As famílias tradicionais mantinham casas
na cidade, mas residiam nas fazendas, onde realizavam suas atividades
Há uma ideia de que o mineiro é pacato e
mão-fechada, e isso poderia levar-nos a crer que o Arraial do Mineiro,
surgido na segunda metade do século XIX, e que mais tarde, em 1905,
tornou-se a Vila e também o Município de Mineiros, fosse formado por
pessoas sossegadas e avarentas.
Ora, a sociedade mineirense, com origem
na crise provocada pelo encerramento do ciclo do ouro e da Guerra do
Paraguai, era, nos últimos anos do Império e durante as quatro décadas da
República Velha ou República dos Coronéis, uma sociedade de sovinas,
muquiranas ou unhas-de-vaca?
Ver-se-á que essa ideia que se tem dos
mineiros não corresponde à realidade. Na verdade, não passa de um grande
preconceito. Isso porque tanto os mineiros do passado que povoaram o
Sudoeste de Goiás, juntamente com os paulistas e nordestinos, quanto os de
hoje, que, juntamente com os sulistas e de novo os nordestinos, ajudam a
povoar os mais ermos rincões da Amazônia, se diferenciam dos demais por um
ethos ou por uma maneira de ser que nada tem a ver com a limitação da
avareza.
Os mineiros quando deixaram para trás as
Minas Gerais tinham – e continuam tendo – um propósito muito bem
delimitado: o de acumular bens. E para atingir esse propósito eles
desenvolveram uma série de princípios que inclui, muitas vezes a
disposição para enfrentar as dificuldades e mesmo para passar por certas
privações. Pode-se dizer que a “ética da acumulação” é o que moldava o
comportamento dos mineiros que povoaram essas terras. Mas esses
desbravadores, diferentemente dos avarentos, não faziam da acumulação, o
fim último das suas ações. A acumulação de bens, conseguida a duras penas,
tinha como objetivo ter “muita fartura”.
Essa fartura, que os mineiros buscaram
ter em suas vidas para poder desfrutar, resultou na apropriação e no
registro de terras oferecidas pela Província de Goiás; na criação de gado
de modo extensivo; na bastante variada atividade agrícola, ainda que para
a subsistência, uma vez que não havia mercado consumidor próximo e muito
menos os meios de transporte para esses longínquos mercados.
Também, se pode ver na estrutura de cada
casa construída por esses empreendedores mineiros a ostentação de uma
grande cozinha com uma enorme mesa ao centro, na qual são servidas fartas
refeições, acompanhadas dos mais variados petiscos de sua despensa.
Os coronéis, sobretudo das famílias
Carrijo e Rezende, que mantinham o controle político da Vila de Mineiros,
não exerciam o poder de modo totalitário, como se pode imaginar. Mesmo o
Coronel Carrijo, na época da intendência, conforme relata um de seus
descendentes, o Sr. Christovam Alves Villela Carrijo, tinha a oposição de
outras famílias, sobretudo dos Martins, que o incomodavam muito.
Diz o Sr. Christovam que: “Quando vieram
de Minas Gerais o Coronel Joaquim Carrijo de Rezende e seus irmãos Caetano
Carrijo de Rezende, Elias Carrijo de Rezende e José Carrijo de Rezende,
com as suas respectivas famílias, aqui ainda era tomado de índios da tribo
Bororós. Ao chegarem, eles fizeram voto a Santo Antônio para que ele os
livrasse dos índios, e recomendou a todos os descendentes que preservassem
o dia de Santo Antônio. Assim, conseguiram conquistar os índios com
amizade”.
Sr. Christovam esclarece ainda que:
“Quando o Coronel Carrijo doou o terreno para patrimônio, foi com a
intenção de criar uma cidade ordeira e bastante religiosa, por isso não
admitia baderna. Alguns membros da família Martins, entretanto, gostavam
muito de festa e formavam grupos para farrear, beber e dar tiros na praça.
E como o Coronel Carrijo não aprovava e não aceitava esse tipo de coisa,
então por aí surgiram vários atritos que não deixavam de resultar em
algumas rixas”.
As famílias que deram origem a Mineiros
cultivavam certos valores dos quais os coronéis se colocavam como
guardiões. Era muito valioso para essas famílias manter um clima de
harmonia, a palavra empenhada, a lealdade, o respeito à autoridade e aos
mais velhos etc. Quando alguém era favorecido por outrem, o favor recebido
transformava-se numa dívida. E muitas vezes os coronéis mantinham o
consenso político não só pelo compadrio, mas também através da política
dos favores.
Quando a Vila de Mineiros foi elevada, em
31 de outubro de 1938, à categoria de Cidade, sob a ditadura do Estado
Novo (1937-1945), tínhamos aqui uma sociedade já bastante diversificada,
com pessoas que chegaram do Nordeste, sobretudo da Bahia, e de outras
regiões do Brasil.
