Com receita total de R$ 63,2 bilhões, volume
de exportação de US-$ 4,7 bilhões, força de trabalho de 121.000 em 2003 e
crescimento esperado de 13% nos rendimentos para o ano de 2004, a
concepção, produção e venda de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (EEE)
no Brasil transformou-se em uma das mais importante indústrias
exportadoras. Ao mesmo tempo, as práticas correntes de administração e o
crescente padrão de vida no Brasil e em outros países industrializados,
causaram um aumento proeminente do consumo de recursos.
Como resultado, os
limites ecológicos podem ser excedidos e os recursos explorados de forma
não sustentável. Um melhor padrão de vida não pode ser alcançado através
de um aumento proporcional no consumo dos recursos naturais, dado os
limites ecológicos. O consumo de energia e recursos tem que diminuir para
atingir e sustentar um padrão de vida satisfatório a todos. Elevar a
produtividade destes recursos em suas respectivas aplicações, permitiria
um melhor padrão de vida global com subseqüente queda no consumo de
recursos naturais.
O impacto ecológico dos EEE, quando não
tratados apropriadamente após a sua fase de uso, e a perda econômica,
proveniente da não valorização da economia de ciclo (cycle economy),
são imensos. Somente na Europa, 8 milhões de toneladas de EEE são
descartados todo ano. Como exemplo, o número mundial de telefones
celulares obsoletos já é estimado como sendo superior a 500 milhões e
continua a aumentar rapidamente. Telefones celulares descartados em
aterros sanitários ou incinerados criam a possibilidade de liberar
substâncias tóxicas (metais pesados) que antes estavam nas baterias,
circuitos impressos, displays de cristal líquido, carcaças de plástico ou
fiação.
Economia de ciclo nas áreas de materiais de
embalagem, veículos ultrapassados e EEE – para mencionar somente os mais
recentes – já se tornou parte integral da sociedade e da legislação de
determinados países, como Austrália, União Européia (UE), Estados Unidos
(EUA) ou em países asiáticos, que têm a Coréia do Sul e o Japão como
exemplos. A sua propagação continua a criar novas oportunidades de negócio
em reciclagem, reuso e remanufatura, empregando novos profissionais
qualificados e beneficiando os processos produtivos com matérias-primas
mais baratas.
A reciclagem térmica ou material dos EEE reduz a necessidade
global pela extração de materiais virgens, como ferro, alumínio,
combustíveis ou metais preciosos (exemplo, ouro ou prata), assim como a
busca por ingredientes tóxicos, cádmio, mercúrio, chumbo ou bismuto,
indispensáveis para a produção da maioria dos elementos elétricos em
circuitos impressos. Além da reciclagem, o reuso e a remanufatura de
produtos ou componentes podem ser uma opção ecológica e econômica ainda
melhor para a economia de ciclo, desde que a oferta e demanda estejam em
equilíbrio. EEE, como computadores de marca, telefones celulares,
cartuchos de toner ou câmeras fotográficas descartáveis, já estão sendo
remanufaturados com sucesso.
Atualmente, não existem sistemas adequados
para a coleta ou tratamento de EEE no Brasil. Estados membros da UE
(Holanda e Suécia, entre outros), por sua vez, implementaram sistemas
obrigatórios para a coleta de resíduos, que incluem o grupo dos EEE. A
Alemanha consolidou as bases para o desenvolvimento sustentável de uma
economia de ciclo em 1996, com a validação do ato: “Act for Promoting
Closed Substance Cycle Waste Management and Ensuring Environmentally
Compatible Waste Disposal”. A grande força padronizadora da UE
relativa ao tratamento de EEE foi a diretiva “Waste of Electric and
Electronic Equipment” (WEEE), publicada em 2003 e que deve ser
implementada como lei nacional em 2004 para a maioria dos estados membros.
