O processo de fabricação de papel
reciclado e as ações associadas aos
custos ambientais em indústria de Santa Catarina Alessandra Vasconcelos Gallon Mestre em Ciências Contábeis
pela Universidade Regional de Blumenau
Rua Antônio da Veiga, B.Victor Konder, 140, 89012-900, Blumenau-SC
alegallon@sodisa.com.br
Franciane Luiza Salamoni Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade
Regional de Blumenau Rua Antônio da Veiga, B.Victor Konder, 140, 89012-900,
Blumenau-SC fransalamoni@gegnet.com.br
Ilse Maria Beuren Doutora em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP
Rua Antônio da Veiga, B.Victor Konder, 140, 89012-900, Blumenau-SC.
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A crescente preocupação com a preservação ambiental
requer a eliminação e/ou redução dos efeitos
negativos do processo de produção industrial. Nesta
perspectiva, o artigo objetiva descrever o processo de
fabricação de papel reciclado e identificar ações
executadas pela empresa associadas aos custos
ambientais.
Para tanto, fez-se uma pesquisa
exploratória, por meio de um estudo de caso em indústria
catarinense, com abordagem qualitativa dos dados. Como
resultado da pesquisa tem-se que o processo de
fabricação inicia com a adição das matérias-primas,
passa pela desagregação e refinação da massa, segue
para a suspensão fibrosa e finaliza com a secagem e
rebobinamento do papel para avaliação de sua
qualidade.
O tratamento dado aos resíduos pela indústria
de reciclagem contribui para a preservação
ambiental, uma vez que quase sua totalidade retorna ao
processo fabril de papel sob forma de matéria-
prima. Conclui-se que a sua ação pró-ativa à gestão de
custos ambientais é promitente em termos de
prevenção de danos ambientais e conseqüentemente em
redução de custos.
Palavras-chave: Tratamento dos resíduos. Papel
reciclado. Custos ambientais.
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações
associadas aos custos ambientais em indústria de Santa
Catarina.
Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni,
Ilse Maria Beuren
ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°
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1 Introdução
Embora importantes movimentos de regulamentação de
políticas ambientais já tenham ocorrido na década de
1930, somente por volta do final da década de 1960
aumentou a preocupação com o meio ambiente. É importante
observar que o ambientalismo não possui uma data de
nascimento determinada, mas tentar encontrar suas raízes
consiste principalmente na necessidade de se ter
explicações para sua crescente importância (Duarte,
1997).
Deflagrados os limites do sistema ecológico, a
sociedade, governos e empresários começaram a demonstrar
sua preocupação com os limites do meio ambiente, com a
capacidade de continuar reagindo aos crescentes níveis
de impurezas que lhe são acrescidos diariamente
(Ribeiro, 1992).
Nesta perspectiva e diante da crescente disseminação das
informações propiciadas pelas novas tecnologias de
comunicação, as indústrias estão sendo forçadas a tomar
posições diferenciadas com relação às estratégias de
mercado nas últimas décadas. Algumas preocupações com os
aspectos sociais nas indústrias podem ser salientadas,
especialmente com relação às questões ambientais.
Gobbi e Brito (2005) destacam que os debates em torno da
questão ambiental ganharam expressa legitimidade social
a ponto de se tornar objeto de reflexão das
organizações, que passaram a repensar suas práticas de
produção e a formular políticas de gestão ambiental.
A parceria construída entre indústria e fornecedores
desenvolve-se em função das exigências de novas
tecnologias que atendam ao aumento na escala de
produção, ao comprometimento com a preservação ao meio
ambiente, à economia de energia e insumos e à redução
dos custos, de acordo com a Associação Brasileira
Técnica de Celulose e Papel – ABTCP (2004).
Entretanto, ao que tudo indica a eliminação dos resíduos
provenientes do papel e celulose pode não estar tendo o
destino adequado para a preservação do meio ambiente.
Diante disso surgem algumas indagações incentivadoras da
pesquisa: Como se dá o processo de fabricação de papel
reciclado? O tratamento dado aos resíduos nas indústrias
de papel reciclado focaliza a preservação do meio
ambiente? Quais ações associadas aos custos ambientais
são executadas nas empresas?
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações
associadas aos custos ambientais em indústria de Santa
Catarina.
