Desde a descoberta do
Archaeopteryx no final do século XIX muitos paleontólogos ainda discutem a origem das
aves a partir ou não dos dinossauros.
A proposta surgiu quando os paleontólogos
começaram a estudar a fundo o Archaeopteryx
recém-descoberto.
O
Archaeopteryx
apresentava várias características
das aves atuais, tais como penas (deixadas impressas ao redor do esqueleto do
animal), asas, estrutura dos ossos... Porém ele também tinha muitas
características reptilianas como o focinho com dentes, garras nas asas, cauda de
lagarto... Isso deixou os especialistas da época muito intrigados.
Mais intrigados ainda ficaram com a
descoberta logo depois de um pequeno dinossauro que, com exceção das penas
poderia ser considerado um primo do Archaeopteryx
. Era o Compsognathus.
Ainda hoje o Archaeopteryx
deixa os cientistas malucos tentando classificá-lo. Alguns o consideram
uma ave primitiva; outros, um dinossauro emplumado; tem gente ainda que diz que
ele não é nem um nem outro, é um elo perdido, uma criatura única.
Seja o que for ele iniciou uma das
questões mais polêmicas no mundo da Paleontologia: serão as aves descendentes
dos dinossauros ?
Porém essa idéia não é defendida por todos
os paleontólogos. Há quem diga que a semelhança na forma não é prova de
evolução. Eles sustentam que pode ser um simples caso de evolução convergente,
que nada mais é que o processo pelo qual dois tipos de organismos podem assumir
formas semelhantes por terem um estilo semelhante de vida, sem necessariamente
terem algum parentesco próximo.
Para exemplificar esse fenômeno podemos
citar um animal muito conhecido: a hiena. Muitos a consideram um primo dos cães
e lobos, mas na verdade ela não tem nada de parentesco com eles. Na verdade
acredita-se que seus parentes mais próximos sejam os felinos (estranho, não é?).
Então por que elas se parecem com cães e não com seus parentes mais próximos, os
gatos? Isso ocorre porque as hienas tem um estilo de vida e vivem em um ambiente
mais parecido com o dos canídeos. Assim a seleção natural tornou-as mais
parecidas com eles. Outro exemplo é o panda gigante. Apesar da aparência ele não
é considerado um urso verdadeiro, sendo que seu parente mais próximo é o
guaxinim.
O inverso desse processo também pode
acontecer: é a evolução divergente, onde dois seres aparentados assumem formas
tão diferentes, por terem estilos de vida também diferentes. Por exemplo, você
sabia que os parentes mais próximos do elefante são o peixe-boi e o hírax (um
bichinho que parece um hamster e vive nas montanhas ao norte da África). Apesar
do parentesco são criaturas totalmente diferentes entre si na forma e no
tamanho, pois durante a evolução eles assumiram estilos de vida totalmente
diferentes.
Assim essas são as principais linhas de
pensamento sobre a evolução das aves:
DINOSSAUROS -
Essa teoria
é a mais aceita e difundida entre os cientistas. Segundo a mesma as aves teriam
evoluído a partir de pequenos e ágeis dinossauros terópodes (e não de enormes
dinossauros como Tyrannosaurus, Triceratops e
Apatosaurus). Com os milhões de anos eles adquiriram penas e
posteriormente aprenderam a voar.
ARCOSSAUROS -
Essa teoria
é a 2ª mais aceita entre os cientistas. Supõe-se que as aves teriam evoluído dos arcossauros, um grupo de répteis que também deu origem aos dinossauros, pterossauros e crocodilos, As aves então teriam evoluído bem antes até dos
Archaeopteryx, há mais de 200 milhões de anos.
CROCODILOS -
Essa teoria
é a menos aceita e defende a tese de que as aves evoluíram a partir de um grupo
primitivo de crocodilos terrestres. Baseia-se em uma poucas e vagas semelhanças
entre as aves e pequenos crocodilianos terrestres encontrados nos depósitos
fósseis.
PTEROSSAUROS -
Essa
teoria é uma das mais antigas e atualmente já não é mais defendida por ninguém.
Baseia-se na semelhança externa entre aves e pterossauros. Nesse caso porém as
semelhanças terminam por aí. De resto esses dois grupos eram bem diferentes. É
um típico caso de evolução convergente.
Vamos nessa seção, porém, discutir mais aprofundadamente a 1ª teoria, que é a mais provável e aceita pela comunidade
científica em geral . . .
Como já foi dito, desde a descoberta do
Archaeopteryx alguns
paleontólogos imaginaram que, dada à incrível semelhança entre essa criatura,
aves e dinossauros, talvez houvesse uma ligação. Propôs-se então que as aves
teriam evoluído a partir de um grupo de pequenos terópodes carnívoros (alguns
dizem que foram animais semelhantes ao Compsognathus,
outros que foram de dinossauros raptores, como o Deinonychus),
passando por um estágio intermediário semelhante ao Archaeopteryx.