Na Alemanha, para o fim de 2005, os produtores originais de equipamentos
(OEM), importadores e distribuidores vão ser solicitados a retirar os EEE
obsoletos para em seguida, processa-los profissionalmente, isto é, reuso,
reciclagem ou descarte, em conformidade com a WEEE. No Brasil, uma breve
declaração de como EEE (lixo tecnológico) devem ser tratados no futuro foi
publicada em 1998, sem especificar em detalhes ou fazer sugestões da
maneira como procederá.
Tratamento de lixo tecnológico hoje
– no Brasil e na União Européia
A seguir, é tratado da situação atual das
legislações mais relevantes na Alemanha, para os estados membros da UE e
no Brasil. É apresentado o meio pelo qual a coleta e reciclagem de EEE é
atualmente conduzida na Alemanha e no Brasil. Além disso, também é
fornecida uma breve visão à cerca dos casos de reuso e remanufatura na
perspectiva global.
Legislação na Europa/Alemanha
Na Alemanha, por volta de 2 milhões de
toneladas de sucata elétrica e eletrônica são acumuladas por ano. Devido
ao progresso técnico, dispositivos tornam-se obsoletos a uma taxa
crescente, vindo, portanto, a também aumentar os problemas de disposição
final.
Nos anos recentes, a administração de
resíduos na Alemanha passou de um modo throw-away e de
gerenciamento por descartes para um novo modelo de ciclo integrado de
produto (integrated substance cycle), no qual a prevenção de
resíduos e a recuperação dos mesmos são as principais prioridades. O “Closed
Substance Cycle and Waste Management Act” (KrW-/AbfG) que entrou em
vigor em 1996, estabeleceu a nova abordagem da responsabilidade de produto
(product responsability), na qual os fabricantes e comerciantes têm
a obrigação de atender as metas acordadas na política de gerenciamento de
resíduos.O ato atribui como meta principal atenuar a geração de resíduos.
Se os resíduos não podem ser evitados, devem então, ser transportados até
as instalações de tratamento para reciclagem ou geração de energia. Apenas
aqueles tipos de resíduos que não podem ser recuperados têm permissão para
ser descartados definitivamente de uma maneira não agressiva ao
meio-ambiente.
Baseada na KrW-/AbfG, uma diretiva nacional
para EEE (“Elektro-Altgeräte-Richtline”, EAG) foi lavrada e aceita
pelos grupos de trabalho dos estados federais (LAGA), em Novembro de 2000.
A diretiva EAG é a primeira a oferecer um padrão técnico profissional
amplo e benigno ao meio-ambiente para o tratamento de EEE na Alemanha.
Compreende ainda, outras regulações que abordam o tratamento de resíduos
líquidos e sólidos, como a Regulação das Baterias (BattV)e padrões
voluntários de organizações como a VDMA (Federação dos Engenheiros da
Alemanha) e a ZVEI (Associação dos fabricantes de produtos elétricos e
eletrônicos da Alemanha). A diretiva EAG classifica a ameaça ambiental de
cada um dos diferentes grupos de EEE, componentes e materiais. Apresentam
os tratamentos disponíveis e as opções de disposição final. A diretiva
cobre todos os processos relevantes, incluindo a coleta, identificação,
tratamento, reciclagem e disposição final de EEE.
Desde Março de 2001, novas regulações têm
sido colocadas em prática para determinar as espécies de tratamento e de
disposição final dos resíduos municipais, como é o caso da lei “Ordinance
on Environmentally Sound Disposal of Municipal Wastes”, a qual põe um
fim, a partir de Junho de 2005, na ação de depositar resíduos não tratados
ou insuficientemente tratados nos aterros.
Na UE, após dois anos de intensas discussões
rumo a um procedimento único, os estados membros e o Parlamento Europeu
acordaram em 11 de outubro de 2002 por uma diretiva para EEE, “Waste
Electrical and Electronic Equipment” (2002/96/EC) e por outra para
substâncias perigosas, “Restriction of the Use of Certain Hazardous
Substances in Electrical and Electronic Equipment” (2002/95/EC). As
diretivas entraram em vigor em 13 de fevereiro de 2003, quando foram
publicadas no jornal oficial. Sua transposição para a lei alemã – “The
Ordinance on Waste Electrical and Electronic Equipment” (ElektroV) –
têm que ser feita no prazo de 18 meses.