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Visando responder a essas questões, o artigo descreve o
processo de fabricação de papel reciclado e identifica
as ações associadas aos custos ambientais executadas por
uma determinada empresa.
A relevância da pesquisa evidencia-se na medida em que
se verifica uma crescente preocupação com a preservação
ambiental no mundo, principalmente no que se refere ao
descontrole dos desmatamentos e à poluição do meio
ambiente. Também se observa esforços de organizações
para minimizar os efeitos da devastação de recursos,
sejam eles recuperáveis ou não. O trabalho inicia após
essa introdução, com uma breve abordagem sobre o
surgimento e importância do papel, seguida de um
apanhado teórico sobre reciclagem e meio ambiente, e
gestão de custos ambientais.
Na sequencia é evidenciado
o método e os procedimentos adotados na pesquisa. Em
seguida faz-se a descrição e análise dos dados coletados
na empresa objeto de estudo. Por último são apresentadas
as conclusões da pesquisa, seguidas das referências.
2 Produção e consumo de papel
A invenção da escrita é considerada o fator motivador e
modificador das lentas, mas constantes, evoluções e
alterações pelas quais passaram diversas bases (pedra,
cerâmica, madeira, ossos, fios de tecidos, couro curtido
e os metais e suas ligas, como o bronze), até se chegar
ao papel. Foi o papiro que deu origem à palavra papel,
do latim papyrus (ABTCP, 2004).
De acordo com dados da ABTCP (2004), em 2002, a extração
brasileira de celulose foi de 8 milhões de toneladas, o
que significou um crescimento de 7,9% em relação ao
índice observado em 2001. Por sua vez o consumo de papel
cresceu 1,2% se comparado com o exercício anterior,
chegando a um total de 6,8 milhões de toneladas, o
equivalente a 38 quilos anuais per capita.
Conforme a ABTCP (2004), seja qual for o tipo de papel
fabricado, a matéria-prima básica é a celulose, virgem
ou de papel reciclado, que pode ser dividida em dois
grupos: a de fibra longa (obtida de espécies como o
pínus e a araucária), indicada para papéis de embalagem;
e a de fibra curta (derivada de eucalipto, acácia,
gmelina, bétula, entre outros), utilizada principalmente
na fabricação de papéis para imprimir e escrever e para
fins sanitários.
A Associação Brasileira de Celulose e Papel (BRACELPA,
1998) ressalta que entre os papéis consumidos, o maior
destaque é para as caixas de papelão ondulado, pois
funcionam como embalagem de transporte para a quase
totalidade das mercadorias comercializadas em
supermercados, lojas de departamento (magazines) e
estabelecimentos fabris.
Também são o processo de fabricação de papel reciclado e
as ações associadas aos custos ambientais em indústria
de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon,
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gerados resíduos de caixas de papelão ondulado nas
residências, especialmente as que servem de embalagem de
acondicionamento de eletrodomésticos. Em 1997, segundo
dados daquela associação, 61,6% dos papéis recuperados
no Brasil são de “papel ondulado”. De acordo com o
World Business Council for Sustainable Development –
WBCSD (1996), a produção de papel consome enorme
quantidade de energia e água.
Destaca-se que em 1992 a
indústria papeleira americana foi a terceira maior
consumidora de energia, ficando atrás apenas da
indústria do petróleo e do setor químico. A água é um
ingrediente essencial na fabricação de papel como parte
integrante da massa (polpa) e utilização na remoção de
impurezas da celulose mediante lavagens repetidas, sendo
que a emissão de efluentes na água é um dos impactos
ambientais mais significantes causados pela fabricação
de papel e celulose (WBCSD, 1996).
Entretanto, destaca-se que novas tecnologias tornaram
possível o maior fechamento do ciclo de água, o que
reduziu a geração de efluentes. A indústria de papel e
celulose tem investido sobremaneira em tecnologia de
reutilização (ABTCP, 2004). De acordo com a Divisão de
Tecnologia Industrial do Departamento de Assistência à
Média e Pequena Indústria (DETEC), a indústria de papel
e celulose caracteriza-se como moderada geradora de
resíduos sólidos de baixo poder impactante e elevada
potencialidade de utilização.
