Delação monstruosa da
Odebrecht cerca políticos por todos os lados
Saiu o Governo
Dilma Rousseff, entrou o Governo Michel Temer, e
as delações premiadas de Marcelo Odebrecht e de
mais de 50 executivos de sua empreiteira seguem
assombrando Brasília.
De um hotel na capital federal, que virou QG da
empreiteira – sob o comando de Emílio Odebrecht,
pai de Marcelo Odebrecht, preso em Curitiba
desde 14 de novembro de 2014 – foram debatidas
as estratégias de defesa para atenuar a pena de
quase 20 anos a que o empresário já foi
condenado em primeira instância. A julgar por
reportagem publicada pelo jornal O Globo nesta
terça-feira, as delações estão próximas da
assinatura final.
Não é a primeira vez que se divulga, sempre de
forma extraoficial, que a colaboração dos
responsáveis pela maior empreiteira do Brasil
está fechada. Desta vez, contudo, começam a
aparecer nomes de possíveis implicados no
Governo atual, como o do próprio presidente da
República, Michel Temer, e os de ministros como
Eliseu Padilha, da Casa Civil, José Serra, das
Relações Exteriores, e Geddel Vieira Lima, da
Secretaria de Governo.
É dado como certo que as colaborações dos
executivos da Odebrecht vão trazer novos nomes e
novos partidos para o coração da Lava Jato.
Devem reforçar, ainda, as acusações contra o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, que já está indiciado
em três processos, e de ex-ministros petistas
como Antonio Palocci (Fazenda no Governo Lula e
Casa Civil no Governo Dilma Rousseff) e Guido
Mantega (Fazenda no Governo Dilma).
Mas as negociações
do acordo com executivos da empresa envolveriam
a identificação de 130 deputados, senadores e
ministros, além de 20 governadores e ex-governadores
de diversos partidos, segundo a reportagem de O
Globo. Poderia esclarecer, enfim, o papel que a
tal “lista da Odebrecht”, descoberta em maio,
tem para a Lava Jato. Documentos apreendidos na
casa de um dos diretores da empresa guardava
planilha com o nome de 240 políticos de 22
partidos, atrelado a valores que poderiam ser
doações ilegais. Mas nada se confirmou até o
momento.
Por estar no
comando do país, a cúpula do Governo Temer é
quem mais teria a perder no momento por
denúncias de ilícitos no âmbito da Operação Lava
Jato. E, não por acaso, especulações sobre uma
possível sucessão indireta em 2017 começaram a
circular pela capital federal nos últimos dias.
Ainda não é
possível medir com precisão o impacto que as
denúncias e acusações provenientes da maior
empreiteira do país podem causar a Temer, mas já
começam a entrar numa bolsa de apostas possíveis
sucessores numa eventual queda.
Até o nome do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso já povoa rodas de
debate político que cogitam a necessidade de uma
eleição presidencial antes de 2018 — caso Temer
tenha de deixar o Planalto a partir de janeiro,
seu sucessor seria escolhido pelo Congresso
Nacional.
Outro nome que já
apareceu é o de Nelson Jobim, ex-presidente do
Supremo Tribunal Federal e ex-ministro do
Governo Lula, como relata a jornalista Mônica
Bergamo, na Folha de São Paulo desta quarta. As
especulações sobre políticos que não frequentam
a burocracia de Brasília há mais de cinco anos,
no caso de Jobim, e há mais de 13, no caso de
FHC, é sintomático.
O pacote de delações da Odebrecht chega como uma
espécie de penúltimo capítulo da Lava Jato. A
expectativa para os acordos dos executivos da
empreiteira só rivaliza atualmente com a
possível delação do deputado cassado Eduardo
Cunha, preso na semana passada.
Enquanto os
investigados e condenados na operação negociam
seus acordos, o mundo político aguarda com
ansiedade os efeitos das revelações e traça
cenários sobre os impactos que, há alguns meses,
dificultariam a situação do cambaleante Governo
Dilma e, agora, provavelmente vão prejudicar o
improvisado Governo Temer.
