O conhecimento do território que hoje constitui o estado do Amazonas
vem do século XVI, quando o espanhol Francisco de Orellana, desceu o rio
Marañon até alcançar o Atlântico (1539-1542). A descoberta teve
repercussões. Logo a seguir, Gonzalo Hernández de Oviedo y Valdés
comunicou-a em carta ao cardeal Pedro Bembo, exaltando as riquezas
naturais aí encontradas. A carta foi publicada em Veneza (1556), chamando
a atenção dos governos colonialistas europeus para uma área inexplorada de
consideráveis proporções.
Os espanhóis ainda fizeram outra incursão à
Amazônia, similar à de Orellana. Pedro de Ursua, vindo do Peru, também
navegou o Amazonas, sendo assassinado a meio caminho. Contudo, a expedição
prosseguiu, comandada por Lopo de Aguirre, e por fim chegou ao oceano
(1561). Como resultado dessa jornada os espanhóis decidiram, cientes das
dificuldades de conquistar tão vasto espaço, adiar a tarefa de
colonizá-lo.
Quase de imediato os ingleses e os
holandeses, que disputavam o domínio da América aos ibéricos,
entregaram-se à exploração do Amazonas, aí lançando as primeiras bases de
implantações coloniais, através do levantamento de feitorias e pequenos
fortes (1596).
Até o segundo decênio do século XVII, quando os portugueses
começaram a ultrapassar a divisória de Tordesilhas, as companhias de
Londres e Flessingen promoviam um ativo comércio de madeiras e pescado,
iniciando mesmo plantios de cana, algodão e tabaco. Os próprios governos
passaram a estimular abertamente a empresa. Robert Harcourt obteve
carta-patente de Jaime I da Inglaterra para explorar o território do
Amazonas com seus sócios (1612).
A essa altura, os portugueses barravam a
tentativa francesa de se instalar no Maranhão. Pensou-se de imediato em
garantir a vitória, estendendo a conquista até o Amazonas, uma vez que as
possessões sul-americanas estavam sob domínio conjunto da União Ibérica
desde 1580. Assim é que o capitão Francisco Caldeira de Castelo Branco
recebeu ordens de marchar sobre o Amazonas (1616), onde suas forças
chocaram-se contra os ingleses e os holandeses ali estabelecidos. Os
combates prolongaram-se até meados do século, quando foi destruída a
última posição holandesa na área do atual Amapá.
Ao término da União Ibérica (1640) a
soberania lusitana estava garantida no Pará, porquanto os espanhóis haviam
delegado aos portugueses a tarefa de ocupação do vale amazônico. Uma
grande expedição de mais de duas mil pessoas, comandada por Pedro
Teixeira, já avançara em direção oeste. Em seus dois anos de jornada
(1637-1639), atingira Quito e retornara a Belém, após ter fundado o
povoado de Franciscana em território peruano, que, mais tarde, serviria de
marco nas discussões de limites no Tratado de Madri (1750).
Afinal, o bandeirante Antônio Raposo
Tavares chegou ao Guaporé, subindo o rio Paraguai, e percorreu a região
vizinha aos Andes, de onde alcançou e desceu o Amazonas (1648-1652). Nessa
época a Espanha já perdera em definitivo a entrada da bacia amazônica,
limitando-se a controlar os pontos de acesso ao Peru nos territórios do
rio Marañon, do Guaporé-Mamoré e em trechos do alto Negro. Os portugueses,
ao contrário, tomaram a iniciativa de inúmeras arremetidas de conquista
nos cursos dos rios Negro, Solimões e Branco, apossando-se formalmente da
região em nome de sua coroa.
Presença dos missionários. Na virada
do século XVII o domínio português balizava-se na Amazônia pelo posto
avançado de Franciscana, a oeste, e por fortificações em Guaporé, ao
norte. Os franceses, instalados em Caiena, pretendiam descer o litoral
para alcançar o Amazonas, instigando surtidas constantes de sacerdotes,
pescadores e predadores de índios.
Ao mesmo tempo, as expedições lusas de
reconhecimento enfrentavam grandes dificuldades na atual região do
Amazonas: no rio Negro, os manaus, coligados com tribos vizinhas, e os
torás, na bacia do Madeira, entregavam-se a guerra de morte contra
sertanistas e coletores de especiarias.