Nos anos de 1938 até por volta de 1970 a
cidade de Mineiros, mesmo emancipada, não passava de uma extensão do
campo. A sua economia, desde a origem, girava em torno do gado de corte, o
único produto autotransportável até os mercados consumidores. As famílias
tradicionais mantinham casas na cidade, mas residiam nas fazendas, onde
mantinham suas atividades. Muitas vezes os filhos eram mandados para dar
continuidade aos estudos em Uberlândia, Uberaba ou Goiânia, quando não
Alto Araguaia, onde havia internatos masculino e feminino, mantidos por
congregações salesianas.
A partir de 1970, entretando, começou uma
reviravolta, com o asfaltamento da BR-364 e a implantação das torres de
micro-ondas, que proporcionaram o transporte de mercadoria e a inculcação
de novos valores através dos modernos meios de comunicação social.
Os monges beneditinos fizeram, através de
D. Eric J. Deitchman, as pesquisas que levaram os chapadões, até então
considerados imprestáveis para a agricultura, a se tornarem altamente
produtivos. E junto a isso os governos federal e estadual criaram projetos
agrícolas com financiamento da produção e, logo, Mineiros passou a
produzir novos tipos de pastagens, arroz, soja, milho, gado leiteiro etc.,
seguindo orientação dos bancos que faziam os financiamentos.
Mineiros entrava a partir daí no
modo-de-produção tipicamente capitalista, que substituiu o
modo-de-produção familiar em que os proprietários arrendavam as terras aos
camponeses, conhecidos como agregados, que pagavam a renda da terra com
uma porcentagem, geralmente 50%, do que produziam. No novo
modo-de-produção a mão-de-obra assalariada substituiu os camponeses que se
tornaram assalariados ou tiveram que amargar a dura existência de uma vida
na periferia da cidade ou de migrante em outros estados do Brasil.
O modo-de-produção capitalista, para ser
implantado, requer tanto a desestruturação do modo de produação existente
até então quanto a mudança de comportamento e mentalidade dos habitantes
do lugar. Para que seja ser implantado, é preciso antes de tudo, de meios
de transporte para levar as mercadorias aos mercados consumidores. Mas,
esses meios de transportes que levam, são os mesmos que trazem
mercadorias. Mas como trazer mercadorias para uma sociedade que, como se
dizia, “só não produz querosene, sal, chumbo e pólvora”?
Daí que se fazia necessário incutir nos
novos produtores rurais, como passaram ser chamados esses novos
capitalistas do campo, a necessidade de se dedicarem à produção de um só
tipo de coisa. Isso não só proporcionaria maior produtividade, mas também
maior lucratividade. E logo, sem perceber, estariam subjugados tanto na
fonte, tendo que comprar as sementes geneticamente modificadas e os
produtos químicos e maquinários necessários para a produção a partir
dessas sementes, quanto no final da produção, quando transformariam seus
produtos em mercadoria cujos preços seriam estabelecidos pelas grandes
empresas compradoras.
Os novos produtores de grãos se viram
sujeitos às leis da oferta e da procura, tendo os preços altos na
entressafra e baixos na safra. E ainda tinham que comprar no mercado
tudo que deixaram de produzir.
Para minorar as dificuldades de conviver
com o novo regime, eles criaram, com a ajuda do já citado monge, D. Eric
J. Deitchman, uma cooperativa agropecuária que se tornaria a mãe de todas
as outras cooperativas de Goiás. E os trabalhadores rurais, preocupados
com as novas relações de produção, criaram, também com ajuda de D. Eric, o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais, como fim de organizar e conscientizar
a clase trabalhadora para fazer prevalecer os direitos trabalhistas.
Nos tempos atuais, os valores cultivados
pelas famílias tradicionais como Carrijo, Rezende, Morais, Vilela,
Cruvinel, Carvalho, Costa Lima, Souza, Brandão etc. cederam lugar ao
individualismo e à formalidade da sociedade moderna. Mas quem poderia
dizer que a cordialidade existente entre famílias do passado, que se
uniam, sobretudo, para manifestar suas crenças nas festas religiosas, para
fazer suas trocas e para realizarem os casamentos de seus jovens e de suas
jovens, não se transformou no associativismo da sociedade atual, que une a
todos, inclusive os muitos sulistas, em sindicatos, cooperativas,
associações e clubes de lazer?
Outrora, os mineiros, contrapondo-se aos
preconceitos, foram os pioneiros que, arriscando suas vidas, desbravaram
esses rincões do Sudoeste de Goiás. Eles, aqui nesta terra de Mineiros
empreenderam e prosperaram em tempos difíceis. Também os vários
nordestinos aqui chegaram, empreenderam e prosperaram. Isso aconteceu
ainda com outras cidades de Goiás e dos estados vizinhos de Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul. Médicos que vieram do Rio de Janeiro, Espiríto Santo e
outros estados, além dos filhos dessa terra que se formaram em medicina em
outras cidades, construiram hospitais, trabalharam e prosperaram.