No entanto, Nossa e
Carvalho (2003) citam dois estudos que consideram esse
setor altamente poluidor. Destacam que Cormier e Magnan
(1997) apontam o setor de papel e celulose como um dos
setores que mais polui. Reforçam esse posicionamento com
Forgach (2001), que apresenta razões para que a
indústria de papel e celulose seja assim considerada: a)
é dependente de 100% de fibras florestais naturais e
recicladas; b) exige uso intensivo de energia; c) emite
no ar, água e terra ampla gama de poluentes tóxicos e
convencionais; d) é grande produtora de resíduo sólido.
Em relação ao primeiro item apontado por Forgach (2001
in Nossa e Carvalho, 2003), a indústria de papel
reciclado tem menor impacto na extração de fibras
florestais naturais porque utiliza material reciclado.
Os demais itens citados também são inerentes ao seu
processo produtivo. Portanto são contingências que
precisam ser monitoradas por essas indústrias em relação
ao meio ambiente.
3 Reciclagem e meio ambiente
A conscientização sobre os problemas que afetam o meio
ambiente age como fator preponderante para
compatibilizar a expansão dos meios de produção de
acordo com condições ambientais ideais. A
responsabilidade social da empresa deveria voltar-se
para a eliminação e/ou redução dos efeitos negativos do
processo de produção e preservação dos recursos
naturais, principalmente os não renováveis, através da
adoção de tecnologias eficientes, concomitantemente ao
atendimento dos aspectos econômicos (Ribeiro, 1992).
O aumento da conscientização ambiental tem levado a uma
maior demanda por papéis reciclados e a pressionar para
que o papel seja reciclado após sua utilização pelo
público (resíduo após o consumo), ao invés de
simplesmente jogá-lo nos aterros (WBCSD, 1996).
Rossato e Ribeiro (2004, p. 62) destacam que “têm
aumentado, consideravelmente, nos últimos anos, as
discussões sobre qual a melhor forma para que as
empresas conciliem seus processos produtivos com
questões ambientais”. Segundo Andrade et al. (2002), os
gastos com proteção ambiental começam a ser vistos pelas
empresas líderes, não primordialmente como custos, mas
como investimentos no futuro e, paradoxalmente, como
vantagem competitiva. Para Hunt e Auster (1990) e Hart
(1995), melhores performances ambientais e econômicas
podem coexistir por meio da incorporação de um novo
modelo de organização e de uma cultura empresarial
baseada na ecoeficiência, o que conduzirá a um
desenvolvimento sustentável.
Ribeiro (1992) comenta que a incorporação do conceito de
“desenvolvimento sustentável” pelo meio empresarial
pode, se não reverter, ao menos amenizar a degradação do
meio ambiente. Na perspectiva do desenvolvimento
sustentável, a redução de agressões ambientais passa a
ser considerada como meio de eliminação de custos e
conseqüente melhoria do fluxo de rendimentos para a
empresa.
Nesse sentido, mesmo não se tratando de uma novidade no
processo de fabricação do papel, pois há séculos os
materiais utilizados (aparas) têm sido reaproveitados na
fabricação de novos produtos, a reciclagem é um
importante aspecto da filosofia preservacionista, que
resulta em benefícios tanto para as empresas como para a
coletividade (ABTCP, 2004).
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações
associadas aos custos ambientais em indústria de Santa
Catarina.
Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni,
Ilse Maria Beuren
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A reciclagem de papel no Brasil tem seu fundamento em
questões de natureza essencialmente econômicas. Todavia
esta vem apresentando um destaque crescente, na medida
em que contribui para a preservação e conservação do
meio ambiente e para a solução da questão da destinação
dos lixos urbanos (BRACELPA, 1998). Quanto à importância
da utilização da reciclagem na indústria de papel e
celulose como forma de minimizar os impactos ao meio
ambiente, Bellia (1996) relata que a reciclagem de papel
leva a uma redução de energia para a produção de papel e
celulose da ordem de 23% a 74%, redução na poluição do
ar de 74%, redução na poluição da água em torno de 35% e
redução de 58% no uso de água.