Na zona do Solimões a penetração portuguesa defrontou-se com missões
castelhanas, dirigidas pelo jesuíta Samuel Fritz, que floresciam na bacia
do Juruá, e talvez mais a leste.
Logo chegaram ordens de Lisboa para que
forças militares invadissem o território das missões espanholas, a fim de
expulsar os padres e os soldados que as amparavam. Com efeito, entre 1691
e 1697, Inácio Correia de Oliveira, Antônio de Miranda e José Antunes da
Fonseca apossaram-se do Solimões, enquanto Francisco de Melo Palheta
garantia o domínio lusitano no alto Madeira e Belchior Mendes de Morais
invadia a bacia do Napo. Restava aproveitar o imenso espaço conquistado,
tornando-o produtivo. A coroa portuguesa, necessitando assim consolidar
sua posição, solicitou o trabalho missionário na área.
A obra a que se deviam entregar os
religiosos estava compreendida no chamado Regimento das Missões (1686).
Incluía, afora a conversão católica dos gentios, sua incorporação ao
domínio político da coroa mediante o aprendizado da língua portuguesa, a
organização das tribos em núcleos de caráter urbano e, sobretudo, o
aproveitamento racionalizado de sua força de trabalho em atividades
extrativas e agrícolas. Regulada a divisão do território entre as ordens,
por meio de cartas régias (1687-1714), vários grupos de religiosos
iniciaram a tarefa sistemática de colonização, espalhando suas missões num
raio de milhares de quilômetros pelo vale amazônico.
Foram os carmelitas, acompanhados de perto
pelos inacianos e mercedários, que mais aprofundaram a colonização nos
antigos domínios espanhóis, ocupando a área atual do estado do Amazonas.
As missões jesuíticas espalharam-se pelo vale contíguo do Tapajós e, mais
a oeste, pelo do Madeira, enquanto os mercedários se estabeleceram próximo
à divisa com o Pará, nos cursos do Urubu e do Uatumã. Os carmelitas
disseminaram seus aldeamentos ao longo do Solimões, do Negro e, ao norte,
do Branco, no atual estado de Roraima.
Assim distribuídas, as missões
entregaram-se a diligente trabalho de exploração econômica em suas
circunscrições. A própria metrópole incentivou tal empreendimento, uma vez
que perdera seu império asiático e necessitava dar continuidade ao
comércio de especiarias, de que o Amazonas se mostrava muito rico.
Os religiosos corresponderam de imediato a essa solicitação, iniciando as
primeiras atividades extrativas de vulto. Firmou-se, dessa maneira, a
exportação regular de cravo, cacau, baunilha, canela, resinas aromáticas e
plantas medicinais, toda ela sob o controle dos missionários, que
dispunham do indígena como mão-de-obra altamente produtiva.
No empenho de converter os gentios à fé
católica e de ampliar o comércio de especiarias, ou "drogas do sertão", os
religiosos com freqüência transferiam suas missões de um ponto a outro,
seguindo sempre a margem dos rios.
Da multiplicidade desses aldeamentos
surgiram dezenas de povoados, a exemplo de Cametá, no deságüe do
Tocantins; Airão, Carvoeiro, Moura e Barcelos, no rio Negro; Santarém, na
foz do Tapajós; Faro, no rio Nhamundã; Borba, no rio Madeira; Tefé, São
Paulo de Olivença e Coari, no Solimões; e em continuação, no curso do
Amazonas, Itacoatiara e Silves.
Capitania do Rio Negro. Os sertanistas acompanharam os missionários na
intensa atividade de exploração do Amazonas. Sua ação, em geral estimulada
pelas autoridades coloniais, devia facilitar o trabalho dos provedores da
fazenda, sob a direção dos quais corriam os serviços do fisco.
Desvendavam-se os caminhos, reconhecia-se o
espaço em que se davam operações econômicas de vulto, e facilitavam-se as
comunicações pelo interior. A expansão portuguesa, dessa forma,
implantava-se cada vez mais firme no oeste, em toda a extensão
longitudinal além do limite do Tratado de Tordesilhas, já letra morta em
inícios do século XVII.
No Rio Negro, entretanto, a oposição
indígena era violenta. Em 1639, o sargento Guilherme Valente, para vencer
o obstáculo, passou a viver maritalmente com a filha de um chefe manau.