A responsabilidade dos fabricantes de EEE
pelo produto, que é exigida nas leis acordadas, é de importância central.
Em conformidade com esse princípio, os estados membros têm de assegurar
que os fabricantes montaram, dentro dos prazos estabelecidos, sistemas de
tratamento e recuperação dos equipamentos descartados e que atenderam os
índices exigidos de recuperação (quotas), assumindo responsabilidade pelo
financiamento da coleta, pelo menos a partir dos postos de retorno, bem
como pelas outras operações de tratamento, recuperação e disposição final.
O financiamento da disposição final dos equipamentos tem que ser pago
pelos fabricantes antes que lancem novos produtos no mercado. A partir de
julho de 2006, a diretiva “Restriction of the Use of Certain Hazardous
Substances in Electrical and Electronic Equipment” bane certos metais
pesados e outras substâncias específicas (bromated flame retardants)
nos novos equipamentos elétricos e eletrônicos.
As normas das duas diretivas EC situam o
princípio da responsabilidade de produto como foi delineado no “German
Act for Promoting Closed Substance Cycle Waste Management” (1996),
vindo a assegurar a compatibilidade ambiental do descarte de resíduos em
termos mais concretos. De acordo com uma proposta do Ministro Federal do
Meio-Ambiente, uma nova regulação na WEEE vai zelar para que os
consumidores venham a se desfazer de seus equipamentos sem qualquer custo
associado, a partir de agosto de 2005. A responsabilidade do fabricante
vai começar com a coleta do equipamento descartado nos pontos de retorno.
Estarão incumbidos de apanhar todos os equipamentos obsoletos ou sem
utilidade que foram entregues, incluindo aqueles que foram vendidos antes
das normas entrarem em vigor ou que não mais podem ser associados ao
produtor responsável. A restrição do uso de certas substâncias perigosas
também virá a ser parte da nova regulação.
O objetivo é garantir uma competição justa
entre os fabricantes e em complemento, no setor de descarte. Todos
fabricantes, por exemplo, serão solicitados para que se registrem em
agência independente a fim de se instalarem na indústria e para que
forneçam provas a esta, de que cumprem as suas obrigações de cuidar dos
descartes e de coordenar e organizar a coleta apropriadamente.
Legislação no Brasil
A Constituição Federal Brasileira,
promulgada em 1988, trata de forma abrangente e moderna os assuntos
relacionados à preservação do meio-ambiente e ao desenvolvimento
sustentável da economia, reservando a união, aos estados, ao distrito
federal e aos municípios, a tarefa de proteger o meio ambiente e de
controlar a poluição (artigo 23).
Mesmo a legislação ambiental brasileira
sendo uma das mais vigorosas e atualizadas do mundo, um dispositivo para o
controle apropriado dos descartes de resíduos sólidos ainda não existe.
Por esse motivo, uma política nacional de resíduos sólidos vem sendo
formulada para tornar possível um programa responsável de
reaproveitamento, reciclagem e descarte de produtos ao final de seu ciclo
de vida. Os resíduos provenientes de produtos eletroeletrônicos fazem
parte desta realidade e são mencionados detalhadamente na subseção IX do
projeto de política nacional.
Em alguns casos, por resoluções do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), a destinação final de certos resíduos
já foi determinada. A resolução do CONAMA no. 257 que trata das baterias e
pilhas esgotadas, determinou aos produtores, a responsabilidade pelo
gerenciamento da coleta, classificação e transporte dos produtos
descartados, assim como o tratamento prévio dos mesmos.