Robles Jr. (2003, p. 139) destaca que “a solução dos
problemas ambientais é consequência da existência de um
sistema de gestão ambiental bem administrado, para
identificação clara dos problemas e suas causas”. Nesta
perspectiva, torna-se imprescindível que a empresa
desfrute de adequada gestão de custos ambientais. 4
Gestão de custos ambientais Campos (1996) salienta que o
termo custo ambiental é de difícil conceituação, não
apresentando definição clara e objetiva, e que a maior
dificuldade ao se trabalhar com custos ambientais é o
fato de estes serem, em sua maioria, custos intangíveis.
Robles Jr. (2003, p. 141) define custos intangíveis como
“aqueles com alto grau de dificuldade para serem
quantificados, embora se perceba claramente a sua
existência.
Normalmente não podem ser diretamente associados ao
produto ou processo”. No que diz respeito aos gastos
ambientais, Ribeiro e Rocha (1999, p. 2) relatam que
“são todos aqueles relacionados, direta ou
indiretamente, ao processo de gerenciamento ambiental,
processo este que compreende todas as atividades
inerentes ao controle, preservação e proteção ao meio
ecológico, além de recuperação de áreas contaminadas”.
Ferreira et al. (2007, p. 28) advertem que “uma empresa
que polui dentro dos limites legais estabelecidos não
deixa de ter um passivo em relação ao meio ambiente,
pois haverá a necessidade de restaurar ou remediar o
meio ambiente, ou seja, poderá haver uma obrigação
pecuniária”. Esta obrigação, seja ela de reputação
social ou exigência legal, implica em um custo ambiental
para a empresa. Nos custos ambientais devem ser
computadas todas as medidas tomadas pelos gestores da
entidade com a finalidade de evitar, reduzir ou reparar
efeitos ambientais negativos. Devem considerar-se essas
medidas, sejam elas necessárias ao cumprimento de
determinação legal;
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações
associadas aos custos ambientais em indústria
de Santa Catarina.
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Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de
Custos - Vol. III n° 1:45-67 - jan/abr 2008 ou
decorrentes de medidas voluntárias da entidade, para
responder às exigências de clientes, ou melhorar a
imagem da entidade (Eurostat in Silva, 2007). Segundo
Hansen e Mowen (2001, p. 567), sob o ponto de vista
empresarial, os custos ambientais, também conhecidos
como custos de qualidade ambiental, “são custos
incorridos porque existe uma má qualidade ambiental ou
porque pode existir uma má qualidade ambiental”.
Em função das mudanças na relação entre empresas e o
meio ambiente, observa-se a importância da identificação
dos custos ambientais pelas empresas para a consecução
de informações consistentes relativas ao quanto se vem
perdendo ou deixando de ganhar com processos e
atividades que degradam o meio ambiente. De acordo com a
Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo
- FIESP (2004), a melhoria na relação da empresa com o
meio ambiente é capaz de otimizar a produtividade dos
recursos utilizados, implicando em benefícios diretos
para a empresa, o processo industrial e o produto, como
mostra o Quadro 1.
Benefícios para a empresa
Benefícios para o processo
produtivo
Benefícios para o produto
• melhoria da imagem da
empresa;
• manutenção dos atuais e
conquista de novos nichos de
mercado;
• redução do risco de desastres
ambientais;
• adição do valor com a
eliminação ou minimização
dos resíduos;
• menor incidência de custos
com multas e processos
judiciais; e
• maior diálogo com os órgãos
de controle e fiscalização.
• economias de matéria-prima e
insumos,
resultantes
do
processamento mais eficiente e
da sua substituição, reutilização
e reciclagem;
• aumento dos rendimentos do
processo produtivo;
• redução das paralisações, por
meio de maior cuidado na
monitoração e manutenção;
• melhor
utilização
dos
subprodutos;
• conversão dos desperdícios em
forma de valor;
• menor consumo de água e
energia durante o processo;
• economia, em razão de um
ambiente de trabalho mais
seguro; e
• eliminação ou redução do custo
de atividades envolvidas nas
descargas ou no manuseio,
transporte e descarte de
resíduos.
• mais
qualidade
e
uniformidade;
• redução dos custos (por
exemplo, com a substituição
de materiais);
• redução nos custos de
embalagens;
• utilização mais eficiente dos
recursos;
• aumento da segurança;
• redução do custo líquido do
descarte pelo cliente; e
• maior valor de revenda e de
sucata do produto.