Ajuricaba, outro chefe manau, não aceitou a situação e passou a liderar o
combate aos invasores. Levantou o vale todo e sagrou-se o herói
amazonense, lutando até cair prisioneiro dos portugueses.
Buscando
detratá-lo, os traficantes de escravos acusaram-no de estar a serviço dos
holandeses de Suriname. Preferindo a morte ao opróbio de uma condenação
pelos brancos, Ajuricaba suicidou-se na baía de Boioçu, depois de tentar a
insurreição dos que com ele desciam presos. Criou-se então uma lenda
indígena segundo a qual, quando as águas da baía se encapelam, estariam
exteriorizando o desespero de Ajuricaba em seu afã de libertar a raça.
Nos anos seguintes, intensificaram-se as
atividades espanholas e francesas na região. Para melhor defender a posse
lusitana no Amazonas, o capitão Francisco da Mota Falcão fundou em 1669 o
forte de São José do Rio Negro. Mais de cinqüenta anos depois, quando
floresciam as missões naquela área, Francisco de Melo Palheta, incumbido
de subir o Amazonas, alcançou Santa Cruz de Cajuava, localidade próxima a
Santa Cruz de la Sierra (1722-1723).
A seguir, as autoridades resolveram
fechar à navegação o rio Madeira (1732), numa época em que a colonização
de Mato Grosso atingia seu auge. A proibição, no entanto, não impediu que
Manuel Félix de Lima e José Leme do Prado, entre 1742 e 1749, explorassem
a área, em busca clandestina de especiarias, estabelecendo comércio no
eixo Cuiabá-Amazonas-Belém.
A partir de 1750, quando se iniciaram
negociações com a Espanha a propósito das terras invadidas e colonizadas,
intentou-se a incorporação definitiva do Amazonas às possessões lusitanas.
Foi nomeado comissário de demarcações o governador do estado do Maranhão,
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, que deveria realizar o levantamento
da zona, tanto no norte (do Negro ao Japurá) como no sul (do Madeira ao
Javari).
Estabelecendo sua base de operações numa antiga missão carmelita
do rio Negro, Mariuá (1754), rebatizada Barcelos, demorou-se aí dois anos.
Datam dessa época a criação de pesqueiros para melhor abastecer os
habitantes dos rios Negro, Branco e Solimões, e o incremento da cultura de
cereais em toda a região.
Por fim, segundo sugestões de Mendonça, o
governo português autorizou a criação da capitania de São José do Rio
Negro (1755), separada do Pará. Visava-se, com o ato, a consolidar o
domínio luso do Amazonas, ponto extremo setentrional dos limites com as
possessões castelhanas. A disposição de incentivar os colonos a ocuparem o
espaço da nova capitania revela-se, ademais, nos privilégios,
prerrogativas e liberdades concedidos a quem lá fosse morar, compreendendo
isenções de taxas, despesas de emolumentos, fintas e outros tributos pelo
prazo de 16 anos.
Ao tomar posse o primeiro governador,
Joaquim de Melo e Póvoas (1757), a capitania contava com 45 aldeias, das
quais Silves, Serpa e São Paulo de Olivença foram logo elevadas à
categoria de vila, com nova denominação.
Ainda sob o governo de Póvoas
desencadeou-se acirrada campanha contra os jesuítas, que resistiam à
supressão de sua influência sobre os índios e eram acusados de não lhes
ensinar a língua portuguesa, a fim de mantê-los sob controle, além de
monopolizar o comércio das drogas em detrimento dos negociantes locais. O
marquês de Pombal ordenou que fossem retirados à força das missões,
expulsos da colônia e seqüestrados seus bens (1759).
A laicização dos antigos aldeamentos
missionários, entretanto, não surtiu os resultados esperados. Além disso,
a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão, criada para
estimular as exportações através do desenvolvimento sistemático da
produção daquelas capitanias (1755), fez estacionar as atividades
extrativas de que vivia São José do Rio Negro. A nova capitania viveu,
assim, durante todo o terceiro quartel do século, sob desigual
concorrência econômica com as suas vizinhas orientais.
Extinta a Companhia Geral do Comércio, os
governadores de Rio Negro puderam desenvolver atividades produtivas em
maior escala. Assim é que João Pereira Caldas e Manuel da Gama Lobo d'Almada,
os que mais se empenharam nesse sentido, deram novo impulso à capitania,
elevando seu nível social e econômico.
