No meio do caminho da
Zona Leste, as contradições de Aricanduva
É interessante observar
como os índices sociais decrescem à medida que os distritos da
subprefeitura são percorridos em direção ao leste.
A Subprefeitura de
Aricanduva/Vila Formosa/Carrão possui as mesmas contradições comuns a
outras regiões da cidade. Mas uma característica lhe é peculiar: é uma
espécie de área de transição entre o Centro e as regiões mais distantes
da Zona Leste.
Distribuídos
em uma área de 21,5 km², é interessante observar como os índices sociais
pioram à medida que os três distritos da subprefeitura são percorridos
em direção ao leste – partindo da Vila Formosa, passando pelo Carrão, e
chegando a Aricanduva.
A Vila Formosa, localizada mais a oeste, vizinha e rival do Tatuapé, na
Subprefeitura Mooca, uma das regiões mais valorizadas da zona Leste,
apresenta indicadores sociais próximos aos das regiões mais
desenvolvidas da cidade. É uma das áreas mais arborizadas da zona Leste,
com 78 praças em seu território, e a verticalização ali ainda não
atingiu o nível de outros bairros.
Infra-estrutura
Por essas razões, Sílvia Inêz Machado, presidente do Conselho de
Segurança da Vila Formosa e diretora executiva da Gazeta da Vila
Formosa, considera esta “a mais formosa das vilas”. Ela define seu
bairro como “uma província onde as pessoas se conhecem e participam”. Há
20 anos morando na Vila Formosa, participou de inúmeras atividades
ligadas à Vila, e hoje escreve um livro sobre a história de seu bairro,
que completa 82 anos em outubro.
A Vila Formosa possui uma das melhores infra-estruturas da zona Leste:
lá se encontram, entre outras coisas, a Unicsul, as Faculdades Brasília
e o shopping Anália Franco. O distrito reserva ainda algumas construções
importantes, como a Casa do Regente Feijó.
Maior cemitério
Nesse distrito vivem cerca de 90 mil pessoas. Mas a maior população da
Vila Formosa jamais viveu lá. No Cemitério da Vila Formosa, o maior da
América Latina, com uma área de 780 mil m², estão enterradas cerca de
1.434.000 pessoas – a esmagadora maioria, pobres, moradores de
diferentes regiões da zona Leste.
O Cemitério da Vila Formosa, fundado em 1949, é dividido em duas alas.
Em cada uma delas são realizados cerca de 275 enterros por mês. De
acordo com o administrador do Vila Formosa II, Celso de Araújo Moura, o
cemitério é uma das melhores áreas verdes de São Paulo. E ele quer
melhorá-la: em dois meses à frente do Vila Formosa II, foram plantadas
120 árvores.
O esforço de Celso se justifica, pois a necessidade de reformas e
melhorias no local é evidente. Segundo ele, é preciso, entre outras
coisas, aumentar a segurança do local, asfaltar as vias de Vila Formosa
II e ampliar o número de funcionários do cemitério.
Os problemas com segurança, somados ao despojamento do cemitério – covas
rasas e ausência de monumentos –, acabam gerando uma imagem negativa do
local. Mas o Cemitério da Vila Formosa possui seus encantos – visíveis
sobretudo em seus belos bosques. Com as reformas que Celso pretende
fazer, o cemitério pode se transformar em um ótimo local para uma
caminhada ou para a contemplação: “às vezes, quando estou de cabeça
cheia, vou para um desses bosques, dar uma espairecida. Nenhum barulho
chega até lá”, conta.
Carrão
Continuando o passeio pela região, na Vila de Santa Isabel, já dentro do
distrito Carrão, o visitante irá se surpreender com a beleza da Igreja
de Santa Isabel, idealizada pelo Monsenhor Ciro Turinona na década de
1950 e consagrada na década de 1980.
No Carrão já é possível perceber uma certa diferença em relação ao
padrão de vida da Vila Formosa. De fato: os índices de desenvolvimento
da região estão um pouco abaixo do distrito vizinho.
Ali, no entanto, as características interioranas estão até mais
acentuadas. Basta uma visita ao bar do Alemão, na esquinas das ruas
Engenheiro Pegado com Eponina, para testemunhar esse fato. Presença
certa no bar é seu Leandro Cerqueira da Silva, 98 anos – os últimos 61
vividos na Vila Carrão. Mudou do Rio de Janeiro para São Paulo em 1926
e, durante a gestão de Prestes Maia (1938-1945), trabalhou na
retificação do Tietê, permanecendo na Prefeitura de São Paulo durante 35
anos.
