o centro do Universo passou a
constituir um artigo de fé, confirmado por
passagens da Bíblia; nem católicos nem
protestantes poderiam contestá-la.
Como se explica que a teoria de Copérnico haja vencido essa barreira
de obscurantismo religioso? Pelo menos três fatores concorreram para
isso. Em primeiro lugar, o caráter técnico da obra que expõe a
teoria heliocêntrica: De Revolutionibus Orbium Coelestium. Só o fato
de ser escrita em latim já limitava seu acesso a uma elite letrada,
embora o latim fosse a língua "oficial" de todas as ciências da
época. Mas, além de tudo, o livro, em seis seções, era um tratado
técnico inteligível apenas por astrônomos e matemáticos. Em segundo
lugar, porque um prefácio (que não foi escrito por Copérnico)
apresentava a teoria como simples suposição, para facilitar
cálculos, não como afirmação categórica. Finalmente, o impacto da
teoria foi consideravelrnente retardado pelo fato de sua publicação
ter sido quase póstuma; Copérnico só viu o livro pronto em seu leito
de morte.
Nem por isso, entretanto, a obra conseguiu evitar totalmente a
execração das teorias dominantes. Os protestantes, Lutero à frente,
a combateram imediatamente. Os católicos mostraram-se inicialmente
indiferentes: só 70 anos depois é que a Igreja Católica colocaria a
obra no "Index".
A revolução científica e filosófica que a obra viria a trazer,
portanto, foi suficientemente gradativa para não espantar muito.
Esse processo repete-se até hoje. Basta lembrar que, mesmo com os
atuais recursos de comunicação, a Teoria da Relatividade, de
Einstein, levou décadas para produzir suas marcas no pensamento
humano.
|
(Copérnico
nasceu e viveu nesta rua no nº 15 e nº 17)
Nikolaj Kopernik - que mais tarde assinaria suas obras com a
versão latina Nicolaus Copernicus - nasceu a 14 de fevereiro
de 1473, na cidadezinha de Torun, à margem do rio Vístula,
Polônia. O pai, casado com uma rica aristocrata, havia
empregado o dote da mulher na expansão de seus negócios e,
quando Copérnico nasceu, a família desfrutava de alta
projeção local. Mais influente ainda era o ramo materno da
família de Copérnico. Lucas Waczenrode, por exemplo, tio
materno do pequeno Nicolau, chegaria a ser eleito bispo de
Ermeland (ou Warmia), cargo que lhe conferia privilégios de
príncipe do Império. |
Aos dez anos de idade, Nicolau e seus três irmãos mais velhos
perderam o pai. Por costume e caridade, o tio rico e poderoso
assumiu a tutela dos órfãos. Aos dezoito anos, depois de uma
formação básica em escola religiosa, Nicolau matriculou-se na
Universidade de Cracóvia, para estudos mais amplos de letras e
matemática. Mas o tio preparava-o para a carreira eclesiástica. Ao
receber, do próprio tio, as ordens menores, Nicolau sabia que
gestões políticas se processavam para dar-lhe o canonicato (grau de
cônego) de Frauenburg (Frombork).
No meio tempo, porém, Copérnico poderia se ocupar do aperfeiçoamento
de sua instrução. Em 1497, com 24 anos, segue para a Itália, a fim
de estudar medicina, astronomia e arte (era um pintor de razoável
talento).
Seus primeiros estudos na Natio Germanorum, de Bolonha, levaram-no a
conhecer Domenico Novarra. Embora dezenove anos mais velho que
Nicolau, Novarra tornou-se seu amigo e deu-lhe ampla orientação nos
estudos de astronomia. A primeira observação astronômica feita por
Copérnico, a 9 de março de 1497, em Bolonha, foi o ocultamente da
estrela AIdebaran.
Enquanto isso, embora ausente da Polônia, era eleito cônego de
Frauenburg e o tio aceitava o cargo por procuração do sobrinho, que
só tomaria posse em 1501. E, na Itália, imperturbável, Copérnico
continuava seus estudos. Ainda em Bolonha, interessou-se pelo idioma
grego, um conhecimento que iria ter influência fundamental em sua
carreira futura.
|
Depois de
Bolonha, foi conhecer Roma, onde fez algumas conferências
sobre matemática. Ali, apaixonou-se definitivamente pela
arte e pela ciência. Ante a insistência do tio, voltou à
Polônia para tomar posse do canonicato, mas logo em seguida
obteve licença para voltar às suas atividades na península. |
Entrou para a Universidade de Pádua, onde durante quase quatro anos
estudou leis, teologia e medicina. Finalmente, em 1504, quando
voltou à Polônia em definitivo, Copérnico estava em dia com os
conhecimentos de matemática, astronomia, medicina, teologia, línguas
clássicas e direito. A sua formação intelectual estava completa.
Na biografia de Copérnico não existe drama. Exceto a morte ocasional
de algum parente querido, nenhuma emoção mais forte parece ter
perturbado a serenidade de sua existência.
Não que fosse um místico; sua carreira clerical terá sido mais um
imperativo das circunstâncias do que fruto de uma forte vocação.
Interessava-se pelas pessoas, não se confinava em meditações
monásticas, nem se atormentava com problemas teológicos.
Em retribuição ao amparo recebido, serviu ao tio em Cracóvia até
1512, ano em que morreu o bispo. Outro exemplo de seu desprendimento
pessoal foi o exercício gratuito da medicina, em Frauenburg, onde
atendia aos pobres.