Na fase de relativa prosperidade,
entre 1780 e 1820, criaram-se no Amazonas pequenas indústrias de tecidos
de algodão, manufaturas de cordoalhas, manteiga de tartaruga, cerâmica e
velas, além de se haver fomentado a agricultura de café, tabaco, algodão,
arroz, milho, cacau, mandioca, cana-de-açúcar, e a pecuária no vale do Rio
Branco. Nos últimos anos antes da independência, a capitania exportava em
média, anualmente, cerca de cinqüenta mil libras esterlinas, ou seja, um
terço da exportação total do Pará.
Ao lado desse progresso, incentivavam-se as
explorações científicas, entre as quais se destaca a de Alexandre
Rodrigues Ferreira, a fim de se examinarem terrenos e rios, com vistas a
seu aproveitamento agrícola.
Fizeram-se também minuciosos trabalhos
gráficos e ecológicos, que muito contribuíram para melhor conhecimento
da região, seus recursos e suas populações. Levando em conta a necessidade
de se estabelecerem comunicações mais rápidas com Belém, o governador
Almada transferiu, afinal, a sede administrativa de Barcelos para a
confluência do Negro-Amazonas (1791), no local em que Mota Falcão erigira
o forte de São José do Rio Negro, transformado então no povoado da Barra,
hoje Manaus.
Desenvolvimento. A capitania teve
sua vida política encerrada como unidade distinta ao advento da
independência. Apesar dos esforços que sua população despendeu para que
fosse graduada na condição de província do império nascente, tal não
ocorreu. Houve certa perspectiva de êxito nos primeiros tempos, uma vez
que conseguira mandar representantes às cortes de Lisboa, o que lhe
assegura uma situação privilegiada. As autoridades locais entraram em
conflito ao tratarem do futuro da ex-capitania, sustentando umas o direito
de que o Rio Negro se constituísse província, enquanto outras, as
judiciárias de preferência, sustentavam a tese de que a capitania era
agora mera comarca do Pará, sem governo próprio.
Em 1832, dado o estado de espírito
agitadiço que envolvia todo o vale, os amazonenses pegaram em armas,
desligando a comarca de sua subordinação à província paraense e
proclamando-a província imperial. O pronunciamento foi esmagado pelas
armas, sem que o governo imperial atendesse às razões apresentadas pelos
amazonenses, que enviaram ao Rio de Janeiro um delegado, o religioso frei
José dos Santos Inocentes. Em 1833, passou a denominar-se Comarca do Alto
Amazonas, governada por um juiz de direito e por um comandante militar.
No período colonial levantara-se uma rede
de fortificações para garantir o domínio português: São Joaquim, São
Gabriel de Cachoeira, Maribatanas e Tabatinga. O comando militar resultava
da necessidade de continuar a política de preservação do território que
fronteirava com cinco repúblicas de origem espanhola e a antiga Guiana
Britânica.
Cabanagem. A comarca manteve-se fiel
ao legislativo no decorrer da cabanagem, movimento da população de raízes
indígenas contra os dirigentes que lhes pareciam estranhos às suas
aflições, bem como protesto contra distâncias sociais e econômicas que não
lhes permitiam o acesso ao bem-estar material nem aos postos da mais alta
administração regional.
Com a invasão dos cabanos, que obtiveram grandes
adesões, Manaus, assim como várias outras vilas, esteve em mãos dos
rebeldes. Um caudilho legalista pernambucano, Ambrósio Aires, cujo nome de
guerra era Bararoá, e que cumpria sentença por crime político no Rio
Negro, combateu com bravura, perdendo a vida numa surtida nos Autazes.
Apolinário Maparajuba foi o chefe cabano de maior nomeada.
Província. Em 1850, pela lei nº 592, de 5 de setembro, a comarca foi
promovida a província, aspiração das populações amazonenses que se
julgavam preteridas em seus direitos de autonomia. Um projeto a respeito
fora apresentado ao Parlamento imperial em 1826.
Os presidentes do Pará
por mais de uma vez haviam sustentado perante o ministro do Império o
acerto da providência. A instalação ocorreu a 1º de janeiro de 1852.