Mantém vivas as lembranças do bairro que, “naquela época, tinha muito
mato”. A Vila Carrão contava então com cerca de 300 habitantes, que
viviam em chácaras – hoje, são cerca de 75 mil. “Era uma biboca, só
havia mesmo um posto de gasolina”, diz. Mas tinha seu lado bom: “Bebi
água e pesquei no Tietê e no Aricanduva. E não havia problema de
enchente, porque a população ainda não morava perto do rio”.
Lembranças
Os demais freqüentadores do bar também têm histórias para contar – seus
pais e avós foram os fundadores do bairro, que completou 82 anos neste
mês, e hoje dão nomes às ruas da Vila Carrão. Quando seu Leandro foi
perguntado sobre a história de Horácio Fidalgo, residente do bairro e
que nos anos 1960 foi o maior traficante da cidade, todos se
manifestaram. Seu Leandro conta que freqüentava o mesmo baile que
Fidalgo: “Tínhamos que cumprimentá-lo, mas não pegava bem ser seu
amigo”.
Reinaldo Antônio Lopes, 55 anos, lembra também das historias do filho do
traficante, Carlos Fidalgo, o Fidalguinho, que atuava como
“caranguejeiro” – ladrão de carros. Fidalgo foi executado pelo Esquadrão
da Morte e Fidalguinho foi assassinado em uma abordagem policial, em
circunstâncias nunca devidamente esclarecidas.
Colônia
Na Vila Carrão há ainda uma colônia japonesa, que se formou durante as
décadas de 1960 e 1970. Os laços com o país de origem são mantidos
através da atuação de duas associações localizadas no bairro, a ACREC
(Associação Cultural Recreativa e Esportiva do Carrão) e a Associação
Okinawa, que reúne pessoas oriundas daquela província japonesa.
Segundo Meire Chiemikina, da Okinawa, há cerca de 400 famílias em cada
uma dessas associações. Na Okinawa, fundada em 1956, é possível a
qualquer pessoa fazer cursos de japonês, música e danças folclóricas. A
comunidade japonesa da Vila Carrão organiza ainda o tradicional
campeonato de Gateball – uma mistura de golfe e sinuca – que reúne
equipes de toda a cidade.
Aricanduva
O passeio termina, enfim, pelo distrito mais a leste e que torna a
região famosa em toda a cidade: Aricanduva. Sem dúvida, o rio Aricanduva,
que dá nome à região e fica na divisa com Itaquera, é o principal
referencial do distrito. Ali, já se esboça a imagem que tradicionalmente
se tem da zona Leste: indicadores sociais baixos, maior número de
favelas e, sobretudo, as enchentes do rio Aricanduva, que trazem muitos
problemas às pessoas mais desassistidas e demandam boa parte dos
esforços da subprefeitura.
Apesar desses problemas, a região possui boa infra-estrutura, com
comércio intenso e diversificado e aquele mesmo aspecto provinciano dos
outros distritos – o que é, certamente, um de seus pontos fortes.
Luta por melhorias
Os problemas não fazem diminuir o amor que seus moradores têm pela
região. Ao contrário, motivam a lutar por melhorias. É assim no caso do
oficial de farmácia Amadeu Rigueti, 64 anos, morador do bairro há mais
de 40. O “Amadeu da farmácia”, como é conhecido no bairro. Há 12 anos,
Rigueti preside a Saja – Sociedade dos Amigos do Jardim Aricanduva. É
também diretor de saúde da Câmara Regional do Vale do Aricanduva,
associação que reúne mais de 60 sociedades de bairro.
Durante o período em que está no Aricanduva, Rigueti viu o bairro
fundado em 1941, a partir do loteamento de uma fazenda de Adhemar de
Barros, que tem como marco zero o prédio da caixa d’água, passar por
inúmeras mudanças. Conta que na década de 1960, quando se estabeleceu no
bairro, o comércio local ficava restrito ao “barzinho da esquina”, um
depósito de material de construção, uma mercearia e uma padaria.