Finalmente chegaram os sulistas que deixaram atrás as suas terras e aqui
conseguiram empreender e prosperar.
Hoje, quando Mineiros celebra os seus 67
anos de emancipação, para cá afluem empresas de grande porte e pessoas de
todos os lados, em busca de trabalho e de um bem que Mineiros almeja ter
com fartura para poder usufruir e que será necessário para a prosperidade
das novas gerações no presente e no futuro: a educação em todos os níveis,
desde o mais fundamental até o superior.
Texto: D. Josias Dias da Costa é o atual
Prior do Mosteiro São José de Mineiros e do Mosteiro São Bento de Goiânia.
Folclore da Cidade
A folia de Reis
Uma forte tradição cultural da região,
além do apoio moral ora sendo dado, é objeto de projeto de
institucionalização. Será comandada por uma associação, via de diretoria
eleita por seus membros. Foi feito um “modelo” estatutário, ora sendo
discutido pelo grupo, para que, em breve, se torne pessoa jurídica de
direito privado. Além disso, temos um terreno no setor Divino Espírito
Santo, pertencente ao Município, no qual o grupo realizará sua tradicional
festa, com apoio da Prefeitura, em sede adequada e decente.
mais historias,
A penetração do
território deu-se em 1873, pela família Carrijo de
Rezende e outras, procedentes de Araxá ? MG,
atraídos pelas notícias de ricas jazidas de diamante
nas margens do Rio Verde.
Mais tarde, numerosas famílias, vindas especialmente
da Bahia, estabeleceram-se nas imediações do
garimpo, construíram casas e iniciaram plantação e
criação de gado.
Com rápido crescimento do núcleo populacional, o
Coronel Carrijo fez doações de parte de sua fazenda
para a formação do patrimônio, construindo escola e
a primeira capela para a prática do culto religioso.
A sede da povoação desenvolveu-se a 6 quilômetros do
Rio Verde, às margens do Córrego Mineiros, nome que
se estendeu também ao povoado nascente, em homenagem
às famílias dos ?mineiros?, primitivos habitantes e
desbravadores da região.
Gentílico: mineirense
Formação Administrativa
Elevado à categoria de município com a denominação
de Mineiro, pela lei estadual nº 257, de 24-05-1905,
desmembrado de Jataí. Instalado em 25-08-1905.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1911,
o município aparece constituído de 2 distritos:
Mineiros e Santa Rita do Araguaia.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1933,
o município está grafado Mineiros e constituído de 2
distritos: Mineiros e Santa Rita do Araguaia.
No quadro fixado para vigorar no período de
1939-1943, o município é constituído de 2 distritos:
Mineiros e Santa Rita do Araguaia.
Pelo decreto-lei estadual nº 8305, de 31-12-1943, o
distrito de Santa Rita do Araguaia passou a
denominar-se Ivapé.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1950, o
município é constituído de 2 distritos: Mineiros e
Ivapé.
Pela lei estadual nº 806, de 12-10-1953, desmembra
do município de Mineiros o distrito de Ivapé.
Elevado à categoria de município com a denominação
de Santa Rita do Araguaia.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o
município de Mineiros é constituído do distrito
sede. Assim permanecendo em divisão territorial
datada de 2007.
Retificação de grafia
Mineiro par Mineiros alterado , em 1933.
No Censo de 2007, foram recenseados 45189
habitantes, sendo 22911 homens e 18678 mulheres;
deste total, 40683 habitantes residem na zona urbana
e 4506 moram na zona rural. Do total de 40683
habitantes moradores na zona urbana,20358 são homens
e 20325 são mulheres. Do total de 4506 moradores na
zona rural, 2553 são homens e 1956 são mulheres. O
município possui uma área de 9067 Km quadrados e
pertence a Mesorregião Sul Goiano e Microrregião do
Sudoeste de Goiás.
Sua sede tem as seguintes coordenadas geográficas:
52,551° de Longitude e 17,569° de Latitude. O
município comemora o aniversário em 31 de outubro.
Na safra 2007/2008 o município colheu 27300
toneladas de algodão, em uma área de 7000 ha; 261600
toneladas de milho em uma area de 48000 ha; 300000
toneladas de soja em uma área de 100000 ha; 30240
toneladas de sorgo granifero em uma área de 12000
ha; 359425 toneladas de cana-de-açucar em uma área
de 6535 ha; 11 toneladas de borracha(coagulada), em
uma área de 30 ha.
Devido ao avanço
desenfreado sobre as florestas, Goiás corre o risco
de serem uns dos primeiros candidatos a virar
deserto, rios e nascentes secam as centenas, os
poucos rios estão assoreados e altamente poluídos.
Referencias:
IBGE
Wikipédia
Ache Tudo e
Região