Hoje, com toda a pesquisa já feita, podemos dizer que
conhecemos um pouco melhor o estilo de vida, a anatomia, os hábitos alimentares
e até o comportamento social dos dinossauros. Mas num ponto é possível afirmar
que não sabemos absolutamente nada: a cor dos dinossauros.
Mas como isso é
possível? Acontece que até hoje poucas amostras de pele de dinossauro foram
encontradas. Através dessas amostras sabemos que os dinossauros em geral tinham
a pele recoberta por escamas e, em alguns casos, penas. Essas escamas e penas
eram diferentes entre as espécies. Alguns dinos tinham pequenas escamas
arredondadas, enquanto outros tinham enormes escamas em forma de placas
dérmicas.
No que se refere à textura, já temos uma certa idéia de
como era o revestimento externo dos dinos. Mas em nenhum dos fósseis já
encontrados existiam indícios de pigmentos preservados. Sem esses pigmentos não
podemos ter idéia alguma da real coloração desses animais.
Mas então, como alguns especialistas reconstituem tais
criaturas e estas parecem tão reais, se ninguém nunca viu um dinossauro vivo?
Esses especialistas, já que não têm certeza da
coloração, precisam usar de imaginação e criatividade. Mas essa imaginação deve
ser coerente. Provavelmente não existiram dinossauros cor-de-rosa com pintinhas
azuis.
Partindo desse princípio eles começam a buscar pistas
que ao menos lhes permita recriar animais cujas cores sejam, mesmo que não
exatas, sensatas.
Se observarmos os animais de hoje, percebemos que suas
cores estão diretamente relacionadas ao seu estilo de vida. As cores podem ser
úteis para camuflagem, mimetismo, atração sexual, status social... E estes
mesmos padrões valiam há milhões de anos, quando os dinossauros dominavam a
Terra. Ao analisarem os dinossauros, seus hábitos alimentares, o tipo de
ambiente onde viviam, seu comportamento social... os especialistas podem
inspirar-se para realizar seu trabalho.
Os animais atuais também são muito utilizados como
modelo para a reconstituição de um dinossauro.
Durante muitos anos os paleontólogos e paleoartistas
costumavam representar os dinossauros com colorações mortas, como cinza, marrom
ou verde escuro.
Hoje muitos acreditam que, tais como seus primos mais
próximos, aves e répteis, os dinossauros fossem bem mais coloridos e variados.
Um exemplo disso são os famosos Triceratops.
Muitos acreditavam que esses pesados herbívoros eram acinzentados ou mesmo
amarronzados . Tais animais, em sua concepção, não precisavam de camuflagem para
esconder-se de predadores, já que seus cornos e sua gorjeia intimidariam até o
maior dos tiranossauros. Mas talvez eles fossem bem coloridos, não para
camuflar-se, mas para se mostrar. É possível que suas cores vivas não só
intimidassem inimigos mas atraíssem parceiras para o acasalamento .
Outros ceratopsianos, como o Styracosaurus
(abaixo), podem ter usado cores fortes para, juntamente com seus espigões na
gorjeia e seu enorme corno nasal, assustar os grandes predadores, como o
Albertosaurus e o Daspletosaurus.
O mesmo pode ter ocorrido em animais de placas ósseas,
como o Stegosaurus e os de barbatana, como o Amargasaurus
. Nessas espécies, as placas e as barbatanas poderiam adquirir cores mais fortes
na época do acasalamento, sinalizando a outros de sua espécie que o animal
estava pronto para o namoro.
Na natureza cores vivas podem ainda ter um outro
significado: perigo. Muitos animais associam cores chamativas a criaturas
perigosas. É bem possível que muitos dinos, mesmo que não fossem perigosos de
verdade, pudessem ter cores berrantes, imitando a padronagem de espécies temidas
para enganar os inimigos. Um caso clássico de mimetismo cromático.
Algumas espécies, como as atuais zebras e girafas,
apresentam uma estranha padronagem de listras e manchas cuja principal função é
confundir o predador. Quando um bando de zebras está correndo, é quase
impossível distinguir os animais individualmente, pois sua coloração causa uma
ilusão óptica que confunde os leões. Dinossauros como os ornitomimossauros ou
mesmo os grandes terizinossauros podem ter desenvolvido cores semelhantes para
obter o mesmo efeito.
Entre as espécies emplumadas (abaixo) as cores
provavelmente desempenhavam mais a função de atrativos sexuais durante os
rituais de corte, na época de acasalamento.
Entre os saurópodes, talvez o mundo fosse mais
discreto. Grandes demais para serem atacados, os saurópodes adultos
provavelmente não dependiam tanto de camuflagem ou intimidação. Mas alguns
acreditam que os filhotes apresentassem cores que os ajudassem a se camuflar nos
primeiros anos de vida, quando os adultos os abandonavam na floresta até que
tivessem idade suficiente para conseguir acompanhar o ritmo de uma manada. É
possível também que os adultos, em época de acasalamento adquirissem cores mais
vivas no pescoço e cauda, para impressionar companheiros.
Os hadrossauros e iguanodontes eram grandes herbívoros
de até 5 toneladas que serviam de presas para inúmeros carnívoros. Na maior
parte do tempo seu hábitat era composto de florestas mais fechadas e bosques.
Para esses animais a camuflagem era o melhor caminho. Qualquer cor que os
escondesse dos inimigos era útil.
No caso das espécies que viviam em áreas mais abertas,
a hipótese do mimetismo cromático com intuito de enganar os inimigos, fazendo-os
pensar que eram animais perigosos, pode ter sido também usada.
Entre os carnívoros, a camuflagem era mais
importante que qualquer outra coisa. Para garantir uma boa caçada, mesmo os mais
ágeis predadores, como os raptores precisavam de uma padronagem que os tornassem
imperceptíveis em seu meio. Assim os carnívoros em geral podem ter tido padrões
listrados e pintados, como atuais tigres e leopardos (abaixo).
Podem também ter apresentado cores
escuras, como preto ou diversos tons de verde para confundir-se em áreas de mata
mais escura.
Acredita-se que carnívoros maiores, como
Tyrannosaurus, Giganotosaurus ou mesmo Spinosaurus,
poderiam, além de caçar, roubar presas de predadores menores.
Nesses casos o tamanho e a aparência podem
ser importantes. Se observarmos nos dias de hoje, vemos que os leões machos,
muito conhecidos por esse tipo de comportamento, apresentam jubas espessas e um
rugido assustador. Essas características fazem dele um animal muito
impressionante, mesmo para os de sua própria espécie. Tanto é verdade que, mesmo
sendo em geral as fêmeas que apanham o alimento, o macho, com toda a sua
presença, afasta-as do prêmio e come primeiro.
Nesse jogo de intimidação as cores também
podem ser importantes. Imagine um enorme Tyrannosaurus escuro, com
uma cabeça vermelha como sangue (abaixo), ou um Spinosaurus, com
sua barbatana toda colorida. Deve ter sido uma visão impressionante. Se um
predador menor fosse surpreendido se alimentando por um desses gigantes, com
certeza fugiria bem rápido, deixando sua refeição para ser saboreada por eles.
É bem provável que nunca saibamos qual era
a cor real de um dinossauro. Mas com as análises sérias dos cientistas, podemos
ao menos ter uma idéia desse mundo selvagem e, por que não, colorido, onde os
dinossauros reinavam absolutos.
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