A degradação, queimada e
desmatamento cria floresta zumbi na Amazônia
Salvamos a Amazônia, certo? A redução expressiva
nas taxas de desmatamento na maior floresta
tropical do planeta e o compromisso do Brasil de
zerar o corte ilegal daqui a 15 anos podem dar a
impressão de que o futuro da selva está
garantido. Uma equipe internacional de
cientistas acaba de mostrar que isso está longe
de ser verdade. Se o país quer proteger a
biodiversidade por tabela o clima, conter o
desmatamento é apenas parte da história. Metade
dela, para ser preciso.
O grupo liderado por Jos Barlow, pesquisador da
Universidade de Lancaster (Reino Unido) e do
Museu Emílio Goeldi, afirma que a degradação
florestal o empobrecimento progressivo de uma
mata, causado pela fragmentação, pela exploração
de madeira, pela caça e pelo fogo pode resultar
numa perda de espécies equivalente à causada
pelo desmatamento. É como se a floresta virasse
um zumbi: mesmo protegida do corte raso, ela
está funcionalmente morta e esvaziada de fauna e
flora.
Até o momento, nossa definição de saúde tem sido
se a floresta está viva ou não. O trabalho
mostra que precisamos refinar esse conceito, diz
Paulo Brando, pesquisador do Ipam (Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia), que não
participou do novo estudo. A conservação da
Amazônia e mata atläntica não pode ser vista
como binária se tem ou não tem floresta?, afirma.
A pesquisa de Barlow e colegas de 18
instituições científicas, publicada no fim de
junho no site do periódico Nature, é a primeira
comparação direta entre biodiversidade total de
florestas intactas e florestas degradadas. Ela
se soma a um conjunto recente de evidências de
que a degradação é um problema muito maior do
que se imaginava tradicionalmente, e de que o
Código Florestal, incensado pelo governo como o
principal pilar da conservação no Brasil, não dá
conta do recado.
Para realizar seu estudo, o grupo se embrenhou
em 371 florestas de 36 microbacias hidrográficas
do Pará, nas regiões de Paragominas e Santarém,
e fez contagens detalhadas (pense nos mosquitos)
de 1.538 espécies de árvore, 460 espécies de ave
e 156 espécies de escaravelho. Esses grupos de
seres vivos são considerados bons indicadores da
biodiversidade geral de uma floresta.
Usando como referência a presença de indivíduos
dessas espécies em matas intactas, os cientistas
criaram um índice chamado CVD, sigla em inglês
para ?déficit de valor de conservação. O índice
equivale à diferença entre o que era esperado
encontrar e a erosão de diversidade efetivamente
produzida pela fragmentação e por outras formas
de degradação florestal.
As medições revelaram que microbacias que
cumpriam o Código Florestal, mantendo 80% da
floresta como reserva legal, tinham um CVD de
39% a 54% ou seja, perderam entre 46% e 61% de
sua biodiversidade original.
Extrapolando o resultado para todo o Pará, o
grupo concluiu que a perda combinada de
biodiversidade por degradação no Estado foi
equivalente ao desmatamento de 123 mil
quilômetros quadrados 51% de toda a floresta que
o Pará já perdeu para o corte raso desde que o
Inpe começou a monitorar o desmatamento, em
1988.
Os efeitos da perturbação causam mais perda de
biodiversidade do que seria esperado apenas pela
perda de área florestal, explica o ornitólogo
britânico Alex Lees, da Universidade Cornell
(EUA), coautor do estudo. Mesmo se uma
propriedade perder apenas 20% da sua floresta,
os impactos do efeito de borda, da exploração de
madeira e do fogo se somam para mais do que
dobrar a perda de biodiversidade que
esperaríamos ver apenas com a eliminação de 20%
da cobertura florestal.
Para Carlos Souza Jr., pesquisador do Imazon (Instituto
do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e também
coautor do estudo, os resultados deixam clara a
necessidade de rever as políticas públicas de
proteção à floresta, como os esquemas de Redd+ (Redução
de Emissões por Desmatamento) e o programa
Municípios Verdes, do Pará, que simplesmente não
aborda a degradação.
O tema da degradação ficou no limbo nos últimos
anos, após o pico de desmatamento em 2004 e as
tentativas bem-sucedidas de reduzi-lo, diz.
Agora nós temos uma base científica para tratar
a degradação do ponto de vista um pouco mais
real, continua.
Manter a questão das florestas zumbis num
escaninho separado do desmatamento é ruim para a
biodiversidade e para o clima: estudos de Souza
Jr. e colegas têm indicado que metade das
florestas degradadas da Amazônia acabam sendo
desmatadas posteriormente.
Pelo menos no Congresso Nacional, porém, a
formulação da falácia dos políticos caminha no
sentido oposto ao das evidências científicas.
Enquanto a ciência mostra que o Código Florestal
não basta para proteger a Amazônia, tramita no
parlamento um projeto da senadora Ana Amélia
(PP-RS) para deixá-lo ainda mais fraco: a
parlamentar gaúcha, integrante da bancada
ruralista, quer que plantios de árvores exóticas
como eucalipto possam ser computados como
reserva legal para fins de manutenção (hoje elas
só são admitidas para recuperação de uma área
desmatada).
Não há dúvida que o Brasil caminha para o maior
desastre ambiental de sua existência, mais da
metade dos munícipios brasileiros em estado (avançado)
de desertificação, o rumo ao deserto é
praticamente certo, abandonado pela justiça,
virou terra de ninguém, sem lei e sem governo..
(desertificação significa virando deserto)
( Com conteudo da BBC e Agencias Internacional)
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