Com a definição de maior responsabilidade
aos produtores e distribuidores sobre os produtos, um gerenciamento mais
efetivo e eficiente do tratamento de resíduos sólidos ao final de seu
ciclo de vida é projetado para o futuro, conseguindo promover as ações que
dão precedência às soluções de recuperação da energia ou do material sobre
as formas arbitrárias de disposição final. Nesse cenário, diversos
projetos de lei tramitam pelo Congresso e Senado Federal, cumprindo a
missão de atualizar a legislação brasileira segundo os moldes de uma
indústria ecologicamente sustentável. Segundo o relator da Política
Nacional de Resíduos Sólidos, deputado Emerson Kapaz, as novas regras
devem ser aprovadas até o final de junho na Comissão Especial da Câmara e
a partir disso, em regime de urgência, no plenário da casa até o final do
ano.
Os estados da República Federativa do Brasil
têm a total liberdade de deliberar por outras leis, mais restritivas, que
preencham as suas demandas regionais. Por esse motivo, alguns estados já
votaram leis mais rigorosas voltadas ao gerenciamento de resíduos sólidos
e outros estão em vias de validar novos projetos de lei.No estado de São
Paulo, um Plano Diretor de Resíduos Sólidos foi estabelecido pela lei nº
11.387 de 2003, para propor apropriadamente novas resoluções a respeito do
gerenciamento de resíduos.
Uma legislação mais rigorosa foi previamente
adotada pelo estado do Paraná. A lei nº 12493 de 1999 definiu princípios e
regras rígidas aplicadas à geração, acondicionamento, armazenamento,
coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos.
Foi determinado como prioridade, reduzir a geração de resíduos sólidos
através da adoção de processos mais atualizados tecnologicamente e
economicamente viáveis, dando-se prioridade à reutilização ou reciclagem
de resíduos sólidos a despeito de outras formas de tratamento e disposição
final. O estado do Paraná tornou os produtores responsáveis pelo
armazenamento, coleta, transporte, tratamento e disposição final dos
produtos descartados.
Coleta e Reciclagem na
Europa/Alemanha
Uma avaliação extensa do que é considerado
EEE está projetado no anexo I da WEEE, entre eles, grandes e pequenos
utensílios domésticos, IT e equipamentos de telecomunicações, ferramentas
elétricas e eletrônicas e aparelhos médicos. Na Europa, por volta de 8
milhões de toneladas de EEE são descartados todo ano, na Alemanha, as
estimativas apontam para uma faixa de 1 a 2 milhões de toneladas por ano.
Hoje, cerca de 100 recicladoras certificadas de EEE, com capacidade entre
1.000 a 20.000 toneladas por ano, estão operando na Alemanha. Grandes
empresas, como REETHMANN Electrorecycling GmbH ou Electrocycling Goslar
GmbH, que não são maioria, processam mais de 50.000 toneladas por ano. No
total, existem perto de 300 companhias de reciclagem na Alemanha, que
incluem as pequenas companhias e as instituições especiais para pessoas
com alguma deficiência física ou mental.
Qualquer sistema de coleta apresenta
diversos estágios, como retorno, separação dos componentes, reuso ou
reciclagem e disposição final. A coleta (take-back) de EEE na
Alemanha – a partir de residências – é considerado como um sistema de
responsabilidade compartilhada. Um sistema que delega total
responsabilidade aos produtores, assume que os custos de todas as
atividades da rede coleta devam ser pagos pelas respectivas indústrias. Já
em um sistema de responsabilidade compartilhada, algumas atividades
(exemplo, disposição final e coleta) são pagas pelo público e outras serão
pagas pela indústria. Na Alemanha, perto de 5.000 municipalidades (pontos
de retorno) são responsáveis pela coleta e classificação dos EEE de origem
doméstica. Com a implementação da WEEE, outros sistemas de coleta,
incluindo alguns dos 30.000 varejistas ou 1.000 dos centros de serviços
dos OEM, podem entrar em funcionamento.