Tenreiro Aranha, o primeiro presidente, criou os serviços públicos
básicos.
As rendas, no entanto, eram precaríssimas. O Pará e o Maranhão,
por determinação do governo nacional, supriram as deficiências com a
remessa de numerário durante alguns anos. Facilitando a montagem de uma
tipografia, Aranha possibilitou a circulação do primeiro jornal, o Cinco
de Setembro.
Seguiram-se, na administração da província,
62 presidentes e vice-presidentes em exercício. O progresso era lento. O
crescimento demográfico não expressava dinamismo. A navegação a vapor,
resultante da ação do barão de Mauá e de Alexandre Amorim, permitiu a
circulação de mercadorias e de pessoas, diminuindo as distâncias.
As flotilhas de pequenas embarcações, que serviam ao vaivém mercantil,
perderam substância. O "regatão", mercador fluvial que substituíra o
comerciante das vilas e cidades, embora praticando abusos continuou a
servir ao homem isolado pelo deserto.
Expedições científicas. Homens de ciência como Henry Walter Bates, Louis
Agassiz, Von Martius, João Martins da Silva Coutinho, William Chandless,
continuando o esforço de Alexandre Rodrigues Ferreira, identificaram a
flora, a fauna, o solo, o subsolo, os grupos indígenas.
O Museu Botânico,
fundado em Manaus em 1883 por Barbosa Rodrigues, recolhia o material que
se coletava na floresta e nas águas. Manuel Urbano da Encarnação,
descendente direto de índios muras, foi o grande desbravador do vale do
Purus-Acre, servindo de guia às expedições científicas, nos contatos com
as populações primitivas e no início da ocupação econômica da região.
As levas de nordestinos que começaram a chegar promoveram essa ocupação do
interior, iniciando o rush da borracha. O Acre é uma resultante dessa
façanha que reproduzia o episódio do bandeirismo colonial.
República. Em 10 de julho de 1884 a
província declarou extinta a escravidão, libertando os trabalhadores
negros. A Sociedade Emancipadora Amazonense e mais outras nove associações
que se espalhavam pela capital e pelo interior, movimentaram a causa.
Estabelecida a república em 21 de novembro
de 1889, foi nomeado governador o tenente Ximeno Villerroy. Três
governantes, Taumaturgo de Azevedo, Antônio Clemente Ribeiro Bitencourt e
Turiano Meira, sofreram deposição.
Nas administrações Eduardo Ribeiro, Jônatas
Pedrosa e Alcântara Bacelar, a luta política exteriorizou-se mais
intensamente por meio de pronunciamentos armados com derramamento de
sangue. Um tipo estranho, espécie de caudilho caboclo, Guerreiro Antoni,
comandou agitações, galvanizando a opinião estadual.
Eduardo Ribeiro,
maranhense, cercou-se de prestígio popular. Iniciou a obra urbanizadora de
Manaus, assegurando-lhe muito da feição típica que possui; aterrou
igarapés, abriu ruas, avenidas, praças, construiu edifícios públicos.
O fastígio da borracha. A borracha
dos seringais do Purus-Acre, do Juruá e do Madeira projetava o Amazonas no
cenário mundial.
Manaus tornou-se um dos mais famosos centros exóticos da
Terra. Em seu teatro, decorado por artista italiano, com zimbório trazido
do pavilhão de festa da Exposição de Paris, apresentavam-se as melhores
companhias européias.
Homens e mulheres de todas as cores e de todos os
continentes encontravam-se em Manaus. De todo o país, médicos, bacharéis,
jornalistas, engenheiros, agrônomos, comerciantes e operários iam "fazer o
Amazonas". Navios das mais variadas bandeiras fundeavam no porto.
Este era uma construção típica, realizada sobre tambores, que subiam e desciam ao
sabor do movimento das águas. O amazonense era o maior contribuinte, per
capita, do erário federal. Nos seringais, bebiam-se as melhores bebidas,
comia-se o enlatado mais fino do Velho Mundo.
O presidente Afonso Pena, ao visitar a
capital amazonense, declarou: "Manaus é uma revelação da república".
Manaus absorveu quase todo o rush da borracha. Os demais centros urbanos,
em conseqüência, não se desenvolveram.