Eles se baseiam em diversas características anatômicas observadas em
dinossauros e aves, tais como:
- Estrutura semelhante entre braços de
dinossauros e asas de aves;
- Presença nos dois grupos de ossos ocos;
- Estrutura de pernas e bacia semelhantes
entre os dois grupos;
E cada vez mais as descobertas feitas nos
últimos 10 anos pela Paleontologia têm reforçado essa idéia. Novas espécies de
dinossauros com características cada vez mais próximas de aves estão quase
confirmando as antigas teses.
O
Unenlagia
da Patagônia (abaixo) por exemplo, possuía uma estrutura totalmente
nova dos braços, que literalmente lhe permitia "bater as asas". Apesar dessa
criatura não voar acredita-se que quando corria em alta velocidade para apanhar
pequenas presas ele deveria balançar os braços de cima para baixo, da mesma
maneira que os pássaros fazem quando voam. Esse movimento, que inicialmente
servia para dar estabilidade e equilíbrio ao animal pode ter originado o bater
de asas nos pássaros.
Existe ainda o Rahonavis
(abaixo) uma ave primitiva que podia voar ( claro que não com muita elegância)
mas que possuía nas patas traseiras garras curvas idênticas aos dinossauros do
tipo raptor, como o Velociraptor.
Mas se essa teoria é a correta, então como
se deu o processo de evolução das aves?
Em primeiro lugar devemos levar em conta
uma característica muito importante e atualmente exclusiva das aves: as penas.
Sabemos que as penas nada mais são que escamas modificadas. A questão é: será
que elas apareceram só nas aves ou seus possíveis ancestrais, os dinossauros, já
as possuíam?
As últimas descobertas provam que alguns dinossauros já tinham
penas cobrindo seus corpos. O fóssil de Sinosauropteryx,
um pequeno dinossauro semelhante ao Compsognathus,
tinha desde a nuca até a ponta da cauda uma fileira de penugem,
semelhante em estrutura à dos pintinhos e patinhos.
Outros fósseis de dinossauros como o
Mononychus (abaixo) e o
Unenlagia também foram
encontrados com impressões de penas fossilizadas. Até os raptores possuíam
penas.
Sabemos que os dinossauros ancestrais das
aves tinham penas. Mas por que elas apareceram?
Nas aves de hoje as penas podem ter
basicamente 3 funções: exibição, isolamento térmico e vôo. Com certeza elas
apareceram nos dinossauros devido à uma dessas utilidades. Mas qual?
Com certeza inicialmente elas não tinham
nada a ver com o vôo, pois essa capacidade ainda não era dominada pelos
dinossauros, nem pelas primeiras aves e é mais provável que tenha aparecido por
último. Prova disso é a estrutura das penas fossilizadas encontradas.
Se observarmos as penas de um pássaro
perceberemos que elas possuem um eixo principal de onde partem duas faixas de
filamentos finos. As penas de vôo, como as das asas, por exemplo, são
assimétricas, ou seja uma faixa de filamentos é mais grossa que a outra.
Já em penas de simples cobertura pode-se
observar uma simetria, ou seja, as duas faixas sobre o eixo são iguais em
espessura. Nos dinossauros as penas encontradas são simétricas, portanto
impróprias para o vôo.
Também descarta-se o isolamento térmico,
pois para que as penas cumprissem bem essa função era necessário que cobrissem
praticamente todo o corpo dos dinossauros. Sabemos pelas descobertas que não era
esse o caso. Na verdade elas normalmente formavam tufos ou cristas no alto da
cabeça, na parte externa dos braços, no alto do dorso e às vezes na ponta da
cauda.
Essa disposição leva os
cientistas a crer que inicialmente os pequenos terópodes desenvolveram penas
para exibição, seja em disputas territoriais, reconhecimento social ou em
rituais de acasalamento, onde talvez os machos atraíssem parceiras com complexas
danças e demonstrações de suas plumagens exuberantes.
Como tempo, os dinossauros já bem próximos
das aves podem ter finalmente desenvolvido o mecanismo de vôo.
Alguns acreditam que pequenos dinossauros
arborícolas desenvolveram o vôo ao saltarem dos altos galhos das árvores.
Inicialmente eles apenas planavam. Com o tempo aprenderam a bater as asas para
voar verdadeiramente.
Há quem acredite, porém, que os
dinossauros aprenderam a voar a partir do solo mesmo. Os carnívoros corredores
como o Unenlagia batiam os braços para equilibrar-se e
ter estabilidade. Com o tempo aprenderam a dar saltos para alcançar mais rápido
as presas. Mais adiante teriam aumentado a distância dos saltos usando suas asas
para planarem. A partir daí o próximo passo seria o vôo propriamente dito.
Pensar nessa teoria é muito interessante
pois se ela estiver realmente certa então os dinossauros podem nunca ter se
extinguido da Terra. Eles ainda podem estar entre nós...
Quando olhar para um pomba ou pardal na
rua, ou até mesmo para o periquito, papagaio ou canário que tiver em sua casa,
pare e pense nisso... Você pode estar olhando para o último remanescente de um
mundo há muito esquecido...
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