Na Alemanha, o Electrical Appliance
Register(EAR) foi criado em 2003. Com a WEEE sendo implementada na lei
alemã em agosto de 2004, e os sistemas de coleta estando estruturados até
agosto de 2005, a EAR poderá organizar a inscrição de todos os OEMs,
importadores e revendedores diretos de EEE na Alemanha. Caberá a EAR,
registrar as quantidades de produtos em final de uso que são descartados,
coordenar o transporte dos produtos desde os locais de retorno até os
recicladores, fornecer informações relacionadas aos preceitos da
reciclagem aos OEMs, importadores e revendedores diretos, e por fim,
monitorar os agentes que atuam neste mercado. O EAR permanece sob
supervisão federal (Bundesaufsicht) e é financiada pela indústria alemã.
Com suas operações tendo início em agosto de 2004, desempenhará a função
de recolher contribuições dos OEMs, importadores e revendedores diretos no
momento da venda de seus produtos, para compensar os custos da reciclagem.
A EAR também ficará a cargo de nomear os pontos de retorno aos
recicladores, a fim de evitar o desenvolvimento de locais preferenciais,
que então, negligenciariam as menores municipalidades. A logística reversa
dos produtos descartados, sua classificação e ordenação, assim como sua
reciclagem (potencial reuso ou remanufatura), não estão circunscritas sob
a responsabilidade da EAR, mas sim, nas mãos de acordos bi ou
multilaterais entre OEMs, importadores e revendedores diretos, suas
associações, bem como prestadores de serviços em logística ou
recicladores.
Hoje, a reciclagem de EEE na Alemanha é
exercida em concordância com a diretiva nacional (EAG). Após a coleta dos
EEE, formas específicas de transporte e armazenagem em separado são
adotadas. No geral, componentes contendo mercúrio, módulos LCD,
termostatos, asbestos, capacitores ou cabos são separados dos EEE antes de
qualquer tratamento seguinte.Refrigeradores e freezers têm seus fluidos de
isolação e de refrigeração separados. Monitores e televisores têm seus
tubos de raios catódicos (CRT), gabinetes e seus componentes eletrônicos
segregados. Os CRTs, por sua vez, são separados conforme os diferentes
tipos de vidro e metais. Partes de vidro que têm superfícies com
revestimentos fluorescentes tóxicos são limpos.Circuitos impressos perdem
seus elementos tóxicos, predominantemente componentes contendo mercúrio,
como interruptores ou lâmpadas especiais, baterias e capacitores.
Desmontagem automatizada de
celulares (ReMobile Ltd., Berlim, Alemanha)
|
|
Coleta e Reciclagem no Brasil
O gerenciamento dos resíduos sólidos de
origem domiciliar, que inclui o grupo dos EEE, apresenta tratamento
diferenciado em diferentes partes do país. Enquanto alguns municípios têm
por prática intervir e monitorar amplamente o descarte dos produtos,
outros ainda não dispõem de uma abordagem adequada para o tratamento EoL.
A cidade de Campinas, no estado de São Paulo
é um dos municípios que vêm investindo em coleta seletiva domiciliar. No
Brasil, existe coleta seletiva em cerca de 135 cidades. A coleta seletiva
de resíduos sólidos está estimulando o crescimento das pequenas e médias
empresas do setor de reciclagem.
A coleta seletiva em Campinas apresenta três
formas de atuação: domiciliar; comunidades organizadas; e em locais de
entrega voluntária. O trabalho é realizado 24 horas por dia, fornecendo
uma ampla estrutura de coleta, transporte, triagem e acomodação dos
resíduos.As comunidades organizadas compreendem prédios de repartições
públicas, escolas, entre outras associações.Para o caso dos locais de
entrega voluntária, existem atualmente 14 containeres compartimentados em
pontos estratégicos do município. Depois de montada esta estrutura, a
necessidade por aterramento sanitário foi reduzida drasticamente. Para as
outras situações em que o poder público não atua na coleta e classificação
dos resíduos sólidos, programas de coleta seletiva são efetuados por
cooperativas.
Além dos casos de coleta seletiva, existem
outros exemplos de sistemas de coleta sendo aplicados no Brasil. Por
exemplo, um sistema para o recolhimento de baterias de celulares está
funcionando em todo o país sobre a supervisão dos fabricantes.As baterias
podem ser entregues em postos autorizados, normalmente representantes das
próprias empresas produtoras.