Quadro 1 – Benefícios causados pela melhoria na relação
entre a empresa e o meio ambiente Fonte: Cartilha de
indicadores de desempenho ambiental na indústria – FIESP
(2004, p. 13).
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associadas aos custos ambientais em indústria de Santa
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Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação
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2008
Depreende-se que a melhoria na relação entre a empresa e
o meio ambiente traz diversos benefícios para ambos com
a gestão do desperdício, o controle da poluição, gestão
da água e da energia, obediência às leis, entre outros.
As informações dos custos ambientais relacionados aos
processos servem como indicativo no sentido de propor
melhorias para diminuir ou até mesmo eliminar tais
custos, gerando vantagem para a empresa. Quanto ao meio
ambiente, com a identificação dos custos ambientais,
poder-se-ia propor melhorias nos processos que resultem
na diminuição do dano causado ao meio ambiente,
beneficiando o meio ambiente (Campos, 1996). Para Moura
(2000, p. 49-50 in Robles Jr, 2003, p. 139), “os custos
da qualidade ambiental podem ser considerados de dois
tipos: custos de controle e custos resultantes da falta
de controle sobre os processos industriais e
gerenciais”. A Figura 1 demonstra a identificação dos
custos ambientais de acordo com a classificação do
autor.
Figura 1- Identificação dos custos ambientais
Fonte: Robles Júnior (2003, p. 140).
Os custos ambientais, dessa forma, estão associados com
a criação, detecção, correção e prevenção da degradação
ambiental. Os custos de controle podem ser classificados
em custos de prevenção e custos de avaliação ou de
detecção; e os custos da falta de controle,
classificados em custos de falhas internas e de falhas
externas.
Graedel e Allenby (1996, p. 318) conceituam os custos de
prevenção ambiental como “o uso de materiais, processos,
ou práticas que reduzam ou eliminem a quantidade ou
toxidade de resíduos na fonte de geração através de
atividades que promovam, encorajam ou exijam Custos de
controle
Custos da falta de controle
Custos de prevenção
Custos de avaliação
Custos de falhas internas
Custos de falhas externas
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Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação
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2008 modificações nos padrões comportamentais básicos da
empresa”. Esses autores consideram a prevenção como algo
muito mais viável para a indústria do que o controle e a
correção.
Com relação à viabilidade da ênfase nos custos
ambientais de prevenção em detrimento dos custos
ambientais da falta de controle, Hansen e Mowen (2001,
p. 564-565) defendem que “uma abordagem pró-ativa é mais
promissora em termos de prevenção de danos ambientais e,
simultaneamente, em redução de custos”. Complementam
mencionando que “reguladores e empresas estão começando
a perceber que pode ser menos oneroso prevenir a
poluição do que remediá-la”.
São exemplos de atividades de prevenção ambiental,
segundo Hansen e Mowen (2001): avaliação e seleção de
fornecedores, avaliação e seleção de equipamentos de
controle da poluição, projeção de processos e produtos
para reduzir ou eliminar os contaminadores, treinamento
de empregados, estudo dos impactos ambientais, auditoria
dos riscos ambientais, execução de pesquisas ambientais,
desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental,
reciclagem de produtos e obtenção do certificado ISO
14001.
No que tange aos custos de avaliação ou detecção
ambiental, Robles Jr. (2003, p. 140) afirma que “são
custos despendidos para manter os níveis de qualidade
ambiental da empresa, por meio de trabalhos de
laboratórios e avaliações formais do sistema de gestão
ambiental ou sistema gerencial, que se ocupem de
garantir um bom desempenho ambiental da empresa”. Estes
custos são incorridos ao verificar se os processos e
produtos da empresa estão cumprindo as normas ambientais
apropriadas. Hansen e Mowen (2001) exemplificam as
seguintes atividades como de avaliação e detecção
ambiental: auditorias ambientais, inspeção de produtos e
processos (para averiguar a
conformidade ambiental), o desenvolvimento de medidas de
desempenho ambiental, a execução de testes de
contaminação, a verificação do desempenho ambiental de
fornecedores e a medição de níveis de contaminação.