Viu o número de residências crescer entre 1960 e 1980 e o comércio
substituir a indústria como principal atividade econômica a partir da
década de 1980. E vê hoje os grandes empreendimentos substituírem esse
comércio. Rigueti lembra com saudade do tempo em que podia pescar no
Aricanduva. Mas não é saudosista – sabe que o progresso não pode
esperar. E celebra tanto as grandes como as pequenas conquistas da
região.
Foto: Fabio Nunes |
Ao circular
pelas ruas e avenidas do Shopping Aricanduva, o visitante poderá
reviver o passado em ambientes diferentes que contam a história
da Zona Leste. Os espaços cenográficos recriam em detalhes uma
estação de trem; um cinema antigo; a Praça da Igreja da Penha e
uma cantina italiana. Um quinto ambiente foi projetado para
contextualizar a história da região através das notícias
veiculadas nos principais jornais da cidade de São Paulo e da
Zona Leste. |
Cada ponto
retrata um aspecto importante da região. A estação de trem
simboliza a força que a ferrovia teve na expansão da região e
que até hoje corta a cidade paralela à linha do metrô. O espaço
recriará parte de um vagão de trem antigo e os visitantes
poderão interagir com os atores caracterizados como carregadores
de mala e bilheteiros. |
Foto: Fabio
Nunes |
Foto: Fabio
Nunes |
Outro ambiente
trará de volta a magia de um cinema antigo, onde será projetado
um vídeo criado especialmente para mostrar a importância da
região e do Centro Comercial Leste Aricanduva como um dos
principais pólos comerciais da região Leste. Lá, os visitantes
também poderão escolher em uma juke-box uma das 18 músicas que
fazem referência à Zona Leste, como o “Samba do Arnesto”, com a
famosa introdução “o arnesto nos convidou pro samba ele mora no
Brás”, de autoria do compositor Adoniran Barbosa. |
Foto: Fabio
Nunes |
Cinco
personalidades que nasceram, viveram ou contribuíram para o
desenvolvimento cultural e social da Zona Leste serão
homenageadas com fotos em tamanho natural colocadas em um espaço
que imita uma cantina italiana. São elas: Charles Miller,
introdutor do futebol no Brasil, realizou a primeira partida em
um campo da Zona Leste; Vicente Matheus, empresário do bairro do
Tatuapé, foi presidente do Corinthians; o escritor Monteiro
Lobato, que morou no bairro do Belenzinho; o compositor Adoniran
Barbosa que compôs várias canções sobre a Zona Leste, onde tinha
amigos e parentes que visitava com freqüência, e Oscar
Americano, que doou para a região Leste o terreno do atual
Parque do Carmo. |
A importância
da Zona Leste também poderá ser conferida em notícias que
circularam e circulam na mídia desde o início do século até os
nossos dias. Um amplo espaço será montado com painéis que
mostrarão jornais antigos e atuais.
Em todos os ambientes, atores representarão personagens de
época, como jornaleiro, engraxate, entregador de leite,
acendedor de lampiões, tocador de realejo, bilheteiro,
carregadores de mala, floristas, pipoqueiro, operários, damas e
cavalheiros. As músicas que fizeram a história da Zona Leste
poderão ser conferidas durante show do grupo Demônios da Garoa,
que acontece no dia 6 de abril, às 14h, no corredor principal do
Shopping Aricanduva, e nos dias 15 e 29 de abril, às 18h, no
coreto |
.
Foto: Fabio Nunes |
Passado, presente e futuro
em painéis
Durante o
evento “Vida ao Leste”, o visitante poderá acompanhar em
modernos painéis (frente e verso), a história do desenvolvimento
da região em textos e fotos antigas e atuais a partir de
referências importantes.
Um grande painel mostrará todos os passos do projeto do
Aricanduva, desde a escolha do terreno até o início e o final de
sua construção. A história será contada em fotos e frases de
pessoas que acompanharam todo esse processo. |
Foto: Fabio Nunes |
Foto: Fabio
Nunes |
Detalhes sobre
a construção da estrada Jacu-Pêssego, que liga a região do ABCD
a Guarulhos e toda a região Leste, e da Radial Leste, principal
ligação da região com o centro da cidade, estarão retratados nos
painéis, bem como a história do Metrô e do moderno trem
espanhol, que liga o Brás a Guaianazes. Os painéis também
mostrarão a história da implementação de dois dos principais
centros educacionais da região: a Fatec e a USP-Leste. A
importância do Sesc Itaquera como centro de lazer e a Nascente
do Aricanduva complementam a exposição. |
A importância
da indústria para a região e das pessoas que ajudaram no
desenvolvimento econômico será destacada em painéis
caracterizados por chaminés. O visitante poderá conferir o
Cotonifício Crespi, prédio em estilo inglês e com tijolinhos à
vista que foi até a década de 50 a maior indústria têxtil do
país, além de galpões de antigas fábricas nos bairros do Brás e
da Mooca, que contam o passado operário da região.