Tudo isso entrou em colapso com a
emigração da Hevea para o Oriente e a concorrência daquele mercado. O
funcionalismo deixou de receber os vencimentos. Numa administração,
durante quatro anos houve o calote oficial aos servidores -- o que
explicou a adesão popular ao pronunciamento que eclodiu em São Paulo em
1924 e teve repercussão imediata em Manaus. Até então, os homens que
comandavam a política, a vida intelectual e econômica eram, na sua quase
totalidade, de fora.
O "glebarismo" foi o movimento cívico que,
depois de 1930, desfraldou a bandeira do Amazonas para os amazonenses. Os
homens públicos que exerceram o governo daí em diante -- exceção de dois
interventores federais do período ditatorial -- foram, em conseqüência,
todos amazonenses. A vida política processou-se sem particularidades de
monta. O movimento paulista de 1932 ecoou no estado no combate naval
travado em frente à cidade de Itacoatiara entre forças legais, terrestres
e navais, e rebeldes da guarnição de Óbidos.
A criação dos territórios federais de
Rondônia e Roraima, que provocou mal-estar, desfalcou o estado em área e
população. Os municípios de Porto Velho e Boa Vista passaram àqueles
territórios. Pela lei no 117, de 29 de dezembro de 1956, que fixou a
divisão territorial, administrativa e judiciária, os antigos 28 municípios
desmembraram-se, elevando-se para 44.
A população aumentou num ritmo
relativamente lento. Em 1850, somava cerca de trinta mil habitantes; cem
anos depois, perto de meio milhão. Os contingentes nordestinos,
denominados "arigós", levados no decorrer da segunda guerra mundial para a
restauração dos seringais e produção intensiva de borracha necessária à
indústria bélica americana, não constituíram um peso ponderável.
Ao invés
da mortalidade que teria ocorrido e de que tanto se falou naquela época, o
que houve foi um regresso dos imigrantes que não se integraram no novo
meio. Muitos, depois de encerrada a "batalha", instalaram-se em Manaus,
que cresceu na área suburbana e no comércio de rua.
A imigração estrangeira não teve expressão quantitativa. A contribuição
japonesa, iniciada às vésperas de 1930, foi reduzida. As colônias de
Maués, Parintins e Bela Vista não atingiram concentrações significativas.
A partir de 1930, o governo federal passou
a se empenhar no sentido de valorizar o grande vale equatorial. Dispondo
de grandes reservas de terra e apresentando um índice demográfico muito
baixo (cerca de 250.000 habitantes em 1900, 450.000 em 1940 e 720.000 em
1960), o Amazonas despertou o interesse internacional para a inversão de
capitais em seu povoamento e na exploração de seus múltiplos recursos
naturais.
A tese da internacionalização da bacia, sustentada por James
Bryce (1912) e Prescott Webb (1952), chegou a ser proposta por entidades
científicas, a exemplo da Academia de Ciências de Washington, da UNESCO e
do Instituto Hudson de Nova York.
Em contrapartida, o governo federal elaborou vários projetos visando à
recuperação do interior, a fim de articular o desenvolvimento em todo o
território nacional. No Norte, criou-se a Superintendência do Plano de
Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA, 1953), que, mostrando resultados
insatisfatórios, foi transformada na Superintendência do Desenvolvimento
da Amazônia (Sudam, 1966).
Promulgaram-se ao mesmo tempo leis de amparo à
iniciativa privada, como a de incentivos fiscais para a instauração de
empreendimentos no setor da agroindústria. Instalaram-se no Amazonas,
dessa forma, fábricas, moinhos de trigo, refinaria e usina, além da
abertura de uma zona franca em Manaus.
A partir da década de 1960, rompeu-se em
definitivo o isolamento do Amazonas por meio de sua incorporação ao
sistema rodoviário brasileiro, com a abertura de estradas como as de
Manaus-Porto Velho, Manaus-Itacoatiara, Manaus-Manacapuru e Manaus-Boa
Vista, todas confluindo para o eixo das comunicações interiores que têm
como centro Brasília.