Desde a volta da Itália, Copérnico expandia sua cultura. O prestígio
aumentava especialmente no campo da astronomia e da matemática. Em
1514, foi convidado a opinar sobre uma reforma de calendário, então
considerada pelo V Concílio de Latrão. Copérnico recusou, porque
parecia-lhe que as posições do Sol e da Lua ainda não podiam ser
estabelecidas com precisão, dentro dos conhecimentos da época. Em
1516, assumiu interinamente a direção da diocese que havia sido de
seu tio. Era um cargo político, que Copérnico exerceu com
proficiência até 1521, dada a familiaridade que possuía com os
problemas locais.
Também em função de seu prestígio, recebeu a incumbência de planejar
uma reforma monetária. Na época, havia tal profusão de moedas
cunhadas em cada cidade importante, que metade das moedas de ouro
que enriquecem a coleção mundial provém de cunhagens alemãs e
polonesas do século XV.
Copérnico estudou o assunto e propôs um plano numa pequena obra. Mas
a rivalidade dos governantes regionais condenou a idéia ao
esquecimento. A obra nem chegou a ser publicada; só foi descoberta e
impressa em Varsóvia, em 1816, quase trezentos anos depois.
Nenhuma das atividades políticas, eclesiásticas ou médicas desviava
Copérnico de seu interesse predominante pela astronomia. Entre 1497,
quando começou a estudar na Itália, e 1529, publicou 27 observações
detalhadas; outros apontamentos foram encontrados mais tarde, entre
folhas de livros de sua numerosa e variada biblioteca.
Nessa época, o sistema geocêntrico de Cláudio Ptolomeu já parecia
insatisfatório para Copérnico e muitos outros astrônomos.
Freqüentemente, as observações pareciam desmentir a teoria, o que
forçava os astrônomos a reverem os arranjos de deferentes e
epiciclos. Deferente é um círculo imaginário em volta da Terra, em
cuja periferia se movem aparentemente os astros; epiciclo é o
círculo em que um planeta se move e cujo centro se desloca ao mesmo
tempo sobre a circunferência de um círculo maior.
(Sistema de Copérnico)
Tudo isso fazia Copérnico imaginar que houvesse algo de
fundamentalmente errado no sistema ptolemaico. Na tentitiva de
descobrir o erro, passou a ler todos os trabalhos que precederam à
formulação da teoria de Ptolomeu. E descobriu. Graças a seus sólidos
conhecimentos de grego, foi conhecer em detalhe as teorias
heliocêntricas propostas por volta de 300 anos a.C. por astrônomos
como Aristarco de Samos. Copérnico ainda supunha que as órbitas dos
planêtas eram circulares, percebeu que a idéia do Sol como centro
das órbitas dos planetas fazia sentido, era mais lógica do que a
idéia geocêntrica. Mas o geocentrismo era um artigo de fé, não
apenas um preconceito científico. E o cônego guardou para si o que o
cientista descobrira.
Mas, na intimidade, Copérnico discutia o assunto com discípulos e
amigos. A maior parte deles insistia para que Copérnico expusesse
suas idéias em público, para críticas e comprovação, mas o bondoso
clérigo não sentia nenhuma atração especial pela polêmica. Ainda
assim, publicou em 1530 uma pequena obra intitulada Commentariolus,
na qual expunha timidamente a teoria heliocêntrica, mas sem cálculos
nem diagramas que lhe dessem força de tese ou de teoria.
Um amigo, Johann Albrecht Widmanstadt, foi a Roma e expôs os
princípios da teoria de Copérnico a Clemente VII, em 1540. Queria
limpar o caminho das acusações de heresia que pudessem recair sobre
Copérnico. Roma autorizou a publicação da obra, talvez pelo fato de
o Papa Paulo III não entender bem do que se tratava.
(De Revolutions, Nuremberg, 1543)
Copérnico, então com 67 anos, chegava ao fim da vida. Um discípulo,
George Joachim Rhäticus, levou a Nuremberg os originais do De
Revolutionibus, para composição e impressão. Mas o movimento
luterano era tão hostil que Rhäticus decidiu tentar Leipzig. Dois
colegas Jöhanes Schõner e Andreas Osiander - ficaram encarregados da
publicação naquela cidade.
Por cautela, Osiander incluiu na obra um prefácio moderador. Dizia
tratar-se não de uma nova teoria revolucionária, mas de simples
hipótese, destinada a simplificar a computação de certos dados
astronômicos. Ainda assim, a sinceridade de Copérnico transparece no
corpo do livro. No texto e nos diagramas, ele situa o Sol no centro
do sistema, Mercúrio e Vênus em torno dele, nessa ordem, a Terra com
a Lua em volta, Marte, Júpiter e Saturno, todos em gravitação
circular em torno do Sol. Por fora, a esfera de estrelas.
Quando o livro ficou pronto, em 1543, Copérnico agonizava. Ao que
tudo indica, só chegou a ver a obra no leito onde passou os seus
últimos momentoso.
Referência:
BIBLIOGRAFIA:
Ciência Ilustrada, Abril S.A.Cultural e Industrial.
Os Cientistas, Abril S.A.Cultural e Industrial.
Biografias, Gerson Ferracini, Editora Scipione.
Física, Beatriz Alvarenga e Antônio Máximo, Editora Scipione.
O Mundo da Eletricidade, Ottaviano de Fiore, Eletropaulo.
www.saladefisica.cjb.net
|
Conheça
o
Ache
Tudo e Região
o portal
de todos Brasileiros. Cultive o hábito de ler, temos
diversidade de informações úteis
ao seu dispor.
Seja bem
vindo, gostamos de
suas críticas e sugestões, elas nos ajudam a
melhorar a cada ano.
|
|
|