Com relação aos custos da falta de controle, estes podem
ser de falhas ambientais internas (custos incorridos
pelo não-atendimento de normas, padrões, procedimentos
operacionais explícitos de gestão ambiental e correções
de não-conformidades) e de falhas ambientais externas
(custos da qualidade ambiental insatisfatória e
não-conformidades fora dos limites da empresa,
resultantes de uma gestão ambiental inadequada) (Robles
Jr., 2003).
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associadas aos custos ambientais em indústria de Santa
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2008
São exemplos de atividades de falhas internas, segundo
Hansen e Mowen (2001): operação de equipamento para
minimizar ou eliminar poluição, tratamento e descarte de
materiais tóxicos, manutenção de equipamento para
poluição, licenciamento de instalações para a produção
de contaminantes, retrabalhos em processos causados por
não-conformidade ambiental e reciclagem de sucata.
De acordo com Hansen e Mowen (2001), os custos de falhas
ambientais externas podem ser classificados em: custos
realizados de falhas externas (custos incorridos e pagos
pela empresa) e custos não-realizados de falhas externas
(custos sociais causados pela empresa, mas incorridos e
pagos por parte fora da empresa). São exemplos de
atividades realizadas de falhas externas, segundo Hansen
e Mowen (2001): limpeza de um rio ou lago poluído,
limpeza de solo contaminado, uso ineficiente de
materiais e energia, indenização por acidentes pessoais
provenientes de más práticas ambientais, restauração da
terra ao estado natural e perda de vendas causada por
uma má reputação ambiental.
Os exemplos de custos sociais, segundo os autores,
incluem: receber cuidados médicos por causa do ar
poluído, perder empregos por causa de contaminação,
perder um rio ou lago de uso recreativo por causa da
contaminação e danificar ecossistemas devido ao descarte
de resíduos sólidos. Diante do exposto, observa-se que a
utilização pelas empresas de medidas eficazes para a
qualidade ambiental, identificando e buscando reduzir ou
eliminar os custos ambientais (de controle, correção e
falhas existentes) e priorizando os custos de prevenção
ambiental, minimiza a ocorrência das falhas relacionadas
ao processo produtivo e ao meio ambiente.
5 Método e
procedimentos da pesquisa o método empregado na presente
pesquisa é de natureza exploratória, a qual foi
realizada por meio de um estudo de caso, com abordagem
qualitativa dos dados. Para Cervo e Bervian (1996), a
pesquisa exploratória é responsável por observar,
registrar, analisar e correlacionar os fatos ou
fenômenos sem manipulá-los. O estudo de caso foi
realizado em uma indústria de papel e celulose
estabelecida no Estado de Santa Catarina, cuja
denominação social declina-se revelar por motivos de
sigilo das o processo de fabricação de papel reciclado e
as ações associadas aos custos ambientais em indústria
de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon,
Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos
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jan/abr 2008 estratégias da organização. O estudo de
caso permite uma investigação para se preservar as
características holísticas e significativas dos eventos
da vida real (Yin, 2003).
Quanto aos procedimentos de coleta de dados, realizada
em abril de 2006, optou-se por adotar, inicialmente,
entrevista semi-estruturada com o gerente de produção da
empresa e duas pessoas encarregadas dos aspectos
relacionados ao meio ambiente na empresa. Segundo
Triviños (1987), a entrevista semi-estruturada é a que
parte de certos questionamentos básicos, apoiados no
referencial teórico e hipóteses, que provocam novos
questionamentos no transcorrer da entrevista e
influenciam a elaboração do conteúdo da pesquisa.
Para melhor compreensão do processo de produção da
indústria utilizou-se também a técnica de observação.
Sobre o método observacional, Fachin (2001) adverte que
o observador deve reunir certas condições, entre as
quais: dispor dos órgãos sensoriais em perfeito estado,
de um bom preparo intelectual, aliado à sagacidade,
curiosidade, persistência, perseverança, paciência e um
grau elevado de humildade. Quanto aos procedimentos
sistemáticos para a descrição e explicação dos
fenômenos, o estudo desenvolveu-se num ambiente que
preconizou a abordagem qualitativa. O método
qualitativo, conforme Richardson (1999), se caracteriza
pelo não emprego de instrumental estatístico como base
no processo de análise de um problema. Para os dados
coletados nas entrevistas foi adotada a análise de
conteúdo ou content analysis (Bardin, 2006).