Se por um lado a saída da ex-presidenta parece
ter aliviado a crise de expectativas na economia,
por outro, a Lava Jato e suas eventuais delações
continuam fornecendo combustível para manter a
crise política e alimentar a tensão com o poder
Judiciário. A temperatura sobe a cada nova
operação, como a Métis, que deteve agentes do
Senado e despertou a ira do presidente da Casa,
Renan Calheiros, ou vazamento de informações
para a imprensa sobre o andamento do processo.
A proximidade do fechamento desses acordos
ajudaria a entender, também, a pressa do Governo
em lidar com questões espinhosas, como a PEC do
teto de gastos e a reforma da Previdência.
Segundo essa tese aventada no mundo político,
seria uma forma de garantir que qualquer Governo
que esteja no poder manterá as contas públicas
'a salvo' com a PEC 241, que inibe despesas
maiores que a arrecadação.
Por conter
autoridades com foro privilegiado, as delações
deverão ser homologadas pelo Supremo Tribunal
Federal, mais precisamente pelo ministro Teori
Zavascki, responsável pelo caso. Isso significa,
levando em conta o andamento da Lava Jato até
agora, que esses acordos de colaboração devem
levar mais tempo do que aqueles fechados em
Curitiba pelo juiz Sérgio Moro — os procuradores
de Curitiba preservaram muitas das delações por
lá ao evitar que autoridades com foro fossem
mencionadas nos acordos.
Apesar da
quantidade de nomes implicados, as informações
apresentadas pelos colaboradores da empreiteira
não estariam à altura das expectativas dos
investigadores — o que não quer dizer que lhes
falte potencial para abalar o Governo Temer.
Na falta de confirmação oficial sobre o
andamento da negociação dos acordos, os
despachos do juiz Sérgio Moro se prestam pelo
menos a comprovar sua existência. Em agosto, o
juiz suspendeu por duas semanas — como já havia
feito antes — a ação penal contra executivos da
Odebrecht após "notícia de que acusados"
estariam "negociando alguma espécie de acordo de
colaboração".
O suspense segue sendo, enfim, a única certeza
de uma Brasília que perdeu a autonomia — para o
bem ou para o mal, a depender do ponto de vista
— desde que Curitiba ousou interferir em seus
assuntos mais obscuros, em 2014.
Mais noticias
Juízes entram com ação contra Renan no
Conselho de Ética do Senado
BRASÍLIA - Cinco juízes protocolaram uma
representação contra o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), no Conselho de Ética.
Os magistrados pedem que o colegiado avalie a
possível quebra de decoro parlamentar nas
recentes declarações com críticas ao Judiciário
e ao ministro da Justiça.
A ação é assinada por juízes de diferentes varas
dos Estados de Pernambuco, Minas Gerais, Goiás e
São Paulo. No documento, eles narram as frases
ditas por Renan em entrevista coletiva na
segunda-feira, 24, quando o senador chamou o
magistrado que autorizou a operação da PF contra
o Senado de "juizeco" e o ministro da Justiça,
Alexandre Moraes, de "chefete de polícia".
Eles argumentam que, com tais declarações, o
presidente do Senado ofende não apenas a honra
do juiz Vallisney de Souza e do ministro Moraes,
mas os Poderes Judiciário e Executivo como um
todo.
Tramitação. A representação será avaliada pelo
presidente do Conselho de Ética, João Alberto
Souza (PMDB-MA), que decide monocraticamente se
irá aceitá-la ou arquivá-la.
Em caso de aceite, uma reunião do conselho é
agendada para que os demais senadores votem pela
continuação ou encerramento do processo. Caso a
representação seja arquivada, é possível fazer
um recurso ao plenário do colegiado. João
Alberto tem até cinco dias úteis para analisar a
proposta. |
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