Atualmente no Brasil, a reciclagem de EEE é
feita por poucas empresas especializadas, fazem uso da mão-de-obra
abundante e barata para executar tarefas simples e pouco planejadas. A
grande maioria dos produtos eletroeletrônicos ainda não recebe espécie
alguma de tratamento e são depositados em aterros sanitários ou lixões. Em
alguns casos raros, produtores de EEE adotaram programas próprios de
tratamento de produtos para o reuso e reaproveitamento de materiais e
componentes, como foi o caso do grupo Itautec Philco que processa
computadores obsoletos. Em sua planta de Tatuapé, a companhia executa as
atividades de classificação, desmontagem e reciclagem de produtos, com uma
capacidade inicial de 850 toneladas por ano. O projeto piloto da Itautec é
um indicador de que alguns grandes produtores de EEE compreenderam a
importância de atuar em planos próprios de recuperação dos resíduos.
Remanufatura
A tradição em remanufatura, que era ajustada
aos investimentos de longa duração, como no caso das máquinas operatrizes,
aviões, equipamentos militares e motores de automóveis, também foi
estendida para um grande número de bens de consumo com tempo de vida
inferior e valores relativamente baixos. Telefones sem fio, rádios FM e
computadores pessoais seriam exemplos destes novos produtos que são
reprocessados. É possível afirmar que a remanufatura constitui uma
alternativa a reciclagem convencional na missão de atender as taxas de
recuperação de produto e os tratamentos especiais, especificados na
legislação européia, pela diretiva Waste of Electrical and Electronic
Equipment (WEEE).Quando conduzida pelos produtores originais de
equipamentos (OEMs), a remanufatura é rotineiramente e altamente integrada
ao desenvolvimento de produto, marketing, distribuição, processos de
logística reversa e produção. Os casos de remanufatura usualmente citados
na indústria de EEE têm como base os fabricantes de fotocopiadoras,
cartuchos de toner e câmeras. Outros produtos, como máquina de lavar,
telefones móveis ou baterias recarregáveis, que são processados por
terceiros, ainda demonstram uma falta de designsfavoráveis a
remanufatura. Empresas de remanufatura têm que lidar com uma grande
variedade de produtos, que acabam por implicar em um número ainda maior de
tratamentos opcionais.
Alguns casos de remanufatura são amplamente
conhecidos: remanufatura de câmeras descartáveis (Eastman Kodak and Fuji
Film), cartuchos de toner (Xerox), fotocopiadoras (Fuji Xerox, Austrália,
Holanda e Reino Unido), equipamentos de limpeza comercial (Electrolux) e
computadores de marca reconhecida (IBM, EUA; HP, Austrália). As empresas
de remanufatura passaram a ser elas mesmas, OEMs, que integraram novos
modelos de distribuição, como o leasing ou pay-per-use, as suas
estratégias convencionais. Nesse meio tempo, fizeram do designpara
remanufatura, um importante elemento do processo de desenvolvimento de
produto, envolvendo inclusive, seus fornecedores, em parcerias especiais.
Em certos casos, as instalações de remanufatura já foram integradas a
manufatura, como acontece na Fuji Xerox. No Brasil, a remanufatura de
cartuchos de toner progrediu para um ramo de negócio lucrativo, com um
grande número de companhias oferecendo serviços que incluem coleta,
limpeza, recarga, e leasing de unidades remanufaturadas.
Outras práticas de remanufatura, que
abrangem máquinas de lavar (ENVIE, França), computadores pessoais (ReUse
network, Alemanha), baterias recarregáveis (Teldeon, Alemanha), telefones
móveis (ReMobile, Alemanha; ReCellular, EUA; Greener Solutions, Reino
Unido), telefones sem fio, stereos para carro e rádios FM (Topp Companies,
USA), são menos populares, devido ao fato de os OEMs não estarem
envolvidos.Estes produtos não são vendidos através de canais regulares de
venda, que representam os OEMs.O design para remanufatura,
desmontagem ou reciclagem não está atualizado e os OEMs, ainda, não
consideram este segmento de mercado como sendo lucrativo.