Embora tenha sido adotado o rigor científico necessário
em pesquisa dessa natureza, ressalta-se o fato do estudo
se circunscrever a um único objeto ou fenômeno. Esta
estratégia de pesquisa se constitui em uma limitação,
uma vez que seus resultados não podem ser generalizáveis
a outros objetos ou fenômenos, dado as particularidades
do sujeito da pesquisa. 6 Descrição do processo de
fabricação do papel reciclado e ações associadas aos
custos ambientais da empresa pesquisada para a
compreensão da fabricação do papel reciclado realizou-se
um estudo das operações em indústria de papel e
celulose. Intenta-se mostrar os passos da fabricação.
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações
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Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza
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2008 do papel reciclado, desde a desagregação do papel
velho e transformação da massa até a transformação da
folha de papel, com a passagem nos secadores da máquina
de papel. Focaliza-se, também, o tratamento dado pela
empresa aos resíduos.
Por fim, apresentam-se as ações
associadas aos custos ambientais executadas pela
empresa. 6.1 Apresentação da empresa A indústria de
papel e celulose objeto de estudo teve sua constituição
na década de 1960, motivada pela preocupação com os
elevados volumes de resíduos da atividade madeireira. Em
1977 iniciou os planos para a produção de papelão
ondulado para embalagens e em 1978 deu início ao
processo de fabricação do papelão ondulado reciclado na
empresa.
Depreende-se o que já foi destacado na fundamentação
teórica do estudo, de que a preocupação com a reciclagem
de papel tem seu fundamento em questões de natureza
essencialmente econômicas nas empresas, embora haja
destaque crescente, atualmente, para a contribuição da
preservação e conservação do meio ambiente (BRACELPA,
1998).
A empresa em foco tem como objeto social a transformação
de resíduos da indústria da madeira e papel reciclado em
papel ondulado (para embalagem de transporte). Sua
produção abastece o grupo empresarial ao qual pertence e
o restante da produção é consumido no mercado interno.
Possui 160 empregados, apenas na fabricação do papel
reciclado, pois o grupo empresarial, em todas as suas
outras atividades relacionadas à indústria madeireira,
gera em torno de 1.700 empregos e fatura anualmente um
milhão de reais.
Para a compreensão do processo de fabricação do papel
reciclado são apresentados três fluxos de operações. No
primeiro fluxo são demonstradas as operações de
fabricação desde a desagregação do papel velho até a
transformação da massa. No segundo fluxo demonstra-se a
transformação dos resíduos da indústria da madeira e
papel reciclado em massa e hidratação das fibras. No
terceiro fluxo mostra-se a transformação do papel
ondulado reciclado.
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações
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Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni,
Ilse Maria Beuren
ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°
1:45-67 - jan/abr 2008
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Figura 3 - Transformação da massa e hidratação das
fibras
Fonte: dados da pesquisa.
Nesta fase, a depuração da massa segue para os
engrossadores onde é extraída a água, e aconsistência da suspensão fibrosa fica em torno de 5%
para posterior estocagem nas torres
de massa. A massa é extraída das torres de massa e sofre
adição de água para baixar a
consistência, seguindo para os tanques, onde é extraída
por meio de bombas para os
equipamentos de refinação. Nos refinadores, a fibra
sofre atrito de discos rotativos com
lâminas de aço onde é hidratada. Na Figura 4
apresenta-se a etapa final do processo de
fabricação do papel ondulado reciclado.
Figura 4 - Transformação do papel ondulado reciclado
Na última fase do processo de fabricação do papel
ondulado reciclado, após a refinação, a
suspensão fibrosa segue para os tanques de estocagem da
máquina de papel. A máquina de
papel é composta das seguintes partes:
Água
Engrossadores
Tanques
Refinadores
Torre de
massas
Refinadores
Tanques de
massas de
papel
Máquina
do
Papel
Caixa de
Entrada
Mesa
Plana
Prensas
Secadores
Enroladeira
Rebobinamento
Expedição
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações
associadas aos custos ambientais em indústria
de Santa Catarina.
O custo ambiental na fabricação do papél consome
enorme quantidade de energia e
água, além da devastação das florestas, o papél precisa
se subsitituido ou abolido com urgencia, prefeituras,
justiça e Cartórios gastam quantidades sem precedentes
de papél.
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