O leito da Transamazônica, por outro lado,
corta o Amazonas desde Jacareacanga, no Pará, até Humaitá, no rio Madeira,
daí ligando-se a Lábrea, no rio Purus, ponto de convergência para Boca do
Acre e Benjamin Constant, no Solimões (fronteira com o Peru), após
atravessar os vales do Coari, do Juruá, do Jutaí e do Jandiatuba. Do ponto
de vista regional, a abertura desses vários troncos contribui para a
colonização e desenvolvimento econômico do Amazonas, bem como possibilita
exploração mais sistemática de lençóis de petróleo e jazidas de manganês e
estanho em artérias vitais do estado.
Em 1987, o governo federal anunciou a
descoberta de depósitos de petróleo de boa qualidade, que se acreditava
alcançar volume igual a todas as reservas então conhecidas no país. A
questão ecológica, avultada nessa década, exacerbou-se em 1989, com um
movimento internacional pela preservação da Amazônia, desencadeado após o
assassinato do ecologista e líder sindical Chico Mendes, no Acre. Nos
primeiros anos da década de 1990, a Zona Franca de Manaus enfrentou uma
profunda recessão, que atingiu basicamente a indústria de
eletro-eletrônicos, plásticos e vidros, o que aumentou drasticamente o
desemprego na região.
Cultura e turismo
As mais importantes entidades culturais do estado são o Instituto
Geográfico e Histórico do Amazonas, o Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia, a Academia Amazonense de Letras e a Associação Comercial do
Amazonas, todas na capital. A Universidade Federal do Amazonas foi fundada
em 1965.
Das bibliotecas registradas no estado, as
mais importantes, além das pertencentes às entidades acima, são a
Biblioteca Pública do Amazonas e a Biblioteca Central da Universidade do
Amazonas. Vários municípios, agências do IBGE e missões religiosas mantêm
pequenas bibliotecas públicas. Entre os museus, cabe destacar o do Homem
do Norte, o do Índio e o de Ciências Naturais.
O único centro de atração turística do
estado é a cidade de Manaus. Destacam-se na cidade, além do Teatro
Amazonas, construído na época áurea da borracha em estilo renascentista
italiano, os seguintes monumentos: o palácio Rio Negro, sede do governo
estadual; o palácio Rio Branco, onde se encontra uma excelente coleção de
numismática; o palácio da Justiça e do Comércio; o Hotel Amazonas; o
edifício da Alfândega; a catedral de Nossa Senhora da Conceição.
Outra atração turística consiste em
passeios de barco pelos rios Negro e Amazonas, sobretudo na área onde se
verifica o encontro das águas dos dois rios, de cores diferentes. Outros
pontos de interesse são as piscinas naturais de Flores, Turumãzinho e
Bosques; as praias fluviais de Ponta Negra e Cacau Pirera; e a cachoeira
de Turumã Grande. A melhor época para pesca é o período de setembro a
novembro.
Folclore
Região de folclore riquíssimo, existe no Amazonas toda uma série de
entidades lendárias de origem indígena, entre os quais há que destacar o
urutau, símbolo da quietude; o maguapari, monstro das florestas; o boto,
ser encantado em peixe; o uirapuru, pássaro encantado; o muiraquitã,
talismã de pedras verdes; a boiúna, a quem são atribuídos os
acontecimentos mais inverossímeis; o curupira, demônio da floresta,
representado por um anão de cabeleira rubra e pés ao inverso; o mapinguari,
animal fabuloso, semelhante ao homem, mas todo cabeludo; o poronominare,
herói de um ciclo de aventuras; e o uiauara, duende assombrador.
A culinária típica do Amazonas também é
bastante diversificada. Os pratos mais famosos são o abunã ou arabu, pirão
de ovos de tartaruga ou outro quelônio, com farinha e açúcar; a farofa do
casco, servida com prato de tartaruga; a maniçoba, pirão de farinha de
mandioca, que se come com cozido; o pacicá, quitute preparado com os
miúdos da tartaruga, temperados e cozidos no próprio casco; o peito de
forno, um picado de tartaruga, temperado com limão, sal e pimenta; o
tacacá, papa de goma que se junta ao tucupi, que é por sua vez, um dos
molhos tradicionais da Amazônia.
1a - fila 12 estrelas
2a - fila 10 estrelas
3a - fila 9 estrelas
4a - fila 12 estrelas |
As estrelas de menor grandeza, correspondem aos 44
municípios do estado, serão aumentadas todas as vezes que for criado
novo município.
No Centro, uma estrela de maior grandeza, representa
o município de Manaus.
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Fonte: Wikipédia
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