Desafio
“Estudar e desenvolver um guia de como o
Brasil deve se adaptar a necessidade de uma economia de ciclo para os
equipamentos elétricos e eletrônicos (EEE)”
Com a legislação e sistemas direcionados ao
tratamento End-of-Life(EoL) para EEE sendo implementados nos
estados membros da EU – por exemplo, na Alemanha, nos próximos dois anos –
os trabalhos devem proporcionar os pré-requisitos de um tratamento EoL
adequado no Brasil, ajudar a conceber possíveis cenários para a indústria
de EEE antes de 2010, e analisar os potenciais da reciclagem, reuso e
remanufatura de diferentes classes de produtos para o desenvolvimento
econômico e social.
Os benefícios sociais da habilitação de
novas fases de uso para os EEE podem ser considerados como um forte
incentivo ao reuso e a remanufatura de produtos e componentes no Brasil.
Devido a distribuição de renda desigual, algumas regiões ou classes
sociais já estão, ou estarão em breve, gerando EEE obsoletos, que podem
abastecer outras regiões, menos favorecidas, que têm demanda crescente por
EEE de elevada qualidade.No caso dos EEE de telecomunicação, em
específico, os telefones celulares, o acesso a telefonia móvel por meio de
aparelhos usados e, portanto, mais baratos, pode ter um efeito positivo no
desenvolvimento econômico e social das classes de menor renda. Com foco na
sociedade brasileira, é necessario de identificar as áreas onde a
reciclagem, reuso e remanufatura podem contribuir para a desmaterialização
(dematerialization) da indústria de EEE, enquanto oferece, ao mesmo
tempo, mais benefícios a sociedade.
A Associação Brasileira da Indústria
Elétrica e Eletrônica (ABINEE) tem grande interesseem habilitar seus
membros, não apenas para se ajustar a uma legislação nacional mais
vigorosa, mas também para confrontar legislações estrangeiras dentro de um
programa orientado a exportação, ou seja, a WEEE. As companhias
brasileiras de EEE que queiram destinar produtos ao mercado Europeu,
defrontarão um considerável esforço, além de custos, para coletar e
processar os produtos descartados, ou mesmo, contratar terceiros para
isso.
Um fator fundamental para o tratamento EoL
eficiente e eficaz é a formação e expansão de redes locais ou nacionais de
reciclagem ou remanufatura. Logística reversa, como uma área de pesquisa
relativamente nova, pode ter um significante impacto sobre a viabilidade
de operação destas redes, de acordo com um modelo econômico e ecológico
benigno. Devido à situação do Brasil, de grande heterogeneidade
demográfica e estrutura econômica desigual, diferentes formas de
organização e de tecnologia deverão ser consideradas, valendo-se de
experiências na Ásia, Austrália, Europa e Estados Unidos.
O autor e pesquisador no Departamento de
Tecnologia de Montagem e de Gerenciamento de Fábrica da Universidade
Técnica de Berlim do Prof. Dr.-Ing. Günther Seliger. Desde 1995, o
departamento esta administrando o Collaborative Research Center
(CRC) 281 que trata de “Disassembly Factories for the Recovery of
Resources in Product and Material Cycles”, sendo um centro de
referência na área de life-cycle engineering. www.sfb281.de. Desde
fevereiro 2004 o autor esta desenvolvendo um projeto tematico na area do
gerenciamento do ciclo de vida de equipamento eletrico e eletronico junto
com o Nucleo de Manufatura Avançada (NUMA) da USP em Sao Carlos, com o
Centro de Caracterizaçao e Desenvolvimento de Materiais (CCDM) na UFSCar e
com a Universidade Federal de Rio Grande do Norte.
Fonte: Dipl.-Ing. Carsten Franke, Research
Engineer
|