Ofensiva russa na Síria gera críticas do
Ocidente e debates sobre rumos do conflito
Horas depois de o Parlamento russo ter
aprovado por unanimidade o pedido do presidente
Vladimir Putin para iniciar ataques na Síria, o
Kremlin confirmou que os primeiros bombardeios
já estavam sendo realizados perto da cidade de
Homs.
Mas enquanto Moscou diz atacar o grupo
autodenominado "Estado Islâmico" (EI),
porta-vozes do governo americano reforçam as
suspeitas levantadas pela oposição síria de que
os bombardeios, na verdade, estão sendo
direcionados a ela, e não aos grupos extremistas.
Homs faz parte da província de Hama, uma região
que se encontra sob o controle dos rebeldes que
se opõem ao governo de Bashar al-Assad.
Khaled Khoja, presidente da Coalizão Nacional
Síria, da oposição, condenou o que chamou de "agressão
militar russa" e disse ainda que o Kremlin não
estava combatendo o "Estado Islâmico", mas sim
utilizando sua força para "apoiar o regime de
Assad em sua guerra contra os civis".
Preocupações
Em declarações no Conselho de Segurança da ONU,
que se reuniu em Nova York, o chanceler sírio
Walid al-Mouallem apoiou o início das operações
militares russas e descreveu a atitude do
Kremlin como "preventiva e defensiva".
"Apoio completamente as palavras do ministro (de
Relações Exteriores Sergei) Lavrov com relação
ao início das ações militares contra o
terrorismo na Síria, a pedido da Síria e em
coordenação com o governo", disse.
Ao mesmo tempo, o chanceler sírio questionou os
bombardeios europeus sobre seu território.
"As ações do Reino Unido e da França no espaço
aéreo sírio são uma violação descarada da lei
internacional e da soberania nacional da Síria."
Durante a reunião do Conselho, o secretário de
Estado americano, John Kerry, advertiu que
Washington teria "graves preocupações" se Moscou
estivesse bombardeando áreas onde não operam
forças nem do "EI", nem da rede Al-Qaeda.
"Não vimos nenhum ataque contra o 'EI', o que
vimos foram ataques contra a oposição síria."
O governo americano informou que está avaliando
as operações, ainda que o Pentágono estime que
as ações russas são "contraditórias", segundo
explicou em entrevista coletiva o secretário de
Defesa, Ashton Carter.
O Comitê de Coordenação Local, que é uma rede de
opositores sírios, assegurou que os aviões de
guerra russos haviam bombardeado cinco áreas –
Zafaraneh, Rastan, Talbiseh, Makarmia e Ghanto
–, matando 36 pessoas, incluindo cinco crianças.
A Rússia, por sua vez, disse que está atacando
redes de telecomunicações, abastecimento de
combustível e depósitos de armas e munições do
"EI".
Apoio a Assad
Depois da aprovação parlamentar, o Kremlin
garantiu que, por enquanto, só está considerando
o uso de operações aéreas, e não o envio de
tropas terrestres ao país árabe.
"Isso se refere exclusivamente a uma operação da
força aérea russa", disse o chefe de gabinete de
Putin, Sergei Ivanov, à televisão local,
afirmando que o "único objetivo" da operação é "dar
apoio aéreo às forças do governo sírio em sua
luta contra o 'Estado Islâmico'".
Mas o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, não
foi tão claro quando questionado se podia
garantir que os aviões russos iriam bombear
unicamente locais controlados pelo "EI".
"O principal objetivo é lutar contra o
terrorismo e apoiar as autoridades legítimas em
sua luta contra o terrorismo e o extremismo",
disse Peskov.
Várias frentes
O conflito sírio, que teve início em 2011,
coloca em confronto forças leais a Assad e
organizações fundamentalistas, como o "EI", bem
como grupos rebeldes "moderados" inspirados na
Primavera Árabe.
Esses últimos estão sendo apoiados pelos Estados
Unidos e seus aliados, que também têm
bombardeado locais controlados pelo "Estado
Islâmico".
Washington tem criticado o apoio de Moscou às
forças de Assad e insiste que a solução para o
confronto passa pela derrubada do presidente,
que foi acusado de reprimir brutalmente seus
próprios cidadãos.
Mas a Rússia convocou Washington e seus aliados
para deixar Assad em paz e unir forças contra o
"EI" – o governo do país também criticou o apoio
dado pelos Estados Unidos aos rebeldes "moderados".
"O uso da força no território de um terceiro
país só é possível se vier por uma resolução o
Conselho de Segurança da ONU ou por um pedido
legítimo do governo do país", insistiu Peskov
nesta quarta-feira.
"Neste caso, a Rússia será o único país que
atuará com uma base legítima (na Síria), porque
foi para lá depois de um pedido legítimo do
presidente sírio", reforçou.
A necessidade de coordenar ações no país árabe e
evitar possíveis choques com a coalizão liderada
por Washington, no entanto, foi uma das razões
pelas quais Putin se reuniu com o presidente
americano Barack Obama em Nova York no início da
semana.
E Putin também aproveitou seu discurso na ONU
para convocar os países para formar uma ampla
coalizão internacional contra o terrorismo
representado pelo "Estado Islâmico".
Segundo o analista da BBC para assuntos
diplomáticos Jonathan Marcus, isso sugere que o
"EI" será o principal alvo de Rússia e Síria.
"Mas o governo de Assad tem muitos outros
inimigos, muitos deles apoiados pelo Ocidente,
como Turquia, Arábia Saudita e os outros Estados
do Golfo Pérsico", reforçou Marcus.
"E se a Rússia não se limitar a atacar o 'EI',
isso poderá causar vários outros problemas",
advertiu.
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