A Vila Maria Zélia, primeira vila operária do Brasil, no bairro
do Belém, e o Memorial do Imigrante, prédio em estilo
neoclássico, situado ao lado da estação Bresser do metrô, e que
abrigou até 1978 a Hospedaria do Imigrante, também ganham
destaque. |
Foto: Fabio
Nunes |
A história do
Centro Comercial Leste Aricanduva, bem como sua importância para o
desenvolvimento da região, também será retratada em painéis com
fotos e textos.
Sobre a Zona
Leste
Cartão Postal e
Postagem gratuítos nos estandes
Foto: Fabio Nunes |
Foi na década
de 80 que a região apresentou um desenvolvimento econômico e
social a olhos vistos. Com a criação de bairros como o Jardim
Anália Franco, trechos dos bairros do Tatuapé, Penha, Itaquera e
Aricanduva, com grandes terrenos disponíveis, passaram a chamar
a atenção do setor imobiliário. |
Grandes centros
comerciais, como o Centro Comercial Leste Aricanduva, se
instalaram na região, que apresentava um crescimento econômico
cada vez maior. Com isso, cultura e lazer estavam mais próximas
da população, além de novas universidades, particulares ou
públicas como a USP Leste e a Fatec, que impulsionaram a
educação na Zona Leste. |
Cartão Postal e
Postagem gratuítos nos estandes
Foto: Fabio Nunes |
Sobre o Centro Comercial
Leste Aricanduva
Cartão Postal e
Postagem gratuítos nos estandes
Foto: Fabio Nunes |
O Centro
Comercial Leste Aricanduva, inaugurado em 1991 e formado pelo
Shopping Leste Aricanduva, Shopping Interlar Aricanduva e Auto
Shopping São Paulo, está inserido na nova realidade da Zona
Leste. Com três hipermercados (Extra, Makro e Wal-Mart), nove
agências bancárias, área de lazer e uma oferta grande de
serviços, o complexo atua como o centro de uma grande cidade, um
power center, onde as pessoas encontram tudo o que necessitam. |
São mais de 500
lojas, 12 concessionárias de veículos e motos e três praças de
alimentação. Hoje o Aricanduva contabiliza o maior faturamento
do Mc Donald’s e Mc Café no Brasil em shopping centers. O
complexo também reúne o maior número de salas de cinema Cinemark,
14 ao todo, e 12.600 vagas de estacionamento gratuito.
O Aricanduva gera sete mil empregos diretos e 15 mil indiretos
e, todo mês, passam pelo empreendimento cerca de 4,5 milhões de
pessoas, sendo que esse número ultrapassa 5,5 milhões na época
do Natal. Além disso, a área de influência do complexo atinge
sete milhões de habitantes com as regiões do ABCD e Guarulhos.
Atualmente, o complexo registra um faturamento anual de cerca de
R$ 1,2 bilhão. |
Cartão Postal e
Postagem gratuítos nos estandes
Foto: Fabio Nunes |
Cartão Postal e
Postagem gratuítos nos estandes
Foto: Fabio Nunes |
A construção do
Centro Comercial Leste Aricanduva foi decidida após uma série de
estudos que apontaram que a instalação de um complexo comercial
na Zona Leste da cidade de São Paulo seria viável para atender a
demanda da população dessa região que crescia a olhos vistos e
que não tinha nenhuma opção de compras, lazer e negócios
próximos a sua residência. “O Aricanduva é hoje a mais completa
opção de compras, lazer e negócios da Zona Leste, acompanhou o
crescimento econômico da população, além de contribuir para a
valorização do seu entorno”, avalia Novaes. |
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Referencias:
Wikipédia
Ache Tudo e Região
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